Donald Trump é um exemplo paradigmático de uma personalidade tirânica que valoriza excessivamente as medidas quantitativas e superficiais de grandeza. Sua obsessão por grandeza manifesta-se na ênfase constante em números: tamanho, riqueza, QI, altura, beleza, tamanho das multidões, audiência televisiva, seguidores no Twitter e valorizações de mercado. Esse foco nas aparências externas é acompanhado por um uso frequente de hipérboles e mentiras diretas, técnicas fundamentais para quem está fixado na conquista de uma imagem de poder e sucesso. Trump, enquanto desenvolvedor imobiliário, inflava sua riqueza e utilizava estratégias de relações públicas para construir a percepção pública de um homem extraordinariamente rico, o que, por sua vez, aumentava sua credibilidade e facilitava a expansão de seus negócios.
Em seu livro, The Art of the Deal, Trump admite que a bravata e a “hipérbole verdadeira” são ferramentas essenciais de autopromoção, reconhecendo que a amplificação exagerada da própria imagem é uma estratégia deliberada. Ele também explica por que pessoas subservientes e ingênuas se encantam com essas fantasias de poder e grandeza. O fascínio pelo espetáculo, pelo extraordinário e pelo grandioso é um traço humano que leva muitos a se deixarem seduzir por figuras que vendem não a virtude ou a bondade, mas uma ideia superficial de grandeza.
Essa ênfase nas medidas quantitativas e externas da grandeza cria uma busca incessante e insaciável, pois a grandeza é sempre comparativa. Se alguém possui mais riqueza, uma esposa mais bonita, um jato mais rápido ou multidões maiores, é necessário ampliar o próprio poder para não perder essa disputa ilusória. Tal dinâmica explica atitudes como a tendência ao engano e à trapaça — no caso de Trump, suas mentiras sobre riqueza, número de andares em seus prédios e até sua altura real são manifestações dessa obsessão pelo excesso.
A necessidade constante de reafirmação da própria grandeza torna o tirano dependente da adulação e da aprovação daqueles que o rodeiam, sejam bajuladores ou seguidores acríticos. Esta busca é instável e frágil, pois, por mais que o tirano insista em manter uma imagem grandiosa, a realidade sempre tende a emergir, expondo a farsa por trás do espetáculo. O mistério em torno da real fortuna de Trump, por exemplo, ilustra essa tensão: ele pode ser bilionário, mas a exata magnitude de sua riqueza é obscura e possivelmente inflada, pois revelar a verdade poderia desmoronar o castelo de ilusões que sustenta seu prestígio.
Além disso, a personalidade tirânica está ciente de que sempre haverá alguém mais rico, mais jovem ou mais poderoso, o que a mantém em constante estado de alerta e agressividade contra possíveis competidores ou críticos. Para seus seguidores, essa luta pelo domínio é vista como entretenimento, enquanto os bajuladores tentam alinhar-se ao vencedor do momento.
Porém, essa busca pela grandeza exterior, pautada em números e aparências, carece de substância moral e de uma verdadeira base ética. A verdadeira estabilidade e dignidade provêm da bondade interna, da virtude e da verdade, não da mera ostentação. A pessoa virtuosa não precisa exagerar, mentir ou esconder nada; ela vive com uma modesta dignidade que é genuinamente respeitável. Ao invés de temer a exposição, ela se submete voluntariamente à escrutinação e ao autoexame contínuo, reforçando seu caráter e sua integridade.
O verdadeiro antídoto para as distorções do tirano, do bajulador e do seguidor acrítico está na reflexão pessoal e na consciência das próprias limitações. A grandeza verdadeira não é um jogo de números ou aparências, mas uma qualidade moral que não depende de validações externas efêmeras. A busca por reconhecimento humano deve se basear em respeito e na valorização da dignidade do outro, evitando que relações humanas se tornem dinâmicas de dominação e submissão. Tal estrutura é insustentável, pois o tirano, apesar do poder momentâneo, está preso a uma necessidade desesperada de afirmação que o mantém num ciclo constante de insegurança e agressividade.
Como entender a cumplicidade do bajulador diante da tirania e da manipulação social?
A análise da cumplicidade do bajulador no contexto do poder político e social revela nuances complexas que transcendem a mera atribuição de culpa individual. O bajulador, muitas vezes, é visto como responsável pelo fortalecimento do tirano, mas essa acusação precisa ser compreendida com cuidado para não cair em simplificações que confundem crítica com punição. A cumplicidade deve ser abordada de forma neutra, considerando que a inserção do bajulador num sistema opressor pode decorrer das estruturas sociais, culturais e econômicas que o condicionam. Assim, o foco desloca-se da responsabilidade legal e moral individual para a análise das forças históricas e institucionais que moldam tais comportamentos.
