A fonética é uma área da linguística que investiga os sons da fala e como estes são produzidos, percebidos e analisados. Dentro desse estudo, uma das questões mais fascinantes é o conceito de “classe natural”, que descreve como sons semelhantes compartilham características articulatórias específicas. Quando falamos sobre sons, podemos categorizar as vogais e consoantes de acordo com suas propriedades, como lugar de articulação, modo de articulação ou características sonoras, formando o que chamamos de classes naturais. Essas classes são essenciais para a compreensão das variações fonéticas e de como diferentes sons se agrupam, fornecendo uma base para as regras fonológicas que definem as línguas.
Por exemplo, as vogais podem ser divididas em vogais frontais e traseiras, dependendo da posição da língua ao produzi-las. Em inglês, essa distinção é evidente quando comparamos palavras como "meat" e "key", cujas vogais apresentam características distintas, representadas pelos símbolos fonéticos [i] e [ɪ], respectivamente. A identificação de tais diferenças é crucial para aqueles que aprendem a língua, pois cada som tem um papel importante na compreensão e produção da fala.
Outro ponto importante dentro do estudo fonético é a noção de "acento". O conceito de acento vai além de uma simples variação na pronúncia de palavras e está intimamente ligado a identidades sociais, culturais e até políticas. Um acento pode ser associado a uma região geográfica, a um grupo étnico, a uma classe social, e até mesmo à identidade de gênero ou orientação sexual. Para um falante não nativo, o acento pode ser resultado da interferência de sua língua materna. No entanto, a noção de acento não se limita a falantes de outras línguas. Mesmo entre falantes nativos, cada um possui seu próprio sotaque, que é moldado por uma série de fatores, incluindo a região, o ambiente familiar e até a educação.
Os sotaques, embora naturais, muitas vezes são fonte de estigmatização. Existe uma tendência social a considerar certos sotaques como "padrão", enquanto outros são vistos como menos desejáveis ou até "errados". O caso de James Kahakua, um falante nativo do Havai Creole, que foi discriminado e teve seu trabalho comprometido devido ao seu sotaque, exemplifica como a percepção de um sotaque pode afetar oportunidades na sociedade. Isso não é um fenômeno exclusivo de falantes não nativos; muitos nativos também enfrentam discriminação baseada no seu sotaque regional ou social.
A discriminação de sotaques é um reflexo da desigualdade social e cultural, onde o "padrão" é frequentemente determinado pelo grupo dominante, muitas vezes o mais privilegiado em termos de classe social ou poder político. No caso de um sotaque britânico ou francês, por exemplo, são associados a características como sofisticação e status, enquanto sotaques associados a grupos marginalizados, como latinos ou afro-americanos, podem ser injustamente ligados a estereótipos negativos.
Além da variação de sotaques, outro aspecto importante na fonologia é a prosódia, ou seja, os recursos suprasegmentais da fala, como duração, entonação e ênfase. A prosódia não só ajuda a organizar a fala em termos de ritmo e fluidez, mas também pode alterar o significado de uma frase. Por exemplo, o aumento da duração de uma vogal ou a mudança na intensidade de uma sílaba pode dar ênfase a um aspecto específico de uma frase, ou até mesmo alterar o significado de uma palavra em algumas línguas.
Na língua inglesa, por exemplo, a duração das vogais pode ser uma característica distintiva, embora em muitos casos não altere o significado. A diferença entre os sons de "bead" e "beat", que apresentam a mesma vogal [i], mas com durações distintas, é um exemplo claro de como a duração pode afetar a percepção do falante. Em outras línguas, como o finlandês, a duração de uma vogal ou consoante pode alterar completamente o significado da palavra, como no caso de "muta" (lama) versus "mu:ta" (mudar), em que o alongamento da vogal muda o sentido.
A percepção dos sotaques também está intimamente ligada à psicologia social e cultural. Para muitos, a percepção de que um sotaque é “errado” ou “incorreto” está baseada em preconceitos profundos que existem na sociedade. Por exemplo, um sotaque latino-americano pode ser associado a estereótipos de preguiça ou ilegalidade, o que é totalmente infundado. Essas percepções distorcidas não têm base na realidade, mas, devido ao preconceito, podem afetar a maneira como as pessoas são tratadas em contextos profissionais e sociais.
