O fenômeno da gentrificação tem sido amplamente discutido desde a década de 1960, sendo visto como um processo de transformação de bairros urbanos, inicialmente ocupados por classes sociais mais baixas, para áreas com características de maior valorização e custo de vida. Entretanto, uma forma emergente e mais complexa deste processo está sendo cada vez mais associada ao turismo, dando origem ao conceito de “turismo gentrificado”. Este conceito descreve como o influxo de turistas pode atuar como um agente de transformação nas dinâmicas urbanas, levando a um processo de “super-gentrificação”, no qual áreas já gentrificadas se tornam ainda mais exclusivas, impulsionadas pela demanda turística.
Nos últimos anos, é possível observar que o perfil do turista tem se alterado. Turistas não são mais apenas visitantes passivos de um destino, mas buscam se integrar mais aos espaços urbanos, se comportando cada vez mais como locais, ao mesmo tempo em que as populações residentes começam a adotar um estilo de vida cosmopolita, com várias residências e uma maior mobilidade entre diferentes cidades. Isso cria uma sobreposição de papéis – o turista que se comporta como residente e o residente que se comporta como turista – gerando uma “nebulosa” entre o que é turístico e o que é habitacional, e consequentemente desafiando os modelos tradicionais de governança urbana.
O turismo, nesse contexto, se torna um agente central das negociações políticas e espaciais nas cidades. A valorização do solo, o mercado imobiliário e os preços de aluguel estão diretamente ligados à expansão da atividade turística. Como resultado, o turismo não é mais visto apenas como uma atividade econômica de curto prazo, mas como uma força transformadora e duradoura, que influencia a renovação urbana e as dinâmicas residenciais.
O processo de "super-gentrificação" envolve um novo ciclo de transformação de áreas que já passaram por processos anteriores de gentrificação. Esta nova etapa é caracterizada por um influxo de turistas de alta renda, que buscam locais exclusivos e únicos para suas estadias. O mercado imobiliário responde a essa demanda com a construção de empreendimentos de alto padrão, que acabam expulsando os primeiros gentrificadores, que foram os primeiros a revitalizar a área, mas não possuem mais recursos para competir com os novos fluxos de capital. A super-gentrificação, portanto, é um ciclo sem fim, que se autoalimenta e é impulsionado por uma combinação de turismo de alto padrão e investimentos financeiros, muitas vezes ligados ao turismo de aluguel de curto prazo, como o modelo de plataformas como o Airbnb.
Nesse cenário, a integração de tecnologias como os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) torna-se fundamental. Essas ferramentas possibilitam a coleta, armazenamento, análise e visualização de dados espaciais, o que é essencial para o planejamento e a gestão do turismo nas cidades. A utilização de SIG permite, por exemplo, a realização de inventários de recursos turísticos, a identificação de melhores locais para o desenvolvimento de novos destinos, e a avaliação dos impactos ambientais causados pelo turismo. Além disso, ao integrar dados sobre fluxos turísticos, essas ferramentas ajudam a compreender as dinâmicas espaciais e a otimizar a gestão dos turistas em destinos populares.
Os SIGs também podem ajudar a mapear as tensões geradas entre o turismo e os processos de gentrificação, identificando áreas vulneráveis à supergentrificação, onde a pressão imobiliária aumenta com a demanda turística. Esses dados são cruciais para a formulação de políticas públicas que busquem equilibrar a regeneração urbana com a preservação da identidade local e a inclusão social.
Contudo, ao estudar o fenômeno da gentrificação impulsionada pelo turismo, é importante entender que essa relação não é linear nem homogênea. Diferentes cidades e bairros experimentam esse processo de maneira única, dependendo de uma série de fatores como o tipo de turismo predominante, a estrutura econômica local, as políticas públicas e a capacidade de adaptação da população residente. Além disso, é fundamental observar que a gentrificação turisticamente orientada não se limita apenas ao aumento dos preços de imóveis ou ao deslocamento de residentes de baixa renda. Ela também está atrelada à transformação das práticas culturais, ao recondicionamento da paisagem urbana e à redefinição das funções sociais de determinados espaços.
