O fenômeno conhecido como “overtourism” vem exigindo das comunidades locais e dos governos uma atenção renovada para a capacidade de longo prazo dos destinos turísticos se reinventarem, ao mesmo tempo em que contribuem para o bem-estar das populações anfitriãs. É nesse contexto que emergem novas formas de governança e gestão, como redes colaborativas, desenvolvimento de clusters e abordagens sistêmicas locais, que possibilitam um manejo mais sustentável dos impactos causados pelo turismo. Planos sustentáveis não só administram os efeitos do turismo sobre o meio ambiente, a economia e a comunidade, mas também preservam e potencializam os recursos do destino para atender às necessidades presentes e futuras, tanto dos visitantes quanto dos residentes.

Dentro dessa perspectiva, a avaliação comparativa ou benchmarking de destinos turísticos desponta como uma ferramenta essencial para o gerenciamento e aprimoramento contínuo da performance desses locais. Benchmarking, no âmbito turístico, transcende a simples mensuração pontual, configurando-se como um processo contínuo e integrado que considera a diversidade e complexidade dos serviços e infraestruturas ofertados. Ele proporciona uma análise detalhada dos pontos fortes e fragilidades do destino, tanto internamente quanto em relação a sistemas nacionais e internacionais de classificação de qualidade. Ao incorporar dados primários e secundários, o benchmarking ajuda a definir prioridades, estabelecer metas estratégicas e conquistar vantagens competitivas.

Originalmente aplicada na indústria manufatureira, a metodologia de benchmarking migrou para diversos setores, incluindo educação, transporte, alimentação e, mais recentemente, turismo. No turismo, ele se manifesta em três modalidades interligadas: benchmarking interno, externo e genérico. O benchmarking interno foca na análise própria do destino, considerando suas características singulares e permitindo o intercâmbio de informações entre destinos parceiros ou organismos internacionais. Já o benchmarking externo compara o desempenho do destino com o de seus concorrentes mais bem posicionados, visando extrair lições para aprimoramentos locais, por exemplo, monitorando padrões de higiene e saneamento essenciais para atrair turistas. Por fim, o benchmarking genérico trabalha com sistemas existentes de avaliação de qualidade e eco-certificação, tentando responder à questão de como essas certificações podem gerar vantagens competitivas e melhorias reais nos destinos.

A competitividade dos destinos depende da oferta de serviços e facilidades capazes de atrair turistas cada vez mais exigentes e informados, que não apenas visitam o local, mas também "votam" com sua escolha, selecionando destinos que ofereçam a melhor relação custo-benefício. Assim, o benchmarking busca equilibrar a proteção dos recursos ambientais e culturais, a prosperidade econômica e a qualidade de vida dos residentes, ao mesmo tempo em que garante a satisfação e fidelização dos visitantes por meio de elevados padrões de serviços.

Apesar do avanço acadêmico desde os anos 1990, a aplicação prática do benchmarking em destinos turísticos ainda enfrenta desafios. Diferenças marcantes entre a demanda (turistas) e a oferta (serviços e infraestrutura) tornam difícil a criação de indicadores padronizados que capturem com precisão a performance dos destinos. Por isso, pesquisas futuras devem enfatizar o desenvolvimento de métricas específicas para o lado da demanda — como índices de satisfação e gasto turístico — e para o lado da oferta — incluindo medidas de qualidade do serviço, inovação em produtos turísticos e a construção e fortalecimento da imagem de marca do destino. A pandemia de Covid-19 reforçou a importância do benchmarking, pois a troca de melhores práticas, nacional e internacionalmente, tornou-se fundamental para garantir a segurança, a sustentabilidade e a resiliência dos destinos turísticos em tempos de crise.

É crucial compreender que o benchmarking não é um fim em si mesmo, mas um processo dinâmico que deve ser incorporado ao planejamento estratégico do destino. Ele serve como um mecanismo para alinhar as expectativas dos turistas com a capacidade e a responsabilidade do destino, promovendo uma gestão consciente dos recursos e das comunidades locais. Dessa forma, o benchmarking torna-se um instrumento para a sustentabilidade integral do turismo, conciliando crescimento econômico com preservação ambiental e justiça social.

