A presidência de Donald Trump é frequentemente considerada uma das mais extraordinárias da história americana. A opinião pública, a mídia e até o próprio Trump se referem à sua liderança como algo sem precedentes, dado seu estilo único e suas declarações polêmicas. No entanto, se olharmos mais de perto para o contexto político e os resultados concretos de seu governo, é possível afirmar que, de maneira geral, sua presidência foi marcada pela ordinariedade.

O ponto central dessa análise repousa em um dado crucial: apesar da imagem de um presidente disruptivo, Trump, em muitos aspectos, não conseguiu quebrar os limites e as estruturas que definem a política americana. A Constituição dos Estados Unidos foi projetada pelos Pais Fundadores para limitar o poder de qualquer um que ocupe a Casa Branca, de modo que o presidente sempre terá de dividir suas atribuições com outras esferas do governo. Em outras palavras, é parte do sistema político que o presidente precise negociar com outros poderosos, como o Congresso e as lideranças estaduais, e que sua capacidade de agir esteja restrita por esses mecanismos constitucionais. Como apontado por Neustadt, "compartilhar é limitar", e isso é algo que qualquer presidente precisa entender.

Por mais que Trump tenha tido uma vitória inesperada ao conquistar a presidência em 2016, a realidade de seu mandato tem sido bastante comum quando se observa os resultados concretos. Embora tenha conquistado uma fatia maior do eleitorado de classe trabalhadora em relação a Mitt Romney nas eleições anteriores, esse movimento de eleitores menos escolarizados em direção ao Partido Republicano não é um fenômeno novo, tampouco uma surpresa. Historicamente, os eleitores de menor escolaridade têm tendido a apoiar os republicanos, e Trump não conseguiu inverter esse padrão de maneira significativa. A retórica inflamada sobre imigração e questões raciais, como chamar os mexicanos de "estupradores" ou associar a imigração muçulmana a uma ameaça à segurança nacional, não alterou substancialmente a distribuição do voto entre diferentes grupos raciais e étnicos. Trump não conseguiu mobilizar um número significativo de eleitores de forma a alterar a dinâmica racial das eleições.

Em termos de realizações, Trump tem poucas vitórias concretas a destacar. Suas políticas muitas vezes se alinharam com os interesses republicanos tradicionais, como cortes de impostos e desregulamentação econômica. Porém, ao contrário de presidentes como Franklin D. Roosevelt ou Abraham Lincoln, que tiveram a oportunidade de deixar uma marca histórica durante períodos de crise nacional, Trump governou em tempos de polarização política extrema, sem uma crise capaz de dar a ele uma chance real de implementar reformas profundas.

Isso leva a outra razão para a mediocridade de sua presidência: sua própria abordagem ao cargo. Trump, em sua essência, não demonstrou as qualidades necessárias para ser bem-sucedido na política presidencial. Sua estratégia política foi, muitas vezes, inconsistente e errática. As escolhas de pessoal em seu governo, por exemplo, estavam mais baseadas em lealdade pessoal e aparência do que em competência ou experiência. Isso gerou um ambiente de caos constante dentro da Casa Branca, onde decisões importantes eram frequentemente tomadas sem planejamento adequado ou consenso. Além disso, sua habilidade em negociar e persuadir outros atores políticos foi limitada. Ao invés de buscar construir pontes com o Congresso, Trump preferiu uma abordagem agressiva e divisiva, o que dificultou ainda mais a realização de suas promessas eleitorais.

Outra característica importante da presidência de Trump foi sua estratégia de política externa, onde ele optou por adotar uma postura unilaterista, muitas vezes isolacionista, o que enfraqueceu o papel global dos Estados Unidos. Suas ações no cenário internacional, como a saída de acordos importantes (como o Acordo Climático de Paris ou o acordo nuclear com o Irã), não foram acompanhadas de uma visão clara sobre o futuro da posição dos EUA no mundo.

Entretanto, em muitos aspectos, a presidência de Trump não representa uma ruptura significativa com os padrões da política americana. Ele pode até ter feito declarações chocantes e adotar um estilo de liderança mais polarizador, mas suas realizações, ou a falta delas, não distoam substancialmente das de outros presidentes republicanos. O sistema político dos Estados Unidos, com suas barreiras constitucionais e sua estrutura de governo complexa, limita a capacidade de qualquer presidente de realizar mudanças profundas sem o apoio de outros setores da política. Além disso, o ambiente político altamente polarizado tornou ainda mais difícil para Trump conseguir implementar sua agenda.