Em muitos casos, as comunidades locais acabam perdendo o controle sobre os processos de transformação em seus próprios bairros, o que gera conflitos sociais e a crescente precarização da moradia. A busca incessante por locais “fora do comum” por parte de turistas pode, por um lado, promover o desenvolvimento de áreas antes negligenciadas, mas, por outro lado, pode agravar desigualdades e deslocar as populações originais, criando um fenômeno de exclusão e fragmentação social.
Portanto, ao abordar a gentrificação turistica e seus impactos, é necessário ter em mente não apenas os aspectos econômicos, mas também as questões sociais e culturais envolvidas. As políticas de turismo devem ser desenhadas de maneira a conciliar a valorização econômica do turismo com a preservação da qualidade de vida dos moradores e a diversidade cultural dos bairros. As tecnologias, como os SIGs, podem fornecer as ferramentas necessárias para que essa análise seja mais precisa e as decisões mais eficazes, mas somente com uma abordagem integrada e sustentável será possível mitigar os impactos negativos dessa transformação urbana.
Como a instabilidade política e social impacta o turismo: lições da Nicarágua, Níger e Nigéria
O turismo, frequentemente visto como um motor vital para o desenvolvimento econômico, pode ser drasticamente afetado por crises políticas, sociais e de saúde pública. A Nicarágua, por exemplo, testemunhou uma queda abrupta no setor após um período de crescimento vigoroso que durou cerca de duas décadas. Entre 1997 e 2017, o número de visitantes internacionais aumentou quase cinco vezes, acompanhando uma elevação significativa na receita turística. No entanto, a instabilidade política, marcada pela prisão de mais de 1.600 presos políticos e uma gestão autoritária que desconsiderou medidas eficazes contra a pandemia da Covid-19, levou a uma redução de 35,2% na receita turística em 2019, causando um impacto direto e negativo para a economia do país. A resposta governamental negligente, incluindo o incentivo a grandes aglomerações e o subregistro intencional de casos e mortes, comprometeu a confiança dos visitantes e da comunidade internacional.
A riqueza natural da Nicarágua, com seu imenso lago, vulcões imponentes, florestas de altitude, praias de areia branca e a maior floresta neotropical fora da Amazônia, criou um cenário promissor para o turismo. No entanto, a ausência de infraestrutura adequada e de políticas sustentáveis mostrou-se um entrave significativo para o pleno desenvolvimento do setor. Além disso, a concentração do turismo em locais específicos, como Granada, a ilha vulcânica de Ometepe e a costa pacífica, sem uma dispersão equilibrada, evidenciou desafios de gestão e inclusão social.
No Níger, país que apesar de suas riquezas naturais e culturais permanece entre os mais pobres do mundo, o turismo tem sido historicamente frágil e dependente de fatores externos e políticos. A região norte, marcada pelo deserto do Saara e pela cultura Tuareg, vivenciou uma expansão turística inicial na década de 1960, com operadores europeus organizando expedições que atraíam visitantes internacionais. Contudo, a eclosão da rebelião tuareg em 1990 e a instabilidade contínua – agravada por ameaças terroristas – interromperam o crescimento do setor e limitaram sua capacidade de recuperação. Os atores locais, inseridos em uma estrutura social hierárquica complexa, foram forçados a buscar alternativas econômicas, como a mineração artesanal e a agricultura de subsistência. O turismo, apesar disso, continua a ser visto como um potencial caminho para o desenvolvimento, requerendo, entretanto, uma gestão local eficiente e políticas que garantam segurança e inclusão.
