Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha se encontrava em uma situação delicada, com sua população marcada pela derrota e empobrecida. O governo da República de Weimar, apesar de suas tentativas de reconstrução, não conseguia restaurar a confiança pública. A ocupação do Ruhr pela França, embora revigorasse o nacionalismo alemão, também unificava o povo em torno do governo republicano, algo que Adolf Hitler via como um obstáculo em seus planos. Seu objetivo nunca foi proteger a República de Weimar, mas, sim, destruí-la, e a única maneira de fazer isso era enfraquecer a confiança das pessoas no governo atual.

Diante disso, Hitler fez uma escolha crucial: ao invés de atacar diretamente a França, sua nação tradicional inimiga, ele optou por atacar os "traidores da pátria", os "criminosos de Novembro", ou seja, aqueles que, segundo ele, haviam levado a Alemanha à derrota e assinado o armistício que encerrou a guerra. Ele se concentrou em atacar a população interna, especialmente os que considerava culpados pela fragilidade do país, como os judeus, e os partidos políticos de esquerda, como os socialistas e comunistas. Seu movimento era uma guerra emocional contra o próprio povo alemão, uma tentativa de conquistar apoio e garantir sua ascensão ao poder. Ele sabia que a melhor maneira de dominar uma população era dividir suas lealdades internas e criar inimigos que estivessem próximos, manipulando o medo e o ódio com extrema habilidade.

Hitler viu no anti-semitismo uma poderosa ferramenta de manipulação, mesmo sabendo que os judeus representavam uma minoria ínfima na Alemanha. Poucos alemães conheciam judeus pessoalmente, o que tornava mais fácil para ele propagar mentiras sobre a influência desproporcional que os judeus tinham sobre a economia e a política. Ao culpar os judeus pela derrota da Alemanha na guerra, e por seus problemas econômicos, Hitler instigou um ressentimento profundo e crescente, algo que ele sabia ser potencialmente perigoso, mas também eficaz na busca por apoio popular.

O clima de desesperança financeira, agravado pela Grande Depressão de 1929, foi terreno fértil para essas ideias. Mesmo que muitos alemães não tivessem sido inicialmente fortemente anti-semitas, Hitler conseguiu transformar um sentimento latentemente presente em um ódio fervoroso, manipulando a crise econômica para fortalecer seu poder. Ao criar um inimigo comum, ele reconfigurou a política alemã, isolando e demonizando os que estavam no poder, enquanto promovia a si mesmo como o único herói capaz de salvar a nação.

Seus discursos e suas promessas, que eram frequentemente encharcados de retórica nacionalista e anti-comunista, não apenas atraíam a atenção das massas, mas também serviam para disfarçar suas intenções autoritárias. Em vez de esclarecer o que defendia, Hitler focava no que queria destruir. Ele acusava os outros de serem controlados pelos judeus e, dessa forma, criou um campo de batalha político no qual ele se posicionava como a única solução viável.

A publicação de Mein Kampf em 1925 foi um marco importante. Embora o livro tenha sido amplamente rejeitado por muitos na época, ele revelou claramente suas intenções autoritárias e seu desprezo pela democracia. Mas Hitler sabia jogar com a opinião pública, especialmente entre os jornalistas americanos, com quem se relacionava, e apresentou-se como alguém moderado, disfarçando seu verdadeiro projeto político. Ele se posicionava como alguém contrário ao que estava em vigor, enquanto cuidadosamente evitava se expor como abertamente anti-semita.

A virada de Hitler para uma estratégia eleitoral foi uma reviravolta em sua abordagem. Após sua prisão em 1924, ele abandonou a ideia de uma revolução armada e decidiu buscar o poder de maneira legal. Com um grande apelo popular, seu movimento se fortaleceu, e ele passou a convencer os eleitores de que a única solução para a crise da Alemanha seria a instalação de uma ditadura. Surpreendentemente, muitos cidadãos, desiludidos com o governo republicano e desconfiados das alternativas oferecidas pela esquerda, se dispunham a abrir mão de suas liberdades democráticas em troca de um “salvador” que prometia restaurar a ordem e a grandeza nacional.

