A premissa de que a demolição de bairros em decadência é uma solução eficaz para resolver os problemas associados a essas áreas tem gerado sérias controvérsias. Diversos estudiosos têm expressado preocupações fundamentadas sobre a ideia de que a destruição física de construções pode melhorar as condições de um bairro sem que haja outro tipo de intervenção, seja ela social, econômica ou de planejamento urbano mais abrangente.
Em primeiro lugar, muitos estudiosos questionam a conexão direta entre a deterioração física e a desordem social, uma relação que, segundo alguns, seria exagerada ou até espúria. O pesquisador Mike Benediktsson, por exemplo, argumenta que a relação entre a vacância de imóveis e a desordem social é uma construção social, em vez de algo predeterminado pela condição física dos imóveis. Esse fenômeno, portanto, dependeria mais das relações sociais dentro da comunidade do que da quantidade de abandono visível na área. Além disso, estudos indicam que a percepção de degradação é acentuada quando grupos étnicos, como a população negra, são visualmente representados em imagens de declínio urbano. Essas observações destacam o caráter subjetivo e contextual da percepção de crise urbana, alertando para o risco de estigmatizar comunidades já marginalizadas.
Outro ponto de crítica é que a demolição pode, na verdade, acelerar o processo de desinvestimento. Muitos críticos afirmam que, ao adotar uma lógica de "triagem" nas áreas urbanas, os planejadores podem reforçar a ideia de que um bairro está irremediavelmente condenado, o que acaba gerando um ciclo vicioso de desvalorização. A demolição, ao eliminar a infraestrutura visível, envia uma mensagem clara de abandono que, paradoxalmente, pode desmotivar qualquer tipo de esforço para revitalização ou intervenção no futuro. Em outras palavras, ao declarar um bairro "morto", o planejamento urbano pode, inadvertidamente, matar suas perspectivas de recuperação.
Além disso, as experiências passadas de renovação urbana, amplamente criticadas, oferecem lições cruciais para os planejadores de hoje. Durante as décadas de 1950 e 1960, o modelo de renovação urbana focado na demolição de áreas inteiras para dar lugar a novos projetos, muitas vezes deixou um legado de deslocamento, marginalização e empobrecimento das comunidades mais vulneráveis. O exemplo da renovação urbana das grandes cidades americanas não deve ser repetido, alertam estudiosos como Hollander e Nemeth, pois a abordagem top-down, focada apenas na destruição sem considerar as necessidades e a voz da comunidade, não trouxe melhorias sustentáveis para as áreas afetadas.
O fato de que estudos hedônicos recentes, frequentemente citados como argumentos para apoiar a demolição, mostram benefícios apenas limitados, reforça essas preocupações. Enquanto tais estudos confirmam uma correlação negativa entre o valor dos imóveis e a proximidade de casas ou terrenos vazios, eles também revelam que, em áreas mais degradadas, o custo da demolição pode ultrapassar o benefício da possível valorização. Ou seja, em bairros já marcados por uma intensa desvalorização, os custos sociais e financeiros da demolição são muitas vezes muito maiores do que os ganhos potenciais.
Em suma, as críticas à demolição como política urbana não são apenas acadêmicas, mas baseadas em observações empíricas e experiências passadas. Porém, apesar dessas preocupações, a política pública na região do Rust Belt (cinturão de ferrugem), que inclui cidades com altas taxas de desinvestimento e perda habitacional, tem se concentrado na aceleração da demolição, muitas vezes sem planos abrangentes de desenvolvimento ou apoio a longo prazo. Nos últimos anos, esse movimento tem se intensificado, apesar das lições do passado e das evidências sobre suas limitações.
Ao olhar para as áreas mais afetadas por perdas habitacionais extremas, como as cidades do Rust Belt, vemos que os bairros de perda habitacional extrema (EHLNs) perderam mais de 50% de suas moradias entre 1970 e 2010, com alguns desses lugares enfrentando a perda massiva de imóveis em um único período, muitas vezes como parte de projetos de desenvolvimento comercial ou institucional. Esses bairros, em sua maioria, são alguns dos mais desinvestidos, e a situação varia enormemente entre as cidades. Por exemplo, em Highland Park, Michigan, cerca de 70% da área é composta por EHLNs, enquanto em Springfield, Illinois, a proporção é de apenas 0,1%.
A ideia de que a demolição pode servir como um "reset" para essas áreas é questionável. A redução da população e a perda de unidades habitacionais, muitas vezes associadas a um ciclo contínuo de empobrecimento e deslocamento, não são apenas um reflexo de condições físicas, mas também de políticas públicas ineficazes e da ausência de intervenções sociais estruturadas. Além disso, as cidades que mais sofreram com a perda habitacional extrema, como Detroit, não são as únicas a enfrentar essa realidade, pois muitas outras, como East St. Louis e Gary, também enfrentam desafios semelhantes, ainda que em escalas diferentes.
Portanto, é crucial considerar que a demolição não deve ser vista como uma panaceia, mas como parte de uma abordagem mais ampla e integrada, que envolva revitalização social, apoio à comunidade local e desenvolvimento sustentável. Sem isso, o ciclo de desinvestimento e degradação pode ser irreversível, perpetuando as desigualdades urbanas.
O que realmente está por trás da ideia de “rightsizing” nas cidades em crise?
O discurso do progresso urbano, muitas vezes promovido como solução para cidades em declínio, tem servido como cortina de fumaça para a reedição de políticas austeras e excludentes sob nova roupagem. “Rightsizing” — termo que sugere uma racionalização espacial e funcional de cidades marcadas pela perda populacional e econômica — apresenta-se, na prática, como uma estratégia de retração urbana profundamente entrelaçada com lógicas de privação organizada e apagamento social.
