O estudo de formação de gelo em aeronaves e rotores é uma questão crítica na engenharia aeronáutica, principalmente quando se considera a interação complexa entre o gelo formado e o desempenho aerodinâmico da aeronave. A formação de gelo pode afetar substancialmente a aerodinâmica, resultando em perdas significativas de sustentação e eficiência, além de representar um risco direto à segurança. A abordagem numérica, utilizando modelos simplificados e simulações, tem se mostrado uma ferramenta eficaz para prever essas interações sem a necessidade de experimentos reais, que são complexos e custosos.

A aplicação de modelos de redução de ordens (ROM, do inglês Reduced Order Model) tem demonstrado ser uma técnica promissora na análise e simulação de condições de acúmulo de gelo, permitindo resultados em tempo real, que são fundamentais para a integração de simuladores de voo e treinamento de pilotos. A simulação envolve uma série de iterações e ajustes que buscam reduzir erros, melhorar a precisão das predições e otimizar os sistemas de proteção contra o gelo (IPS, do inglês Ice Protection Systems).

Em um dos estudos recentes, a utilização do método POD (Proper Orthogonal Decomposition) em simulações de acúmulo de gelo revelou deficiências quando aplicado a problemas altamente não lineares. Embora a técnica de amostragem iterativa seja capaz de gerar resultados, os erros aumentam à medida que mais "instantâneos" ou snapshots são adicionados. Esse aumento de erro está relacionado ao fato de que diferentes tipos de soluções começam a se poluir mutuamente à medida que o número de amostras cresce. Para contornar esse problema, foi utilizada a técnica de clustering, especificamente o k-means, para agrupar as amostras de gelo em três tipos distintos de forma de gelo: sem gelo, gelo tipo glace (glaze) e gelo tipo rime. Esse agrupamento foi realizado com base nas curvas de coeficiente de sustentação (CL) em função do ângulo de ataque (α), já que a não-linearidade aerodinâmica é mais pronunciada nessas curvas do que na geometria do gelo.

Esses três regimes físicos foram então delimitados no espaço dos parâmetros e os limites de decisão entre eles foram definidos por regressão logística. A partir daí, o processo de amostragem foi reiniciado em cada cluster, resultando em uma melhora significativa na distribuição de erro, reduzindo a massa de erro do gelo em até 47 g por unidade de envergadura, com erros abaixo de 10 g por unidade de envergadura para a maioria das condições. O processo de simulação utilizando ROM permitiu, assim, uma previsão mais precisa da massa de gelo acumulada em diferentes condições, com uma computação muito mais rápida do que as abordagens convencionais de CFD (Computational Fluid Dynamics), que exigem horas ou até dias de processamento.

A simulação de gelo e o impacto aerodinâmico também foram avaliados em termos de perdas no desempenho da aeronave. O estudo revelou que a perda de CL máxima devido ao acúmulo de gelo pode ser significativa, chegando a até 50% em uma grande região do envelope de congelamento, o que comprometeria gravemente a segurança do voo. Porém, a utilização de modelos ROM permitiu quantificar essas perdas de forma mais eficiente e em tempo real, o que pode ser crucial para a otimização de sistemas de proteção contra o gelo.

A aplicação dos modelos ROM também se estende à simulação de condições mais extremas, como as encontradas em áreas de tormentas. Embora essas condições sejam difíceis de replicar em testes reais devido aos perigos e à complexidade de simular essas situações na natureza, as simulações numéricas podem fornecer informações valiosas para o design de sistemas de proteção contra o gelo. O uso dessas simulações pode acelerar o desenvolvimento de tecnologias de proteção e garantir que aeronaves e rotores estejam mais preparados para enfrentar condições adversas.

Além de ajudar na previsão e no gerenciamento da formação de gelo, as tecnologias de ROM também podem ser incorporadas em simuladores de voo em tempo real. Isso pode ser de grande valor para o treinamento de pilotos, permitindo que eles experimentem cenários realistas de gelo em voo e aprendam como reagir em situações críticas sem estar em risco. Essa abordagem não apenas aumenta a segurança dos voos, mas também oferece uma maneira mais acessível e eficiente de treinar pilotos para lidar com as condições extremas.

É importante destacar que, embora os modelos ROM ofereçam uma melhoria significativa em termos de eficiência computacional e precisão, a escolha de quais parâmetros devem ser incluídos e como agrupá-los para definir as condições de simulação é crucial para o sucesso do modelo. A capacidade de ajustar esses parâmetros de acordo com as condições específicas do voo pode fazer uma grande diferença nos resultados. A integração contínua de novas amostras de dados e o refinamento dos modelos através de técnicas de aprendizado supervisionado, como a regressão logística, são passos essenciais para garantir que o modelo permaneça relevante e eficaz à medida que novas informações sobre o comportamento do gelo se tornam disponíveis.

