O uso do pronome "they" para se referir a indivíduos, embora atualmente pareça uma inovação, não é algo totalmente novo na língua inglesa. Há muito tempo, os falantes de inglês empregam "they" para se referir a alguém quando o gênero não é conhecido ou não é relevante para o contexto, mesmo que o antecedente seja singular. O termo "everyone", por exemplo, embora tenha um sentido plural, é tecnicamente singular, e de acordo com as regras tradicionais da gramática, deveria ser acompanhado por um pronome singular, como "he" ou "she". No entanto, no uso cotidiano, a substituição por "they" já se tornou uma prática comum: "Everyone should wear their best clothes." E em casos onde o gênero de uma pessoa é desconhecido, o uso de "they" também se estabelece: "Someone called but they didn’t leave their name."
O que é novo, no entanto, é o uso de "they" para se referir a indivíduos conhecidos de maneira específica. Sentenças como "Jan has their secrets", onde "their" se refere a uma pessoa singular conhecida, como Jan, ilustram essa mudança. Este uso de "they" gerou resistência de parte dos tradicionalistas, que alegam que, ao utilizar "they" tanto para grupos quanto para indivíduos, a língua se tornaria confusa. Embora essa objeção não seja sem fundamento, é importante perceber que a língua inglesa, assim como qualquer outra, está em constante evolução, e modificações desse tipo não são inusitadas. Existem muitos exemplos de mudanças linguísticas que, no início, causaram perplexidade, mas que com o tempo foram amplamente aceitas.
Há também quem critique essa mudança, alegando que ela não é gramaticalmente ou biologicamente correta. Contudo, essas críticas são, na maioria das vezes, infundadas. Biologicamente, sabemos que existem indivíduos que apresentam características sexuais tanto masculinas quanto femininas, e linguistas apontam que a gramática não é uma entidade estática, mas algo que se adapta e se transforma ao longo do tempo. A mudança na forma de se referir a indivíduos sem especificar o gênero não é, portanto, um fenômeno exclusivo do inglês, mas reflete tendências mais amplas em diversas línguas.
Na Suécia, por exemplo, uma mudança semelhante está em andamento. O idioma sueco, que, assim como o inglês, possui um sistema de pronomes de gênero, agora incorpora "hen", um pronome neutro, que surgiu a partir do finlandês e tem sido cada vez mais usado para se referir a pessoas sem indicar seu gênero. Embora ainda haja controvérsias e debates sobre o uso oficial de "hen" – o Parlamento sueco determinou que ele não deve ser utilizado em documentos oficiais, mas pode ser usado livremente pelos membros do Parlamento – o termo tem ganhado força na linguagem cotidiana e na mídia.
Em hebraico, uma situação semelhante ocorre, pois não existem pronomes neutros. A língua utiliza o plural masculino para se referir a um grupo misto de gêneros. No entanto, há movimentos que buscam modificar essa estrutura, utilizando tanto a forma masculina quanto a feminina para grupos de pessoas. A implementação dessa mudança, porém, exigiria ajustes em outros aspectos da gramática, como os adjetivos e verbos, e poderia até mesmo envolver a criação de novas letras no alfabeto hebraico.
Além do uso de pronomes neutros, as línguas apresentam variações significativas na morfologia, ou seja, na formação das palavras. A língua turca, por exemplo, utiliza sufixos para indicar o plural, como "lar" ou "ler", dependendo da vogal do radical. Em vez de usar um simples "s", como no inglês, o turco possui uma estrutura morfológica mais complexa. Outras línguas, como o Isthmus Zapotec, falado no México, indicam o plural por meio de prefixos, o que é uma prática incomum em línguas como o inglês.
Além disso, a maneira como as línguas indicam localização varia. Em inglês, preposições são usadas antes de um substantivo para indicar o local: "in the house" ou "at the house". Em turco, essa informação é expressa por meio de sufixos anexados diretamente ao substantivo: "evde" (na casa), "evden" (de casa), "eve" (para a casa). A flexibilidade morfológica do turco elimina a necessidade de palavras adicionais, como os artigos definidos e indefinidos, ausentes em línguas como o russo e o próprio turco.
Uma característica interessante é a utilização de duplicação em turco, um fenômeno linguístico incomum no inglês. Ao duplicar certos adjetivos ou advérbios, o significado é intensificado, como em "iji iji" (muito bem) ou "gyzel gyzel" (muito bonito). A ausência de artigos no turco também destaca uma diferença fundamental em relação ao inglês, onde o uso de "a", "an" e "the" é essencial.
Além das línguas faladas, as línguas de sinais seguem regras morfológicas semelhantes às línguas orais. Embora as palavras nas línguas de sinais não tenham som, elas são compostas por morfemas, como raízes, radicais, morfemas ligados, afixos e morfemas derivacionais ou flexionais. Os afixos nas línguas de sinais não são sons, mas gestos específicos que precedem ou seguem um gesto de raiz. Essas particularidades das línguas de sinais refletem a riqueza e a complexidade das morfologias, tão diversas quanto as das línguas orais.
A compreensão da morfologia e da evolução linguística revela muito sobre o funcionamento das línguas, especialmente sobre como elas se adaptam às necessidades de seus falantes ao longo do tempo. As mudanças nos pronomes, a formação das palavras e a flexibilidade estrutural são apenas alguns exemplos de como a língua reflete a evolução da sociedade e a adaptação à diversidade e complexidade humana. Essas mudanças não são anacrônicas nem imprecisas; são, na verdade, uma característica fundamental de todas as línguas vivas.