Além do que foi apresentado, é importante considerar que o sucesso do benchmarking depende do engajamento dos múltiplos atores envolvidos no turismo — governos, setor privado, comunidade local e turistas. A integração desses stakeholders em processos colaborativos fortalece a governança e assegura que as ações de melhoria sejam efetivas e duradouras. Além disso, a utilização de tecnologias digitais para coleta e análise de dados amplia a capacidade de monitoramento em tempo real, facilitando ajustes rápidos e decisões informadas. A compreensão profunda das interações entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais do turismo é essencial para que o benchmarking contribua verdadeiramente para destinos resilientes, inovadores e capazes de oferecer experiências turísticas significativas e sustentáveis.

Como o Turismo de Eventos Impacta as Cidades e a Sociedade?

O turismo de eventos emerge como um fenômeno complexo que transcende a simples atração de visitantes para destinos específicos. Ele se articula em torno de quatro grandes setores: lazer, organizações sociais e governamentais, entretenimento e grandes eventos, cada um movido por motivações distintas, mas igualmente relevantes para o desenvolvimento econômico e cultural das comunidades anfitriãs. No cerne dessas atividades, está a busca pelo prazer, desenvolvimento pessoal, fortalecimento da identidade e, em muitos casos, o cumprimento de obrigações corporativas ou institucionais.

Eventos culturais, esportivos, artísticos e de voluntariado não apenas geram experiências significativas, mas também promovem vínculos sociais, reforçando a coesão comunitária e ampliando a diversidade cultural. Ao mesmo tempo, a indústria do entretenimento privado, incluindo shows e competições, movimenta grandes investimentos em infraestrutura e mídia, moldando o espaço urbano e o consumo cultural.

Entretanto, o investimento público em eventos e instalações que vão além das necessidades imediatas dos residentes é um tema controverso. Governos frequentemente justificam esses gastos alegando a compensação por meio da geração de receita turística, manutenção de parques e teatros e o efeito positivo sobre o setor privado. Ainda assim, essa lógica é permeada por debates acerca da real eficiência econômica e social dessas ações, especialmente quando eventos de grande porte – os chamados megaeventos – geram dívidas, infraestruturas subutilizadas e impactos negativos, como o aumento da desigualdade e a gentrificação urbana.

A globalização intensifica a importância e a frequência dos eventos, impulsionada pela maior mobilidade de pessoas, acesso à renda e a difusão global de marcas e mídia. Ao mesmo tempo, a diversidade cultural e os movimentos migratórios enriquecem o calendário e o conteúdo dos eventos, que se tornam instrumentos estratégicos para a construção da imagem dos destinos e para o desenvolvimento turístico sustentável.

A transição para uma gestão mais aberta e participativa dos eventos representa um desafio fundamental. A necessidade de inclusão dos múltiplos atores envolvidos – residentes, organizadores, governo e setor privado – é vital para garantir transparência, responsabilidade e sustentabilidade. Protestos contra megaeventos evidenciam a urgência dessa mudança, que deve priorizar o equilíbrio entre benefícios e custos, incorporando impactos sociais, ambientais e econômicos a longo prazo.

A pandemia da Covid-19 foi um marco que revelou fragilidades estruturais no modelo tradicional de turismo de eventos, exigindo repensar estratégias, reduzir a dependência de grandes eventos e investir em portfólios diversificados que possam se adaptar a crises futuras. A gestão de portfólios, que envolve o planejamento e a coordenação de múltiplos eventos inter-relacionados, permite maximizar sinergias, distribuir riscos e fortalecer a resiliência dos destinos.

Com o crescimento e a complexidade dos eventos, a responsabilidade sobre suas consequências econômicas e sociais aumenta. A participação plena dos stakeholders na avaliação dos custos e benefícios é essencial para legitimar as decisões e consolidar o turismo de eventos como um vetor de desenvolvimento sustentável, capaz de integrar aspectos culturais, sociais e urbanos.

É importante compreender que o turismo de eventos não é um fenômeno isolado, mas sim uma interface dinâmica entre economia, cultura e política urbana. Seu sucesso depende não apenas da atração de visitantes, mas da capacidade de gerar legados positivos duradouros para as comunidades, promovendo inclusão social, preservação cultural e equilíbrio ambiental.