Como a deformação de microgotículas de água responde ao escoamento de ar uniforme?

A deformação de microgotículas de água sob a ação de um escoamento de ar uniforme representa um fenômeno físico de grande relevância em contextos como a formação de gelo em superfícies aerodinâmicas, processos industriais de atomização e dispersão, e também em simulações atmosféricas. A modelagem precisa desse comportamento exige uma representação detalhada das interações entre fases líquida e gasosa, considerando não apenas os efeitos do escoamento, mas também as propriedades térmicas e reológicas dos fluidos envolvidos.

Em regimes de número de Reynolds moderado, observa-se que o comprimento do “dedo” de líquido gerado no respingo aumenta, enquanto sua espessura diminui. Em certos tempos característicos, como em T = 1,5, forma-se uma minúscula gota no bordo final do dedo líquido, demonstrando o papel das instabilidades hidrodinâmicas. A posição da base do jato, estudada anteriormente por Coppola et al., é calculada a partir da média das posições em x de dois pontos de estrangulamento nas bordas do respingo. Quando normalizada pela posição inicial da gota e pelo seu diâmetro, esta variável segue uma tendência que se aproxima da lei de potência prevista por Josserand e Zaleski, reforçando a validade da simulação em comparação com os resultados obtidos por Nangia et al.

Outro fenômeno essencial é o colapso de colunas líquidas, instigado pela gravidade. Este caso é particularmente desafiador do ponto de vista numérico devido à presença de superfícies livres altamente deformáveis, aliadas a grandes razões de densidade entre o líquido e o gás. A coluna de água, inicialmente em repouso, colapsa de forma estável, com a superfície mantendo-se suave durante a evolução temporal. A altura da coluna e a posição frontal de propagação revelam comportamentos distintos: enquanto o avanço do líquido sobre a base é quase linear, a altura sofre uma aceleração inicial seguida de desaceleração, resultado da redistribuição do filme líquido sobre a superfície.

A observação experimental da deformação de gotas em queda livre através de um escoamento de ar revela transformações morfológicas bem definidas e reprodutíveis. Utilizando câmeras de alta velocidade, foi possível registrar que, nos primeiros instantes de aceleração, a face voltada ao vento da gota se achata, e toda a estrutura se alonga na direção transversal. Em poucos milissegundos, a gota adquire uma forma de “chapéu”, com uma saliência na parte posterior. Este perfil evolui para uma forma elipsoidal, e mais tarde para uma elongação longitudinal. As simulações numéricas, ao replicarem fielmente essas etapas de deformação, validam os modelos computacionais e as condições de contorno adotadas.

No regime de microgotículas — com diâmetros entre 20 e 100 μm — os efeitos da viscosidade, tensão superficial e da razão de densidade tornam-se dominantes. O domínio computacional tridimensional adotado nas simulações é proporcional ao diâmetro da gota, e um refinamento da malha de 40 células por diâmetro garante a resolução necessária das interfaces. A gota, inicialmente em repouso, interage com um escoamento uniforme que incide a partir da entrada do domínio, e a resposta da sua estrutura depende criticamente da temperatura — tanto ambiente quanto da própria gota — devido às alterações nas propriedades físicas do líquido e do gás.

Na comparação entre temperaturas de 25°C e -25°C, observa-se que a viscosidade e a tensão superficial aumentam em condições de super-resfriamento, o que influencia diretamente a resistência da gota à deformação. A simulação mostra que a gota super-resfriada tende a deformar-se de forma mais lenta e com menor extensão, enquanto gotas em temperatura ambiente apresentam deformações mais rápidas e pronunciadas. Este comportamento reflete a sensibilidade da dinâmica interfacial aos parâmetros termofísicos, o que deve ser considerado em qualquer modelagem realista de interação ar-gota.

Além disso, os números adimensionais envolvidos — como o número de Weber e de Reynolds — são cruciais para prever a estabilidade da gota durante sua aceleração. A baixa razão entre tensão superficial e forças inerciais, representada por valores elevados de Weber, pode levar à ruptura da gota, formação de filamentos ou até mesmo à atomização completa. Já em condições de números de Reynolds baixos, a deformação tende a ser mais suave e gradual.

Importa ainda compreender que a interpretação correta dos dados experimentais exige uma sincronização precisa entre as escalas de tempo e as resoluções espaciais das medições. A utilização de iluminação traseira difusa com LEDs e vidros foscos, associada a câmeras de alta frequência, foi fundamental para capturar os contornos reais das gotas e suas deformações, validando os resultados computacionais com elevada fidelidade.

