A questão da paz no Oriente Médio, especialmente a relação entre Israel e Palestina, tem sido uma prioridade para os Estados Unidos por décadas. Desde a Conferência de Madri, iniciada por George H. W. Bush em 1991, os presidentes americanos têm tentado mediar um acordo de dois Estados, mas com pouco sucesso. O governo Trump, em seus esforços para resolver esse impasse, não se mostrou diferente dos seus predecessores. A sua insistência na ideia de uma solução baseada em negociações diretas, com a promessa de uma abordagem inédita, esbarra na dura realidade das relações internacionais, que dificilmente se deixam moldar por uma única vontade, independentemente de quem esteja no poder.

Em 2018, Trump ainda afirmava que tinha um plano para a paz, mas o cenário permanecia nebuloso. Suas ações, como a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém e a expulsão da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de seus escritórios em Washington, não ajudaram a amenizar as tensões. A política externa de Trump, embora marcada por uma retórica ousada e muitas vezes conflituosa, segue, na prática, as diretrizes tradicionais da política americana. O foco em garantir a segurança e estabilidade nas regiões chave para os interesses dos Estados Unidos é uma constante, seja qual for a administração no poder. Nesse sentido, a retórica de Trump, com sua indiferença a protocolos diplomáticos, pouco altera os objetivos centrais da política externa americana.

A forma de Trump conduzir os assuntos internacionais, com uma postura frequentemente agressiva e sem cerimônias, gerou um contraste evidente com a abordagem diplomática de Barack Obama, seu predecessor. Ao passo que Obama se esforçava para manter um tom conciliatório e um alinhamento com os aliados tradicionais dos EUA, Trump parecia mais preocupado em desafiar essas normas e assertivamente destacar a superioridade americana. Suas declarações muitas vezes exasperantes e suas relações, ao mesmo tempo turbulentas e descomplicadas com líderes mundiais, destacam um estilo de liderança que, apesar de ser amplamente criticado, não fugiu tanto assim das práticas históricas de política externa dos Estados Unidos.

No entanto, não importa o quanto seu estilo seja polêmico ou suas palavras agressivas, a política externa de Trump segue um caminho previsível. Os problemas internacionais enfrentados pela administração — como o conflito no Oriente Médio, a contenção da Rússia e da China, e a luta contra o terrorismo — são os mesmos com que os presidentes americanos têm lidado ao longo das décadas. A ideia de “paz através da força”, que impregna a visão de muitos conservadores republicanos, é fundamental para entender a lógica por trás das ações de Trump, mesmo que a implementação de tais políticas tenha sido menos eficaz do que o esperado.

Os desafios que os EUA enfrentam na arena internacional são imensos e complexos. O Oriente Médio continua sendo um terreno de difíceis negociações, onde os Estados Unidos, apesar de sua enorme influência militar, não têm o controle absoluto sobre os acontecimentos. A relação com países como Venezuela e Irã, considerados “estados marginais” pelos EUA, também permanece uma fonte constante de frustração. Além disso, a proliferação nuclear e a luta contra o terrorismo global são questões que permanecem sem solução definitiva, demonstrando a incapacidade do governo de Trump, assim como o de seus antecessores, em encontrar respostas conclusivas para essas ameaças.

O governo de Trump não conseguiu mudar o curso das relações internacionais de maneira significativa. Sua retórica, por mais impactante que fosse, não conseguiu superar a realidade de um sistema internacional onde a dinâmica de poder é compartilhada com outras grandes potências, como a Rússia e a China, e onde as questões de segurança e diplomacia exigem mais do que declarações públicas e uma postura beligerante. Por mais que tenha se esforçado em posicionar os Estados Unidos como a nação dominante, Trump se viu imerso nas mesmas dificuldades que qualquer outro presidente americano ao lidar com questões globais.

Ainda assim, a política externa de Trump reflete a continuidade de uma tradição americana que, por mais poderosa que seja, tem se mostrado sistematicamente incapaz de garantir paz e estabilidade de longo prazo. O que seus críticos veem como uma abordagem errática e destrutiva, na verdade, se alinha com a tradição pragmática de seus predecessores. Os Estados Unidos, como potência global, continuam a enfrentar os mesmos desafios de sempre, com soluções que muitas vezes não estão ao alcance, por mais que o presidente tente, de maneira simplista, impor sua vontade ao mundo.

Ao refletir sobre a administração Trump, é importante destacar que, embora a forma como ele conduziu a política externa tenha sido mais visível e, muitas vezes, dramática, os problemas enfrentados pelos EUA não são exclusivos de seu governo. No entanto, a percepção de que a sua abordagem representou uma ruptura pode obscurecer o fato de que, em termos estratégicos, a política externa de Trump foi mais uma continuação das políticas dos Estados Unidos do que uma revolução.

