Na análise da semiótica e da teoria da informação, há uma compreensão fundamental de que a informação possui aspectos diferentes que devem ser considerados separadamente. Um símbolo, por exemplo, não é apenas um reflexo direto da realidade que ele representa, mas sim algo que mantém sua relação referencial mesmo quando essa conexão direta se perde. Esse fenômeno explica como símbolos abstratos, generalizados e até ficcionais podem continuar a funcionar de maneira significativa, mesmo que a relação direta com o objeto representado seja ausente. Ao contrário de ícones, que têm uma correlação direta com o que representam, ou índices, que indicam algo de forma causal ou contígua, os símbolos são capazes de estabelecer relações indexicais mais complexas, que permitem uma gama mais ampla de expressões, incluindo abstrações e ficções.

A verdadeira complexidade surge quando se tenta entender como um símbolo se conecta ao objeto no mundo real. Para que um símbolo tenha poder representativo, ele precisa, eventualmente, ser "relocalizado" por meio de uma correlação direta e indexical com esse objeto. Isso significa que as palavras e outros signos não são apenas veículos de significado, mas dependem de relações específicas e estruturadas que garantem sua eficácia na comunicação.

Essa concepção não é apenas teórica; ela se reflete em aspectos práticos da linguagem e da comunicação. No campo da teoria semiótica, uma das questões debatidas é a ideia de que a comunicação e o significado são apenas produtos evolutivos de um jogo entre remetente e receptor. No entanto, essa visão se mostra insuficiente quando se busca entender a convencionalidade do significado. Em uma análise semiótica mais profunda, propõe-se uma visão alternativa, a do "mal-entendido mútuo", como ferramenta para explicar por que significados podem ser tão variados e até contraditórios em situações de comunicação.

Por outro lado, a teoria da evolução do sinal de Lewis-Skyrms, que busca explicar como os sinais surgem e são interpretados, enfoca as condições em que um sinal se torna convencional. Isso diz respeito não apenas ao veículo do sinal, mas também à relação referencial entre os signos e o mundo. Compreender a convencionalidade do significado requer, portanto, mais do que uma explicação evolucionária sobre a origem dos sinais. É necessário adotar uma abordagem semiótica, que leve em conta tanto o contexto em que os signos são utilizados quanto a maneira como as falhas de entendimento (ou os mal-entendidos) emergem de formas complexas de interação simbólica.

A semiótica da convenção ajuda a explicar como certos padrões de comunicação se estabelecem e se mantêm ao longo do tempo, criando um sistema no qual não apenas os veículos de sinais, mas as próprias relações referenciais, se tornam convencionais. Assim, os mal-entendidos podem ser vistos como um produto dessa convenção, que, ao mesmo tempo que estabelece regras para a comunicação, também permite uma grande diversidade de interpretações e significados.

Entender como a informação funciona nesse contexto envolve uma análise detalhada de três aspectos principais da informação: estrutural, referencial e normativo. A informação estrutural se refere ao modo como a informação é organizada e codificada, enquanto a informação referencial diz respeito à relação que o símbolo ou sinal tem com o objeto ou ideia que ele representa. A informação normativa, por sua vez, é aquela que estabelece normas ou padrões de uso, regulando como a informação pode ser interpretada e utilizada em diferentes contextos.

Esses três aspectos não são independentes, mas sim hierarquicamente interdependentes. A informação normativa depende da informação referencial, que, por sua vez, depende da informação estrutural. Esta estrutura hierárquica não só organiza a forma como entendemos e usamos a informação, mas também explica a eficácia da comunicação e dos signos em contextos diferentes, desde os mais simples até os mais complexos, como na linguagem científica e na comunicação simbólica.

Esse modelo tripartido de informação, que vê a informação como algo carregado por sinais, sobre algo e para algum uso, oferece uma visão mais precisa e prática do que significa comunicar algo e como os signos desempenham um papel crucial em nossa compreensão do mundo. No entanto, para que a comunicação seja realmente eficaz, é necessário que esses três aspectos se alinhem de maneira adequada, o que nem sempre ocorre, como pode ser observado em casos de mal-entendidos ou falhas de comunicação.

O debate sobre a informação e seus múltiplos aspectos não é apenas uma questão teórica, mas tem implicações práticas e fundamentais para a ciência, a filosofia e a prática cotidiana. As convenções que definem como a informação é transmitida e compreendida são complexas e frequentemente sujeitas a mudanças, mas a base que sustenta essa comunicação é o entendimento profundo dos vínculos indexicais e simbólicos que permitem aos seres humanos compartilhar e interpretar significados.