Com sua nomeação para o cargo de chanceler em 1933, após a morte de Hindenburg, Hitler usou um evento aparentemente insignificante, o incêndio do Reichstag, para criar uma crise fabricada, a qual foi explorada para justificar o aumento de seus poderes. Ele alegava que os comunistas estavam tentando destruir a Alemanha, e assim manipulou os eventos para conseguir o apoio do parlamento, convencendo-os a lhe dar poderes legislativos extraordinários. O incêndio se transformou em um trampolim para sua ascensão total ao poder, permitindo-lhe legislar à vontade e, eventualmente, se autoproclamar presidente após a morte de Hindenburg.

Sua manipulação midiática também desempenhou um papel crucial em sua ascensão. Hitler utilizava os meios de comunicação de massa, como o rádio e o cinema, para divulgar sua imagem como um líder forte e indispensável. Seus discursos eram transmitidos diretamente para os lares dos alemães, e as imagens de suas grandiosas manifestações eram projetadas em filmes exibidos em cinemas por todo o país. Dessa forma, ele consolidava a sua imagem de herói nacional, ao mesmo tempo em que descreditava e atacava qualquer forma de oposição.

É importante entender que a ascensão de Hitler não foi apenas uma sequência de eventos políticos, mas uma construção emocional que tocava nas inseguranças mais profundas da população alemã. Sua capacidade de manipular o medo e o ódio em tempos de crise, e sua habilidade em direcionar esses sentimentos para um inimigo comum, foram fatores cruciais para sua ascensão ao poder. Além disso, seu controle sobre a mídia e sua capacidade de moldar a narrativa nacional garantiram que sua mensagem chegasse a todos os cantos do país, imortalizando sua imagem como o único líder capaz de restaurar a Alemanha à sua "grandeza".

Como Stalin, Hitler e Mao Conquistaram o Poder: A Ascensão de Líderes Totalitários e a Manipulação de Massas

A capacidade de um líder carismático de inspirar uma nação a seguir-lhe cegamente é uma característica marcante de regimes totalitários. Stalin, Hitler e Mao Zedong, cada um com suas particularidades, dominaram os destinos de milhões de pessoas, mas o que os unia era uma visão distorcida e paranoica do mundo, onde a verdade era moldada a seu favor, e suas ambições de poder intransigente eram disfarçadas por um culto de personalidade que lhe conferia uma aura de invencibilidade.

No caso de Stalin, sua habilidade de manipular a opinião pública através da propaganda e do controle absoluto da mídia era fundamental para consolidar seu poder. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha nazista invadiu a União Soviética, Stalin foi tomado de surpresa. Ele acreditava que tinha uma aliança com Hitler, já que ambos haviam discutido a possibilidade de uma guerra conjunta na Europa. Essa confiança equivocada fez com que ignorasse os alertas dos aliados, como Reino Unido e Estados Unidos, sobre a iminente invasão. Porém, apesar de suas falhas iniciais, Stalin conseguiu reunir forças e repeliu os invasores, mas a um custo humano imensurável. Ao longo de seu governo, milhões de civis soviéticos perderam a vida devido a suas políticas repressivas. Contudo, uma vasta maioria de seus compatriotas o adorava, enaltecendo-o como o líder ideal, e isso só foi possível devido à sua construção do "culto à personalidade", uma característica comum em líderes que buscam se tornar figuras quase divinas.

Esse culto de personalidade não se limitava às palavras ou à imagem, mas estava enraizado na emoção e na repetição implacável. A presença de Stalin estava em cada foto, cada transmissão de rádio, e sua figura era onipresente. A manipulação emocional por meio dos meios de comunicação, que eram totalmente controlados por ele, fazia com que sua imagem fosse incutida nas mentes do povo, tornando-o indiscutivelmente o líder supremo. E, ao fazer uso de um isolamento ideológico, impedindo a entrada de opiniões externas, Stalin tornou-se uma figura central e indiscutível para milhões de soviéticos, que se viam inspirados por sua imagem de força e liderança. Isso não significava apenas o controle da informação, mas a formação de um ambiente em que qualquer discordância era rapidamente reprimida.