Por fim, é importante compreender que, por mais que a figura de Trump se apresente como extraordinária, o seu governo não foi capaz de transformar essa percepção em resultados tangíveis e duradouros. Sua abordagem ao cargo, suas escolhas políticas e sua falta de habilidades políticas básicas acabaram por resultar em uma presidência mais comum do que muitos gostariam de admitir. Embora suas declarações e sua personalidade tenham sido excepcionais, os frutos de sua presidência, ou a ausência deles, revelam que a ordinariedade, e não a extraordinária, foi o verdadeiro legado de sua administração.

Como a Personalização da Presidência de Trump Impactou a Governança nos Estados Unidos

Donald Trump chegou à Casa Branca com a promessa de desafiar o establishment político e redirecionar a política dos Estados Unidos para algo completamente novo. No entanto, a realidade de exercer o cargo de presidente revelou-se muito mais complexa do que o esperado. A oposição e as dificuldades não vieram apenas de adversários políticos, mas também da própria estrutura do poder, que se mostrou resistente às mudanças radicais que ele propunha.

Ao assumir a presidência, Trump encontrou um sistema político robusto e uma máquina administrativa que já estava em funcionamento há décadas. A ideia de uma revolução interna do governo, na qual ele substituísse a velha ordem, esbarrou em uma dura realidade: as engrenagens do poder não são tão fáceis de desmantelar. Para que um presidente possa efetivamente governar, ele precisa mais do que um estilo de liderança populista e agressivo. Ele necessita de uma gestão estratégica que envolva a coordenação de equipes competentes, a compreensão das dinâmicas do Congresso e o uso eficaz dos recursos à sua disposição.

Trump, no entanto, não demonstrou uma habilidade substancial para coordenar as várias facetas da presidência. Em vez de utilizar as vastas ferramentas do governo para implementar sua agenda, ele centralizou o poder em sua própria pessoa. A presidência, que é respaldada pelo Escritório Executivo do Presidente (EOP), com seus milhares de funcionários capacitados e recursos substanciais, passou a ser vista por Trump como um meio de se comunicar diretamente com sua base eleitoral. Isso pode ter sido eficaz do ponto de vista eleitoral, mas não ofereceu os resultados necessários para governar de maneira eficiente.

Essa abordagem, embora pareça estratégica em termos de imagem, tem falhas substanciais. A falta de comprometimento com a gestão do governo fez com que as funções essenciais do EOP, como planejamento de políticas, articulação com grupos de interesse e com o Congresso, e a implementação de uma estratégia de comunicação eficaz, fossem negligenciadas. Em vez disso, Trump focou em intervenções impulsivas através de suas redes sociais, alterando constantemente a agenda e sua própria posição sobre os temas. Essa instabilidade dificultou a criação de uma direção clara para sua administração.

Outro aspecto importante da gestão presidencial é a nomeação de pessoas qualificadas para cargos-chave no governo. Ao assumir o cargo, Trump teve a oportunidade de formar uma equipe de especialistas, políticos experientes e profissionais capacitados. Contudo, a escolha de leais seguidores, muitas vezes com pouca experiência administrativa ou política, resultou em uma equipe desequilibrada. Em certos casos, Trump optou por integrar tradicionalistas do Partido Republicano, alguns dos quais se viam como uma oposição dentro de sua própria administração, tentando moderar as posições mais radicais e proteger o país de ações impensadas.

Essa falta de coesão entre as diversas partes de sua administração fez com que sua presidência fosse marcada por constantes contradições e ineficiência. Em vez de usar a vasta rede de recursos a seu dispor para implementar mudanças significativas, Trump optou por uma abordagem mais direta e combativa, muitas vezes em detrimento de uma estratégia de longo prazo. Ele transformou a presidência em uma extensão de sua marca pessoal, mas isso não se traduziu em um governo eficaz.

É essencial compreender que a liderança presidencial nos Estados Unidos depende da capacidade de governar com uma visão estratégica, que transcende a imagem pública e a comunicação direta com a base eleitoral. Embora a popularidade imediata e a mobilização de apoio sejam importantes, a administração de um país exige habilidade política e gerencial. A falta de um planejamento sólido e de uma equipe eficaz pode comprometer não apenas a implementação da agenda do presidente, mas também a estabilidade política do país. O sucesso de uma presidência não está apenas em seus confrontos externos, mas na capacidade de construir uma administração coesa e funcional que saiba administrar as complexidades do sistema político americano.