Como a História e a Globalização Influenciam a Evolução do Turismo e Suas Complexidades

O estudo da história do turismo tem se deparado com um desafio fundamental: a dificuldade em integrar perspectivas internacionais e transnacionais devido à natureza complexa do fenômeno turístico, que abrange vastas áreas geográficas, diversas culturas, ambientes naturais distintos e múltiplas línguas. Esse emaranhado de fatores torna a pesquisa histórica sobre turismo uma tarefa multifacetada, exigindo abordagens que transcendem limites culturais e nacionais, ainda que muitos pesquisadores prefiram trabalhar dentro de suas próprias fronteiras linguísticas e culturais. A evolução do turismo é frequentemente analisada através do desenvolvimento estrutural e organizacional das agências de viagem, companhias ferroviárias, aéreas e marítimas, revelando histórias locais, regionais e nacionais, mas carecendo de uma compreensão verdadeiramente global.

A institucionalização do turismo internacional é marcada por iniciativas como a Lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), lançada em 1972, que valorizou a preservação de destinos naturais e culturais ao redor do mundo, impactando significativamente os fluxos turísticos globais. Contudo, estudos históricos recentes destacam a importância de olhar para além das crises atuais, como a pandemia de Covid-19, para entender como pandemias anteriores, guerras, crises econômicas e conflitos moldaram e frequentemente restringiram o turismo ao longo dos séculos. A crise do petróleo na década de 1970, por exemplo, representou uma ruptura duradoura no fluxo do turismo internacional, demonstrando a vulnerabilidade do setor a fatores externos.

As guerras internacionais e civis também exerceram influência decisiva, limitando o tráfego turístico e impactando as economias locais e globais. O fenômeno do “dark tourism”, que envolve o turismo relacionado a locais de sofrimento, conflito e tragédias, já é reconhecido como uma área significativa de estudo na história do turismo, refletindo a complexidade das motivações humanas para viajar e a relação ambígua entre turismo e memória histórica. Os pesquisadores que atuam nessa área ampliam a compreensão sobre como imagens, mitos, memórias e patrimônio são elementos centrais na construção das experiências turísticas, em especial diante dos processos de globalização que intensificam o contato e a interação entre diferentes culturas.

O turismo também é um fenômeno profundamente influenciado por desejos psicológicos e sociais, funcionando como uma forma de escapar da rotina e buscar uma experiência alternativa do tempo — um intervalo dedicado ao descanso, à renovação e à busca por sensações novas e significativas. Desde as primeiras pesquisas que identificaram aspirações diferenciadas entre homens e mulheres em relação às férias — heróis aventureiros versus jornadas transformadoras e sofisticadas — até os estudos contemporâneos sobre o impacto do turismo na qualidade de vida, o lazer tem sido entendido como um componente essencial da experiência humana, com efeitos profundos no bem-estar individual.

Além disso, o papel da mídia e das tecnologias digitais tem crescido no campo dos estudos históricos do turismo, revelando como a representação dos destinos e a circulação da informação afetam as práticas turísticas e as percepções culturais associadas. As disciplinas interligadas à história, como a geografia humana, a antropologia e a sociologia, contribuem para uma compreensão multidimensional do fenômeno turístico, ampliando o foco para questões ambientais, esportivas e interculturais. Por exemplo, os impactos ambientais do turismo e a pegada de carbono associada às viagens de lazer vêm ganhando destaque, evidenciando a necessidade de um olhar crítico sobre os custos ecológicos do turismo em um mundo em rápida transformação.

O turismo, embora historicamente sujeito a oscilações econômicas e a crises globais, permanece uma atividade vital que reflete e molda as dinâmicas culturais e sociais contemporâneas. A pandemia de Covid-19 demonstrou a resiliência e a vulnerabilidade do setor, indicando que as convenções turísticas do futuro serão moldadas por novas realidades, que exigem adaptações e respostas inovadoras. Entender essas dinâmicas em suas raízes históricas permite não apenas compreender os fenômenos atuais, mas também projetar caminhos para o desenvolvimento sustentável e culturalmente sensível do turismo.

É crucial que o leitor reconheça a importância de uma abordagem interdisciplinar para captar as nuances do turismo como fenômeno histórico, social e cultural, compreendendo que ele é simultaneamente produto e agente das transformações globais. Além disso, a reflexão sobre os impactos éticos e ambientais do turismo, assim como sua relação com a memória e a identidade, deve permear qualquer análise aprofundada, destacando que o turismo não é apenas uma atividade econômica, mas um campo rico em significados simbólicos e consequências concretas para as sociedades e o planeta.

Como a revisão sistemática e o pensamento sistêmico transformam a pesquisa em turismo?

