Os Dez Mandamentos oferecem uma orientação sobre como viver na terra como uma família humana, mostrando como organizar a vida pública para o bem comum. Eles começam com um chamado para amar, servir e confiar no Deus que libertou o povo do Egito e da escravidão. O Êxodo — um Deus que liberta — é a premissa dos mandamentos e do pacto que define a relação entre o povo e Deus. Assim funcionam os mandamentos.
Os primeiros três mandamentos (Deus é o Senhor de tudo, Não façam ídolos de nada nem de ninguém, Não usem o nome e a autoridade de Deus para legitimar seus próprios interesses) anunciam uma mudança de regime que deve governar a consciência do povo sobre onde reside a autoridade última. Eles declaram sob qual ponto de vista a sociedade humana deve ser construída, não de maneira diferente dos documentos fundacionais da América, mas de forma muito mais radical — e incluindo todos, sem exceção. A graça liberal de Deus, e não o poder econômico e político do rei ou a sobrevivência do mais forte, determina como essa nova comunidade deve viver. Em última instância, a vida humana é um presente, não um produto da luta incessante ou da busca desenfreada.
Os mandamentos de cinco a nove (voltaremos ao quarto mais tarde) instruem sobre como o “vizinho” — ou seja, todos os outros, especialmente os mais vulneráveis — deve ser respeitado e protegido, e não explorado. Honrarás os teus pais. Não matarás nem causarás dano. Não adulterarás nem destruirás os relacionamentos matrimoniais. Não furtarás nem obterás injustamente a propriedade de outros. Não darás falso testemunho nem trará mentiras e enganos ao discurso humano. Os vizinhos devem ser fins e não meios. O décimo mandamento proíbe a ganância que destrói a comunidade, a cobiça desmedida que governa grande parte da vida nacional. Não cobiçarás a casa, a esposa ou os bens de outra pessoa. Não viverás para ganhar às custas dos outros.
É necessário desaprender a maior parte do que pensamos saber e reaprender como os mandamentos carregam o DNA de um Deus libertador. Se há um problema, talvez seja que nos ensinamos a trivializar os mandamentos, transformando-os na lista de desejos de valores burgueses. Ou os colocamos diante de tribunais como troféus públicos, como se fossem evidências de que somos o povo preferido de Deus. Reduzimos os mandamentos para que se ajustem ao sistema econômico atual, envergonhando a classe trabalhadora a comparecer às segundas-feiras e tornando os bairros seguros para o comércio, mas sem mostrar preocupação pelo bem comum. Os mandamentos não são hinos à família nuclear ou autorizações para as guerras culturais, mas a fundação de uma nova forma de vida em comunidade, uma barreira contra as práticas predatórias e políticas agressivas que fazem com que os pequenos sejam explorados pelos grandes, criando sistemas sociais injustos.
Os Dez Mandamentos redefinem a vida em comunidade, afastando-a do sistema predatório onde nenhuma casa, campo, família ou bem está seguro. A menção ao Egito no preâmbulo é um código para o sistema exploratório que exige cada vez mais — mais controle, mais território. A libertação do Egito exige que deixemos nosso atoleiro e construamos uma sociedade modelada pela generosidade de Deus. Onde está o Egito hoje? Dentro do sistema político? Nos corredores de Wall Street? Se você está dentro dele, comece a caminhar para fora. Somos parte do sistema opressor ou vamos nos tornar os visionários que enxergam uma vida além do muro?
