O fenômeno da inovação no turismo está profundamente conectado à interação entre pesquisa, educação e inovação, componentes centrais do chamado “triângulo do conhecimento”. Esta tríade é fundamental para entender como as atividades turísticas se desenvolvem e se adaptam aos desafios contemporâneos, especialmente em contextos culturais e econômicos distintos como os das duas Coreias. O turismo, neste sentido, não é apenas uma atividade econômica, mas um processo complexo que envolve transferência de conhecimento, colaboração entre setores público e privado e a valorização do conhecimento local e tradicional.

Na Coreia do Norte, por exemplo, o turismo permanece bastante controlado e restrito, marcado por uma abertura limitada a visitantes estrangeiros desde os anos 60, quando foram estabelecidos os primeiros fluxos turísticos originados de países comunistas e da diáspora coreana. A política do país é orientada para preservar a ideologia e proteger seus cidadãos das influências externas, resultando em um modelo de turismo muito regulado, com roteiros organizados e monitorados, que incluem visitas a sítios políticos, históricos e naturais. A relevância do turismo para a Coreia do Norte, apesar das dificuldades políticas e das sanções internacionais, está na capacidade de gerar divisas e promover uma imagem controlada do país ao exterior.

Por outro lado, a Coreia do Sul representa um modelo de turismo dinâmico, que aproveita sua rica herança cultural, seus recursos históricos e, sobretudo, sua pujante indústria cultural contemporânea — o chamado “Hallyu” ou “Onda Coreana”. A atração por K-pop, dramas televisivos, cinema e culinária tradicional reflete uma estratégia de turismo que integra elementos intangíveis e tangíveis, ampliando o alcance e a profundidade da experiência turística. A Coreia do Sul conseguiu, especialmente após a remoção das restrições de viagem em 1989, expandir significativamente o fluxo turístico, consolidando-se como um destino global e fomentando o intercâmbio cultural em escala internacional.

A compreensão desse dualismo coreano em termos turísticos exige atenção à importância do conhecimento contextual e multidimensional. A inovação turística precisa considerar os diferentes tipos de saber — o científico, o gerencial, o local e o tradicional — que se entrelaçam para formar narrativas culturais e estratégias econômicas adequadas a cada realidade. Em uma era marcada por desafios globais como mudanças climáticas, pandemias, envelhecimento populacional e transformações no comportamento dos consumidores, as políticas e as práticas turísticas devem se basear em colaborações transnacionais e intersetoriais para promover sustentabilidade e resiliência.

Além disso, para o desenvolvimento sustentável do turismo, é essencial que os planejamentos mestres incluam não só a facilitação da mobilidade e o fortalecimento das relações diplomáticas, mas também o investimento em formação e capacitação da força de trabalho local, promovendo o desenvolvimento humano e a valorização dos recursos culturais de maneira equilibrada. A transferência de conhecimento entre países do Norte Global e do Sul Global deve ser encarada como um processo de mão dupla, onde diversas formas de existência e saberes se reconhecem e se potencializam, em um verdadeiro “pluriverso” de possibilidades alternativas.

Dessa forma, o turismo não é apenas uma atividade econômica, mas um espaço onde se expressam as identidades culturais, as dinâmicas políticas e os desafios do desenvolvimento sustentável, sendo indispensável uma abordagem integrada que dialogue com a complexidade dos contextos sociais e ambientais locais e globais.

Como o turismo moldou a economia e a identidade da Nova Zelândia?

A Nova Zelândia, reconhecida hoje como uma sociedade multicultural, deve grande parte de sua identidade e economia ao desenvolvimento do turismo. Situada em uma localização isolada no Pacífico Sul, o país demorou décadas para iniciar o crescimento expressivo do número de visitantes internacionais. No início do século XX, o turismo era quase inexistente, com cerca de 12 mil chegadas registradas em 1922. Somente após a década de 1950, especialmente com a chegada dos aviões a jato que ampliaram o conforto e o alcance das viagens aéreas, o fluxo turístico começou a crescer de forma acelerada, quase dobrando a cada década subsequente.