Mao Zedong, por sua vez, teve uma ascensão distinta, mas igualmente ligada ao uso de ideologias e manipulação de massas. Nascido em 1893, Mao cresceu em um ambiente familiar relativamente confortável, mas a relação com seu pai foi conturbada. O conflito familiar, aliado a um desprezo pelas tarefas árduas do campo, fez com que Mao buscasse, desde cedo, formas alternativas de escapar da vida rural. Quando seu pai tentou arranjar-lhe um casamento, Mao se rebelou, o que refletia sua personalidade independente e desafiadora. Sua educação formal, em escolas modernas, e a imersão no movimento comunista o prepararam para um papel de liderança. Mao não se limitava a seguir as normas estabelecidas, mas se via como um herói em busca de um poder ilimitado. Suas escritas de juventude revelam uma personalidade narcisista, onde ele via a si mesmo como o centro do universo, acreditando que seu prazer pessoal e satisfação eram os maiores imperativos morais.

A sua abordagem de liderança foi marcada pela manipulação constante e pela criação de falsas narrativas para consolidar seu poder. Mao usou a política interna do Partido Comunista Chinês para ascender rapidamente ao topo. No contexto da Longa Marcha, quando o Partido Comunista se viu em retirada, Mao não hesitou em criticar publicamente os seus aliados e rivais, manipulando a percepção pública para se posicionar como o líder inevitável. Em uma reunião crucial em 1935, ele espalhou o boato de que havia sido escolhido como líder do Partido e do Exército Popular de Libertação, apesar de nunca ter sido formalmente eleito para tal cargo. Sua habilidade em distorcer a verdade e espalhar desinformação foi um elemento essencial para sua ascensão ao poder.

A brutalidade de Mao não se limitava a sua ascensão ao poder, mas se estendia às suas ações enquanto líder. Ele adotava uma postura agressiva e implacável, utilizando acusações políticas para eliminar rivais e consolidar seu controle. Sua falta de empatia e remorso ao acusar, destituir e até mesmo eliminar membros do Partido era uma característica de sua personalidade egocêntrica e sociopática. Por exemplo, ao comandar exércitos em batalhas suicidas, Mao não hesitava em descrever essas derrotas como "tour de force", manipulando a narrativa para se apresentar como o líder imbatível, sem se importar com as vidas perdidas em suas políticas insensatas.

O processo de ascensão de Stalin e Mao oferece uma lição sobre os perigos da centralização do poder em torno de uma única figura, sem qualquer forma de controle ou crítica externa. Mas, acima de tudo, ele destaca o poder das narrativas criadas por esses líderes. Ambos construíram suas imagens através de discursos, mitos e uma representação constante de si mesmos como heróis invencíveis. E, ao fazer isso, conseguiram não apenas dominar a política de seus respectivos países, mas também forjar uma realidade onde a verdade era aquilo que eles diziam ser, não o que realmente era.

Além disso, é essencial compreender que as ideias e ações desses líderes não surgiram de um vácuo, mas foram alimentadas por contextos históricos e sociais profundamente instáveis, que criaram as condições ideais para o surgimento de figuras autoritárias. A manipulação emocional e a construção de uma narrativa de poder são frequentemente o primeiro passo para a consolidação de um regime totalitário. O culto à personalidade, combinado com a repressão das opiniões divergentes, cria um ambiente onde a verdade se torna maleável, e os líderes podem governar de forma absoluta.

Como os Políticos de Alto Conflito Manipulam seus Seguidores e Por Que Devemos Entender Suas Táticas

Políticos de Alto Conflito (PACs), frequentemente descritos como líderes autoritários em formação, utilizam uma série de estratégias psicológicas para manipular seus seguidores e fortalecer sua posição no poder. Uma das táticas mais comuns é a construção de uma narrativa de vitimização. Desde o início, esses políticos se apresentam como vítimas de "vilões" imaginários e, com isso, buscam a simpatia de seus seguidores. Esta dinâmica não é exclusiva do universo político, mas é um comportamento comum entre narcisistas e sociopatas. Ao se colocarem como vítimas, eles obtêm apoio emocional, o que lhes permite atacar alvos fictícios e desviar a atenção das verdadeiras questões que precisam ser abordadas. Esse tipo de estratégia é eficaz, pois muitos caem na armadilha de se identificar com o "herói" que está sendo atacado por forças externas.

