Ao observar os comportamentos e as atitudes de diferentes grupos políticos, pode-se perceber como as ideologias influenciam não apenas as preferências e ações cotidianas, mas também a percepção do que representa uma ameaça à segurança e aos valores fundamentais de um indivíduo. A análise das diferenças de comportamento e das percepções de ameaça entre os veneradores de Trump, os conservadores não veneradores, os moderados e os liberais revela padrões fascinantes que refletem não apenas divergências políticas, mas também psicológicas e sociais.

Primeiramente, ao se comparar as atitudes dos veneradores de Trump com os outros grupos, observa-se que este grupo tende a ter comportamentos de risco mais pronunciados, incluindo fumar, assistir pornografia, cometer infrações de trânsito frequentes, beber em excesso e jogar. Embora esses comportamentos não sejam exclusividade dos apoiadores de Trump, a análise estatística sugere que há uma correlação mais forte entre os veneradores de Trump e algumas dessas atitudes, como o uso de substâncias e o jogo. O fato de que eles estão mais inclinados a comportamentos de risco pode ser reflexo de uma postura mais desafiadora em relação às normas sociais, ou de uma maior aceitação de práticas tidas como controversas, o que contribui para a criação de uma identidade de resistência e dissidência dentro de certos grupos conservadores.

Além disso, a posse de armas de fogo se destaca como uma prática mais prevalente entre os veneradores de Trump, um reflexo claro de uma mentalidade que valoriza a autossuficiência e o direito individual à defesa. A relação com a violência ou com o uso de armas está intimamente ligada ao medo e à sensação de vulnerabilidade, ambos sentimentos exacerbados em tempos de incerteza política e social.

Mas o que realmente distingue os veneradores de Trump de outros grupos políticos é a sua percepção de ameaças externas. Quando questionados sobre ameaças em nível global, os veneradores de Trump demonstram uma sensibilidade notável a questões como a ascensão de potências estrangeiras, como a China, a criminalidade, o terrorismo, e, especialmente, a imigração. A ameaça percebida dos imigrantes se destaca como a mais proeminente, com uma diferença significativa entre os veneradores de Trump e outros conservadores que não veneram Trump. Este grupo tende a associar os imigrantes não apenas à perda de identidade nacional, mas a um risco real à segurança e à cultura americana, um tema amplamente explorado por Trump durante sua presidência.

Essa postura de defesa contra "outsiders" também se reflete na visão desses indivíduos sobre a crescente ameaça de países como a China, onde a sensação de vulnerabilidade parece estar mais associada ao medo de perder o status econômico e militar global dos Estados Unidos. A retórica de Trump amplificou essas preocupações, criando uma narrativa em que o mundo se torna cada vez mais perigoso e onde a intervenção externa é vista como uma necessidade urgente. A obsessão por um "inimigo comum" é, portanto, uma estratégia tanto de mobilização quanto de validação da identidade política, na qual os apoiadores de Trump se veem como os guardiões da verdadeira América.

Embora os veneradores de Trump compartilhem com outros conservadores uma percepção de ameaça em relação à violência externa, eles se distinguem por sua forte reação emocional contra ameaças percebidas dentro do próprio país. A ameaça de liberais e outros adversários políticos é sentida de forma intensa e muitas vezes comparada ao risco de uma subversão interna dos valores conservadores. Isso explica em grande parte o comportamento mais polarizado e, por vezes, agressivo, que caracteriza o discurso e as ações deste grupo político.

Além da política e das questões externas, os veneradores de Trump também demonstram uma visão particular sobre a segurança interna. Em contraste com a retórica sobre os "inimigos externos", esses indivíduos são significativamente menos propensos a se preocupar com questões como a crescente desigualdade econômica ou a falta de acesso à saúde, que afetam diretamente muitas famílias americanas. A ausência de um grande pânico em relação a esses "perigos internos" pode ser vista como parte de uma visão de mundo que privilegia a ordem e a estabilidade percebida através de uma abordagem mais militarista e populista.

É importante observar, contudo, que a percepção de ameaça entre os veneradores de Trump não é uniforme. Embora haja uma forte correlação entre seu apoio a Trump e uma visão de um mundo perigoso e repleto de inimigos, o medo do que é desconhecido e externo pode ser, em muitos casos, alimentado pela retórica populista. Não se trata apenas de uma reação genuína à insegurança mundial, mas de uma resposta emocional que é cultivada por discursos políticos que alimentam a ideia de que o país está sendo invadido por forças externas e internas que desejam destruir seus valores fundamentais.

