Os elementos fora da diagonal de uma matriz são simétricos em relação à diagonal principal (ou seja, Tij=TjiT_{ij} = T_{ji}). Tensores, na verdade, são bastante comuns quando se lida com sólidos deformáveis. Por exemplo, a caracterização do estresse e da deformação em múltiplas dimensões é feita através de tensores. Para aqueles que estão começando a se familiarizar com tensores, a melhor forma de abordá-los pode ser através de sua representação matricial e das operações da álgebra matricial.

Tensores são objetos independentes de qualquer representação coordenada, ou seja, eles existem sem depender de um sistema de coordenadas específico. Um corpo sólido sujeito a uma força, por exemplo, está em um estado de estresse, que, como veremos em capítulos posteriores, pode ser representado por um tensor. O corpo, no entanto, não tem noção de que um sistema de coordenadas será eventualmente definido com vetores base, para então caracterizar o estado de estresse com os valores dos componentes do tensor. Embora os componentes de um tensor dependam do sistema de coordenadas, o tensor em si não depende dele. Assim como um vetor pode ser representado em relação a diferentes vetores base, um tensor também pode.

O sistema de base para vetores é um conjunto de vetores independentes que formam o espaço. Por exemplo, os vetores unitários ortogonais {e1,e2,e3}\{e_1, e_2, e_3\} formam uma base para representar qualquer vetor em um espaço tridimensional. De maneira análoga, a base para tensores é um conjunto de tensores independentes que podem representar qualquer tensor no espaço. Por exemplo, os nove tensores [eiej][ e_i \otimes e_j ] para i=1,2,3i = 1, 2, 3 e j=1,2,3j = 1, 2, 3 são suficientes para isso. Como os tensores base são construídos a partir dos vetores base, é evidente que poderíamos escolher um conjunto diferente de vetores base, digamos {e^1,e^2,e^3}\{ \hat{e}_1, \hat{e}_2, \hat{e}_3 \}, e formar uma nova base de tensores com eles. Assim, poderíamos escrever um tensor em componentes em relação a duas bases diferentes como:

T=i=13j=13Tijeiej=i=13j=13T^ije^ie^jT = \sum_{i=1}^{3} \sum_{j=1}^{3} T_{ij} e_i \otimes e_j = \sum_{i=1}^{3} \sum_{j=1}^{3} \hat{T}_{ij} \hat{e}_i \otimes \hat{e}_j

Os componentes TijT_{ij} e T^ij\hat{T}_{ij} não são os mesmos, assim como os valores xix_i e x^i\hat{x}_i não são iguais em exemplos semelhantes com vetores. O relacionamento entre esses dois conjuntos de componentes pode ser encontrado de forma análoga ao que foi feito com vetores.

Podemos calcular o produto escalar e^nTe^m\hat{e}_n \cdot T \hat{e}_m utilizando ambas as versões da representação de componentes de TT. No sistema e^\hat{e} (o sistema com chapéu), temos a relação:

e^nTe^m=i=13j=13e^nT^ije^ie^je^m\hat{e}_n \cdot T \hat{e}_m = \sum_{i=1}^{3} \sum_{j=1}^{3} \hat{e}_n \cdot \hat{T}_{ij} \hat{e}_i \otimes \hat{e}_j \hat{e}_m

Aqui, aplicamos a ortogonalidade dos vetores e^i\hat{e}_i, de modo que o produto escalar resultante simplifica para T^nm\hat{T}_{nm}. No sistema original, um procedimento similar leva à expressão:

e^nTe^m=i=13j=13QniTijQmj\hat{e}_n \cdot T \hat{e}_m = \sum_{i=1}^{3} \sum_{j=1}^{3} Q_{ni} T_{ij} Q_{mj}

onde Qni=e^neiQ_{ni} = \hat{e}_n \cdot e_i e Qmj=e^mejQ_{mj} = \hat{e}_m \cdot e_j. Esses QQ são os cossenos diretores entre os vetores das duas bases e são usados para encontrar o relacionamento entre os componentes de TT nas diferentes bases. Assim, a equação de mudança de base para tensores pode ser escrita como:

T^=QTQT\hat{T} = Q T Q^T

onde QQ é a matriz cujos componentes são os QijQ_{ij}, e TT e T^\hat{T} são as matrizes com os componentes do tensor nas duas bases diferentes.