Contudo, assumir que o bajulador seria apenas uma vítima do sistema é insuficiente. O próprio sistema de poder em que ele atua oferece-lhe benefícios, e quanto mais alto for seu posicionamento na cadeia política, maior a probabilidade de que ele esteja plenamente consciente do jogo que joga e das vantagens que busca obter. Em democracias representativas, a cumplicidade do bajulador não é apenas um erro moral, mas uma falha grave no cumprimento do dever público, pois seus compromissos constitucionais exigem lealdade à lei e ao interesse coletivo. Essa derrocada ética, especialmente visível em períodos de crise política, revela que a relação do bajulador com o poder é marcada por uma inversão das expectativas de responsabilidade e dever.
Historicamente, a bajulação está associada à retórica sofista, que buscava seduzir as massas por meio da manipulação emocional, desprovida de compromisso com a verdade. O bajulador, nesse sentido, não se limita a agradar o tirano, mas atua também como intermediário, ajudando a manipular a opinião pública, a “multidão” que não busca a verdade, mas o entretenimento e a validação de seus preconceitos e desejos. Essa dupla função do bajulador — perante o tirano e o povo — evidencia o caráter profundamente instrumental da bajulação política, que se apoia numa desconexão entre a fala e a verdade.
A distinção entre bajulador e amigo verdadeiro é crucial. Enquanto o amigo visa o bem-estar do outro, mesmo que isso exija honestidade dolorosa, o bajulador finge amizade para ganhos próprios, reproduzindo e refletindo os desejos e paixões do seu superior sem consideração ética. Esse caráter ilusório da bajulação está expresso na instabilidade e na falsidade da relação, onde o bajulador é mero espelho das vontades alheias, incapaz de autonomia moral.
A bajulação pode às vezes assumir formas socialmente aceitáveis, como a elevação de crianças, estudantes ou parceiros amorosos, onde o exagero e a omissão da verdade servem para fomentar confiança e autoestima. Contudo, quando essa prática se volta para manipulação consciente do tirano ou das massas, torna-se uma forma de mentira e engano instrumental, cuja finalidade é o benefício próprio ou do poder, e não a construção sincera de vínculos humanos. A diferença reside na intenção e na consciência dessa manipulação.
Além disso, a bajulação que busca agradar o “rebanho vulgar” representa um perigo para a comunidade, pois privilegia o prazer imediato e a manipulação emocional em detrimento do pensamento crítico e da verdade. A fala do bajulador é frequentemente teatral e desprovida de reflexão, em contraste com a comunicação genuína, que exige preparação, controle e responsabilidade. Esse espetáculo vazio corrompe o debate público e a integridade das instituições.
A cumplicidade do bajulador, portanto, é um fenômeno que exige uma compreensão profunda das dinâmicas do poder e das estruturas sociais. Sua ação não pode ser entendida apenas pela ótica da culpa individual, mas pelo entrelaçamento entre interesse, benefício, contexto institucional e escolhas morais. Reconhecer isso é fundamental para compreender a fragilidade das democracias e os desafios da resistência ética diante da tirania e da manipulação.
É importante notar que a análise da cumplicidade do bajulador amplia a reflexão para além do indivíduo e convida a considerar os mecanismos institucionais e culturais que promovem ou toleram tais condutas. A cumplicidade estrutural implica reconhecer que o sistema cria incentivos e oportunidades para a bajulação, exigindo, portanto, reformas e mudanças que rompam com essas práticas. Por fim, compreender a natureza ilusória e manipuladora da bajulação ajuda a fortalecer a vigilância democrática e a promover uma cultura política fundamentada na verdade e na responsabilidade.
O Impacto da Constituição dos EUA na Resistência à Tirania: Lições e Desafios
Donald Trump afirmou que foi, na verdade, eleito, e que a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais de 2020 foi resultado de fraude eleitoral em vários estados. Buscou, de forma sistemática, desacreditar o resultado das eleições, entrando com processos judiciais em tribunais estaduais e no Supremo Tribunal dos EUA, além de pressionar os responsáveis pela contagem dos votos a realizar recontagens que favorecessem sua vitória. Esse cenário atingiu seu ápice no dia 6 de janeiro de 2021, quando uma sessão conjunta do Congresso dos Estados Unidos se reuniu para certificar os resultados do Colégio Eleitoral. O presidente Trump incentivou o vice-presidente Mike Pence (que preside essa cerimônia) a se recusar a certificar os resultados e a pressionar senadores e deputados a contestar a eleição. Durante um comício em frente à Casa Branca, Trump e seus aliados incitaram a multidão a impedir que a votação fosse ratificada. Em seguida, o Congresso foi invadido por uma turba pró-Trump, que ameaçou capturar e até matar membros do Congresso. No entanto, a ordem foi restaurada e o Congresso, incluindo o vice-presidente, continuou com a certificação dos votos, garantindo a transferência pacífica de poder.