Em seu núcleo, o rightsizing propõe que cidades em estado avançado de degradação e abandono devem ser “dimensionadas corretamente”. Isso envolve, por exemplo, transformar bairros inteiros — muitas vezes historicamente habitados por comunidades negras empobrecidas — em parques e corredores verdes, ou ainda incentivar a concentração da população remanescente em pequenos núcleos urbanos considerados mais “viáveis”. Teoricamente, isso reduziria os custos de manutenção da infraestrutura urbana, aumentaria a eficiência dos serviços públicos e contribuiria para a sustentabilidade fiscal e ambiental.
Contudo, sob análise crítica, a proposta de rightsizing revela uma série de contradições e riscos. A linguagem que o embala — progresso, sustentabilidade, revitalização — esconde uma agenda que pouco tem de inclusiva. Ao invés de representar um plano de requalificação social e territorial, trata-se frequentemente da implementação de um urbanismo de austeridade, onde cortes de serviços, demolições em massa e desinvestimentos são financiados e promovidos com apoio estatal, enquanto propostas progressistas como o verde urbano permanecem como promessas vazias, sem financiamento real.
Mais preocupante ainda é o fato de que essas políticas têm sido aplicadas de maneira hierárquica e excludente. A consulta comunitária, quando ocorre, limita-se a decidir quais casas devem ser demolidas, e não se estende à definição dos rumos do desenvolvimento urbano. Assim, os residentes das chamadas “extreme housing loss neighborhoods” (EHLNs) — bairros marcados pela perda extrema de habitação — veem-se alijados dos processos decisórios que afetam diretamente seus modos de vida, enquanto suas áreas são redefinidas segundo interesses externos, frequentemente ligados a especuladores e elites políticas regionais.
A crítica acadêmica e ativista a essa abordagem é incisiva. Para muitos, o rightsizing não passa de uma reencarnação do urban renewal do século XX — programas que, sob o pretexto de combater a superlotação e a segregação, demoliram bairros inteiros e deslocaram milhares de pessoas, em sua maioria negras, para dar lugar a projetos que serviam a interesses econômicos mais amplos. Hoje, com nova linguagem e novas justificativas, a história se repete: a cidade é “salva” para ser, na prática, desmantelada.
A seletividade racial permanece como componente estrutural, embora muitas vezes invisibilizada nos documentos oficiais. A maior parte das populações afetadas por essas políticas são negras, e a ausência da discussão racial nos planos de rightsizing não é acidental — é estrutural. A indiferença racial permite que tecnocratas vendam a ideia de cidades mais verdes como uma justificativa progressista para a remoção de bairros racializados do mapa urbano. A lógica do “verde” serve para mascarar a retirada estatal, ao mesmo tempo em que fornece uma aparência de inovação e modernidade.
Apesar das críticas legítimas, não se pode ignorar que o abandono extremo também impõe sérios desafios sociais, ambientais e econômicos. A vacância generalizada contribui para o isolamento social, facilita práticas ilícitas como incêndios criminosos e despejo ilegal de resíduos, e coloca pressão fiscal adicional sobre os governos locais. No entanto, esses problemas concretos são instrumentalizados por forças conservadoras para promover soluções simplistas e excludentes, ao invés de abordagens estruturais que ataquem as causas da desindustrialização, da segregação racial e da desigualdade regional.
A implementação do rightsizing, assim como aconteceu com o urban renewal, tem sido moldada por condições macroeconômicas e ideológicas mais amplas. A transição do gerencialismo keynesiano para um urbanismo empreendedor especulativo impôs novas exigências às cidades: assumir riscos, endividar-se, competir por investimentos. Após o colapso de 2008, muitas se viram asfixiadas por dívidas e sem transferências suficientes de governos superiores. Foi nesse contexto que o discurso da austeridade urbana ganhou força — promovido não apenas por limitações orçamentárias, mas por uma estrutura organizada de poder político e econômico que define, de antemão, o que é possível e o que não é.
Hoje, ao observar planos de rightsizing em cidades como Detroit, Flint, Rochester, Saginaw e Youngstown, é evidente que sua implementação real foca mais na eliminação do que na criação. A retórica do planejamento é usada para justificar triagens territoriais que abandonam certos bairros à própria sorte, como se fossem feridas incuráveis no corpo urbano. A demolição se impõe como resposta automática à decadência, enquanto o desenvolvimento equitativo, o investimento social e a escuta das comunidades são negligenciados ou relegados a papéis decorativos.
É essencial reconhecer que o rightsizing, tal como vem sendo aplicado, não é apenas uma política de gestão urbana: é um projeto político-ideológico que decide quem e o que vale a pena salvar numa cidade. Ao fazer isso sem enfrentar diretamente as questões estruturais de raça, classe e poder, torna-se mais uma ferramenta de exclusão e manutenção das hierarquias espaciais herdadas de um passado que insiste em não passar.
É fundamental que o leitor compreenda que o debate sobre rightsizing não se limita à técnica urbanística. Trata-se de um campo de disputa simbólica, econômica e política, onde narrativas de progresso são frequentemente utilizadas para reforçar desigualdades históricas. A linguagem da sustentabilidade e da racionalidade fiscal precisa ser confrontada com perguntas concretas sobre justiça urbana, memória coletiva e o direito à cidade para todos — não apenas para os que cabem nos planos.
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