Esse fenômeno pode ser entendido dentro de um contexto mais amplo, onde as ideologias políticas moldam não apenas as atitudes individuais, mas também as respostas emocionais e psicológicas a ameaças percebidas. A ideia de que o mundo está se tornando mais perigoso é frequentemente alimentada por um ciclo de medo e desinformação que visa consolidar a base de apoio político, ao mesmo tempo que margina os opositores. Ao manter as pessoas focadas no medo de perder sua identidade e segurança, é possível unir um grupo em torno de um líder, fazendo com que se sintam parte de uma luta maior.

Além disso, é fundamental entender que a polarização política nos Estados Unidos não é apenas uma questão de diferenças ideológicas, mas de como essas diferenças se traduzem em percepções de ameaça. O medo de perder valores fundamentais, seja em termos de identidade nacional, cultural ou econômica, está profundamente enraizado nas interações sociais e políticas, com efeitos duradouros sobre a forma como grupos diferentes interagem entre si.

Como a Personalidade Securitária Influencia o Apoio a Líderes Autoritários

A relação entre personalidade e apoio político tem sido uma área de intenso estudo nas ciências sociais, especialmente quando se trata de entender o comportamento dos apoiadores de líderes populistas e autoritários. A pesquisa apresentada sugere que uma das chaves para compreender o apoio a figuras como Donald Trump não reside apenas na demografia ou na ideologia política tradicional, mas em um traço psicológico específico: a personalidade securitária. Este traço, mais presente entre os apoiadores de Trump, é um reflexo do desejo de segurança pessoal e nacional, e se distingue de outros traços associados à personalidade autoritária, como a submissão.

A análise multivariada feita neste estudo procurou isolar as variáveis que melhor explicam a adesão a figuras como Trump, considerando uma série de fatores demográficos e psicológicos. Surpreendentemente, o que se destacou não foi tanto a submissão, um traço central na personalidade autoritária, mas a idade e os traços securitários. As pessoas com mais idade e aquelas com maior tendência a valorizar a força pessoal e temer ameaças externas tinham uma probabilidade significativamente maior de apoiar Trump. Isso sugere que o apoio a Trump pode ser mais bem compreendido como uma resposta a uma sensação de vulnerabilidade frente a ameaças externas, e não como uma simples questão de adesão a ideologias autoritárias.

Uma das descobertas mais importantes foi que, mesmo quando outros traços de personalidade, como a submissão, foram levados em consideração, eles não tiveram relevância estatística. A personalidade securitária, por outro lado, se manteve como um preditor significativo do apoio a Trump. Este traço de personalidade é caracterizado por uma preocupação excessiva com a segurança, tanto no nível pessoal quanto nacional, e uma aversão a qualquer tipo de fraqueza. Isso está alinhado com a retórica de Trump, que constantemente enfatizava a necessidade de um líder forte e de um foco implacável na proteção contra ameaças externas.

Além disso, a pesquisa comparou a personalidade securitária com outras abordagens mais tradicionais, como o índice de autoritarismo de direita (RWA), que tenta medir a tendência a valorizar a autoridade e a conformidade com normas rígidas. Embora o RWA tenha sido útil para compreender certos aspectos do apoio a Trump, ele não foi tão eficaz quanto a personalidade securitária na identificação dos seus apoiadores. Isso indica que o conceito de securitarianismo oferece uma explicação mais robusta do que as abordagens autoritárias tradicionais.

Outro ponto relevante foi a análise de outras variáveis como a social dominance orientation (SDO), que mede a tendência de valorizar hierarquias sociais. Quando a personalidade securitária foi incluída nos modelos junto com essas medidas mais estabelecidas, a segurança continuou a desempenhar um papel crucial, enquanto as outras variáveis perderam importância. A implicação disso é clara: o desejo de segurança, e não o autoritarismo em si, pode ser o motor psicológico central do apoio a Trump.

É importante notar que a distinção entre a personalidade autoritária e a securitária nem sempre é fácil de fazer. Historicamente, muitas vezes essas duas dimensões se sobrepõem, pois a autoridade era vista como um meio de garantir segurança. Contudo, na sociedade contemporânea, há uma crescente divisão entre os que buscam proteção por meio da autoridade centralizada e os que, como os securitários, buscam segurança sem depender de um poder centralizado, focando em ameaças externas.