Como a Informação Adquire Eficácia Física: A Relação Entre Estrutura, Referência e Normatividade

Na vasta literatura sobre o conceito de informação, frequentemente se confunde ou utiliza de forma ambígua termos que são tidos como sinônimos. Isso se torna particularmente problemático quando se analisa o tratamento popular do conceito, como no livro premiado de James Gleick, The Information: A History, A Theory, A Flood. Embora ele narre com detalhes fascinantes a história e as implicações atuais dessa teoria revolucionária, não há um esforço sequer para considerar questões relativas ao significado ou ao uso da informação, como se tais questões fossem periféricas. De fato, a história do debate filosófico sobre essas questões "periféricas" remonta a milênios, sem sinais de que tenha chegado a uma resolução definitiva. Esses debates, por muitas vezes, têm sido conduzidos com uma terminologia diferente, abordando questões de representação, teorias do conhecimento, conceito de valor, natureza da finalidade, entre outros. Desde a contribuição de Shannon, essas discussões filosóficas também começaram a incorporar reflexões sobre a relevância dessa interpretação específica do conceito de informação.

Os esforços acadêmicos para integrar a teoria da informação à filosofia da mente e às teorias do conhecimento geraram uma série de livros inovadores sobre a informação, com autores como Bar-Hillel, Carnap, Wiener, Dretske, Millikan, Floridi e Skyrms, para citar alguns. Departamentos universitários, sociedades profissionais internacionais e periódicos especializados em abordagens diversas da informação têm se multiplicado ao longo dos anos. Assim, após 75 anos da contribuição de Shannon, seria razoável supor que apenas ajustes modestos no nosso conhecimento sobre a informação seriam possíveis. Afinal, como poderiam existir questões fundamentais ainda não consideradas ou respondidas?

O título deste livro – Information in a Physical World – sugere que uma questão fundamental permanece sem resposta. Ele faz uma junção enigmática de duas compreensões distintas do conceito de informação. Por um lado, bits de informação, na forma de imagens físicas, textos e números, estão por toda parte no mundo moderno. Essa fisicalidade é evidente, mas suas consequências tendem a ser relativamente menores. Por outro lado, o significado transmitido por esses sinais não faz parte de sua fisicalidade, e ainda assim é causalmente relevante, frequentemente iniciando mudanças significativas nas sociedades e em seus ambientes físicos. Contudo, essa diferença de efeito parece violar uma suposição comum de que apenas as propriedades fisicamente presentes podem ter efeitos causais.

A fisicalidade da informação é, sem dúvida, aceita como dada em um sentido, especialmente quando se considera que tanto o cérebro quanto os computadores são sistemas físicos, nos quais o processamento de sinais, seja químico ou elétrico, constitui o que chamamos de processamento de informação. A partir dessa premissa, a fisicalidade da informação poderia ser vista como bem compreendida. De fato, a maioria dos estudiosos da área concorda com a afirmação de Rolf Landauer em 1961, que a informação é física e não uma essência formal desincorporada. No entanto, ao aprofundar a análise, percebe-se que a fisicalidade da informação não é tão simples. A sutileza dessa questão torna-se mais evidente ao refletirmos sobre a base da conclusão de Landauer. A evidência definitiva para a fisicalidade da informação é o fato de que apenas a exclusão de informações (como no caso da exclusão de dados de uma memória de computador) gera um aumento na entropia. Mas isso constitui uma espécie de fisicalidade negativa, que, à primeira vista, não parece relevante para explicar como o significado pode ter consequências físicas.

O livro Information in a Physical World explora essa peculiar fisicalidade da informação que implica uma abordagem semiótica abrangente. A argumentação começa por distinguir três formas hierarquicamente relacionadas de análise da informação: suas propriedades estruturais, sua função referencial e suas consequências normativas. A análise de Shannon forneceu uma base adequada para caracterizar os aspectos estruturais da informação, enquanto questões de referência e normatividade têm sido predominantemente debatidas por filósofos e tratadas como epifenômenos nas ciências naturais. Um dos principais objetivos do livro é explicar a eficácia causal desses aspectos semióticos aparentemente subjetivos da informação.