Além disso, a educação desempenha um papel importante na formação dessas percepções. Muitos grupos, especialmente aqueles que falam variações de língua consideradas não-padrão, são pressionados a mudar a forma como falam para se encaixar no modelo de "correção" linguística imposto pelas elites. Isso não é apenas uma questão de linguagem, mas de identidade. Como a linguista Gloria Anzaldua descreve, ao ser forçada a modificar seu sotaque para se ajustar aos padrões de um inglês mais “aceitável”, ela e outros falantes de variedades não-padrão são levados a questionar quem eles realmente são.
Por fim, é essencial que os leitores compreendam que o conceito de “acentos corretos” ou “errados” não é uma verdade universal, mas sim uma construção social. O que é considerado um "bom" sotaque depende do contexto cultural e social, e a pressão para mudar a forma como alguém fala pode ter impactos negativos na autoestima e nas oportunidades de vida dessa pessoa. Reconhecer que todos nós temos um sotaque e que a diversidade linguística é uma característica natural e enriquecedora de qualquer sociedade é um passo importante para combater a discriminação linguística e promover um ambiente mais inclusivo.
Como os Processos Articulatórios Influenciam a Variedade Fonológica nas Línguas
A variação alofônica, como vimos, está intimamente relacionada à distribuição complementar dos sons. Quando analisamos dois sons que aparecem em contextos distintos, como o [n] e o [ŋ], podemos perceber que eles não são intercambiáveis em todos os ambientes fonéticos. O som [ŋ], por exemplo, ocorre antes de consoantes velaras, como [k] ou [g], enquanto [n] ocorre em outros contextos. Isso revela a distribuição complementar entre esses dois sons. Em outras palavras, [n] e [ŋ] não podem aparecer nos mesmos contextos fonéticos. A distribuição complementar caracteriza os alofones, que são variantes do mesmo fonema, e o fato de que [n] é mais comum em diversas posições fonéticas nos leva a considerar /n/ como o fonema base, enquanto [ŋ] seria um alofone.
Além disso, a variação livre pode ocorrer, mas é mais rara do que a variação complementar. Em variação livre, não existe uma padronização na distribuição dos alofones, e o ambiente fonético não tem uma influência clara sobre a forma do som. Esse tipo de variação é bem menos comum do que a distribuição complementar, onde a presença de um alofone é previsível com base no ambiente fonético.
Ao analisarmos os processos articulatórios, é fundamental entender que a variação fonológica não se limita apenas à distribuição de alofones. Processos articulatórios, como a assimilação, dissimilação, eliminação de sons (ouclusão), e até a epêntese, têm grande impacto na forma como os sons são produzidos na fala cotidiana. Esses processos não são apenas características da linguagem falada, mas estão ligados à necessidade de facilitar a articulação durante a comunicação.
A assimilação é um dos processos articulatórios mais comuns e ocorre quando um som adota características de um som adjacente. Em inglês, por exemplo, pode-se perceber uma assimilação nas vogais quando ocorrem antes de consoantes nasais como [m], [n] e [ŋ]. A vogal em "bank", por exemplo, torna-se ligeiramente nasalizada, algo que ocorre automaticamente, sem qualquer consciência do falante, como uma antecipação da produção do som nasal. Além disso, a assimilação também pode ocorrer nas consoantes, especialmente em relação ao ponto de articulação. No exemplo de "bank", a mudança do som alveolar [n] para o velar [ŋ] diante da consoante velar [k] reflete a facilidade de articulação entre dois sons produzidos na mesma área da boca.
Outro exemplo de assimilação é a mudança de [n] para [ŋ] em palavras como "fungus" e "input", onde o som [n] se adapta ao ponto de articulação das consoantes seguintes, como [g] ou [p]. Este tipo de variação, na qual um som se adapta à sua vizinhança para tornar a fala mais fluente, ocorre frequentemente sem que o falante tenha qualquer controle consciente sobre a mudança.