Quando trabalhamos com tensores dessa maneira, também podemos observar que existem quantidades que permanecem inalteradas pela transformação de base. Essas quantidades, chamadas de invariantes, são muito importantes em muitos contextos, especialmente em análises de estresse e deformação. Por exemplo, a soma das diagonais (a traço) e o determinante de uma matriz de tensor são invariantes sob mudança de base. Isso significa que, embora os componentes individuais do tensor mudem com a transformação de base, o traço e o determinante permanecem constantes.

Em problemas planos, é muitas vezes conveniente trabalhar em duas dimensões. Nesses casos, a base vetorial será {e1,e2}\{e_1, e_2\}, e a base tensorial terá apenas quatro termos eieje_i \otimes e_j, onde tanto ii quanto jj podem assumir valores 1 ou 2. Quase tudo o que é válido para vetores e tensores em três dimensões se reduz suavemente para duas dimensões. Uma exceção importante é o produto vetorial (e, portanto, o produto escalar triplo), que existe tecnicamente apenas em três dimensões.

Por exemplo, considere dois sistemas de coordenadas, como o sistema {e1,e2}\{e_1, e_2\} (o sistema original) e outro sistema representado pelos vetores unitários {e^1,e^2}\{\hat{e}_1, \hat{e}_2\}, que é rotacionado em 30 graus no sentido anti-horário em relação ao primeiro sistema. Os componentes de um tensor TT no sistema original são dados pela matriz:

T=[16448]T = \begin{bmatrix} 16 & 4 \\ 4 & 8 \end{bmatrix}

Usando a matriz QQ calculada a partir do produto escalar dos vetores das duas bases, podemos transformar os componentes do tensor TT para o sistema e^1,e^2\hat{e}_1, \hat{e}_2. O cálculo resultará em uma nova matriz para os componentes T^\hat{T}. Um ponto interessante é que, embora os componentes individuais do tensor mudem com a transformação de base, o traço da matriz e o determinante permanecem inalterados. O traço, por exemplo, para ambos os sistemas será tr(T)=24\text{tr}(T) = 24, e o determinante det(T)=112\det(T) = 112, que é idêntico em ambos os sistemas.

Esse comportamento é um exemplo da propriedade dos tensores conhecidos como invariantes, que serão fundamentais na análise de problemas de estresse e deformação em capítulos posteriores.

Como a Hipótese Cinemática Leva à Teoria Completa de Vigas: Análise e Aplicações Práticas

A teoria das vigas é um pilar fundamental na mecânica dos sólidos deformáveis, essencial para a análise de estruturas sujeitas a carregamentos. A partir de uma hipótese cinemática simples, que afirma que as seções planas permanecem planas após a deformação, é possível derivar uma teoria mecânica robusta regida por uma equação diferencial ordinária. Esta equação pode ser facilmente resolvida para fornecer resultados práticos, como a estimativa das deflexões de uma viga sob carga, assim como os esforços e deformações que surgem durante o processo.

Em um cenário básico, uma viga de comprimento LL é submetida a cargas transversais q(x)q(x), conforme ilustrado na figura 7.1. Essas cargas têm uma componente perpendicular ao eixo da viga, causando a sua curvatura. Além disso, consideram-se também as cargas axiais e os momentos aplicados, que não estão representados no esquema, mas são igualmente relevantes. Como resultado dessas forças, a viga se desloca transversalmente ao seu eixo longitudinal, e as seções transversais da viga rotacionam no plano de movimento. As propriedades geométricas relevantes das seções transversais para a teoria das vigas são sua área e os momentos de primeira e segunda ordem em relação ao centroide. A importância dessas propriedades será evidenciada durante o desenvolvimento da teoria e será mais detalhada no capítulo 9, quando se discutirá métodos de cálculo desses momentos.

O material da viga é caracterizado pelo módulo de Young EE, uma constante que descreve a rigidez do material diante de deformações. O sistema de coordenadas adotado considera o eixo xx como a linha que conecta os centroides das seções transversais da viga, com os vetores base e1e_1, e2e_2, e e3e_3, sendo que o vetor e3e_3 aponta para baixo, já que a maioria das forças em nossos problemas atuam nessa direção.

O modelo de vigas considera diferentes condições de contorno, que variam conforme a aplicação. Por exemplo, a viga ilustrada na figura 7.1 está fixada em uma das extremidades e apoiada de forma simples na outra.