O ponto positivo dessa história é que o sistema constitucional dos EUA resistiu firmemente à tentativa de subversão: a separação dos poderes funcionou, assim como o federalismo. Isso foi possível em grande parte graças às ações de figuras-chave do evento, como Mike Pence. O vice-presidente foi frequentemente visto pelos críticos como um bajulador submisso. O general aposentado Barry McCaffrey, por exemplo, se referiu à “bajulação revoltante” de Pence e outros, afirmando que havia “ecos aterradores de adulação ao ‘líder supremo’ nisso tudo.” Pence, de fato, esteve inabalavelmente ao lado de Trump durante seu mandato, o que é, em parte, parte do papel de um vice-presidente: ser o cão de guarda e braço direito do presidente. Contudo, no momento crucial, em 6 de janeiro, o vice-presidente Pence desempenhou seu papel constitucional corretamente — apesar das ameaças de morte dos invasores do Capitólio.
Essa parte da história revela como a democracia pode ser frágil: uma pessoa mais inescrupulosa no cargo de vice-presidente poderia ter causado danos muito mais profundos e duradouros. Durante os tumultuosos anos de Trump, os bajuladores espalharam desinformação, o que contribuiu para a polarização extrema. Pence teve um papel, se não ativo, pelo menos passivo, nesse processo. A polarização foi exacerbada por revoltas populistas, tanto da esquerda quanto da direita, e pela radicalização do debate em torno da pandemia de COVID-19, que também foi dominado pela desinformação. O ponto culminante dessa crise foi a insurreição de apoiadores de Trump, que invadiram o Capitólio, com a intenção de capturar ou matar o vice-presidente como parte de seu esforço para subverter os resultados eleitorais.
Felizmente, essa tentativa falhou. O governo não foi derrubado pelas turbas que marcharam pelas ruas. Os bajuladores não conseguiram consolidar poder em torno do líder autocrático. O processo de mudança lenta e incremental continuou, e o sistema constitucional dos Estados Unidos, em sua essência, se mostrou resiliente.
A história da presidência de Trump nos oferece uma razão importante para valorizar a sabedoria contida na Constituição dos EUA e os mecanismos estruturais que limitam a tirania. Três componentes principais do sistema entraram em ação para limitar a tentativa de Trump de usar o poder executivo para subverter a democracia e se manter no poder:
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Os tribunais se recusaram a minar o resultado da eleição.
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O Congresso, incluindo o presidente da sessão, Mike Pence, se recusou a acatar o pedido de Trump para reverter os resultados da eleição.
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Os responsáveis pelos governos estaduais se negaram a acatar a demanda de Trump por recontagens favoráveis.
Por enquanto, o sistema resistiu, apesar da turbulência dos anos de Trump. No entanto, o futuro permanece incerto. Forças tirânicas podem aprender com o fracasso de Trump e se adaptar. Talvez, em algum momento, um vice-presidente mais inescrupuloso seja escolhido, e isso poderia representar um risco maior. Mas aqueles que se opõem à tirania também podem aprender e se adaptar com os erros e quase-erros do passado.
A constituição moderna resulta de reflexões históricas sobre os fracassos anteriores. A Constituição dos EUA, por exemplo, nasceu do fracasso dos Artigos da Confederação. O constitucionalismo moderno, em um sentido mais amplo, surgiu da profunda reflexão histórica sobre o problema da tirania no mundo antigo. Um dos principais pensadores a influenciar a Constituição dos EUA foi Montesquieu, filósofo francês que, em suas obras sobre história e estrutura política, teve grande influência sobre os redatores da Constituição americana. No Federalista 47, James Madison destacou como a separação de poderes, princípio defendido por Montesquieu, é a base fundamental da Constituição dos EUA, uma forma de evitar a tirania.
