O exercício físico desempenha um papel essencial na reabilitação de muitos distúrbios relacionados ao câncer, promovendo benefícios que vão desde a manutenção da mobilidade até a melhoria da função imunológica. No entanto, ao trabalhar com pacientes em tratamento ou recuperação do câncer, é fundamental seguir diretrizes específicas para garantir a segurança e a eficácia das atividades físicas. A American College of Sports Medicine (ACSM) oferece recomendações valiosas para a prática de exercícios em pacientes com câncer, levando em consideração condições como neuropatia periférica, quimioterapia em andamento, linfedema, metástases ósseas e outras complicações específicas.

A frequência e a intensidade dos exercícios são elementos cruciais a serem observados. A ACSM sugere que a atividade aeróbica seja realizada de três a cinco dias por semana, com uma duração mínima de 150 minutos de intensidade moderada a vigorosa por semana, ou uma combinação equivalente entre atividades moderadas e intensas. Além disso, a resistência muscular deve ser trabalhada em dois a três dias por semana, com intervalos de descanso de pelo menos 24 horas entre as sessões. Para flexibilidade, exercícios diários são recomendados, com ênfase no alongamento muscular de 10 a 30 segundos por repetição.

Quando se trata de pacientes com metástases ósseas, é necessário tomar cuidados especiais. Movimentos que coloquem uma carga excessiva sobre os ossos frágeis devem ser evitados, incluindo atividades de alto impacto, flexões ou extensões excessivas da coluna vertebral, e movimentos dinâmicos de torção. As quedas, que podem resultar em fraturas, também devem ser evitadas, sendo a prevenção de quedas um objetivo crucial durante a reabilitação. Além disso, é importante que os profissionais de exercício monitorem sinais de dor óssea, que podem indicar o início de metástases, especialmente em locais como vértebras, costelas, úmero, fêmur e pelve.

A presença de linfedema também exige cuidados especiais. A ACSM recomenda o uso de mangas de compressão para exercícios de resistência, conforme as orientações do National Lymphedema Network. Além disso, pacientes com linfedema têm maior risco de complicações, especialmente se estiverem acima do peso ou em estado de descondicionamento físico. A atividade física pode ajudar a reduzir o risco de linfedema, desde que sejam observadas as precauções adequadas.

Pacientes com ostomia também devem ser orientados quanto ao manejo de sua condição durante a prática de exercícios. Antes de iniciar a atividade física, é importante esvaziar a bolsa de ostomia e começar os exercícios de resistência com cargas leves, aumentando gradualmente sob a supervisão de um profissional capacitado. A técnica adequada de levantamento de peso é essencial para evitar o risco de hérnia parastomal e o controle da pressão intra-abdominal. A hidratação também deve ser monitorada de perto, especialmente para aqueles com ileostomia, que estão em risco aumentado de desidratação.

No caso da neuropatia periférica, os pacientes devem passar por uma avaliação cuidadosa de sua estabilidade, equilíbrio e marcha antes de iniciar qualquer exercício. O treinamento de equilíbrio é fundamental, e exercícios aeróbicos alternativos, como natação ou bicicleta estacionária, podem ser preferíveis ao caminhar, caso a neuropatia afete a estabilidade. O uso de pesos de mão macios ou luvas acolchoadas pode ajudar a reduzir o desconforto nas mãos durante o treinamento de resistência, e o uso de máquinas de resistência pode ser mais seguro do que pesos livres.

Pacientes em recuperação de transplante de células-tronco hematopoéticas devem seguir um protocolo de exercícios adaptado. O exercício em casa é incentivado se o paciente estiver neutropênico ou propenso a infecções. A intensidade dos exercícios deve começar leve, com durações curtas, mas com alta frequência, progredindo lentamente à medida que o sistema imunológico se recupera. As atividades físicas também devem ser ajustadas diariamente, dependendo da condição clínica do paciente.

Além disso, a segurança solar é uma preocupação importante para pacientes com câncer, especialmente aqueles em tratamento de quimioterapia ou radioterapia. A exposição prolongada ao sol pode aumentar o risco de câncer de pele secundário. Portanto, os profissionais de exercício devem recomendar práticas de proteção solar para os pacientes que se exercitam ao ar livre. Para pacientes em quimioterapia, atividades físicas em ambientes internos são mais adequadas para evitar complicações de fotossensibilidade.

De forma geral, a prática regular de exercícios é uma parte essencial da reabilitação de pacientes com câncer, proporcionando benefícios que incluem o fortalecimento muscular, a melhoria da capacidade aeróbica e o aumento da flexibilidade. No entanto, é vital que qualquer programa de exercícios seja adaptado às necessidades e condições específicas de cada paciente. As precauções, a avaliação regular da condição física e a revisão contínua das metas de exercícios garantem que os pacientes possam se beneficiar plenamente da atividade física de forma segura e eficaz.

Como a Reabilitação Afeta a Capacidade Cardiorrespiratória e a Função Muscular Durante a Imobilização Prolongada

A VO2max, ou a capacidade máxima de oxigênio que um indivíduo pode utilizar durante exercícios intensos, é um indicativo direto da aptidão cardiovascular e da resistência aeróbica de uma pessoa. Quando um paciente permanece em repouso por longos períodos, como durante a imobilização hospitalar ou após uma condição grave, essa capacidade tende a diminuir substancialmente. O VO2max está intimamente relacionado à condição física geral do indivíduo, e a sua redução pode ser um dos primeiros sinais de declínio no estado de saúde. Com o tempo, esse decréscimo na capacidade aeróbica torna-se mais pronunciado, tornando a recuperação mais difícil e prolongada.