Esse objetivo é alcançado por meio de uma inversão figura/fundo na visão tradicional da informação, na qual as propriedades referenciais e normativas da informação fornecem a principal fonte de eficácia física, enquanto as propriedades estruturais dos meios informativos são secundárias. Para explicar como os aspectos não intrínsecos da informação podem ser fontes de eficácia física, a análise se volta para o processo de interpretação. Essa mudança de foco desloca o locus da eficácia causal para o processo interpretativo, em vez de estar no meio que carrega a informação, e coloca em evidência as propriedades termodinâmicas do processo interpretativo. Assim, grande parte da discussão nos capítulos subsequentes explora a lógica da interpretação em suas diversas formas e contextos. Em um extremo, isso envolve uma discussão dos processos interpretativos básicos que compõem a química normativa dos processos vivos. No outro extremo, envolve uma análise da infraestrutura semiótica complexa subjacente ao pensamento simbólico e à linguagem.

Essa mudança de foco – afastando-se das propriedades estruturais intrínsecas dos meios informativos e direcionando-se para as propriedades físicas dos processos interpretativos – desmistifica o que antes parecia ser uma relação causal não física. A aparente não-fisicalidade da causalidade semiótica revela-se, então, como um artefato de considerar a informação isoladamente do processo físico interpretativo que lhe confere relevância causal.

É importante compreender que a informação, enquanto conceito, não deve ser vista apenas de forma isolada ou puramente estrutural. Seu impacto e eficácia física se revelam, de fato, por meio de processos interpretativos que envolvem tanto a comunicação quanto o entendimento dos sinais. A interpretação é o mecanismo que torna possível a transição de uma mera estrutura de dados para um significado com potencial transformador. A partir disso, torna-se evidente que o papel da interpretação vai além da simples codificação ou transmissão de sinais; ela está no cerne da maneira como a informação impacta as mudanças físicas no mundo ao nosso redor.

O Modelo de Autogênese: Uma Exploração da Origem da Vida e da Normatividade

No contexto da origem da vida, Deacon propõe um modelo experimental para investigar as condições necessárias e suficientes para tratar uma molécula como um sinal. Em seu artigo "How Molecules Became Signs?", ele argumenta que, para abordar essa questão, devemos focar no sistema interpretativo. Explicar esse sistema, para Deacon, significa compreender o tipo de sistema que é um sistema vivo, implicando que a própria vida é suficiente para a interpretação. Assim, a explicação da vida deve responder a duas questões fundamentais: Qual é o sistema mais simples que pode ser considerado vivo? E, este sistema é suficiente para interpretação?

A natureza e a origem da vida são questões que continuam desafiando as ciências biológicas. De modo geral, existem duas abordagens amplamente discutidas para abordar este problema: a abordagem darwiniana e a organismica. A abordagem darwiniana sustenta que a natureza da vida está no mecanismo de replicação, onde a informação molecular é transcrita para facilitar a autossustentação e a autoreprodução. Em contrapartida, a abordagem organismica destaca a capacidade dos seres vivos de se auto-produzirem e se auto-manterem, com ênfase na resistência ao equilíbrio termodinâmico por meio do metabolismo. Embora a abordagem darwiniana capture o aspecto informacional da vida, ela negligencia o aspecto físico, enquanto a abordagem organismica, com altos requisitos para um sistema vivo, não é adequada como modelo primário para a origem da vida e não explica adequadamente os aspectos informacionais da vida.

Para preencher as lacunas de ambas as abordagens, Deacon sugere que o modelo de autogênese pode ser uma solução viável. Este modelo, concebido como o sistema teleológico mais simples, é uma construção teórica que visa integrar a replicação, o metabolismo e a contenção em um sistema funcional que simula aspectos essenciais da vida. O autogen é formado por dois processos auto-organizadores recíprocos: a catálise recíproca e a auto-montagem.

A catálise recíproca envolve pelo menos duas reações catalíticas, onde o produto de cada reação catalisa a outra. Com um número suficiente de moléculas substrato, essa catálise recíproca pode se expandir em uma rede de cadeias cíclicas de reações. Já a auto-montagem é um processo de agregação molecular onde componentes moleculares, energeticamente favoráveis, se agrupam espontaneamente em regiões localizadas, formando estruturas fechadas e regulares, como cápsulas poliedrais ou tubulares. Quando esses dois processos se acoplams, eles complementam-se: a catálise recíproca cria a rede de reações que é necessária para gerar componentes moleculares, enquanto a auto-montagem fornece a contenção necessária para impedir a dissipação dos catalisadores.