A Nigéria, por sua vez, destaca-se pelo tamanho e diversidade, mas enfrenta desafios significativos para converter seu potencial turístico em benefício social e econômico. Desde a criação do Conselho Nacional de Turismo em 1963, houve esforços para organizar e planejar o desenvolvimento do setor, com ênfase em geração de emprego e bem-estar da população. No entanto, a instabilidade política, as deficiências de infraestrutura e a ausência de um modelo de gestão sustentável continuam a limitar o avanço da indústria turística. As iniciativas governamentais, mesmo com revisões políticas e planos nacionais, precisam se confrontar com as complexidades sociais, econômicas e culturais do país, buscando uma abordagem que promova a sustentabilidade, a diversificação e a inclusão.
A análise conjunta destes países evidencia que o turismo não é apenas uma atividade econômica isolada, mas um reflexo direto das condições políticas, sociais e ambientais. A estabilidade política, a transparência na gestão pública e a implementação de políticas sustentáveis são pilares essenciais para o desenvolvimento turístico. Além disso, a capacitação local, a inclusão social e a proteção do patrimônio natural e cultural precisam caminhar lado a lado com as iniciativas de crescimento econômico.
É imprescindível entender que o turismo pode tanto contribuir para a preservação quanto para a degradação do meio ambiente e das culturas locais, dependendo da forma como é gerido. Portanto, a experiência desses países reforça a necessidade de políticas integradas que considerem o turismo como um vetor para o desenvolvimento sustentável, capaz de gerar renda e emprego sem comprometer os recursos naturais e o tecido social. A preparação para crises, a gestão de riscos e a participação comunitária são componentes fundamentais para garantir que o turismo seja resiliente diante de adversidades políticas, sanitárias e ambientais.
Como a Resiliência Impacta o Desenvolvimento de Resorts e o Turismo Sustentável
A resiliência, como conceito, tem sido amplamente discutida nas esferas sociais, econômicas e ecológicas, com ênfase nas dimensões macro, enquanto as dimensões micro, como as redes de governança e as percepções individuais, foram pouco abordadas. A inter-relação entre a gestão de crises e as perspectivas de resiliência, especialmente no contexto do turismo, é algo que ainda carece de mais aprofundamento, apesar de já reconhecida. Um aspecto importante que ainda não foi explorado de maneira consistente é a resiliência no nível individual, principalmente em relação à adaptação e persistência dos turistas em momentos adversos.
A resiliência no turismo, assim como em outras áreas, emergiu inicialmente de uma abordagem reativa, ou seja, como a capacidade de responder a mudanças e se adaptar aos distúrbios. Contudo, o conceito evoluiu, adquirindo um caráter mais proativo, que envolve não apenas a reação a crises, mas também o planejamento e a preparação para essas crises, com a capacidade de continuar a se desenvolver. Isso é particularmente relevante no caso do turismo e da indústria hoteleira, cujos empregos são altamente vulneráveis a mudanças e crises, com alta rotatividade de funcionários. Embora o foco inicial da literatura tenha sido a resiliência das comunidades, regiões e, mais recentemente, das organizações, pouco foi feito no campo da resiliência individual, tanto do ponto de vista dos trabalhadores quanto dos turistas.
O setor de turismo é sensível às mudanças nas demandas dos turistas, mas existe uma lacuna significativa no entendimento sobre como os turistas reagem a adversidades enquanto viajam. O estudo da resiliência psicológica é necessário para entender como as pessoas se comportam em situações de crise ou adversidade. Além disso, a resiliência empreendedora também pode ser um campo frutífero de estudo, especialmente no contexto do turismo, quando se observa como os empresários lidam com os períodos de crise e incerteza.
É importante perceber que a resiliência no contexto turístico não se limita à recuperação após uma crise, mas envolve um processo contínuo de adaptação e inovação. A literatura recente sugere uma nova abordagem no planejamento turístico, que incorpora a resiliência no desenvolvimento sustentável. Isso significa que, ao integrar a resiliência no planejamento de turismo sustentável, se reflete a realidade dinâmica e muitas vezes imprevisível do fenômeno do turismo.
