Potro.
M. Sholokhov
Em plena luz do dia, junto a um monte de estrume, densamente coberto por moscas esmeralda, cabeça à frente, com as pernas dianteiras esticadas, ele saiu do ventre da mãe e, bem acima de si, viu um delicado nódulo acinzentado que derretia como um fragmento de espoleta; o uivo do estrondo atirou seu corpinho molhado aos pés da mãe. O primeiro sentimento que experimentou ali, na terra, foi o terror. A chuva fedorenta de chumbinho trovejou, batendo no telhado de telhas do estábulo, e, molhando ligeiramente o chão, obrigou a mãe do potro — a égua ruiva de Trofim — a pular em pé e, com um relincho curto, encostar de novo o flanco suado ao monte salvador. No silêncio escaldante que se seguiu, as moscas zumbiram com mais nitidez; o galo, por causa do bombardeio de artilharia não ousando pousar na cerca de varas, bateu as asas uma ou duas vezes sob a sombra das folhas de bardana e cantou relaxado, mas abafado. Da casa vinha o gemido choroso de um metralhador ferido. Às vezes ele dava um grito com voz rouca, intercalando os lamentos com maldições furiosas. No jardim, nas pétalas sedosas e escarlates da papoula, zumbiam abelhas. Além da stanitsa, no prado, a metralhadora acabava a fita, e ao ritmo alegre do seu tiquetaquear, no intervalo entre o primeiro e o segundo tiro de artilharia, a égua ruiva lambeu carinhosamente o primogênito, e ele, enfiando o focinho no úbere inchado da mãe, sentiu pela primeira vez a plenitude da vida e a inesgotável doçura do carinho materno. Quando o segundo projétil estalou em algum lugar atrás do celeiro, Trofim saiu de casa batendo a porta e dirigiu‑se para o estábulo. Contornando o monte de estrume, tampou a mão contra o sol e, ao ver o potro, tremendo de tensão, mamando sua — de Trofim — égua ruiva, remexeu atônito os bolsos, com os dedos trêmulos achou o pitiquinho, lambendo o cigarro, e recuperou a fala: — Eh... Então, pariu? Achegou o tempo, não há o que dizer. — Na última frase soava uma amarga mágoa. Pelas laterais rugosas da égua, secas do suor, estavam coladas varas de ervas daninhas, estrume seco. Ela parecia indecentemente magra e rala, mas os olhos brilhavam uma alegria orgulhosa, temperada de cansaço, e o lábio superior acetinado eriçava num sorriso. Pelo menos assim parecia a Trofim. Depois que a égua posta no estábulo bufou, sacudindo o saco de grãos, Trofim encostou-se na ombreira e, olhando com despeito para o potro, perguntou secamente: — Que andaste fazendo? Não esperando resposta, falou de novo: — Pelo menos podia ter trazido o garanhão do Ignatov, senão Deus sabe em quem vai dar... Ora, para onde é que eu vou com ele? No silêncio um tanto escuro do estábulo o grão estalava, um raio torto de sol polvilhava a fresta da porta com ouro. A luz caía na bochecha esquerda de Trofim; o bigode ruivo e a barba por fazer brilhavam em tons vermelhos, os vincos ao redor da boca escureciam em sulcos curvos. O potro, nas patinhas finas e felpudas, estava de pé como um cavalinho de madeira de brinquedo. — Matá‑lo? — O dedo robusto de Trofim, impregnado do cheiro de tabaco, apontou torto para o potro. A égua revirou o globo ocular enegrecido de sangue, piscou e olhou desdenhosamente para o dono. x x x Na sala onde se acomodava o comandante do esquadrão, naquela noite, ocorreu a seguinte conversa: — Eu noto que a minha égua é guardada, não atravessará a trote, não se aventurará sob a lona — ela sufoca. Olhei bem, e ela, veja só, pariu... Pois então estava guardada, estava guardada... O potro é castanho... Pois é... — conta Trofim. O do esquadrão aperta a caneca de cobre com chá, aperta como o pomo da espada antes do ataque, olha para a lâmpada com olhos sonolentos. Sobre a luz amarelada fervilham borboletas peludas, batem na janela, queimam‑se no vidro, ora umas, ora outras. — ...indiferente. Castanho ou negro — tanto faz. Abate. Com o potro a gente vai parecer ciganos. — O quê? Eu também digo, como ciganos. E se o comandante, então? Chegar para inspecionar o regimento, e ele vai estar na frente a ostentar e abanando o rabo assim... Eh? Seria vergonha e desonra para todo o Exército Vermelho. Nem entendo, Trofim, como pudeste permitir? Em plena guerra civil e de repente essa libertinagem... Isso é até vergonhoso. Ordem severa para os tratadores: os garanhões devem ser guardados separadamente. De manhã Trofim saiu de casa com a espingarda. O sol ainda não nascera. O orvalho rosava na relva. O prado, pisado pelas botas da infantaria, cavado por valas, lembrava o rosto de uma moça chorosa, amassado pela dor. Ao redor da cozinha de campanha os cozinheiros mexiam‑se. No alpendre sentava o do esquadrão em camisa de baixo embebida de suor antigo. Os dedos, acostumados ao frio revigorante do cabo do revólver, recordavam desajeitadamente o esquecido e querido — teciam uma concha enfeitada para colher bolinhos. Trofim, passando, perguntou: — Estás a trançar a colher? O do esquadrão amarrou a alça com um galhinho fino, rosnou entre os dentes: — É a dona — a mulher da casa — pediu... Trança, pois. Era mestre antes, e agora não é mais... não deu certo. — Não, serve — elogiou Trofim. O do esquadrão tirou dos joelhos restos de varas e perguntou: — Vais liquidar o potro? Trofim fez um gesto com a mão e entrou no estábulo. O do esquadrão, com a cabeça inclinada, esperou o tiro. Passou um minuto, outro — não houve tiro. Trofim voltou do canto do estábulo, visivelmente constrangido. — Pois? — Deveria ser, o cão de tração falhou... O percussor não bate. — Dá aqui a espingarda. Trofim relutantemente passou. Puxando o ferrolho, o do esquadrão apertou os olhos. — Aqui não tem cartucho!.. — Não pode ser!.. — exclamou Trofim com calor. — Eu te digo, não há. — Mas eu os atirei lá... atrás do estábulo... O do esquadrão pôs a espingarda ao lado e ficou um bom tempo girando na mão a concha nova. O talo fresco cheirava a mel e era pegajoso; do cheiro vinha a lembrança de flores de campo, terra, trabalho esquecido no incêndio insaciável da guerra... — Escuta!.. Que se dane! Que fique vivendo junto da mãe.
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