Como a Língua Afro-Americana (AAL) Reflete Identidade e História nos Estados Unidos
A Língua Afro-Americana (AAL), frequentemente chamada de Ebonics, é muito mais do que uma variação do inglês ou uma coleção de gírias, como muitas vezes é mal interpretada. AAL é uma variedade linguística plenamente reconhecida, com estrutura, regras gramaticais e uma rica história que se entrelaça intimamente com a experiência dos afro-americanos nos Estados Unidos. Seu desenvolvimento remonta aos dias da escravidão, quando africanos foram forçados a se comunicar com os colonizadores, criando uma fusão das línguas africanas e do inglês.
Originalmente denominada "Negro English", o estudo dessa língua começou no início do século XX, e, ao longo das décadas, houve uma mudança gradual para termos como "Black English" e, mais tarde, "African American English". No entanto, a terminologia foi constantemente reformulada para refletir as preferências e a identidade de seus falantes. Claude Brown, autor que cunhou o termo "Spoken Soul", procurou conectar a língua falada à experiência e à sensibilidade que a acompanham, enquanto o termo "Ebonics", criado por Robert Williams em 1973, ganhou popularidade, especialmente após a controversa resolução da Prefeitura de Oakland sobre sua implementação nas escolas.
A maioria das pessoas fora da comunidade afro-americana tem uma visão distorcida sobre o que constitui a AAL, frequentemente associando-a a estereótipos negativos, como a fala de pessoas pobres, criminosas ou marginalizadas. No entanto, AAL não se limita a esses grupos. Estudos indicam que cerca de 80% a 90% dos afro-americanos são capazes de falar algum dialeto da AAL, sendo uma das variantes de inglês mais faladas nos Estados Unidos. Essa variedade linguística é amplamente utilizada por afro-americanos de diferentes classes sociais, regiões e profissões, desafiando a visão simplista que a mídia frequentemente transmite.
É importante entender que a AAL não é uma forma "errada" de inglês, mas sim uma língua legítima com um sistema gramatical e sintático complexo. A ideia de que AAL é uma "língua preguiçosa" ou um "ingles falhado" é um equívoco. Linguistas que estudam a AAL revelam que ela tem regras próprias que governam seu uso, incluindo a omissão do "s" plural ou possessivo, por exemplo, mas essas não são falhas, são apenas variações dentro de um sistema linguístico que possui sua própria lógica e estrutura. Em outras palavras, as variações observadas em AAL são frutos de escolhas linguísticas e culturais que refletem a história, a luta e as necessidades comunicativas de uma comunidade historicamente oprimida.
A história da AAL está ligada à opressão, ao racismo estrutural e à luta pela identidade dos afro-americanos. A língua se desenvolveu como um veículo de solidariedade entre os escravizados, permitindo-lhes preservar elementos de suas culturas africanas enquanto se comunicavam com os colonizadores e com outros africanos que falavam diferentes línguas. A transição de um idioma colonial imposto para uma nova língua híbrida pode ser vista como um reflexo da resistência e da adaptação dos africanos à brutalidade do sistema escravocrata.
Após a Guerra Civil e a abolição da escravatura, a AAL continuou a se espalhar e a se desenvolver, principalmente com a Grande Migração de afro-americanos para as cidades do Norte, entre 1916 e 1930. Esse movimento trouxe uma nova dinâmica linguística, criando um tipo urbano de AAL que, com o tempo, se disseminou em diversas regiões dos Estados Unidos. No entanto, o estigma associado à língua permaneceu, muitas vezes sendo associada a uma visão pejorativa da classe trabalhadora afro-americana.
A relação entre linguagem e identidade é central para a compreensão da AAL. Para muitos falantes, a língua é uma expressão de pertencimento, cultura e história. Escritores como James Baldwin e Toni Morrison descreveram a AAL como uma parte essencial da experiência afro-americana, uma forma de resistência cultural e uma "música" da alma que conecta o passado, o presente e o futuro. A perda da AAL, segundo Morrison, seria a perda de uma parte fundamental da identidade dos afro-americanos, uma "paixão" que não pode ser substituída por qualquer outra forma de comunicação.
A AAL, portanto, não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas um símbolo de resistência e uma forma de preservar a memória coletiva de uma comunidade. Ela carrega consigo a história dos afro-americanos e suas lutas contra a discriminação e a marginalização. Sua persistência ao longo dos séculos, apesar de inúmeras tentativas de erradicá-la e estigmatizá-la, é um testemunho da vitalidade e da força cultural de um povo.
Ao longo da história, a AAL foi frequentemente vista pela sociedade dominante como inferior. Essa estigmatização teve consequências profundas para os falantes de AAL, afetando a educação, as oportunidades de emprego e até mesmo a mobilidade social. A discriminação linguística é uma extensão das desigualdades raciais presentes na sociedade, e reconhecer a validade da AAL é um passo importante para combater essas injustiças.
Além disso, o conhecimento da estrutura gramatical da AAL pode ajudar a desmontar preconceitos. Embora a AAL compartilhe muitas características com o inglês padrão, ela possui regras gramaticais próprias, incluindo particularidades na morfologia, fonologia e sintaxe. Por exemplo, a flexão verbal no uso do "be" em AAL não é uma falha ou erro, mas uma característica intrínseca à sua estrutura. Este tipo de análise linguística é fundamental para combater a ideia de que a AAL é apenas uma forma de "erro" do inglês.
Por fim, é importante reconhecer que a AAL não é apenas uma variante do inglês, mas uma língua que carrega consigo séculos de história, cultura e identidade. Para os afro-americanos, ela é uma marca de resistência e uma forma de afirmar sua humanidade em uma sociedade que frequentemente tentou apagá-los ou deslegitimá-los. Ao compreender a complexidade e a riqueza da AAL, podemos começar a respeitar a diversidade linguística como parte da diversidade cultural e histórica dos Estados Unidos.
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