Um exemplo claro disso pode ser visto no caso do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan. Ao destacar publicamente o tratamento injusto da União Europeia em relação à Turquia, especialmente em relação à adesão do país, Erdoğan consegue canalizar a frustração interna da população turca contra um inimigo externo. Mesmo quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs sanções econômicas à Turquia em 2018, muitos turcos começaram a ver Erdoğan não como o responsável pela crise econômica do país, mas como a vítima de uma sabotagem internacional. Esse tipo de vitimização ajuda a fortalecer o líder, mesmo diante de dificuldades internas.

No entanto, é importante compreender que essa tática é apenas uma fachada. À medida que os problemas econômicos ou sociais se intensificam, a narrativa do PAC de ser vítima começa a se desintegrar. Os seguidores, inicialmente cativados pela figura de um herói, podem eventualmente perceber que o líder não é a solução que prometeram, mas apenas mais uma ilusão.

Outro erro comum é a crença de que o PAC pode ser controlado ou manipulado uma vez que esteja no poder. Muitas pessoas, ao longo da história, acreditaram que figuras como Adolf Hitler ou Donald Trump poderiam ser "contidas" ou que sua agressividade diminuiria quando chegassem à liderança. Essa falácia é perigosa, pois a verdade é que o poder não modera esses indivíduos, mas sim os torna ainda mais imprevisíveis e destrutivos. Hitler, por exemplo, foi subestimado por muitos que acreditavam que ele era apenas uma figura passageira. Quando líderes de negócios e do governo o trataram como algo que poderia ser "controlado", foram tragicamente enganados. A mesma dinâmica ocorreu nos Estados Unidos quando Trump assumiu a presidência, com muitos acreditando que ele se "moderaria" uma vez no cargo, algo que claramente não aconteceu. Ao contrário, ele intensificou o comportamento agressivo, combinando política e entretenimento de maneira perigosa.

Além disso, uma tática importante a ser observada é a divisão entre os opositores. Quando os moderados e os progressistas se atacam mutuamente, como vimos nas primárias de 2016 nos Estados Unidos, o PAC se beneficia. Hitler fez isso de maneira brilhante ao manipular a fragmentação das forças políticas na Alemanha, e o mesmo processo pode ser observado em vários contextos contemporâneos. A fragmentação das oposições fortalece a posição do PAC, criando uma situação em que, mesmo que um grupo contrário ao líder autoritário se una, ele já estará enfraquecido. Portanto, o que é crucial, especialmente em tempos de crise política, é a unidade entre os opositores, incluindo aqueles que, embora com visões diferentes, compartilham o objetivo comum de deter o PAC.

A luta contra um PAC não deve ser vista como uma batalha entre os moderados e os radicais. Por mais que existam diferenças, a resistência ao autoritarismo requer que todos os setores da oposição se unam. O que deve ser evitado é a demonização dos opositores mais enérgicos, os "resistentes", pois sua mobilização é vital para contrabalançar a força do PAC. A história nos ensina que o comportamento excessivamente agressivo em relação a esses grupos pode afastá-los da causa comum e enfraquecer a oposição. A resistência pacífica a Trump, por exemplo, teve um impacto significativo, limitando algumas de suas políticas mais extremas e inspirando novas lideranças políticas, especialmente entre as mulheres.

A apatia política também é uma aliada do PAC. Em muitos casos, a falta de participação eleitoral fortalece os líderes autoritários. Muitas pessoas, especialmente os mais jovens, optam por não votar, acreditando que sua ausência não faz diferença. No entanto, em muitas eleições, esses eleitores podem se arrepender quando percebem que sua inação ajudou a eleger um líder autoritário. As estratégias de desinformação e delegitimização do processo eleitoral por parte dos PACs são um reflexo dessa realidade. O uso de táticas para desacreditar a democracia e diminuir a participação eleitoral é uma arma poderosa contra a resistência.