A dissimilação, por sua vez, é um processo menos frequente que tem como objetivo diminuir a semelhança entre sons adjacentes. Em línguas como o inglês, onde sequências de sons semelhantes, como em "fifths", podem ser difíceis de pronunciar, pode ocorrer uma dissimilação para facilitar a articulação. Nesse caso, o som [θ] de "fifths" é substituído por um [t] para quebrar a sequência de sons fricativos, tornando a palavra mais fácil de ser pronunciada.
Além disso, a eliminação de sons, conhecida como redução de clusters consonantais, é outro fenômeno comum, especialmente quando os sons consonantais são semelhantes. Em palavras como "cupboard", o som [p] pode ser eliminado para facilitar a articulação de dois sons bilabiais consecutivos, resultando em uma forma mais fluida da palavra. Isso é especialmente importante em línguas como o inglês, onde clusters consonantais longos podem ser difíceis de articular de maneira rápida e clara.
A epêntese, ou inserção de sons, também desempenha um papel importante na fluidez da fala. A inserção do som [ə] (o schwa) é um exemplo claro disso. Palavras como "athlete" podem ser pronunciadas com um som extra entre as consoantes, como em [æθəlit] em vez de [æθlit], facilitando a articulação do termo.
Esses processos articulatórios não são apenas técnicas de ajuste fonético. Eles têm implicações profundas para a fonologia de uma língua e para a maneira como percebemos e produzimos os sons da fala. A compreensão desses processos ajuda a esclarecer não apenas as variações sonoras, mas também o comportamento linguístico do falante em contextos informais ou rápidos, onde a economia articulatória é essencial.
É importante que o leitor compreenda que esses processos articulatórios e a variação alofônica estão profundamente enraizados na natureza da fala cotidiana. Eles não são fenômenos isolados, mas reflexos de uma adaptação constante às necessidades comunicativas. A capacidade de produzir e perceber variações de sons sem perder a clareza na comunicação é uma característica fundamental da língua viva e em constante evolução.
Como a Linguagem Reflete Relações Sociais e Identidades nas Interações Cotidianas
A linguagem é uma ferramenta complexa e multifacetada, capaz de criar conexões profundas entre as pessoas ou, ao contrário, de gerar distâncias sociais. A forma como nos comunicamos pode variar enormemente dependendo do contexto em que estamos inseridos, e entender as sutilezas dessa variação é essencial para compreender o papel da linguagem nas interações sociais. A pragmática, como campo de estudo, foca precisamente nisso: como a linguagem se manifesta no contexto, levando em consideração não apenas as palavras em si, mas também os elementos sociais e culturais que influenciam sua utilização.
A indiretividade, por exemplo, é um mecanismo linguístico poderoso que pode ser usado para criar tanto proximidade quanto distância social. Quando falamos de forma indireta, muitas vezes estamos estabelecendo um tipo de cumplicidade implícita com o ouvinte, sugerindo que ambos compartilham um conhecimento prévio, a ponto de nem precisar explicitá-lo. Essa estratégia é uma forma de sinalizar que estamos "no mesmo time", criando um laço de solidariedade. Por outro lado, a indiretividade também pode ser usada para marcar distâncias, criando uma separação entre quem está envolvido na comunicação e quem não compartilha esse conhecimento tácito. Nesse caso, o discurso indireto pode dar a impressão de que o interlocutor não compreende o contexto, gerando uma distância social sutil, mas poderosa.
O contexto é, sem dúvida, o elemento central para entender qualquer ato de comunicação. E esse contexto não se limita à localização física da interação, mas envolve uma gama mais ampla de fatores sociais, como a relação entre os interlocutores, o evento discursivo em questão, o propósito da interação e outros aspectos do ambiente social. Cada situação de fala carrega consigo uma série de pressupostos que moldam o comportamento linguístico dos participantes. Essas variáveis sociais influenciam diretamente o significado das palavras e das ações, fazendo com que o contexto seja fundamental na construção de significados sociais, como identidade e relação.