A noção de ciclo de vida dos resorts tem sido central no desenvolvimento do turismo. Tradicionalmente, este ciclo é descrito como uma sequência de estágios — desde a introdução de novos resorts até sua maturação, estagnação e eventual necessidade de rejuvenescimento. O conceito de ciclo de vida, inicialmente proposto por Butler, tem sido amplamente aplicado, mas a realidade é que muitos resorts enfrentam desafios significativos à medida que se aproximam da fase de estagnação, sendo necessário implementar renovação e reposicionamento para sobreviver. Esses processos de rejuvenescimento, muitas vezes, envolvem a diversificação de ofertas, a incorporação de novos tipos de atrações e a adaptação às mudanças nas preferências dos turistas.
Em particular, a noção de resorts integrados, que incluem uma ampla gama de instalações e serviços dentro de um perímetro bem definido, tem ganhado destaque. Esses resorts, que frequentemente são planejados por uma única organização, podem englobar atividades como turismo de aventura, wellness e até mesmo o conceito de resorts urbanos, como exemplificado pelo conceito de resorts ecológicos urbanos. As novas tecnologias de construção permitem o desenvolvimento de resorts em locais antes considerados improváveis, como o Ski Dubai, que recria condições de inverno em um deserto. Essa tendência de resorts híbridos reflete uma mudança nas expectativas e nas necessidades dos consumidores modernos, que buscam novas experiências e conveniências.
Um aspecto fundamental, que tem sido objeto de crescente pesquisa, é a evolução do conceito de "resorts all-inclusive", onde os turistas pagam uma tarifa única que cobre todas as acomodações, refeições e atividades. Este modelo, embora bem estabelecido, tem sido criticado por sua tendência a criar exclusão social, tanto para residentes locais quanto para outros turistas. Nesse sentido, a regeneração dos resorts pode envolver práticas mais inclusivas, com um foco maior em bem-estar e engajamento público.
Ao olhar para o futuro, os desenvolvimentos turísticos e de resorts parecem seguir a tendência de personalização e integração com outros setores, como o MICE (Meetings, Incentives, Conferences, and Exhibitions), além da incorporação de práticas ecológicas e sustentáveis. O foco agora é como as indústrias podem se integrar de maneira eficaz e sustentável, enquanto preservam a identidade e a autenticidade dos destinos turísticos.
A resiliência não deve ser vista apenas como uma resposta a distúrbios externos, mas como um processo contínuo de adaptação e evolução diante das mudanças. A adoção de uma abordagem resiliente no desenvolvimento de resorts e no planejamento do turismo sustentável pode ajudar a garantir não apenas a sobrevivência dos negócios, mas também a preservação dos ecossistemas e das comunidades locais a longo prazo.
Como os Recursos Naturais e Culturais Definem o Turismo Sustentável em Resorts Integrados
O desenvolvimento de grandes resorts e destinos turísticos integrados, como vemos em locais como a Arábia Saudita e a Indonésia, está estreitamente ligado à utilização de recursos naturais e culturais. Este fenômeno é acompanhado de um crescente interesse pela construção de destinos turísticos em áreas mais inexploradas ou inovadoras, como os resorts subaquáticos ou, futuramente, até em espaço exterior. A concepção desses novos destinos está, em grande parte, baseada no uso de recursos locais e na adaptação a novas tecnologias, enquanto enfrenta o desafio de equilibrar o crescimento com a preservação dos recursos disponíveis.
No caso da Arábia Saudita, o projeto Enclave Tourism NEOM apresenta uma proposta de desenvolvimento turístico onde a integração entre resorts e cidades inteligentes é a base para a criação de uma nova área de lazer, propensa a atrair turistas internacionais. Este tipo de turismo não se limita mais a conceitos antigos, como resorts de luxo com campos de golfe ou estações de esqui, mas envolve o uso de tecnologias avançadas e a criação de infraestruturas altamente integradas. A busca por inovações não é apenas tecnológica, mas também cultural e ambiental, visto que esses novos destinos devem ser sustentáveis tanto em sua operação quanto em seu impacto ambiental.