Todos os mandamentos estão embutidos no “genoma” judeu por meio do quarto mandamento (que, quando contado de forma diferente, é o terceiro). Honrarás o sábado e o manterás santo. Isso significa muito mais do que ir à igreja no domingo ou não fazer compras. O quarto mandamento institucionaliza uma alternativa ao esforço incessante, à ganância e à ansiedade econômica que a impulsiona. O sábado exige deliberadamente a interrupção do trabalho, mas também a adoração e a promoção do bem-estar da vizinhança. O sábado oferece tempo para curar o mundo. O sábado equilibra a produtividade econômica com atos de imaginação e renovação comunitária. E, de fato, o sábado se torna o grande igualador, o sacramento da reorganização da vida por Deus, o único dia em que a exploração econômica não pode ocorrer, não pode ditar a vida humana, não pode determinar tudo o mais. Especialmente neste dia, Deus, o libertador, é adorado e os desígnios divinos para o bem comum são exemplificados. Seria uma distorção séria do quarto mandamento transformá-lo em “leis de fechamento aos domingos”, uma estratégia que retira de Deus o significado de nossa vida coletiva como uma sociedade comercial 24/7. O judaísmo, em sua melhor forma, transforma o sábado em uma forma de arte, uma estética sagrada da vida comum. E isso é verdadeira religião.
Os Dez Mandamentos e o contrato social que eles autorizam podem ser vistos como a primeira rede de segurança social da história mundial. Eles protegem o bem de cada vizinho e restringem qualquer tendência dos ricos e poderosos de transformar o vizinho em um meio para seus próprios fins, alvo de exploração ou satélite do mercado livre. Este mandato social do Deus do Êxodo se expande consideravelmente no livro de Deuteronômio (o Código Deuteronômico). Ali somos instruídos a cancelar as dívidas dos pobres após sete anos para que nenhuma classe subjugada se torne permanente. (Sugira isso ao seu senador, propondo isso na plataforma do seu partido político favorito.) O pagamento de juros é proibido, não é necessário colateral em empréstimos aos pobres, a hospitalidade permanente deve ser uma norma comunitária, e a justiça deve ser estendida aos estrangeiros, viúvas e órfãos. Sempre a razão é a mesma: “Uma vez fostes escravos no Egito e Deus vos libertou e decretou uma nova forma de comunidade”. Em última análise, a terra pertence a Deus, portanto, deve haver grãos, azeite e vinho disponíveis para todos. A economia nunca deve ser um sistema autônomo e independente — isso quebraria o primeiro mandamento, que dedica todas as prioridades a Deus. O Deus de Israel é um libertador, não um capelão da Câmara de Comércio.
Como o Cristianismo Pode Redefinir Seu Papel no Mundo Contemporâneo?
A busca pelo progresso humano, muitas vezes vinculada a um discurso moral, levou, ao longo do tempo, à criação de sistemas econômicos, sociais e políticos que, em nome de um bem maior, acabam esmagando a liberdade individual e coletiva. Esses sistemas, embora prometam justiça, frequentemente não conseguem cumprir suas promessas. Tal dinâmica também se reflete dentro do próprio cristianismo, onde algumas correntes tentam recuperar a essência de suas raízes em meio a uma sociedade secularizada e marcada por divisões ideológicas.
Um exemplo disso pode ser observado no movimento “Occupy Wall Street”. O movimento, que ganhou força de maneira inesperada, reflete a insatisfação com um modelo econômico que coloca os interesses financeiros acima da dignidade humana. De maneira análoga, algumas comunidades cristãs, especialmente aquelas influenciadas por teólogos como Brian McLaren, buscam resgatar as tradições históricas do cristianismo, as quais, segundo McLaren, precisam de um novo vigor. Ele defende que o cristianismo atual se encontra em um ponto de estagnação, incapaz de se reinventar devido ao apego a uma imagem de Deus que é, na verdade, uma projeção das próprias construções sociais de poder. McLaren sugere que, para que o cristianismo se conecte de maneira genuína com o mundo contemporâneo, ele precisa deixar para trás as imagens de um Deus autoritário e triunfante, substituindo-as por uma visão mais inclusiva e compassiva.