A aplicação de métodos rigorosos e transparentes na revisão da literatura científica tem revolucionado a pesquisa em turismo. Revisões sistemáticas, ao contrário das tradicionais, buscam minimizar vieses e pressupostos implícitos do pesquisador por meio de protocolos claros e replicáveis. Essas abordagens, inicialmente desenvolvidas na área da saúde pela Cochrane Collaboration, foram adaptadas para a pesquisa em turismo e hospitalidade desde o início dos anos 2000, crescendo exponencialmente em popularidade na última década. Protocolos como o PRISMA, que detalham critérios de inclusão, exclusão, bases de dados e procedimentos de análise, garantem que a revisão seja feita de forma transparente, objetiva e científica.

Estudos recentes demonstram que cerca de 75% das revisões sistemáticas em turismo foram publicadas entre 2012 e 2017, refletindo uma crescente adesão a essa metodologia em periódicos de renome. Entre os métodos de revisão mais empregados estão as revisões sistemáticas, narrativas, temáticas e meta-análises, sendo a revisão sistemática a mais difundida, por sua capacidade de fornecer resultados mais confiáveis e menos susceptíveis a interpretações subjetivas.

No entanto, a complexidade do turismo como sistema social e econômico exige uma abordagem que vá além da mera compilação de dados. O pensamento sistêmico surge como uma resposta imprescindível para compreender as múltiplas inter-relações entre os diversos elementos do turismo: oferta e demanda, intermediários, instituições de apoio, fluxos turísticos, influências ambientais e contextos político-sociais. Este método propõe uma visão holística, entendendo o turismo como um sistema aberto, cujos componentes estão em constante interação, influenciando-se mutuamente de forma dinâmica.

A teoria geral dos sistemas, proposta por Ludwig von Bertalanffy, fundamenta essa abordagem ao conceber sistemas como conjuntos complexos de elementos interconectados, independentemente da natureza de seus componentes. No turismo, essa complexidade manifesta-se através da multiplicidade de sub-setores — hospedagem, lazer, recreação — e da interdependência destes com fatores globais e locais, econômicos e ambientais. O pensamento sistêmico não apenas reconhece essas relações, mas também valoriza o potencial dos pontos de alavancagem, locais estratégicos onde intervenções podem provocar melhorias significativas e duradouras no sistema.

A aplicação do pensamento sistêmico em turismo envolve a construção de modelos que mapeiam variáveis e suas inter-relações, permitindo uma melhor compreensão do comportamento do sistema ao longo do tempo e a avaliação do impacto de diferentes políticas ou estratégias. Por exemplo, o modelo de laço causal auxilia na análise das interações entre qualidade do serviço, investimento, crescimento do mercado e satisfação dos turistas, destacando a importância de feedbacks negativos e positivos para o equilíbrio e o desenvolvimento sustentável do setor.

É essencial compreender que o turismo, enquanto sistema social, é caracterizado por sua intensidade de conhecimento, alta conectividade global, virtualidade e rápidas transformações tecnológicas e mercadológicas. O pensamento estratégico adotado no turismo deve antecipar tendências futuras, buscando a sustentabilidade e a manutenção da homeostase do sistema, ao mesmo tempo em que reconhece a natureza circular e não-linear dos processos envolvidos.

A integração entre revisões sistemáticas e o pensamento sistêmico fortalece a pesquisa em turismo, proporcionando não apenas uma base sólida e confiável de conhecimento, mas também um framework para o planejamento e tomada de decisão que considera a complexidade intrínseca do setor. A capacidade de modelar sistemas turísticos, validar cenários futuros e identificar pontos críticos para intervenção é fundamental para a construção de estratégias eficazes e adaptáveis.

Além do que foi exposto, é importante para o leitor entender que a aplicação prática desses métodos exige habilidades multidisciplinares, combinando estatística, metodologia qualitativa e quantitativa, ciência da computação e gestão. A interpretação dos resultados de revisões sistemáticas deve sempre ser contextualizada dentro do sistema estudado, evitando simplificações que desconsiderem a complexidade inerente ao turismo. Por fim, a evolução contínua das tecnologias digitais e a crescente disponibilidade de dados oferecem novas oportunidades para aprimorar tanto as revisões quanto os modelos sistêmicos, o que demanda atualização constante por parte dos pesquisadores e profissionais do setor.