Outro conceito crucial para entender a dinâmica da linguagem nas interações cotidianas é o de "registro". O registro se refere às variações linguísticas que adaptamos conforme o ambiente social em que nos encontramos. A maneira como nos expressamos em uma entrevista de emprego, por exemplo, é diferente da maneira como falamos com amigos próximos em um ambiente descontraído. Esse fenômeno não é restrito apenas ao vocabulário, mas se estende à pronúncia, à gramática, à cortesia, ao contato visual, à proximidade física entre os interlocutores, entre outros aspectos. Desde cedo, as crianças já demonstram uma capacidade de perceber e adaptar seu uso da linguagem conforme o registro da situação em que se encontram. Muitas vezes, até imitam com precisão a linguagem de profissionais, como médicos ou enfermeiros, sem entender completamente o conteúdo, mas reconhecendo a estrutura e os padrões de comportamento linguístico adequados para aquele contexto.
O nível de formalidade é uma das características mais notáveis que se relacionam ao registro. Ambientes formais, como tribunais ou salas de aula, exigem uma série de convenções linguísticas: interrupções são evitadas, há uma ordem clara sobre quem pode falar e quando, e certos títulos e formas de tratamento são usados, como "Sua Excelência" para juízes ou "Professor" para instrutores acadêmicos. Esses contextos formam uma espécie de ritual discursivo que reforça o respeito pelas hierarquias e pelas regras sociais que governam o ambiente. Por outro lado, em situações informais, como uma conversa entre amigos, as interações podem ser mais fluídas, com piadas, sobreposições de fala e o uso de apelidos ou referências a experiências compartilhadas.
Esses elementos de formalidade e informalidade não só refletem, mas também constroem o caráter de uma situação social. Uma saudação como "Olá" tem um tom mais formal do que um simples "Oi" ou "E aí", independentemente de onde a conversa aconteça. Assim, o uso de um registro mais informal não só reflete a natureza da interação, mas também a ajuda a ser percebida como mais descontraída e acessível.
Além disso, ao interagir com outros por meio da linguagem, estamos constantemente realizando "trabalhos de identidade", isto é, dando pistas sobre quem somos e sobre a relação que temos com o outro. Isso se manifesta, por exemplo, nas diferenças de tratamento entre professores e alunos. Imagine uma conversa entre esses dois papéis em um café próximo a um campus universitário. Um observador atento pode rapidamente perceber a natureza da relação, mesmo sem saber ao certo o conteúdo da conversa. A professora, por exemplo, pode estabelecer sua posição com comentários avaliativos e conselhos autoritários, enquanto o aluno se posiciona por meio de relatos sobre suas experiências acadêmicas, respondendo de forma mais submisso e com menos margem para improvisação. O que está em jogo aqui não é apenas o que é dito, mas como é dito, com que tom, e com que intenção.
Esses processos de construção identitária são ainda mais evidentes quando há diferenças claras de status e poder entre os participantes. A professora, com sua posição de autoridade, tem o poder de avaliar e dar conselhos, e sua identidade é reforçada por sua fala e postura. O aluno, por sua vez, embora também participe ativamente da conversa, não pode desestabilizar esse equilíbrio de poder sem correr o risco de transgredir as normas sociais implícitas na situação. A linguagem, portanto, não é apenas um meio de comunicação, mas um meio de negociação de poder, onde o discurso de um pode moldar a percepção do outro.
Em contextos de maior informalidade, essas hierarquias podem ser mais fluidas. Imagine um encontro acidental entre professora e aluno em um cinema. Nesse caso, a relação de poder e autoridade será redefinida, com ambos os interlocutores adaptando seu comportamento linguístico e suas expectativas conforme o novo ambiente. Cada um deve, consciente ou inconscientemente, negociar o papel que desempenha na interação, considerando o contexto social em que se encontram. Esse tipo de adaptação demonstra a flexibilidade da linguagem e sua capacidade de refletir e ajustar as identidades sociais em tempo real.
Como a Polidez Funciona em Diferentes Grupos Sociais?
A polidez é uma prática fundamental para as interações sociais, mas o que é considerado educado ou rude pode variar bastante entre diferentes grupos. Em muitas culturas, a forma de comunicação pode ser tanto um reflexo da identidade social quanto uma estratégia para manter ou fortalecer laços dentro de uma comunidade. A compreensão de como a polidez opera em diversos contextos sociais permite uma análise mais profunda dos mecanismos que regulam as interações humanas, especialmente quando pensamos na linguagem como um meio de construção e demonstração de status, pertencimento e respeito mútuo.