Por fim, é essencial que a oposição evite tratar aqueles que se abstêm de votar como inimigos. Em vez disso, é necessário incentivar uma participação política mais ativa, lembrando-os das consequências de não se envolver. Quando os cidadãos percebem a importância de suas escolhas eleitorais, a possibilidade de derrotar um PAC se torna muito mais real. Para isso, é fundamental que a oposição trabalhe com os diferentes grupos, superando suas diferenças e reunindo forças para impedir o fortalecimento de um líder autoritário.

Como Construir Relacionamentos Eficazes para Impedir a Eleição de Políticos de Alto Conflito

Para evitar que políticos de alto conflito (HCPs) sejam eleitos, é fundamental entender a dinâmica dos relacionamentos que estabelecemos com os eleitores. A chave para isso está na repetição emocional em um contexto de empatia genuína, ao contrário dos métodos utilizados pelos políticos de alto conflito, que criam laços com seus eleitores por meio de manipulação emocional e repetição isolada. Para neutralizar essa abordagem e construir uma relação mais autêntica com os eleitores, é necessário seguir uma estratégia que se baseia na realidade, utilizando a repetição emocional positiva.

As habilidades relacionais que seguem são essenciais não apenas para candidatos e suas equipes, mas também para eleitores que desejam influenciar os outros de maneira construtiva. O primeiro passo é tratar todos os eleitores, e até mesmo os não eleitores, com empatia, atenção e respeito em todos os momentos. Para isso, o uso de declarações emocionais do tipo EAR (Empatia, Atenção e Respeito) é fundamental. Quando utilizamos frases como "Eu me importo com você e com suas preocupações", "Eu estou aqui para ouvir você" ou "Eu tenho respeito por você", conseguimos estabelecer um vínculo mais profundo e respeitoso com os eleitores. Isso é essencial, pois uma das maiores falhas da política atual é a criação de divisões baseadas em desrespeito e indiferença.

Além disso, um dos aspectos mais importantes no processo de construção de relacionamentos é o conhecimento profundo do público-alvo. Ao falar de questões políticas, é necessário já partir do princípio de que os eleitores querem sentir que seus candidatos compreendem suas preocupações, sem que precisem explicar. A construção de um “nós” desde o início da comunicação permite criar um ambiente de identificação e confiança, afastando a ideia de uma abordagem distante e externa. É preciso mostrar que, mais do que um estranho tentando entender os problemas, o candidato é parte da solução que os eleitores procuram.

Quando se trata de apresentar problemas políticos, a forma como os abordamos é crucial. Ao invés de transformar cada questão em um confronto entre “nós e eles”, é necessário ressaltar que os desafios que enfrentamos são problemas a serem resolvidos coletivamente. O foco deve ser em soluções colaborativas, e não em criar mais inimigos ou adversários. Nesse sentido, a habilidade de saber quando lutar e quando ceder também é essencial. Um candidato deve demonstrar disposição para lutar pelas suas ideias, mas também estar preparado para comprometer-se quando necessário, buscando sempre a sabedoria para equilibrar essas duas atitudes.

Outra característica importante na construção de relacionamentos eficazes é a exibição de força, energia e confiança. Os eleitores tendem a se identificar com líderes que aparentam ser fortes e seguros de si, especialmente em tempos de incerteza. Essa energia também deve ser equilibrada, evitando mostrar fraquezas ou dúvidas excessivas. A confiança deve ser transmitida mesmo quando se muda de opinião, e a clareza e a assertividade são ferramentas poderosas nesse processo. Ao se envolver com os eleitores, é fundamental que o candidato saiba direcionar sua atenção para os moderados, sem perder o respeito pelas lealdades já consolidadas entre os apoiadores do político de alto conflito.