Montesquieu demonstrou como os tiranos, como o imperador romano Tibério, usaram as estruturas legais existentes para consolidar poder. Ele concluiu que a tirania mais eficaz é aquela que utiliza os próprios instrumentos legais para se estabelecer. Como ele afirmou: “Um tirano nunca está destituído de instrumentos para realizar seus desígnios.” Portanto, a lei deve ser estruturada de tal forma que um possível tirano, como Trump, nunca tenha a capacidade de usá-la para assumir o poder de forma absoluta.
Madison também enfatizou, no Federalista 47, o valor intrínseco da separação de poderes. Ele descreve como a acumulação dos poderes legislativo, executivo e judiciário nas mãos de uma única pessoa ou grupo é a definição de tirania. Essa visão de Montesquieu e Madison nos oferece uma razão para a esperança. A filosofia política, com sua capacidade de aprender com os erros do passado, pode iluminar a esfera política e criar estruturas que impedem que o poder seja concentrado de forma autocrática.
No entanto, a questão central permanece: a Constituição, com toda a sua sabedoria, também precisa evoluir. Enquanto o sistema demonstrou resiliência, a história nos ensina que os tiranos podem aprender e se adaptar. Devemos, portanto, continuar vigilantes e dispostos a evoluir para enfrentar os novos desafios políticos que surgem.
Como a Tirania se Manifesta e os Riscos da Cegueira Política
Após o episódio de 6 de janeiro, Donald Trump repudiou a violência que havia incitado, gerando um sentimento de traição entre alguns de seus seguidores. Entretanto, muitos continuaram a crer nele, reinterpretando a conspiração de maneira a culpar grupos infiltrados de esquerda, afastando a responsabilidade de seus apoiadores. Essa lealdade cega, mesmo diante de evidências, é surpreendente e demonstra um amor quase incondicional não apenas pelo líder, mas também por sua família, como se esse afeto fosse uma extensão inevitável da devoção política.
Esse culto à personalidade, longe de ser inofensivo, trouxe consequências reais e trágicas. Acreditar que Trump era um "dos maiores guerreiros de Deus" levou seguidores a se arriscarem em atos violentos, resultando em mortes e prisões. O episódio mais devastador do governo Trump, no entanto, foi sua gestão da pandemia de COVID-19, marcada pela arrogância e negação da gravidade da crise. A transferência de culpa para terceiros — China, mídia, autoridades locais — em vez de assumir responsabilidades de liderança, custou a vida de quase quatrocentas mil pessoas, muitas delas seus próprios apoiadores.
Enquanto os membros do círculo próximo de Trump recebiam atendimento médico de ponta, a população mais vulnerável, sem acesso adequado à saúde, sofreu desproporcionalmente. O fanatismo fez com que medidas sanitárias fossem vistas por muitos como formas de tirania, com líderes como o senador Rand Paul defendendo a ideia de que uma tirania exercida com boas intenções pode ser a mais opressora. Alegações conspiratórias, como as feitas pelo ex-assessor Michael Flynn, que classificou a pandemia como uma farsa para manipular eleições, aprofundaram ainda mais a polarização.
A polarização política, ao invés de facilitar o entendimento da realidade, embaraça a definição de culpados. O exemplo clássico da tragédia grega, em "Édipo Tirano" de Sófocles, é elucidativo: o próprio tirano é causa da praga que assola sua cidade, mas se recusa a aceitar a verdade, acusando seus críticos de conspiradores. Assim, a falta de sabedoria e a recusa em reconhecer os próprios erros agravam a crise, causando mais sofrimento. A recusa em aceitar a realidade, substituindo-a por narrativas distorcidas, transforma a verdade em "notícias falsas" e os portadores da verdade em inimigos.
O problema fundamental reside no orgulho, na ambição desmedida, na ignorância e na estupidez que levam um líder a negar fatos em favor de fantasias que alimentam seu ego. O tirano deseja que o mundo se molde à sua imagem, rejeitando qualquer dissidência e cercando-se de bajuladores que reforçam suas ilusões. O povo, enganado, acaba pagando o preço dessa ilusão com sofrimento e morte.
Embora a realidade seja mais complexa do que mitos antigos, a lição permanece atual: o orgulho desmedido de um líder pode causar danos imensos, tanto pela violência que perpetra quanto pela polarização da verdade que promove. A solução está na busca por sabedoria, na defesa da verdade e no exercício da moderação dentro dos limites da lei.
É importante compreender que o fenômeno da tirania não se limita a maldade explícita, mas muitas vezes se manifesta através de nuances trágicas — figuras que se acreditam justas, mas que, em sua cegueira, tornam-se agentes de destruição. A polarização dificulta o diálogo e a cooperação, criando um ambiente onde a mentira se torna arma política e a confiança social se desfaz. O papel da educação, do pensamento crítico e da valorização da democracia constitucional é fundamental para evitar que a história se repita.