Porém, ao lado de todas as inovações tecnológicas, o turismo continua dependente dos recursos locais, sejam eles naturais ou culturais. Como exemplo, podemos olhar para a Indonésia, onde o governo está promovendo um modelo de desenvolvimento turístico baseado na criação de “10 novos Balis”. Esta expansão do setor turístico no país visa não apenas atrair turistas internacionais, mas também preservar as características culturais e naturais dos locais, evitando os impactos negativos associados à massificação do turismo. Um desses impactos é o conceito de "capacidade de carga" de um destino, que é a quantidade de turistas que um local pode acomodar sem prejudicar seus recursos naturais e culturais. O uso excessivo de um recurso local, como uma praia ou uma formação geológica, pode resultar em sua deterioração, afetando o turismo a longo prazo.
Em relação à sustentabilidade, a questão do uso de recursos naturais e culturais em destinos turísticos não é trivial. Como nos lembra a literatura, o turismo sustentável não é apenas uma questão de preservar o ambiente natural, mas também de garantir que os recursos culturais, como patrimônio histórico e artes, sejam utilizados de maneira responsável. A irreversibilidade desses recursos é um fator importante: uma vez perdido um elemento cultural ou ambiental, a recuperação pode ser impossível ou extremamente demorada. Assim, a gestão desses recursos exige um equilíbrio delicado entre o uso e a preservação, para que o destino turístico continue a atrair visitantes sem sacrificar seus maiores ativos.
A distinção entre “turismo duro” e “turismo suave” se torna relevante nesse contexto. O primeiro refere-se ao turismo massificado, frequentemente associado a grandes resorts e atrações artificiais, onde os recursos externos – capital e trabalho – são frequentemente trazidos de fora para criar uma infraestrutura voltada para grandes números de turistas. Esse tipo de turismo é mais suscetível à exploração insustentável dos recursos locais. Já o “turismo suave”, que tem ganhado destaque em muitos destinos, foca no uso de recursos locais, como a cultura e o meio ambiente, buscando sempre um impacto mínimo e uma integração harmoniosa com a comunidade local.
O turismo que depende de um único recurso, como um complexo de resorts de esqui ou um cassino, pode ser altamente vulnerável a mudanças externas, como o aquecimento global, que afeta diretamente a viabilidade de atividades como o esqui, por exemplo. Por outro lado, destinos turísticos que combinam múltiplos recursos, sejam naturais, culturais ou humanos, tendem a ser mais resilientes, pois podem se adaptar a mudanças nas condições externas, como variações climáticas ou mudanças nas preferências dos turistas.
Portanto, para que os destinos turísticos continuem a prosperar, é essencial entender não apenas as características dos recursos naturais e culturais locais, mas também como equilibrar seu uso com a necessidade de preservação. O conceito de "capacidade de carga" se torna central, uma vez que limita a quantidade de turismo que um destino pode suportar sem comprometer seus recursos fundamentais. É um desafio complexo, que envolve uma gestão cuidadosa dos recursos, planejamento estratégico e, principalmente, uma reflexão profunda sobre os impactos de longo prazo das atividades turísticas em uma área.
A transição de uma abordagem de “turismo duro” para um modelo mais sustentável, baseado no “turismo suave”, exige uma mudança de mentalidade tanto dos desenvolvedores quanto dos turistas. Para os desenvolvedores, isso significa criar destinos que respeitem os recursos locais, ao mesmo tempo em que proporcionam uma experiência rica e autêntica aos visitantes. Para os turistas, envolve uma maior conscientização sobre os impactos de suas escolhas e uma valorização do que é único e irreplaceável nas culturas e ambientes que visitam.