Essa contenção forma uma cápsula que isola a rede catalítica do ambiente externo, protegendo-a de interferências externas e permitindo que os componentes sejam mantidos em alta concentração dentro da cápsula. Esse sistema integrado, conhecido como autogen, pode ser considerado uma forma primitiva de vida, capaz de auto-reparação e auto-reprodução.

Embora o modelo de autogênese alinha-se com a visão organismica da vida, ele apresenta diferenças significativas em relação a outras teorias existentes. Primeiramente, muitas teorias exigem um metabolismo persistente e uma membrana semipermeável para que um sistema seja considerado vivo, características que o autogen não possui. O autogen não mantém um metabolismo persistente uma vez que a catálise recíproca cessa quando a cápsula se forma. Além disso, a contenção do autogen não é semipermeável, o que significa que, quando fechada, separa completamente o interior do exterior, embora ainda funcione como uma interface quando se abre e interage com o ambiente.

Além disso, o modelo de autogênese também incorpora a capacidade de evolução. Quando o autogen esgota suas reações internas e reabre para o ambiente, componentes imprevistos podem ser incorporados à sua contenção. Alguns desses componentes podem interromper as reações internas e destruir o autogen, enquanto outros podem aumentar a eficiência da catálise, fazendo com que novos autogenes se reproduzam de maneira mais eficaz. À medida que esses autogenes mais eficientes se multiplicam, ocorre uma seleção natural, com os autogenes mais aptos dominando a população.

Embora alguns possam argumentar que o modelo de autogênese não seja um sistema vivo devido à ausência de características informacionais claras, o modelo sugere que a vida pode surgir de maneira espontânea através de processos físicos básicos, sem a necessidade de um template molecular independente para replicação de informações.

Este modelo não apenas oferece uma visão alternativa sobre a origem da vida, mas também propõe uma nova forma de entender a normatividade em sistemas vivos. A normatividade, entendida como a capacidade de um sistema de manter certas condições ou comportamentos regulares, não é imposta externamente, mas emerge de dentro do sistema como um produto de sua própria dinâmica recursiva.

Por fim, é importante ressaltar que o modelo de autogênese não oferece uma explicação definitiva para a origem da vida, mas propõe uma base teórica sobre a qual mais pesquisas podem ser realizadas. A verdadeira complexidade da vida vai além do que o modelo consegue simular, pois, além dos aspectos físico-químicos, envolve interações de níveis ainda mais profundos, como a informação genética e a dinâmica evolutiva. Para além disso, a ideia de normatividade que Deacon propõe é uma chave para entender como sistemas biológicos podem emergir e evoluir sem depender de estruturas pré-existentes para armazenar informações ou replicá-las de maneira tradicional.

Como a Referência Simbólica Depende da Referência Índexica: A Hierarquia de Interpretação Semiótica

No estudo da semiótica e da cognição humana, a compreensão dos diferentes tipos de referência é fundamental para decifrar como os seres humanos interpretam símbolos, signos e a realidade. Uma das questões centrais é como a referência simbólica, que envolve a interpretação de signos arbitrários, depende da referência índice e, antes disso, da referência icônica.

A referência simbólica, em sua essência, não tem uma correlação direta com o mundo. Ao contrário dos índices e ícones, que mantêm uma relação direta ou representativa com seus referentes, o símbolo é um signo que depende de uma convenção ou de um acordo social para ser entendido. A partir dessa noção, pode-se afirmar que a referência simbólica é construída sobre uma base de interpretações mais simples: a referência icônica e a referência índice.

Exemplificando, considere os três tipos de características icônicas que uma abelha deve adquirir para compreender o conceito de referência índice. A primeira dessas características é a dança de zumbido, que conecta o presente à localização do néctar. A segunda é a relação entre os néctares presentes e os passados. E, finalmente, a terceira é a correlação persistente entre as danças de zumbido passadas e os locais de néctar passados. Somente ao adquirir essas três formas de interpretação, a abelha pode entender a capacidade de referência índice.

