Ao se investigar os valores que moldam as atitudes políticas, especialmente entre os apoiadores fervorosos de Donald Trump, é revelador observar não apenas as escolhas políticas explícitas, mas os traços psicológicos que as sustentam. Uma maneira de acessar esses traços é através de preferências sobre a educação de filhos. Ao oferecer aos entrevistados quatro pares de opções antagônicas sobre como criar crianças — viver segundo as expectativas sociais ou desafiá-las; seguir ou questionar autoridades; ser agressivo na busca por mudanças ou agir silenciosamente nos bastidores; ser humilde e modesto ou altamente autoconfiante — surgem padrões que transcendem ideologias tradicionais.

Embora, em termos gerais, a maioria das pessoas prefira que as crianças sigam convenções sociais, obedeçam autoridades, trabalhem discretamente por mudanças e cultivem humildade, as nuances entre os grupos ideológicos revelam algo mais profundo. Liberais se distanciam claramente dessas preferências tradicionais nas duas primeiras dicotomias: são os menos propensos a desejar filhos obedientes e conformistas. Porém, as diferenças se estreitam nas duas últimas dimensões, especialmente entre conservadores que veneram Trump e os que não o fazem. Surpreendentemente, os fervorosos apoiadores de Trump são menos propensos que os demais conservadores a valorizar a discrição na busca por mudanças e a modéstia como virtude. A autoconfiança e a ação assertiva são mais apreciadas por esses indivíduos — em linha com a retórica combativa e autossuficiente de seu líder político.

Esse dado, por si só, já subverte uma expectativa comum: a de que os trumpistas seriam mais autoritários. De fato, quando os itens tradicionais de personalidade autoritária são analisados (submissão, conformismo, rigidez), não há distinções significativas entre conservadores que veneram ou não Trump — e, quando há, apontam numa direção oposta à esperada: os veneradores de Trump são, em certos aspectos, menos submissos, menos inclinados ao conformismo silencioso.

É aqui que se introduz o conceito-chave: personalidades "securitárias", em oposição às autoritárias. O que move esses indivíduos não é a obediência cega à autoridade, mas sim uma profunda preocupação com segurança — de si mesmos, de suas famílias e da cultura que consideram própria. Quando medido com base em seis afirmações cuidadosamente formuladas para captar essa motivação (como “projetar fraqueza é das piores coisas que alguém pode fazer” ou “estar preparado para enfrentar ameaças é o melhor lema de vida”), o padrão se torna evidente. A adesão às ideias securitárias cresce de forma significativa conforme se passa de liberais a moderados, destes para conservadores não-trumpistas, e finalmente aos veneradores de Trump.

O dado é estatisticamente robusto: 60% dos veneradores de Trump acreditam que projetar fraqueza é inaceitável (contra 27% dos liberais); 86% deles dizem pensar muito sobre a segurança da família e do país (versus 45% dos liberais); 80% consideram que “estar preparado” é o melhor lema para a vida (frente a 41% dos liberais). Tais diferenças são consistentes e reveladoras. Ainda mais revelador é o fato de que, em itens formulados negativamente, como "prefiro ser visto como simpático do que forte" ou "acidentes são mais perigosos do que pessoas mal-intencionadas", não há grandes diferenças entre os grupos — o que mostra que o traço securitário se manifesta de forma ativa, não meramente como ausência de outros traços.

O índice composto de traços securitários correlaciona-se fortemente com a probabilidade de alguém ser um venerador de Trump — muito mais do que qualquer traço da teoria dos “Big Five” da personalidade. Neuroticismo, por exemplo, tem correlação negativa de apenas -0.15 com esse posicionamento político, e conscienciosidade uma correlação positiva de 0.14 — ambas abaixo da metade do valor de correlação com o índice securitário.

Importa frisar: esses traços não expressam desejo de submissão, mas sim a necessidade de proteção contra ameaças percebidas. O mundo é visto como perigoso, e cabe ao indivíduo forte — não ao obediente — garantir a integridade do que é “seu”: sua família, sua cultura, sua identidade.

As implicações desse achado são profundas. Se, por décadas, a ciência política utilizou medidas autoritárias para tentar explicar o apoio a figuras políticas conservadoras ou populistas, este novo enfoque aponta para uma outra matriz psicológica — não hierárquica, mas defensiva. Os apoiadores fervorosos de Trump não desejam tanto um mundo ordenado por autoridade, mas um mundo blindado contra aquilo que percebem como invasivo, desestruturante ou ameaçador: imigração, mudanças culturais, perda de status ou identidade.