Portanto, o apoio a líderes como Trump não é apenas uma questão de apoiar autoridade ou rejeitar a liberdade pessoal. Para muitos, trata-se da necessidade de se proteger contra um mundo percebido como perigoso, onde o maior valor não é a obediência à autoridade, mas a capacidade de garantir segurança contra aqueles que são vistos como ameaças externas.

Essa visão de mundo, que coloca a segurança acima de tudo, é fundamental para entender a base de apoio de Trump. Ele não é visto como uma figura que representa uma ordem autoritária tradicional, mas como um protetor contra ameaças externas, um líder que entende a importância de manter os "nossos" seguros em um mundo cada vez mais incerto e imprevisível.

A Perspectiva Securitária: A Relação das Autoridades com os Imigrantes e a Cultura Nacional

O propósito primário das figuras de autoridade contemporâneas já não se resume à preservação exclusiva da cultura dominante de um país. Do ponto de vista securitário, as autoridades modernas se mostram frequentemente propensas a simpatizar com os forasteiros, tolerando níveis elevados de imigração e permitindo que entidades supranacionais substituam o controle local. Ao fazê-lo, deixam de atender às necessidades das forças armadas e da polícia, além de conceder direitos e privilégios a imigrantes de tal maneira que os membros da cultura tradicional do país começam a sentir que já não pertencem mais à sua própria nação.

Do ponto de vista securitário, as autoridades do Reino Unido assistiram passivamente à diminuição da soberania britânica por Bruxelas, permitindo que hordas de forasteiros invadissem o país, enfraquecendo irreversivelmente a cultura britânica. Similarmente, as décadas de políticas de globalismo, multiculturalismo, ajuda externa, imigração e acordos comerciais multilaterais nos Estados Unidos, sob a direção de suas autoridades, tornaram a nação vulnerável e desprotegida. Para os securitários, a maioria dos líderes contemporâneos parece se preocupar mais com os forasteiros do que com os cidadãos nativos, o que torna raro encontrar um líder que se resista a essa tendência.

Ao abordar as questões de segurança e identidade cultural, é essencial compreender que as políticas que visam proteger a segurança de um país nem sempre se alinham com os interesses dos cidadãos tradicionais. Em vez de preservar as estruturas culturais que definem a nação, muitas dessas políticas acabam por enfraquecer o que é considerado tradicionalmente “interno”, ao permitir que elementos externos alterem de maneira irreversível o tecido social do país.

Esse fenômeno é especialmente evidente na ascensão do securitarismo, uma visão de mundo que prioriza a preservação da segurança nacional, da ordem e dos valores tradicionais. As personalidades securitárias tendem a valorizar a autonomia e a soberania nacional, frequentemente rejeitando políticas de imigração que percebem como ameaças à estabilidade cultural e social de suas nações. A análise de dados e regressões sobre essa personalidade revela que a preocupação com a segurança e a ordem social se reflete diretamente nas atitudes em relação à imigração, ao multiculturalismo e à presença de entidades internacionais.

A veneraçao a figuras como Donald Trump exemplifica a polarização que essas preocupações geram. Em um evento político, pode-se observar como os apoiadores de Trump, identificados por questões específicas, se dividem entre aqueles que priorizam a imigração, a segurança nacional, os direitos religiosos, as armas, e os direitos econômicos. Esta divisão reflete, de maneira clara, como os temas relacionados à segurança e à identidade cultural se entrelaçam na mente de muitos cidadãos, que se veem em uma luta constante pela preservação de sua cultura contra influências externas.

Entender o fenômeno securitário é crucial para reconhecer como as políticas de imigração, globalismo e multiculturalismo impactam não apenas a política externa, mas também a vida cotidiana de indivíduos que sentem que sua identidade cultural está sendo diluída. Os dados apresentados nas regressões e nas pesquisas revelam uma tendência crescente entre as sociedades de priorizar a segurança sobre outras questões, colocando em risco a integração de imigrantes e o equilíbrio entre diferentes culturas. No entanto, é importante observar que, apesar da preocupação crescente com a segurança e a identidade, as sociedades continuam sendo desafiadas a encontrar formas de acolher a diversidade sem comprometer seus valores fundamentais.

Além disso, a análise de dados sobre a personalidade securitária e as atitudes em relação à política de imigração mostra que, embora a maioria das autoridades mundiais adote uma postura de abertura, as mudanças nas atitudes dos cidadãos, alimentadas por inseguranças culturais e econômicas, indicam uma possível reversão dessas políticas, caso novas lideranças surjam para priorizar as preocupações locais.