A cinemática das vigas, conforme a hipótese mencionada, assume que as seções planas da viga se mantêm planas após a deformação. Isso significa que cada seção transversal se move como um corpo rígido, mas seções adjacentes podem rotacionar e deslocar-se relativamente umas às outras, conforme ilustrado na figura 7.2. Essa hipótese reduz as equações diferenciais parciais tridimensionais da mecânica para equações diferenciais ordinárias em função da variável xx, simplificando enormemente os cálculos e a modelagem. No entanto, as equações resultantes são não lineares, e no capítulo seguinte serão linearizadas para facilitar a obtenção de soluções analíticas.

Se assumirmos que as seções transversais planas permanecem planas após a deformação, o movimento da viga pode ser completamente caracterizado pelo deslocamento do centroide w(x)w(x) e pela rotação da seção transversal θ(x)\theta(x), conforme mostrado na figura 7.3. O vetor posição de uma partícula típica BB na seção transversal AA, inicialmente localizada a uma distância xx da extremidade esquerda, é dado por:

x=xe1+w(x)e3+zm(x)x = x e_1 + w(x) e_3 + z m(x)

Onde xx é a distância ao longo do eixo da viga não deformada e zz é a distância do eixo até a partícula típica. Note que a equação descreve o mapeamento da deformação x=φ(z)\mathbf{x} = \varphi(z) para a teoria das vigas planas, onde a componente zz descreve a variação no plano (x,z)(x, z). A deformação é, portanto, restrita a esse plano, e o movimento não depende explicitamente da coordenada yy, como ilustrado na equação (7.1).

O vetor de deslocamento pode ser expresso em termos dos componentes relativos aos vetores base padrão como:

w(x)=u(x)e1+w(x)e3w(x) = u(x) e_1 + w(x) e_3

Onde u(x)u(x) é o deslocamento ao longo do eixo xx, e w(x)w(x) é o deslocamento transversal. O ângulo de rotação θ(x)\theta(x) da seção transversal é medido em relação à orientação do eixo da viga não deformada, e é considerado positivo quando a rotação é no sentido anti-horário. Os vetores unitários n(x)n(x) e m(x)m(x) acompanham a rotação da seção transversal em xx, sendo expressos em termos dos componentes relativos aos vetores base como:

n(x)=cosθ(x)e1sinθ(x)e3n(x) = \cos \theta(x) e_1 - \sin \theta(x) e_3
m(x)=sinθ(x)e1+cosθ(x)e3m(x) = \sin \theta(x) e_1 + \cos \theta(x) e_3

A partir dessas expressões, podemos entender como o movimento das seções transversais é modulado pelo ângulo de rotação θ(x)\theta(x), com m(x)m(x) no plano da seção transversal e n(x)n(x) normal a esse plano. A partir daí, os cálculos podem ser feitos para determinar o comportamento de deformações e deslocamentos, que são essenciais para resolver problemas de vigas sujeitas a diversas cargas e condições de contorno.

Por fim, o comportamento das seções transversais em relação umas às outras, conforme observado na figura 7.4, é determinante para calcular a deformação total da viga. A hipótese de seções planas permite que se compreenda como as diferentes seções se movem e se deformam ao longo do eixo xx, e é fundamental para modelar corretamente os efeitos de cargas e momentos aplicados.

Em relação aos aspectos fundamentais da teoria das vigas, é importante ressaltar que, embora a simplificação da hipótese cinemática de seções planas permita reduzir a complexidade das equações, ela impõe limitações. As análises podem ser mais complicadas em casos onde as seções não se mantêm planas ou quando há efeitos como torção ou deformações grandes, que exigem abordagens mais sofisticadas, como o uso de teorias de vigas mais gerais ou elementos finitos para modelagem precisa. Além disso, o entendimento das condições de contorno e das propriedades do material, como o módulo de Young, é crucial para uma análise realista e precisa.

Como Calcular as Propriedades de Seções Transversais Poligonais Utilizando o Método de Cálculo Numérico em MATLAB

O cálculo das propriedades geométricas das seções transversais é fundamental para o projeto de estruturas, pois esses parâmetros influenciam diretamente a resistência e a rigidez de um componente. A área, o centróide, o momento de inércia e os momentos de área (como o Q) são as principais propriedades que precisam ser determinadas para avaliar o comportamento de uma seção transversal sob carregamento. A seguir, abordaremos a implementação de um código MATLAB que permite o cálculo dessas propriedades para uma seção transversal poligonal representada por um conjunto de vértices.