No caso dos apoiadores fervorosos de um HCP, é importante não perder tempo tentando convencê-los a mudar de lado, pois sua ligação emocional com o candidato é profunda e quase impossível de romper. No entanto, isso não significa desrespeitar esses eleitores. Pelo contrário, uma abordagem respeitosa e aberta, mesmo com os mais fervorosos, pode fazer com que eles se sintam ouvidos e, assim, abertos a considerar outras perspectivas. Em campanhas, uma simples saudação ou gesto de respeito pode significar muito, especialmente se realizada com sinceridade.

Em relação aos eleitores mais engajados, conhecidos como resistores, é necessário validar suas frustrações e preocupações, pois eles podem ser a chave para mobilizar os eleitores moderados. No entanto, também é fundamental que os resistores aprendam a se comunicar de maneira eficaz com os moderados, sem criar inimizades que possam enfraquecer a unidade necessária para bloquear ou remover o HCP do poder. A principal missão é conseguir que os resistores e moderados trabalhem juntos, superando divisões internas antes que chegue o momento das eleições gerais. Isso pode ser um desafio, mas é uma tarefa vital para garantir que o HCP não consiga prosperar.

A construção de uma política baseada em empatia, respeito e colaboração é a única forma verdadeira de garantir que os eleitores se sintam respeitados, e, consequentemente, fortalecer o processo democrático. Criar um vínculo genuíno e positivo com os eleitores vai além de simples promessas e discursos vazios. Trata-se de entender a realidade das questões e trabalhar, lado a lado, para encontrar soluções duradouras. Isso é o que torna possível, de fato, impedir a ascensão de políticos de alto conflito, que prosperam justamente na divisão e no caos.

Como Enfrentar Políticos de Alto Conflito: A Abordagem Assertiva

Você será chamado de nomes. Acusarão você de dizer coisas que não disse. Alegarão que cometeu algum pecado ou crime inventado. O objetivo deles é perturbá-lo emocionalmente, na esperança de que você perca o controle, fale de forma errada ou perca a compostura, deixando de parecer razoável. O que isso significa é que você deve fazer sua lição de casa e ser preciso o tempo todo. O político de alto conflito (PAC) aproveitará o menor erro ou inconsistência para "provar" que você é um mentiroso desonesto que só quer enganar a todos. Na verdade, não importa o que você diga ou faça, o PAC pode denunciá-lo como um mentiroso completo — ou criminoso, ou bajulador pago — de qualquer forma. Lembre-se, eles são incansavelmente agressivos e não conseguem se controlar. Responda a essas acusações com mais informações precisas e factuais, ou simplesmente repita os pontos anteriores, de forma clara e objetiva. A razão pela qual isso funciona é que você parecerá razoável, e não como alguém histérico, raivoso ou perigoso. Consequentemente, será difícil pintá-lo como um extremista, e você não alienará ninguém. Além disso, a abordagem assertiva torna mais difícil para o PAC lhe transformar em um vilão fantasioso ou alvo de acusações.

Na luta contra um político de alto conflito que tenta se tornar uma figura de poder absoluto, você estará sempre em uma batalha difícil. A maioria desses políticos é intuitivamente astuta com os meios de comunicação e inundará todas as plataformas com suas mesmas mensagens falsas e emocionalmente sedutoras, repetindo-as incessantemente. Portanto, se possível, esteja presente em todos os meios que eles utilizam. Lembre-se: Hitler, Stalin, Mao, McCarthy, Berlusconi, Trump e muitos outros PACs tiveram sucesso porque suas imagens e mensagens estavam em todos os lugares. Se isso não for viável, esteja ao menos tão presente quanto (ou mais do que) o PAC nas redes sociais. Se o PAC posta um tweet por dia, poste ao menos com a mesma frequência. Se ele publica no Facebook três vezes ao dia, poste informações relevantes em seu site no mínimo três vezes por dia. Mantenha suas mensagens curtas, claras, calmas, factuais e precisas. E lembre-se: onde quer que vá, nunca insulte o PAC, nem indiretamente, nem em um fórum privado, nem uma única vez. O "Wannabe King" encontrará uma maneira de usar isso contra você, chamando-o de abusivo e injusto, enquanto despeja abusos, escárnio e mentiras sobre você. Ao não insultá-los, você surpreenderá muitas pessoas e desequilibrará o PAC. Esse é o poder secreto da abordagem assertiva. Você parecerá forte e razoável, e ele não parecerá.