O treinamento aeróbico diário, com intensidade variando entre 60 a 80% do VO2max ou de acordo com a frequência cardíaca alvo, é crucial para a manutenção ou até mesmo para a melhoria da capacidade aeróbica em indivíduos descondicionados. No entanto, além do exercício aeróbico, o treinamento de resistência realizado de forma regular — de 3 a 4 vezes por semana, durante um período mínimo de 8 semanas — pode ter efeitos significativos na melhoria da aptidão cardiovascular e da resistência muscular. A combinação de exercícios aeróbicos e de resistência se mostra a mais eficaz para otimizar os benefícios de condicionamento físico, pois oferece um equilíbrio entre o aumento da capacidade cardiovascular e a preservação da massa muscular, fundamental para a funcionalidade geral do corpo.

A recomendação geral para a prática de atividades aeróbicas moderadas é de pelo menos 150 minutos por semana, ou 75 minutos de atividades intensas. Essas atividades não só melhoram a aptidão cardiovascular, mas também ajudam a reduzir fatores de risco relacionados a doenças coronárias, como níveis de lipídios e resistência à insulina, além de promoverem a redução de inflamações no corpo. Além disso, os benefícios não se limitam apenas ao físico. Sabe-se que o exercício aeróbico regular também tem efeitos positivos sobre a cognição, especialmente na função executiva, e pode melhorar o estado emocional, o que é fundamental para indivíduos em processo de recuperação.

Outro ponto importante durante a reabilitação de indivíduos imobilizados é a manutenção da flexibilidade muscular. A realização de alongamentos regulares, ao menos 2 a 3 vezes por semana, e de preferência diariamente, é essencial para preservar o comprimento ótimo dos músculos e suas propriedades viscoelásticas. Isso ajuda a evitar a rigidez muscular e favorece a recuperação funcional. Cada alongamento deve ser realizado com uma duração de 10 a 30 segundos, até o ponto de leve desconforto, sem atingir dor intensa ou aguda. A repetição de cada alongamento deve ser feita de 2 a 4 vezes, totalizando 60 segundos por grupo muscular. Esses alongamentos são cruciais para restaurar a amplitude de movimento e prevenir contraturas, especialmente em pacientes que passaram longos períodos de imobilização.

Em casos de descondicionamento severo, quando a pessoa pode ter dificuldades para realizar atividades cotidianas, a avaliação funcional e o treinamento específico tornam-se necessários. Em situações extremas, como quando o paciente apresenta deterioração cognitiva associada à imobilização, o processo de reabilitação pode ser mais longo e complexo, com a recuperação de funções musculares podendo levar de 2 a 3 vezes o tempo de imobilização.

A gestão respiratória também desempenha um papel crítico durante o processo de reabilitação. A mobilização precoce, ou verticalização, pode prevenir complicações respiratórias associadas à permanência prolongada em posição deitada. Exercícios de respiração profunda e manobras para promover a eliminação de secreções pulmonares, como a tosse e técnicas expiratórias forçadas, são fundamentais para evitar complicações como atelectasia e aspiração. Além disso, a drenagem postural e a percussão torácica podem ser úteis para melhorar a ventilação e prevenir infecções respiratórias.

Outro aspecto essencial na reabilitação é a nutrição. Pacientes imobilizados frequentemente enfrentam alterações no apetite e na digestão, o que pode levar a uma ingestão insuficiente de calorias e nutrientes. Para promover a recuperação muscular e favorecer a síntese de proteínas, é recomendada uma ingestão diária de proteína entre 1,2 e 2,0 g/kg de peso corporal, dependendo das necessidades individuais. Em pacientes descondicionados, pode ser necessário aumentar a ingestão de proteína até 0,4 g/kg para maximizar a síntese de proteínas musculares, especialmente durante períodos de déficit energético e resistência anabólica, que são comuns em pessoas sedentárias, obesas ou idosas.

A gestão adequada de líquidos também é fundamental. Pacientes em repouso prolongado podem sofrer desidratação devido à diurese associada ao repouso e à contração do volume plasmático. A reposição judiciosa de líquidos é essencial para evitar hipotensão postural e outros problemas circulatórios. Em pacientes com dificuldades cognitivas ou que têm problemas de acesso à água, é necessário monitorar a ingestão de líquidos e, em alguns casos, até fornecer hidratação intravenosa. A educação sobre a ingestão adequada de líquidos, assim como a eliminação de barreiras, como a limitação das permissões para o uso do banheiro, é crucial para a boa gestão da hidratação.

Por fim, é importante destacar o papel da estimulação cognitiva e do engajamento social durante a reabilitação. A imobilização prolongada pode levar ao declínio cognitivo, o que pode ser atenuado com atividades que estimulem a mente, como jogos, leituras ou interações sociais. O apoio da equipe de saúde para garantir que o paciente esteja orientado no tempo e no espaço, o uso de auxiliares sensoriais e a promoção de uma boa higiene do sono são essenciais para evitar a deterioração mental. Além disso, a promoção da independência e a manutenção das interações sociais com familiares e amigos podem ajudar a melhorar a autoestima e a qualidade de vida, elementos fundamentais para a recuperação completa do paciente.