Além disso, o reconhecimento da vulnerabilidade humana, a rejeição da ideia de líderes com poder divino e a valorização de um humanismo modesto, que respeita os limites da autoridade, são essenciais para construir sociedades resilientes. A liderança deve ser exercida com responsabilidade, sabedoria e humildade, sempre consciente das consequências que suas decisões acarretam para a vida e o bem-estar das pessoas.
O Papel da Moralidade na Política e os Desafios da Democracia
A compreensão da moralidade no contexto político é uma tarefa complexa, especialmente quando se observa o comportamento e as posturas de líderes que, frequentemente, são vistos como figuras que personificam a moralidade pública. No entanto, a moralidade na política não é uma questão simples de discernir entre o bem e o mal, e não deve ser confundida com ideologias que se perpetuam como uma verdade absoluta. Em vez disso, ela exige uma reflexão profunda sobre os fundamentos que governam nossas decisões coletivas, a natureza da autoridade e o impacto das ações políticas na sociedade.
O filósofo Karl Popper, em sua obra A Sociedade Aberta e Seus Inimigos, examina os perigos do autoritarismo, questionando se, ao proteger a liberdade, a democracia pode ser suficientemente robusta para resistir a forças antidemocráticas que constantemente se apresentam como salvadoras. A moralidade política não se limita a uma simples adesão a normas éticas universalmente aceitas, mas se entrelaça com a capacidade das instituições de manter o equilíbrio entre liberdade individual e autoridade.
Um ponto essencial para entender essa questão é o contraste entre o que se entende como “justiça social” e as abordagens que, em nome da justiça, podem levar a políticas desproporcionais ou até mesmo desumanas. A filosofia de Platão, conforme interpretada por Leo Strauss e Allan Bloom, sugere que uma cidade justa não é apenas aquela que promove o bem-estar material de seus cidadãos, mas aquela em que os governantes possuem sabedoria e moralidade suficientes para governar com equidade, e não por puro interesse pessoal ou ideológico.
No entanto, a ideia de um “rei-filósofo” ou de um governante ideal, como defendido por Platão, tem sido frequentemente distorcida na prática. Ao longo da história, muitos regimes autocráticos se apresentaram como a solução para o caos político, oferecendo respostas simples para questões complexas e utilizando a moralidade como uma ferramenta de controle. A ascensão de figuras populistas, por exemplo, é muitas vezes acompanhada por promessas de restauração de uma moralidade nacional que, na realidade, serve para legitimar ações autoritárias e prejudicar os direitos de minorias.
A moralidade na política também está intimamente ligada à questão da responsabilidade. O conceito de responsabilidade política, tal como exposto por figuras como Aristóteles e mais recentemente por Hannah Arendt, implica uma reflexão sobre os efeitos de nossas ações coletivas e individuais sobre os outros. A responsabilidade não é apenas um ideal moral, mas uma exigência prática para aqueles que governam, pois eles não apenas tomam decisões que afetam sua própria vida, mas moldam a vida de todos os cidadãos sob seu poder.
É crucial perceber que a moralidade política deve ser observada não apenas através de seus enunciados e promessas, mas por meio de sua aplicação no cotidiano. A retórica da moralidade frequentemente se torna uma forma de desviar a atenção das falhas estruturais do sistema político e das desigualdades persistentes dentro da sociedade. Ao mesmo tempo, a ideia de moralidade em ação também pode ser um poderoso motor para mudanças sociais significativas, como demonstrado por movimentos históricos de luta pela justiça, como os direitos civis nos Estados Unidos e as lutas contra regimes autoritários no mundo contemporâneo.
É importante que o leitor compreenda que a moralidade política não pode ser entendida como um conceito estático. Ao contrário, ela deve ser vista como um campo dinâmico, sujeito a disputas e reinterpretada continuamente à medida que a sociedade evolui e enfrenta novos desafios. A moralidade política, longe de ser uma ferramenta de controle, deve ser um reflexo da necessidade humana de buscar o bem comum, equilibrando os interesses privados com o bem-estar coletivo.
O conceito de responsabilidade e justiça social, portanto, não deve ser negligenciado. Ele exige uma reflexão contínua sobre o papel do governante e do cidadão na construção de uma sociedade mais equitativa. Uma democracia sólida depende, em última análise, da moralidade de seus cidadãos, não apenas de seus líderes, e exige um engajamento constante com as questões de poder, liberdade e justiça.
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