Esse movimento de renovação do cristianismo não se limita apenas à teologia. O próprio conceito de “migração espiritual”, conforme proposto por McLaren, sugere que a fé cristã deve se deslocar de uma compreensão imutável de Deus para uma experiência dinâmica, onde a justiça social, a liberdade e o amor são componentes essenciais. McLaren propõe que os cristãos precisem abandonar suas concepções de Deus como um ente que favorece a supremacia e o controle, e abraçar um Deus que é radicalmente diferente, um Deus que busca justiça e liberdade para todos os povos.
Além disso, é importante considerar que o cristianismo tem, em muitos contextos históricos, sido usado para justificar estruturas de poder opressivas, como o colonialismo e o racismo. A Teologia da Libertação, uma das correntes mais influentes dentro do cristianismo latino-americano, critica diretamente a concepção de um Deus que justifica tais formas de dominação. Em vez disso, propõe um Deus que está ao lado dos marginalizados, dos pobres e dos oprimidos, o que reflete uma visão mais alinhada com os princípios do evangelho.
Nos Estados Unidos, o Partido Democrata, por exemplo, tem sido frequentemente visto como distante de questões religiosas. A secularização crescente da política tem levado muitos a acreditarem que a fé e a política não devem se misturar. No entanto, figuras como o Papa Francisco e certos líderes protestantes têm tentado reconectar a fé com as questões sociais, particularmente no que diz respeito à justiça econômica, a paz e a dignidade humana. A secularização da política, assim, não deve ser confundida com a abstenção do cristianismo de questões sociais cruciais. A verdadeira renovação do cristianismo depende de um retorno ao seu compromisso com a justiça e a igualdade, conforme ilustrado pelos ensinamentos de Jesus.
Em meio a essa revolução silenciosa, a noção de um “novo evangelho social” começa a emergir, algo que não se limita a promessas de salvação pessoal, mas que também busca transformar a realidade social e política. Assim como o movimento Occupy buscou transformar o sistema econômico, movimentos dentro do cristianismo buscam uma transformação que não apenas reconcilie os fiéis com Deus, mas também com o mundo ao seu redor.
Dentro dessa renovação proposta, o conceito de “kenosis”, ou o esvaziamento de si mesmo, surge como uma alternativa à arrogância e ao autoritarismo religioso. Essa teologia da cruz, que rejeita as supremacias e a violência, visa construir uma nova compreensão de Deus como alguém que se entrega ao mundo para transformar suas estruturas de opressão. No contexto contemporâneo, isso envolve também a desconstrução de imagens de um Deus que está distante das questões sociais e políticas. O Deus do cristianismo precisa ser entendido como aquele que não apenas observa o sofrimento humano, mas que nele se envolve ativamente.
Esse movimento de transformação também inclui um chamado à ação. A proposta de um “Cristianismo Generoso e Justo”, conforme delineada por McLaren e outros, visa criar comunidades de fé que não apenas pregam a salvação individual, mas que se envolvem ativamente na construção de uma sociedade mais justa. As igrejas, segundo essa visão, devem ser comunidades que organizam suas ações para o bem comum, e não para a preservação institucional de uma fé que apenas mantém as estruturas de poder em seu lugar.
Além disso, a migração espiritual não diz respeito apenas à mudança de doutrinas, mas também à criação de novas formas de vivência cristã. Movimentos religiosos contemporâneos buscam, portanto, promover uma nova espiritualidade que se comprometa com as lutas sociais atuais. Isso inclui não apenas a defesa dos direitos humanos, mas também uma reinterpretação do cristianismo como uma força transformadora que pode, e deve, moldar a sociedade de maneira mais equitativa e compassiva.
Por fim, é importante que o cristianismo, ao buscar se reinventar, não caia na armadilha de uma espiritualidade despolitizada. A justiça, entendida como a forma social do amor, deve ser um dos pilares dessa transformação. Para que o cristianismo seja verdadeiramente relevante no século XXI, ele precisa se despojar de suas formas de dominação e exclusão e se comprometer, de maneira prática, com as causas que afetam as vidas das pessoas de forma mais direta, como a pobreza, a discriminação e a violência.
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