As promessas de Donald Trump durante sua campanha de 2016 refletiam a imagem de um líder disposto a mudar o rumo da política econômica americana, atacando o sistema que favorecia os mais ricos. Entre essas promessas, destacava-se a eliminação de brechas fiscais que beneficiavam principalmente os investidores de Wall Street. O "carried interest deduction", que permite que investidores paguem impostos mais baixos sobre seus lucros do que trabalhadores comuns, foi um alvo claro dessa proposta. Trump se comprometeu a fechar essas brechas, defendendo uma economia mais justa para os trabalhadores americanos. No entanto, mesmo após prometer mudanças significativas, a realidade das reformas fiscais que ele implementou revelou uma continuidade com práticas passadas, sem grandes alterações para a maioria da população.
O texto do projeto de reforma tributária de Trump, aprovado em 2017, representou uma vitória para a ala conservadora do Partido Republicano, especialmente para aqueles com interesses empresariais. Figuras como Gary Cohn e Steve Mnuchin, ex-executivos de grandes bancos e fundos de investimento, foram fundamentais na formulação de um pacote que incluiu cortes significativos de impostos para empresas e indivíduos de alta renda. Apesar das promessas de "justiça fiscal" e redução de desigualdades, a reforma foi amplamente vista como uma política que favorecia os ricos e as grandes corporações. Em uma reunião no seu clube de luxo, Mar-a-Lago, Trump confessou com franqueza: "Vocês acabaram de ficar muito mais ricos". Esse tipo de declaração reflete a visão de um presidente mais alinhado com os interesses de uma elite financeira, do que com as necessidades da classe trabalhadora.
Porém, as reformas fiscais de Trump não foram tão populares quanto se esperava. Apenas 32% dos americanos apoiaram os cortes de impostos em 2017, uma taxa mais baixa do que as reformas de impostos feitas por outros presidentes republicanos, como George H.W. Bush e Ronald Reagan. Isso evidenciou o descontentamento de grande parte da população que, corretamente, percebeu que essas mudanças fiscais eram, em grande parte, um presente para os mais ricos, e não uma solução para os problemas econômicos dos cidadãos comuns.
Outro aspecto importante das reformas de Trump foi a revogação da obrigatoriedade de compra de seguro de saúde, uma característica central do Obamacare. Embora essa medida tenha sido comemorada pelos conservadores como uma forma de redução da intervenção estatal na vida dos cidadãos, ela também refletiu a falha de Trump em cumprir outra promessa de campanha: oferecer um plano de saúde mais barato e abrangente do que o sistema de Obama. De fato, o enfraquecimento do Obamacare favoreceu um modelo de mercado mais livre, o que provavelmente aumentou as desigualdades no acesso à saúde, especialmente entre os mais pobres.
No entanto, a verdadeira natureza das reformas fiscais e a agenda econômica de Trump não foram completamente moldadas pela Casa Branca. Embora Trump tenha liderado o processo, as reformas foram, em grande parte, formuladas e impulsionadas pelos republicanos no Congresso. Essa dinâmica foi clara durante a aprovação da reforma tributária, onde o apoio do Congresso Republicano foi quase unânime, com exceção de algumas discordâncias internas, especialmente sobre como lidar com o sistema de saúde. Em termos práticos, o que Trump conseguiu foi transformar seu governo em uma extensão das políticas conservadoras já estabelecidas, seguindo um caminho familiar de cortes fiscais e redução da intervenção estatal.
A governança de Trump também evidenciou o peso das ações executivas, uma ferramenta que o presidente usou com frequência para promover sua agenda, especialmente no que se refere à desconstrução do "estado administrativo". Essa proposta foi alimentada por um discurso amplamente promovido por Steve Bannon, seu conselheiro, que via a expansão do governo como um entrave ao espírito empresarial americano. Segundo Bannon, a proliferação de agências reguladoras e leis sem aprovação do Congresso sufocava a economia e o livre mercado. Essa visão de "desconstruir o estado" é uma característica central da política conservadora, remontando a figuras como Ronald Reagan e até mesmo a Barry Goldwater.