Esse processo se reflete de maneira semelhante na arqueologia, como descreve Deacon (1997). Ao descobrir uma tábua de barro com marcas aparentemente regulares, um arqueólogo poderia inicialmente especular que essas marcas são símbolos linguísticos. Contudo, sem saber a que língua pertencem, a interpretação ainda estaria longe de ser simbólica. No entanto, ao perceber que essas marcas aparecem repetidamente associadas a mercadorias de comércio, o arqueólogo pode começar a interpretá-las como legisignos, um tipo de signo índice que indica a associação com essas mercadorias. Com o tempo e mais regularidades, é possível que o arqueólogo decifre o significado simbólico das marcas.

Isso evidencia que a referência simbólica é hierárquica: ela é construída sobre a referência índice, que, por sua vez, depende da referência icônica. Quando interpretamos signos, não apenas vemos diversas formas de signos, mas essas formas são organizadas de maneira que formas mais complexas de referência surgem das formas mais simples. Caso não consigamos interpretar um signo de forma simbólica, ainda podemos interpretá-lo como índice ou ícone, dependendo de nossa capacidade interpretativa. Esse fenômeno sugere que a competência interpretativa segue uma ordem hierárquica, com a interpretação simbólica sendo a mais complexa, mas fundamentada em habilidades mais simples.

Esse conceito pode ser estendido para entender como a inteligência artificial lida com símbolos. No seu artigo clássico, Harnad (1990) discute o problema do "fundamento simbólico" ou "símbolos sem fundamento", que é o desafio de como os símbolos, manipulados exclusivamente por suas propriedades formais, podem se tornar semânticos e se conectar com o mundo real. Ao contrário dos símbolos utilizados pela inteligência artificial, que são puramente formais, os símbolos linguísticos possuem uma conexão intrínseca com o mundo. Portanto, a verdadeira questão da inteligência artificial não é apenas sobre como manipular símbolos, mas como dar a esses símbolos um significado que não seja meramente dependente de outras convenções arbitrárias.

Assim, para que a referência simbólica se torne significativa, ela precisa se ancorar em uma base de interpretação que, mesmo que complexa, começa de formas mais simples de compreensão do mundo. Uma palavra ou um símbolo, para ser entendido como tal, depende de um contexto específico, que fornece a chave para sua interpretação.

Por exemplo, ao dizer "Cachorro!", a palavra pode não se referir a nenhum cachorro específico em um sentido geral, mas no momento em que é proferida, ganha um significado índice, dependendo do contexto no qual é utilizada, como a presença de um cachorro próximo. Esse tipo de funcionamento, que conecta os símbolos à realidade de maneira indireta, é um reflexo de como o significado emerge de uma rede de relações entre os diferentes tipos de signos.

Entender essa rede de interdependências entre a referência simbólica, a índice e a icônica nos permite decifrar mais claramente o funcionamento da linguagem e dos signos. A resolução dos problemas de fundamentação e reconexão simbólica oferece um caminho para entender como a linguagem pode se conectar ao mundo e como as máquinas podem, eventualmente, aprender a fazer o mesmo de forma mais próxima ao humano.

Como a Teoria dos Jogos de Sinalização Descreve o Conteúdo Subjetivo e Objetivo em um Jogo de Sinalização

No contexto da teoria dos jogos de sinalização, os atos do receptor são descritos por probabilidades que podem ser representadas como <1, 0>. A distribuição dessas probabilidades dos atos possíveis do emissor e do receptor constitui o conteúdo informativo sobre os atos no que diz respeito ao estado M1. O conteúdo funcional de M1 é o envolvimento funcional da combinação de Hare, SH com HF, abreviação de Hare-SH-HF, na estabilização do estado Fo M1. A combinação Hare-SH-HF toma FoM1 como estabilizado, sem contribuir para a estabilização de FoM2. Por isso, o ato funcional de M1 é representado como <1, 0>. A estabilização de FoM1 ocorre quando o emissor percebe Hare e escolhe SH, e o receptor toma HF após a recepção de M1.

Ao estabilizar FoM1, o conteúdo informativo sobre os estados do mundo, os atos do emissor e os atos do receptor se tornam idênticos, tanto em termos de conteúdo informativo quanto funcional. M1 só é enviado quando o emissor percebe um Hare e escolhe SH, e o receptor só escolhe HF quando recebe M1. A estabilização de FoM1 é alcançada se e somente se o emissor perceber Hare e tomar SH quando o receptor escolher HF.