A repetição factual é uma ferramenta essencial para vencer os PACs. Nosso cérebro é altamente suscetível a frases simples, repetidas repetidamente, até que as lembremos, quer queiramos ou não. É por isso que jingles publicitários funcionam tão bem. O PAC usa repetição emocional de afirmações falsas centenas e milhares de vezes, até que as pessoas comecem a acreditá-las (ou pelo menos a levá-las a sério). Responda repetindo as mesmas verdades, centenas ou milhares de vezes. A repetição factual é necessária para alcançar aqueles que não estão prestando atenção ou que têm uma impressão inicial positiva sobre o PAC. Se você e o PAC (ou seu representante) estiverem juntos diante de um público, iguale a energia alta das declarações extremas e emocionais do PAC. Mas seja calmo, direto e factual em todo momento. Você também pode incluir emoções em sua mensagem. Pode estar entusiasmado ou animado, mas evite emoções de alto conflito, como raiva, terror, culpa, medo ou impotência. A mensagem ideal contém tanto repetição factual quanto emocional. Ela também deve ser simples, para ser memorável.

Porque, devido ao seu pensamento binário, os PACs são altamente habilidosos em promover conceitos simples (geralmente completamente falsos). Para eles, heróis e vilões são categorias que explicam tudo. As frases com três batidas são as mais fáceis de lembrar. Por exemplo, durante a campanha presidencial de 2016, Donald Trump usou três frases comuns em seus comícios, cada uma com três batidas: "Construam o muro!", "Prendam a dela!" e "Drenem o pântano!". Embora essas frases não tivessem significado real, elas se tornaram memoráveis para todo o país. Nosso cérebro gosta de lembrar coisas com três batidas, ou no máximo quatro ou cinco. Algumas frases que podem se opor a um PAC e suas promessas fantasiosas poderiam ser: "Comércio, não guerra!", "Muito mais empregos!", "Mantenham as crianças seguras!" As frases devem conter palavras que sugiram ou produzam emoções positivas e moderadas — não emoções intensas. Emoções fortes tendem a bloquear o raciocínio lógico das pessoas. O objetivo é estimular o pensamento e as emoções de forma que as pessoas se energizem e sua memória lógica seja acionada.

Quando estiver falando diante de uma plateia, reconheça a presença e a energia da multidão, utilizando isso para promover suas causas e valores (ou de seu candidato). E você pode aproveitar essa oportunidade para ensinar a "Triade da Crise Fantástica" enquanto se conecta com seu público. Aproveite para perguntar, de maneira interativa, as três perguntas-chave do Capítulo 5: "A _____ é realmente uma crise?" [Resposta da plateia:] NÃO! "A _____ é realmente um vilão?" [Resposta da plateia:] NÃO! "A _____ é realmente um herói?" [Resposta da plateia:] NÃO! [Se apropriado, você pode acrescentar]: "Então, vote em _____ em ________!" [Resposta da plateia:] SIM! Essas interações de perguntas e respostas conectam-se com as emoções e o poder positivo das pessoas sem enganá-las, como fazem com frequência os PACs com suas emoções de crise fantasiosa.

Em um mundo cada vez mais conectado, o que está em jogo é a nossa capacidade de controlar a agressividade nas interações e de distinguir fantasia de realidade. O comportamento altamente agressivo, característico dos PACs, é um reflexo de uma era anterior, onde a agressividade era um fator de sobrevivência. Contudo, no mundo atual, marcado por uma interconexão sem precedentes, esse tipo de comportamento é insustentável. Para nossa sobrevivência a longo prazo, precisamos aprender a limitar tanto a agressividade dos líderes quanto a nossa própria, entendendo que a colaboração, quando possível, traz mais benefícios que a constante adversidade.