Em última análise, o que as reformas fiscais e as medidas executivas de Trump revelaram foi a continuidade de uma política conservadora voltada para a desregulamentação e o favorecimento das grandes corporações e indivíduos ricos. Embora sua administração tenha buscado uma reconfiguração de certas políticas, os resultados mais significativos beneficiaram aqueles que já estavam em uma posição de poder econômico. A desconstrução do sistema de saúde e a falha em promover uma alternativa viável evidenciam as limitações dessa abordagem, deixando muitos dos seus eleitores iniciais, particularmente da classe trabalhadora, desiludidos.
É importante entender que as reformas de Trump não apenas seguiram uma agenda política conservadora, mas também refletiram um padrão clássico de favorecimento dos ricos e das grandes corporações em detrimento dos mais vulneráveis. Isso pode ser observado em como ele usou seu poder executivo para moldar o sistema federal e as regulamentações, sempre favorecendo aqueles que estavam mais próximos do poder político e econômico.
Como Trump Conquistou a Elite Econômica Sem Mudar o Sistema?
Durante sua presidência, Donald Trump manteve uma relação muito menos conflituosa com as elites econômicas do que sua retórica de campanha indicava. Desde os primeiros meses de seu governo, ficou evidente que o slogan “drenar o pântano” não passava de uma ferramenta eleitoreira sem intenção real de implementação. Pelo contrário, Trump aprofundou suas conexões com os círculos mais poderosos do capital financeiro e empresarial dos Estados Unidos, enquanto sua política econômica e social permaneceu rigidamente alinhada com a ortodoxia republicana tradicional.
Um dos episódios mais reveladores foi o jantar exclusivo realizado em dezembro de 2017 na cobertura de Stephen Schwarzman, magnata do fundo de investimentos Blackstone Group, que havia recebido US$ 799 milhões apenas naquele ano. Ali, cerca de duas dezenas de empresários multimilionários pagaram US$ 100 mil cada para ouvir Trump discursar por meros 20 minutos. Esse tipo de acesso íntimo à presidência não só desmentia o discurso populista, como deixava claro que contribuições financeiras garantiam influência real sobre decisões políticas. Schwarzman, por exemplo, desempenhou papel direto ao persuadir Trump a abandonar sua promessa de campanha de declarar a China como manipuladora cambial, protegendo, assim, seus próprios interesses empresariais naquele país.
Poucas semanas após esse encontro, Trump surpreendeu ao participar do Fórum Econômico Mundial em Davos — símbolo máximo do globalismo e da elite neoliberal. Ao contrário de seus antecessores Barack Obama e George W. Bush, que evitaram o evento para não parecerem excessivamente próximos das elites globais, Trump foi calorosamente recebido. Os líderes empresariais, preocupados mais com cortes de impostos e desregulamentações do que com o nacionalismo econômico de sua retórica, reconheceram rapidamente a utilidade do presidente. O CEO do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, até então um crítico vocal de Trump, elogiou abertamente suas políticas pró-Wall Street. Schwarzman, por sua vez, resumiu a nova ordem com cinismo: “Você está ganhando dinheiro, e não é um trabalho tão difícil.”
Em seu discurso em Davos, Trump abandonou qualquer menção ao “pântano” e declarou que os Estados Unidos estavam “abertos para negócios”. A frase “America First não significa America Alone” foi sua tentativa de conciliar o populismo nacionalista com o pragmatismo pró-mercado que agradava aos presentes. Era evidente que, para a elite global, Trump não representava uma ameaça, mas uma oportunidade.
Essa abordagem não se limitou à esfera econômica. A composição do gabinete presidencial foi a mais rica da história americana, com Trump explicitamente rejeitando a ideia de incluir pessoas “de meios modestos”. Em sua visão, apenas bilionários e magnatas estariam aptos a liderar agências federais. Sua surpresa ao saber que altos funcionários públicos sobreviviam com “apenas” centenas de milhares de dólares por ano ilustra seu completo afastamento da realidade da classe média ou da classe trabalhadora que o havia eleito.