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Como o Planejamento Central Evolui na Era Digital e o Que Isso Significa para o Turismo
O plano quinquenal, concebido inicialmente como instrumento para acelerar a industrialização pesada — com prazos médios alinhados ao tempo necessário para construir usinas siderúrgicas, instalações de energia e complexos químicos — foi adaptado com o tempo para responder às exigências de uma economia cada vez mais digitalizada e interdependente. Ao longo do século XXI, sobretudo após os choques econômicos de 2008 e da pandemia de Covid-19, a ideia de um mundo econômico “plano” e globalizado deu lugar à percepção de um sistema “curvo”, repleto de fragilidades interconectadas.
Os planos econômicos centrados no Estado ressurgiram, não como réplicas do modelo soviético, mas como instrumentos de intervenção coordenada para reequilibrar estruturas e amortecer os efeitos de crises sistêmicas. O plano de resgate de US$ 1,9 trilhão nos EUA em 2021 e o programa europeu Next Generation EU são exemplos paradigmáticos de uma nova centralização estratégica. Esses planos abrangem saúde, educação, infraestrutura digital e verde, indicando que o investimento estatal voltou a ser o eixo motor do desenvolvimento sustentável e da coesão territorial.
Essa revalorização do planejamento central não implica retorno ao dirigismo tradicional. A lógica mudou: o Estado não mais define unilateralmente as necessidades produtivas, mas atua como mediador e regulador num ecossistema econômico onde a informação circula em tempo real, impulsionada por plataformas digitais e inteligência artificial. A digitalização desfez o dilema clássico do planejador central: a dificuldade em prever as preferências dos consumidores.
Através de plataformas como Booking.com e TripAdvisor, o comportamento do consumidor se tornou transparente, rastreável e quantificável. Destinos turísticos, tipos de acomodação, horários preferidos, preferências gastronômicas e eventos culturais são constantemente informados, avaliados e atualizados por milhões de usuários. Mais de 250 avaliações por minuto são geradas apenas no TripAdvisor, criando um fluxo de dados que substitui o antigo modelo de projeção de demanda por uma retroalimentação contínua entre oferta e desejo.
Essa transformação é mais do que tecnológica; é estrutural. O fluxo informacional inverte a lógica de comando. A comunicação não é mais vertical, mas em rede. O centro não é mais um comitê estatal, mas um conjunto de servidores que processam e antecipam comportamentos de consumo, ajustando automaticamente a oferta. O mercado, assim, não é mais “livre” no sentido clássico, mas sim auto-organizado em tempo real com base na vigilância algorítmica. O preço é a erosão da privacidade.
No entanto, não se trata de uma distopia orwelliana. A descentralização do poder de decisão, agora partilhado entre indivíduos e sistemas automatizados, minimiza o risco de imposições ideológicas unilaterais. A figura do ditador planejador é substituída por sistemas impessoais que, embora anônimos, refletem uma pluralidade de decisões e gostos. O planejamento central se transforma em curadoria digital assistida por IA.
No turismo, isso adquire implicações diretas. A transformação digital redefine a experiência do viajante e a forma como os serviços são concebidos e entregues. Ao mesmo tempo, surgem novos mecanismos de certificação — sustentáveis, temáticos, setoriais — que substituem a coerção regulatória por incentivos reputacionais. Não há imperativo legal que obrigue a certificação, mas ela se tornou um diferencial competitivo, impulsionando qualidade, conformidade e confiança.
A integração entre informação em tempo real e planejamento estratégico conduz a um modelo híbrido no qual o Estado redefine seu papel como facilitador, enquanto o mercado se ajusta dinamicamente às preferências informadas dos usuários. O turismo não escapa a essa lógica: sua resiliência futura dependerá da capacidade de articular essas esferas, promovendo desenvolvimento territorial equilibrado, inovação social e sustentabilidade.
É importante compreender que o novo paradigma não elimina a tensão entre liberdade de mercado e regulação pública — ele a desloca para o campo da arquitetura informacional. O verdadeiro desafio está em quem controla os dados, como eles são interpretados e quais interesses definem os algoritmos. A descentralização só é virtuosa se houver transparência e responsabilidade no uso da informação. Caso contrário, o sonho digital do planejamento perfeito poderá esconder novas formas de assimetria e dominação.
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