Em certos grupos, o que seria considerado rude ou impolido em outros contextos pode ser visto como completamente normal, ou até mesmo necessário. Isso ocorre porque os conceitos de polidez e impoliteza não são universais, mas são mediados por fatores como classe social, etnia, gênero e até mesmo a situação em que a interação ocorre. No caso de um ambiente formal ou profissional, certos comportamentos mais reservados e uma linguagem mais cuidadosa são esperados como sinal de respeito. No entanto, em ambientes informais, como entre amigos íntimos ou em contextos de forte coesão grupal, uma comunicação mais direta ou até mesmo rude pode ser aceita e até celebrada, pois se considera que tais expressões reforçam a autenticidade e a sinceridade das relações.
As estratégias de polidez, como descritas por Brown e Levinson (1987), são geralmente divididas em positivas e negativas. As estratégias positivas envolvem tentativas de afirmar a conexão com o interlocutor, de mostrar solidariedade ou de tornar o outro mais agradável ou valioso. Já as estratégias negativas buscam evitar a imposição sobre o outro, preservando sua autonomia e evitando causar desconforto. Dependendo do grupo, uma ou outra dessas estratégias pode ser mais prevalente, e a escolha de qual usar pode depender não apenas da situação, mas do status e das relações de poder entre os interlocutores.
É interessante notar que, ao observar um comportamento específico em uma cultura ou subgrupo, o que pode ser visto como uma falta de polidez, de fato, pode ser apenas uma expressão culturalmente aceita dentro daquele contexto. O uso de certos vocabulários ou a forma como alguém se dirige a outra pessoa, por exemplo, pode ser interpretado como rude por alguém de fora, mas pode ser uma expressão de informalidade ou de igualdade dentro do grupo. A polidez não é uma questão unicamente de palavras e expressões, mas também do tom de voz, do corpo e do contexto relacional que os falantes compartilham.
Nesse sentido, teorias sobre polidez nos ajudam a entender essas dinâmicas, ao sugerir que as normas de comportamento, muitas vezes, não são ditadas por uma "regra universal" de cortesia, mas sim por um complexo conjunto de normas culturais que são aprendidas e internalizadas desde a infância. As categorias de polidez não são apenas sobre o que é dito, mas sobre o que não é dito, ou sobre as maneiras pelas quais se evita perturbar o equilíbrio das relações sociais.
Além disso, quando refletimos sobre o uso de variantes linguísticas como [In] ou [Iŋ] no final de verbos, fica claro como essas escolhas podem estar intimamente ligadas a questões de identidade social e registro. O uso de variantes linguísticas, como por exemplo, a diferença entre um sotaque mais formal e um mais casual, pode marcar de maneira clara a posição social de um falante, assim como sua relação com o grupo. A forma como as pessoas utilizam ou evitam essas variantes é uma estratégia de polidez que pode influenciar como elas são percebidas em termos de classe, educação e pertencimento social.
Por fim, é essencial que o leitor tenha em mente que a polidez, enquanto conceito, é flexível e não deve ser vista como um conjunto de regras rígidas, mas como um campo de prática dinâmico, onde as normas podem variar amplamente de acordo com os contextos e as relações sociais envolvidas. A compreensão de quando e como essas práticas são aplicadas oferece insights não apenas sobre as línguas e suas variações, mas sobre as próprias estruturas sociais que as sustentam.
Como a Linguagem Reflete e Subverte as Identidades de Gênero?
A linguagem é uma ferramenta poderosa para a construção e subversão das identidades de gênero. Ao longo dos anos, muitos estudiosos investigaram como homens e mulheres utilizam a linguagem de maneira diferente, principalmente em interações conversacionais. Inicialmente, as pesquisas focaram em identificar se as mulheres, por exemplo, usavam a linguagem de maneira mais hesitante ou insegura em comparação aos homens, especialmente através de interrupções, perguntas de confirmação, silêncios ou expressões como "eu acho" e "não sei". No entanto, a análise de tais características mostrou que as diferenças entre os sexos não são tão simples ou tão amplas quanto se pensava. Em vez de uma diferença essencial entre os gêneros, o contexto local e o propósito de cada expressão na comunicação parecem ter um impacto muito maior sobre o uso da linguagem.