Este código foi projetado para calcular propriedades geométricas, incluindo área, centróide, momento de inércia e os momentos de área Q, para seções transversais representadas como polígonos. A entrada do código consiste nas coordenadas dos vértices da seção transversal, e os cálculos podem ser feitos de acordo com as direções normais e o ponto de referência definidos pelo usuário.

A estrutura do código é baseada na definição de dois parâmetros principais: as direções normais para o corte e o ponto de referência para o corte. O usuário tem a opção de definir essas variáveis, ou o sistema pode automaticamente determinar as direções principais com base no tensor de momento de inércia. Este recurso é útil para seções que não apresentam uma geometria simples, como seções com contornos curvos ou com furos irregulares.

Definição das Propriedades e Ajustes para Cortes

No código MATLAB, a primeira parte consiste em configurar as variáveis necessárias para realizar o corte na seção transversal e definir a região AfA_f. São fornecidas duas opções para o ponto de corte: o ponto de corte de referência pode ser especificado pelo usuário, ou o ponto de corte pode ser colocado no centróide da seção. Da mesma forma, o usuário pode escolher entre definir as direções normais para o corte ou utilizar as direções principais do tensor de momento de inércia.

A função InputCrossSection é responsável por coletar as coordenadas dos vértices da seção transversal, enquanto a função ComputeProperties realiza o cálculo da área, do centróide, do momento de inércia e do momento de área Q para a região definida pelos vértices. A utilização da Teoria dos Eixos Paralelos (Teorema de Steiner) permite ajustar os valores de QQ em relação ao centróide da seção, subtraindo-se o produto da área pelo quadrado da distância entre o ponto de corte e o centróide.

Cálculo do Momento de Área Q

O momento de área QQ é uma propriedade importante em muitos problemas de flexão, especialmente no cálculo de tensões de corte. O código computa dois momentos de área QyQ_y e QzQ_z ao realizar cortes nas duas direções normais principais da seção transversal.

Para cada direção normal, a função CutsForQ calcula os vértices da região AfA_f, e a função ComputeProperties é utilizada novamente para calcular a área e o momento de área relativo ao corte. O valor de QQ é então ajustado pela distância entre o ponto de corte e o centróide da seção.

Exemplificação e Verificação dos Resultados

Um exemplo ilustrativo é o uso do código para calcular as propriedades da seção transversal de uma viga em T. A partir do código, os valores calculados incluem a localização do centróide, a área da seção, o momento de inércia e o momento de área QQ. Esses valores podem ser verificados por meio de cálculos manuais, como mostrado no exemplo.

Para verificar o cálculo do momento de inércia e do momento de área QQ, os resultados gerados pelo código são comparados com os obtidos por cálculos manuais, utilizando a fórmula para o momento de inércia de uma seção transversal em relação ao centróide. Esse processo de verificação é crucial, pois garante que os métodos numéricos são precisos e confiáveis, especialmente quando a geometria da seção é complexa e não facilmente resolvível por métodos analíticos.

Aplicações do Código

O código descrito é particularmente útil em situações em que a geometria da seção transversal é complexa, como em seções com contornos curvos ou com furos irregulares. Exemplos disso incluem seções transversais de vigas em I com filetes arredondados, seções com segmentos curvos de espessura constante ou seções triangulares com recortes. Para essas geometrias, a computação direta das propriedades por métodos tradicionais pode ser tediosa e propensa a erros. O código oferece uma solução eficiente e precisa, permitindo que seções complexas sejam analisadas rapidamente.

A flexibilidade do código também permite a criação de seções com recortes, o que adiciona outra camada de complexidade ao problema. Para definir uma seção com um recorte, o usuário deve primeiro fornecer as coordenadas dos vértices da seção externa no sentido anti-horário e, em seguida, as coordenadas dos vértices do recorte no sentido horário. O algoritmo então ajusta automaticamente as contribuições positivas e negativas para os cálculos de área e momento de inércia.

Conclusão

A capacidade de calcular as propriedades de seções transversais de maneira precisa e eficiente é essencial para o projeto estrutural, especialmente quando lidamos com geometrias complexas. O código descrito oferece uma ferramenta poderosa para realizar esses cálculos de maneira automatizada, garantindo a precisão dos resultados e permitindo que os engenheiros e projetistas se concentrem em tarefas mais estratégicas.

Além disso, a verificação dos resultados gerados pelo código por meio de cálculos manuais ou de outros métodos de referência é uma prática recomendada para garantir a confiabilidade do processo de cálculo, especialmente em casos onde a geometria da seção apresenta desafios adicionais.