No campo da justiça criminal e das políticas sociais, Trump seguiu igualmente o manual republicano, afastando-se das promessas vagas de mudança e aprofundando práticas tradicionais conservadoras. Revogou diretrizes de proteção a pessoas trans em escolas públicas, proibiu o ingresso de pessoas trans nas Forças Armadas e retirou o reconhecimento de discriminação de gênero como violação da Lei dos Direitos Civis de 1964. No combate ao crime, abandonou as reformas implementadas durante a era Obama, reabilitou o uso de equipamentos militares pela polícia e reforçou políticas penais de linha dura, como sentenças mínimas obrigatórias mesmo para delitos não violentos. O Departamento de Justiça voltou a incentivar o uso de prisões privadas, evidenciando a crença de que o mercado seria solução para os problemas sociais.
Essas políticas, apesar de seu verniz de neutralidade técnica, tiveram impacto racial evidente. Afro-americanos, desproporcionalmente afetados por violência policial e encarceramento em massa, sentiram os efeitos imediatos dessas mudanças. O retrocesso também se estendeu à fiscalização dos direitos civis, com o adiamento de regulamentações sobre igualdade de gênero nos salários, o enfraquecimento da fiscalização de abusos em escolas e o bloqueio de normas habitacionais voltadas à equidade racial.
Mesmo em temas nos quais Trump havia dado sinais de independência ideológica, como controle de armas, a pressão da ala conservadora do partido e do lobby armamentista foi suficiente para realinhá-lo rapidamente. Após prometer revisar a legislação sobre armas na esteira do massacre em Parkland, Trump voltou atrás diante da reação da NRA e senadores republicanos.
Ao final, a presidência de Trump se revelou uma continuidade — e não uma ruptura — com o conservadorismo americano tradicional. Apesar da retórica disruptiva, seus atos estiveram amplamente em consonância com o interesse das elites financeiras, da velha guarda republicana e dos grupos de poder que ele dizia combater. O populismo foi uma linguagem, não uma ideologia; um método eleitoral, não um programa de governo.
É importante reconhecer que essa articulação entre linguagem populista e políticas pró-elite não é exclusividade de Trump, mas um fenômeno recorrente em democracias contemporâneas. O que distingue sua atuação é a desfaçatez com que essa contradição foi exibida. Sua base popular, embora mobilizada por símbolos de ruptura, foi governada por uma elite que continuou a moldar o sistema em benefício próprio. O “pântano” não foi drenado — apenas privatizado.
Como as Ações Impulsivas de Trump Comprometeram Sua Capacidade de Negociar com o Congresso
A política de Donald Trump foi marcada por uma série de reviravoltas dramáticas, muitas das quais afetaram profundamente as negociações legislativas. A cada mudança brusca de direção, Trump cortava, sem hesitar, compromissos políticos previamente estabelecidos, interferindo nas negociações em curso. Um exemplo clássico disso foi sua postura volúvel durante as tentativas, por parte do Partido Republicano, de reformar, substituir ou revogar o Obamacare. As declarações contraditórias do presidente, de apoio a diferentes propostas em momentos distintos, causaram confusão tanto dentro da Casa Branca quanto no Congresso, prejudicando os esforços de aliados políticos que estavam dependendo de sua posição. Para os legisladores que haviam apostado suas reputações públicas em uma direção política, o apoio e sua retirada eram questões críticas. O descompasso nas ações da Casa Branca, bem como a falta de clareza sobre os rumos que o presidente tomaria, minaram a confiança dos aliados.
A falta de uma estratégia coesa dentro da Casa Branca não se limitava à saúde, mas se estendia a várias outras questões. O que mais surpreendia os legisladores era a constante mudança nas direções que o presidente tomava. Essa imprevisibilidade minava qualquer tentativa de construção de uma coalizão sólida no Congresso, já que muitos políticos se viam frequentemente tomados de surpresa por um tweet ou uma declaração abrupta do presidente, o que tornava a comunicação com seus assessores igualmente ineficaz. O líder do Senado, Mitch McConnell, chegou a pedir publicamente um direcionamento claro da Casa Branca, algo que nunca chegou a ser fornecido de forma estável.