A contribuição do turismo para o Produto Interno Bruto (PIB) da Nova Zelândia é expressiva: em 2019, o setor representava diretamente 5,5% do PIB, com um impacto indireto adicional de 3,8%. Isso se traduziu em receitas superiores a US$ 11,6 bilhões, tornando o turismo a principal fonte de divisas estrangeiras do país, com participação de 20,1% no total das exportações naquele ano. Tal relevância econômica reflete a diversificação dos produtos turísticos oferecidos, que vão desde as paisagens naturais impressionantes até experiências culturais autênticas, especialmente relacionadas à cultura indígena Māori.

A singularidade do país está, em grande parte, na sua geografia e na riqueza cultural. A Ilha Norte atrai turistas por sua atividade vulcânica, águas termais e atividades aquáticas, enquanto a Ilha Sul, dominada pelos Alpes do Sul, oferece opções para trekking, esqui e contato intenso com a natureza. Desde o início do século XX, a conexão entre o turismo e a conservação ambiental foi um eixo estratégico: a Nova Zelândia foi pioneira no estabelecimento de parques nacionais, segundo o sistema mais antigo do mundo, integrando a valorização da natureza à promoção turística.

No entanto, o crescimento acelerado nas últimas décadas suscitou preocupações legítimas quanto à sustentabilidade ambiental e social do turismo. Em resposta, órgãos independentes, como o Comissário Parlamentar para o Meio Ambiente, têm recomendado a implementação de políticas rigorosas para controlar as emissões de carbono da aviação, limitar a capacidade turística em parques nacionais e lidar com problemas emergentes, como o turismo de acampamento livre, que desafia as normas de conservação. Essas medidas visam garantir que o turismo continue sendo um pilar econômico sem comprometer os ecossistemas frágeis e o bem-estar das comunidades locais.

A criação da marca "100% Pure New Zealand" e a fundação do Tourism New Zealand, em 1991, representam esforços institucionais para posicionar o país no mercado global como um destino sustentável e de alto valor agregado. A estratégia atual de turismo busca alinhar o desenvolvimento do setor não apenas ao crescimento econômico, mas também à inclusão social, à valorização cultural e à proteção ambiental, refletindo uma visão integrada que reconhece a interdependência entre esses pilares.

Além da gestão e promoção, a governança do turismo envolve múltiplas agências governamentais e associações setoriais, promovendo uma abordagem coordenada para o planejamento e regulação. A tarefa é complexa e exige o equilíbrio entre o aumento da demanda turística e a manutenção da autenticidade e qualidade das experiências oferecidas.

É fundamental compreender que o turismo na Nova Zelândia não é apenas um motor econômico, mas um fenômeno que redefine relações sociais, culturais e ambientais. O reconhecimento da cultura Māori como elemento central do atrativo turístico evidencia um avanço significativo na valorização dos povos indígenas, que transcende o mero folclore para se tornar uma parte viva da identidade nacional e da oferta turística.

Ainda que a Nova Zelândia esteja na vanguarda em termos de sustentabilidade no turismo, a contínua pressão do mercado e as mudanças climáticas impõem desafios que exigem adaptação constante. A eficácia das políticas futuras dependerá da capacidade do país em manter um diálogo aberto com as comunidades locais, pesquisadores e o setor privado, garantindo que o turismo contribua para a prosperidade do país sem sacrificar seus recursos naturais e culturais.

A leitura desse panorama convida o leitor a refletir sobre as complexidades envolvidas no desenvolvimento turístico sustentável e a reconhecer que o sucesso da Nova Zelândia em equilibrar crescimento econômico, preservação ambiental e valorização cultural é resultado de um esforço coordenado, contínuo e multidimensional.

Como o Turismo Pró-Pobre Pode Transformar Destinos e Combater a Pobreza Global?

O turismo pró-pobre emerge como uma resposta ativa e inovadora aos desafios da pobreza global, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. Sua importância reside na capacidade de utilizar o setor turístico — um dos segmentos econômicos que mais cresce no mundo — como ferramenta para a promoção de benefícios tangíveis às populações economicamente vulneráveis, que historicamente foram marginalizadas ou subvalorizadas nos processos tradicionais de desenvolvimento turístico. A complexidade dessa abordagem reside não apenas na necessidade de assegurar a viabilidade comercial e a competitividade dos destinos turísticos, mas também, e sobretudo, em garantir a participação efetiva e justa dos pobres nos frutos gerados pela atividade turística.