Os estudos mais recentes questionaram a ideia de que o gênero é uma característica inata ou natural de cada indivíduo. A visão contemporânea da linguística aponta que o gênero é, na verdade, uma construção social, moldada e expressa através de ações e, especialmente, de atos linguísticos. Isso se reflete, por exemplo, nas performatividades de gênero que variam de acordo com outras identidades sociais, culturais e políticas. Nesse sentido, a linguagem torna-se um campo de resistência e afirmação para aqueles que não se conformam com as normas binárias de gênero.
Além disso, a linguagem tem sido crucial para desestabilizar as categorias tradicionais de gênero, como homem ou mulher, heterossexual ou homossexual. O termo "queer", por exemplo, começou a ser utilizado como uma forma de subverter essas dicotomias e questionar as normas impostas pela sociedade. Para as comunidades trans e queer, esse termo tornou-se um símbolo de identidade positiva e resistência, ao mesmo tempo em que desafiava o uso de "queer" como um insulto.
O conceito de "cisgênero", que descreve aqueles cujos gêneros coincidem com os designados ao nascimento, contrapõe-se diretamente à experiência de indivíduos trans, aqueles cujos gêneros não coincidem com o sexo atribuído ao nascimento. A transição de gênero, portanto, pode ser tanto uma transformação física quanto uma mudança no reconhecimento e na aceitação social do gênero, sem que isso dependa necessariamente de cirurgias ou intervenções corporais.
Embora a sociedade tenha uma tendência a simplificar as questões de gênero dentro de uma visão binária – homem e mulher –, muitos estudiosos e ativistas vêm contestando essa perspectiva. A ideia de um espectro de gêneros, onde as categorias são mais fluidas e abertas, reflete a realidade de muitos indivíduos que se identificam como não binários ou que desafiam as normas de gênero estabelecidas. Além disso, é essencial considerar o impacto do gênero na visibilidade de certos grupos, especialmente na forma como a língua tende a invisibilizar ou marginalizar as mulheres, como acontece com termos androcêntricos e genéricos masculinos, ou com a diferenciação entre palavras "marcadas" e "não marcadas" nas profissões e outros campos sociais.
A performance de gênero se reflete também nas atitudes linguísticas em contextos específicos, como em interações sociais cotidianas. Certas palavras e expressões revelam como construímos expectativas sobre o que significa ser mulher ou homem, com uma série de termos que reforçam estereótipos de gênero. Ao mesmo tempo, a linguagem oferece a possibilidade de subverter essas noções, como vemos nos exemplos de palavras derogatórias que, recentemente, têm sido ressignificadas por grupos marginalizados. Termos como "bitch" e "slut", por exemplo, têm sido recuperados por algumas mulheres e ativistas LGBTQIA+ como um modo de afirmar a identidade e o empoderamento, tornando-os em marcas de pertencimento e resistência, em vez de insultos.
É importante destacar que a linguagem nunca é neutra ou imutável. Ela está constantemente em fluxo, refletindo mudanças sociais e culturais. A forma como as palavras e expressões relacionadas ao gênero são usadas pode tanto perpetuar as desigualdades quanto servir como ferramentas de transformação. A análise crítica das estruturas de gênero na linguagem é, portanto, uma chave para compreender como as identidades são negociadas, afirmadas ou contestadas no espaço público e privado.
Além disso, o processo de "reclamação" de termos pejorativos também ilustra o poder transformador da linguagem. Ao ressignificar um termo insultante, grupos oprimidos podem criar um novo significado que os empodera e fortalece sua identidade coletiva. Isso reflete a capacidade da linguagem de resistir a sistemas de opressão e de promover uma mudança real na percepção social de certos grupos.
O estudo da linguagem em relação ao gênero não pode ser dissociado do contexto social, cultural e político em que ele se insere. A forma como falamos sobre gênero, as palavras que escolhemos para descrever as pessoas e as relações, e até mesmo os gestos que usamos, estão profundamente entrelaçados com as estruturas de poder que definem quem somos e como somos vistos pela sociedade. Reconhecer e desafiar essas estruturas é, portanto, um passo essencial para criar um mundo mais inclusivo, onde as identidades de gênero possam ser vividas de maneira autêntica e sem medo de repressão ou discriminação.
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