O conteúdo subjetivo do emissor é distinto do conteúdo objetivo. Na Tabela 6.13, observa-se a relação entre o conteúdo informativo e o conteúdo funcional para o emissor. O sinal M1 torna Hare certo e exclui completamente Stag, então as possibilidades pós-jogo para os estados do mundo se tornam <1, 0>, o que corresponde ao conteúdo objetivo do emissor. No entanto, o conteúdo informativo do emissor sobre os atos do receptor diverge do conteúdo objetivo. O conteúdo informativo do emissor sobre os atos do receptor em M1 no jogo real é {<1, 0>; HF}, enquanto que no jogo g1, é {<1, 0>; RH}. Seu conteúdo funcional, {<1, 0>; Hare-SH-RH}, também é diferente do conteúdo funcional objetivo, que seria {<1, 0>; Hare-SH-HF}. A diferença aqui não está na quantidade, mas no tipo de conteúdo, e isso se deve à falta de um conhecimento comum entre emissor e receptor.

Da mesma forma, o conteúdo subjetivo do receptor difere do conteúdo objetivo, assim como do conteúdo subjetivo do emissor. Na Tabela 6.14, observa-se a relação entre o conteúdo informativo e o conteúdo funcional para o receptor. Para o receptor, não há conteúdo informativo sobre os estados do mundo, pois ela não é capaz de percebê-los diretamente. Semelhante ao emissor, o receptor sempre tem certeza sobre os atos que ele realiza, o que significa que não há informações sobre seus próprios atos. Ao comparar com o conteúdo objetivo de M1, o conteúdo informativo sobre os atos do emissor e o conteúdo funcional para o receptor são distintos, já que ela não sabe o que se passa na mente do emissor, dependendo unicamente de suas próprias crenças.

Esse cenário de mal-entendidos mútuos revela uma distinção fundamental entre o conteúdo subjetivo e o conteúdo objetivo. Embora os sinais possam carregar diferentes tipos de conteúdo subjetivo e objetivo, o mais interessante é perceber que, muitas vezes, ambos podem não coincidir nem em quantidade nem em qualidade. Isso sugere que o conteúdo objetivo pode ser independente do conteúdo subjetivo no contexto de um jogo de sinalização entre emissor e receptor. Isso não implica que o conteúdo subjetivo não possa coincidir com o conteúdo objetivo, mas sim que isso é uma exceção, e não a regra. A teoria dos jogos de sinalização frequentemente não leva em consideração completamente a natureza semiótica da convencionalidade, oferecendo apenas uma parte da história.

No entanto, ao se considerar a teoria da sinalização no contexto semiótico, podemos recorrer às classificações de signos segundo as condições apresentacionais e representacionais da semiótica de Peirce. É possível identificar dois tipos de arbitrariedade e convencionalidade: os veículos de sinais convencionais (legisigns) e os relacionamentos referenciais convencionais (símbolos). Quando um signo é interpretado como legisign, isso implica que as propriedades intrínsecas do signo, enquanto objeto, não afetam seu papel como fundamento do signo. Ou seja, os signos como legisigns são definidos pelas suas propriedades apresentacionais e podem ser interpretados não apenas como símbolos, mas também como ícones ou índices. Por exemplo, o símbolo :) pode ser um legisign, mas ser usado como um ícone de um rosto sorridente, devido à semelhança visual; ou uma seta direcional em uma pista de estrada pode ser um legisign que serve como um índice de uma pista de curva à esquerda.

Do ponto de vista representacional, o signo que é convencional é o símbolo, no qual o relacionamento entre o símbolo e seu objeto não depende das propriedades intrínsecas do veículo do signo ou do objeto em si. Por exemplo, a palavra "cachorro" não tem qualquer conexão com as propriedades apresentacionais da palavra ou do animal a que se refere. Nesse sentido, apenas os legisigns — cuja relevância não depende das propriedades intrínsecas do signo — podem servir como símbolos. Portanto, os símbolos exibem duas formas de convencionalidade: a do veículo do signo (legisign) e a da relação referencial (referência simbólica).

É importante compreender que, ao usar a teoria dos jogos de sinalização para explicar a convencionalidade, estamos tratando de uma representação simbólica que, por vezes, pode ser falha ou incompleta. A falha em compreender as nuances da interação entre emissor e receptor, em virtude da ausência de conhecimento comum, pode levar a erros de interpretação tanto para quem emite o sinal quanto para quem o recebe. Portanto, entender essas dinâmicas e suas implicações na comunicação é fundamental para abordar a teoria de maneira mais profunda.