A definição precisa do público-alvo do turismo pró-pobre representa um desafio constante, dado o caráter multidimensional da pobreza e a variabilidade de critérios utilizados para sua identificação em diferentes contextos geográficos e culturais. A simples utilização de linhas de pobreza universais não captura as nuances das condições locais e, por isso, pode gerar avaliações distorcidas sobre quem realmente se beneficia dessas iniciativas. Assim, há uma demanda por pesquisas que levem em conta fatores demográficos, socioculturais e econômicos, refletindo a diversidade das realidades globais.

A influência do turismo na redução da pobreza é confirmada por múltiplos estudos empíricos, que indicam efeitos positivos, embora heterogêneos, sobre diversos indicadores como índice de pobreza, desigualdade de renda e severidade da pobreza. Entretanto, esses efeitos não são uniformes, variando conforme o local, o tipo de produto turístico, o mercado emissor e as estruturas institucionais. Portanto, a tentativa de padronizar modelos de desenvolvimento pró-pobre sem considerar essa heterogeneidade se mostra inadequada e até contraproducente.

O desenvolvimento do turismo pró-pobre exige superar barreiras estruturais profundas, entre elas o poder de barganha reduzido dos países em desenvolvimento, que frequentemente perdem o controle da cadeia de valor do turismo. A participação dos pobres no emprego ligado ao turismo tende a ser precária, muitas vezes informal e de caráter temporário, o que compromete a contribuição real do setor para a melhoria de suas condições de vida. Para reverter essa situação, é essencial fortalecer os vínculos entre produção turística e meios de subsistência locais, ampliando o impacto social e econômico do turismo. Para tanto, a colaboração entre diferentes atores — governos, setor privado, sociedade civil, turistas e organismos internacionais — é indispensável, assim como o apoio externo que fomente a capacitação e o empoderamento das comunidades.

A crise provocada pela pandemia da Covid-19 evidenciou a vulnerabilidade da indústria turística, especialmente para os grupos mais pobres que dependem diretamente do setor para sua sobrevivência. Muitos perderam empregos e meios de subsistência, aprofundando o quadro de pobreza. Esse cenário reforça a necessidade urgente de recuperar a confiança dos pobres no turismo e redobrar esforços para que o setor contribua efetivamente para a redução das desigualdades, com especial atenção ao fortalecimento do turismo doméstico e à diversificação das fontes de renda.

Embora o turismo pró-pobre tenha suas raízes e maior incidência nos países em desenvolvimento, seus princípios são igualmente válidos em destinos com índices baixos de pobreza absoluta, inclusive em países desenvolvidos. A transformação dos stakeholders e a adoção de práticas pró-pobres em escala mais ampla são essenciais para ampliar os benefícios sociais do turismo. Nesse sentido, o avanço das pesquisas, com o desenvolvimento de instrumentos científicos e metodologias que permitam avaliações sistemáticas e precisas, é fundamental. Estudos que considerem perspectivas micro, como as experiências das famílias e indivíduos envolvidos, ou que explorem dimensões não econômicas da pobreza, podem enriquecer a compreensão e a eficácia das políticas e práticas adotadas.

Além disso, é importante reconhecer que o turismo pró-pobre não pode ser dissociado da sustentabilidade ambiental e do respeito às áreas protegidas, que guardam significados culturais e ecológicos cruciais. A proteção desses territórios requer uma gestão que integre o desenvolvimento turístico com a conservação, garantindo que os benefícios econômicos não comprometam o patrimônio natural e cultural. A harmonização entre conservação e inclusão social é, portanto, um componente essencial da abordagem pró-pobre, especialmente em destinos onde a biodiversidade e os valores culturais são pilares do turismo.

A incorporação dos valores éticos, conforme recomendado pelo Código Global de Ética para o Turismo da Organização Mundial do Turismo, deve nortear todas as práticas, assegurando que o turismo contribua para a justiça social, o respeito às diferenças culturais e a promoção do desenvolvimento sustentável. A consciência da diversidade cultural e dos sistemas de valores é fundamental para a profissionalização do setor e para a construção de um turismo que seja, ao mesmo tempo, rentável e inclusivo.

A compreensão do turismo pró-pobre implica, portanto, na percepção de sua natureza multifacetada, que exige uma visão integrada dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Somente por meio dessa abordagem holística será possível maximizar os impactos positivos e minimizar os riscos, contribuindo para a erradicação da pobreza e para o desenvolvimento equitativo dos destinos turísticos.