Como a Estratégia da Base Transformou a Política Americana: O Impacto de uma Nova Era

Nos últimos anos, a política americana passou a ser profundamente moldada por uma abordagem que prioriza a base política de um partido em detrimento de alianças mais amplas e consensuais. Esse fenômeno, amplamente associado à ascensão do populismo e à figura de Donald Trump, reflete uma mudança fundamental na maneira como as campanhas eleitorais e as administrações são conduzidas. O conceito de "estratégia da base" se tornou um pilar central da governança, modificando não apenas a dinâmica interna dos partidos, mas também a relação entre o governo e os cidadãos.

A estratégia da base, em essência, envolve concentrar esforços para mobilizar os eleitores mais fiéis e ideologicamente alinhados com uma determinada plataforma política, em vez de tentar conquistar eleitores centristas ou moderados. Essa abordagem tem raízes profundas na polarização crescente da política americana, na qual as divisões entre os partidos políticos não se limitam mais a desacordos sobre políticas públicas, mas se estendem a questões culturais e identitárias. A ascensão de figuras como Donald Trump demonstrou o poder desse enfoque: ao invés de buscar um consenso, ele preferiu articular uma mensagem que ressoasse fortemente com seu eleitorado base, frequentemente desconsiderando a opinião de adversários ou da opinião pública mais ampla.

Um dos maiores reflexos dessa estratégia foi a mudança na retórica política. Sob a estratégia da base, termos como "Drain the Swamp" e "America First" passaram a ser mais do que simples slogans; tornaram-se símbolos de uma guerra cultural e política, expressando a ideia de uma luta constante contra o establishment e a globalização. Esses conceitos não apenas atraíram eleitores desiludidos com o sistema político tradicional, mas também reforçaram um sentimento de exclusão das elites e uma desconfiança crescente nas instituições tradicionais.

Porém, essa estratégia não é sem suas controvérsias e desafios. Em muitos casos, a ênfase na base eleitoral pode ser um fator de exclusão, marginalizando segmentos da população e aprofundando as divisões sociais e políticas. Isso ficou evidente no tratamento de questões como imigração e justiça social, onde a retórica de "nós contra eles" se tornou predominante. A oposição à imigração ilegal, por exemplo, se tornou um tema central, não apenas como uma questão de política pública, mas como um marcador identitário, muitas vezes distorcendo debates complexos e humanitários em simples lemas de "proteger o país" ou "preservar a cultura americana".

Essa radicalização também tem implicações no ambiente político como um todo. A polarização não afeta apenas a relação entre os partidos, mas também altera a dinâmica do Congresso, onde a busca por consenso e compromisso se torna mais difícil. Em vez de uma política de barganha, como se via no passado, os partidos agora preferem um confronto direto, levando a uma paralisia legislativa em muitas ocasiões. Os discursos, antes mais moderados, se tornaram mais inflamatórios e polarizados, alimentando um ciclo de hostilidade que permeia tanto a política como a sociedade.

Além disso, a mídia desempenha um papel crucial nesse processo. A ascensão das redes sociais e o controle crescente da informação por canais alinhados ideologicamente ampliaram as diferenças, criando bolhas de informações onde as narrativas são moldadas de acordo com as preferências e valores da base. Isso não só reforça as crenças pré-existentes, mas também desacredita qualquer forma de mídia que seja percebida como opositora, o que pode aumentar ainda mais a desconexão entre os diferentes segmentos da sociedade.

Ao mesmo tempo, a estratégia da base não se limita a questões internas. No âmbito da política externa, a preferência por abordagens unilaterais e a busca por "vitórias rápidas" que agradam à base também têm gerado fricções com aliados tradicionais dos Estados Unidos, além de destacar um distanciamento das dinâmicas globais mais complexas. A atitude isolacionista e a retórica agressiva em relação a países como China, Rússia e México têm impactado a posição global dos EUA, afetando não apenas acordos econômicos e de segurança, mas também a imagem do país no cenário internacional.

É crucial compreender que, embora a estratégia da base possa ser eficaz em termos eleitorais, ela traz consigo um custo elevado. As relações políticas se tornam mais fragmentadas, o espaço para o debate construtivo diminui e, por fim, a confiança nas instituições e na democracia em si é erodida. A polarização extrema pode levar a uma estagnação política, onde qualquer forma de compromisso é vista como traição e onde a política é jogada no terreno da emoção e da identidade, em vez da razão e do bem comum.

Além disso, é fundamental perceber que a política não é um fenômeno isolado. As questões que dividem a sociedade americana também afetam diretamente a sociedade global. A forma como os EUA lidam com a imigração, a justiça social, o meio ambiente e suas relações internacionais molda não apenas o futuro da América, mas também o futuro das democracias e economias no mundo. O que ocorre nos Estados Unidos tem repercussões globais, e a ascensão da estratégia da base é, sem dúvida, um dos maiores testes para a democracia moderna.