Além da imprevisibilidade, a postura agressiva e polarizadora de Trump também teve repercussões negativas em suas relações com o Congresso. Trump frequentemente atacava publicamente figuras dentro de seu próprio partido, incluindo seus aliados mais próximos no Senado, uma estratégia que parecia mais uma exibição de seu desdém pelas instituições e líderes políticos tradicionais. Esse comportamento foi visto como uma forma de afirmar sua postura anti-establishment, mas trouxe consequências, pois enfureceu os próprios legisladores cujos votos Trump necessitava para passar suas reformas. Ele não hesitava em atacar publicamente aqueles cujos apoios seriam cruciais no futuro, criando um ambiente de desconfiança e adversidade. Isso, por sua vez, dificultava sua capacidade de negociar eficazmente com os políticos, já que muitos preferiam se manter distantes de uma figura que os insultava e os desacreditava frequentemente.
Outro ponto crucial para a fragilidade da estratégia política de Trump foi o uso excessivo do Twitter. Para ele, a rede social não era apenas uma ferramenta de comunicação direta com seus seguidores, mas uma forma de manipular a narrativa política à sua vontade. Ele acreditava que poderia se comunicar diretamente com o público, sem as limitações impostas pela mídia tradicional. Em sua visão, os tweets eram uma forma de cortar o "ruído" e driblar a "notícia falsa". Contudo, essa estratégia não só prejudicava a imagem presidencial como também fazia com que sua própria equipe ficasse constantemente em alerta, tentando entender o que o presidente queria ou não queria naquele momento. Sua resistência em moderar seus posts e a insistência em manter essa forma de comunicação muitas vezes dificultavam os esforços de negociação e dificultavam sua relação com o próprio Congresso.
A falta de uma estratégia clara de comunicação dentro da Casa Branca resultou em um problema ainda mais grave: a incapacidade de coordenar esforços com a equipe legislativa. Nos governos anteriores, os assessores legislativos desempenhavam um papel crucial na definição de estratégias para levar as propostas de reforma adiante no Congresso. Mas, com Trump, essa tarefa tornou-se extremamente difícil, pois as posições do presidente podiam mudar repentinamente, muitas vezes sem que ele sequer avisasse seus próprios assessores. Os legisladores, por sua vez, se viam obrigados a verificar os tweets de Trump para tentar entender sua posição atual sobre uma determinada questão, o que impedia qualquer planejamento consistente. Como resultado, as negociações que normalmente dependiam de uma coordenação cuidadosa entre a Casa Branca e o Congresso tornaram-se um campo minado de incertezas e falhas de comunicação.
Além disso, Trump demonstrava uma visão distorcida do papel da lealdade dentro do processo político. Embora esperasse fidelidade incondicional de seus aliados, raramente oferecia a mesma reciprocidade. Ele queria que os legisladores se alinhassem às suas propostas, muitas vezes sem considerar os interesses e as prioridades desses políticos. A imposição de uma lealdade unilateral não só dificultava a construção de alianças duradouras, mas também gerava um ambiente de frustração e ressentimento, que acabava por comprometer as chances de sucesso nas negociações.
O estilo de governança de Trump, impulsivo e desarticulado, comprometeu gravemente sua eficácia como negociador, especialmente em um sistema político que exige habilidade diplomática e coordenação. Suas ações e declarações públicas frequentes criaram um cenário instável para qualquer tipo de coalizão legislativa. E, embora Trump fosse confiante em sua capacidade de fazer negócios e negociar acordos, a falta de planejamento estratégico, a volatilidade de suas decisões e os ataques constantes a seus aliados políticos minaram qualquer possibilidade de sucesso em suas reformas legislativas.
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