Essa estrutura psicológica ajuda a compreender por que certos discursos ressoam tanto com esse grupo: a exaltação da força, o desprezo pela fraqueza, o elogio d

Como o Comportamento Pessoal Reflete a Adoção de Visões Políticas: O Caso dos Veneradores de Trump

O comportamento pessoal das pessoas está diretamente relacionado aos tipos de visões políticas que elas adotam, especialmente em contextos políticos polarizados, como o fenômeno Trump nos Estados Unidos. A análise das características e atitudes pessoais revela padrões significativos, principalmente entre os apoiadores de Trump, divididos em diferentes categorias, como “Securitarian”, “Tea Partier” e “Social Warrior”. Cada grupo exibe padrões de comportamento distintos que, por sua vez, influenciam a maneira como os indivíduos interagem com a política e com a sociedade.

Por exemplo, um fator amplamente observado entre os diferentes tipos de veneradores de Trump é o consumo de substâncias. Indivíduos que se identificam com o grupo "Social Warrior" e "Tea Partier", por exemplo, têm uma maior tendência a fumar e a consumir álcool, comportamentos que são comumente relacionados a atitudes de rebeldia ou a formas de lidar com o estresse e a ansiedade. A frequência com que assistem pornografia e sua participação em atividades como jogos de azar e apostas também são indicativas de padrões de consumo que podem refletir um certo desinteresse por questões mais amplas da sociedade, e uma busca por gratificação imediata ou escapismo.

Em contraste, comportamentos como o uso de armas de fogo e o envolvimento com atividades de caça ou pesca são comuns entre aqueles que se identificam mais com a categoria “Securitarian”. Este grupo é caracterizado por uma forte ênfase na segurança pessoal e no controle das ameaças percebidas, além de um certo grau de conservadorismo e reatividade a mudanças. A presença de armas de fogo, por exemplo, é muitas vezes vista como uma estratégia de autoproteção e como uma expressão de desconfiança em relação à autoridade estatal.

O comportamento político também é um reflexo dessas dinâmicas pessoais. A disposição para participar de protestos, insultar ou desqualificar políticos adversários, ou mesmo se envolver em distúrbios sociais, é significativamente mais alta entre os grupos "Securitarian" e "Tea Partier". Isso sugere uma relação complexa entre atitudes pessoais e participação ativa em atividades que contestam a ordem política estabelecida. A tendência a difundir rumores falsos ou a organizar protestos violentos indica uma ideologia de confrontação e resistência que transcende as diferenças individuais, ligando os comportamentos à ideia de defender uma certa visão do país ou da sociedade.

Entretanto, a relação entre comportamento pessoal e atitudes políticas não é uniforme. Cada grupo de veneradores de Trump exibe variações nas suas reações ao ambiente político e social. Os "Social Warriors", por exemplo, tendem a manifestar um comportamento mais agressivo e confrontador, como evidenciado pelo envolvimento em piadas de teor vulgar e em comportamentos de desobediência, enquanto os "Economically Concerned" demonstram uma postura mais pragmática e focada em interesses econômicos, refletindo uma maior tendência a apoiar políticas que favoreçam a estabilidade financeira individual.

No entanto, o que é particularmente importante entender é que a política não se restringe a um simples reflexo de comportamentos pessoais. As ideias políticas e suas consequências dependem de uma série de fatores históricos, sociais e culturais. A dinâmica entre os tipos de veneradores de Trump e as suas ações políticas não é apenas uma questão de personalidade ou comportamento individual, mas está intimamente ligada a uma ideologia coletiva que se construiu ao longo de décadas e que continua a se moldar com os eventos sociais e políticos do presente.

De forma crítica, é necessário reconhecer que a polarização política não pode ser explicada apenas por escolhas individuais de estilo de vida ou atitudes cotidianas. A ideologia securitária, que prevalece entre muitos apoiadores de Trump, é baseada em um conjunto mais amplo de preocupações sobre segurança, medo do externo e desejo de preservação das condições de vida existentes. Esse ponto de vista não surge apenas de impulsos emocionais ou comportamentais, mas é alimentado por uma narrativa cultural mais ampla sobre vulnerabilidade, identidade e pertença.

É crucial compreender que, embora comportamentos como o consumo de substâncias ou o envolvimento em protestos possam refletir aspectos de uma ideologia, eles não são seus únicos determinantes. A interseção entre fatores como autoritarismo, dominância social e a forma como os indivíduos percebem a ameaça externa, a segurança e a autoridade deve ser analisada de maneira mais profunda para entender verdadeiramente o fenômeno político que figuras como Trump representam. Assim, é importante olhar para além da superfície e explorar as motivações mais complexas que impulsionam tanto as ações pessoais quanto as decisões políticas.