Por fim, é essencial ressaltar que a interação entre propriedades térmicas, reológicas e dinâmicas das microgotas com o escoamento circundante não se limita ao campo teórico. Ela possui implicações diretas em aplicações práticas, como em sistemas de prevenção de gelo em turbinas, pulverizadores agrícolas, sprays farmacêuticos e modelagem climática. A compreensão das escalas envolvidas, da influência dos parâmetros adimensionais e da precisão das simulações numéricas constitui uma base indispensável para o avanço tecnológico e científico neste domínio.

Como os Gradientes de Temperatura Influenciam o Processo de Solidificação e Congelamento de Gotas Superresfriadas

Os gradientes de temperatura desempenham um papel fundamental na formação de sólidos durante o congelamento, sendo sua magnitude um fator decisivo no comportamento térmico de sistemas em diversas aplicações. A análise detalhada desses gradientes revela variações consideráveis na taxa de solidificação, especialmente quando se observa a influência dos números de Biot e Stefan. Ao comparar os gráficos das Figuras 4a, 4c e 4e, que representam os valores Bi = 0.1, Bi = 1.0 e Bi = 5.0, respectivamente, pode-se identificar um desvio crescente no estágio final de congelamento à medida que o número de Biot aumenta. Esse desvio é observado independentemente do valor do número de Stefan, o que sugere que a velocidade da frente de solidificação se acelera substancialmente conforme o processo de congelamento se aproxima de seu término. Este aumento na velocidade de solidificação está diretamente relacionado ao gradiente de temperatura na interface da gota, o qual é aproximadamente modelado por métodos de redução, como o CIEA.

Uma consideração crucial é que qualquer erro, mesmo que pequeno, na estimativa do gradiente de temperatura pode induzir grandes variações no tempo final de congelamento, como demonstrado nas Figuras 4d e 4f, onde é possível observar a influência na previsão da temperatura e do tempo de congelamento. A precisão na previsão dos tempos de congelamento é essencial, pois pequenas diferenças no modelo podem levar a discrepâncias significativas nos resultados finais.

Além disso, a duração do processo de congelamento é claramente influenciada pelos números de Biot e Stefan. Quanto maior o valor do número de Biot, mais rápida é a solidificação, o que implica que as propriedades térmicas do material, como a condutividade térmica e as características do ambiente (por exemplo, a velocidade do fluxo de ar), têm impacto direto no comportamento térmico do sistema.

O método proposto foi validado em condições experimentais típicas de congelação de gotas superresfriadas, com base em dados obtidos por Hindmarsh et al. (2003). A comparação entre os resultados experimentais e os preditos pelo modelo GITT e pela abordagem CIEA mostrou uma excelente concordância, validando a precisão do modelo de redução híbrida. O bom desempenho das abordagens reduzidas, especialmente a CIEA, é destacado pela capacidade de estimar com precisão a temperatura no centro da gota durante as fases iniciais de congelamento (Figura 5).

O impacto da variação da velocidade do fluxo de ar e do raio da gota sobre o processo de congelamento também foi examinado na análise paramétrica realizada no estágio de solidificação. A alteração na velocidade do ar, variando de 0.42 m/s para 0.97 m/s, levou a uma significativa mudança nos números de Nusselt e Sherwood, responsáveis pelo transporte de calor e massa, respectivamente. Isso, por sua vez, influenciou diretamente os números de Biot e acelerou o processo de congelamento, demonstrando a importância desses parâmetros no comportamento térmico do sistema.

Quando se observa a variação do raio da gota, os resultados mostram que gotas menores congelam mais rapidamente, uma conclusão esperada dado o aumento da área superficial em relação ao volume. No entanto, o modelo CIEA, que é computacionalmente mais econômico, ainda assim oferece previsões altamente precisas do tempo total de congelamento e da evolução da frente de solidificação, mesmo nas fases finais do processo. Essa eficiência é uma grande vantagem para simulações em larga escala ou para aplicações que exigem rapidez no processamento.

O estudo do contato da gota com a superfície também revela a complexidade do problema, uma vez que a interação com substratos, especialmente superfícies superhidrofóbicas, pode alterar significativamente o comportamento de congelamento. A solução numérica para esse caso, utilizando o GITT e a análise de convergência com a ajuda do software Mathematica®, permitiu examinar o impacto do contato gota-substrato no estágio de super-resfriamento. A análise de convergência mostra que, embora a solução numérica apresente uma desaceleração na convergência em tempos iniciais, o método continua preciso para a predição da temperatura no contato com a superfície, considerando o efeito do ar frio que circula ao redor da gota.

Com essas informações, fica evidente que os gradientes térmicos, os números de Biot e Stefan, a variação das condições ambientais, como a velocidade do fluxo de ar, e o tamanho da gota têm um impacto substancial na dinâmica de congelamento e solidificação das gotas superresfriadas. Com a validação experimental e a análise paramétrica realizada, pode-se afirmar que os modelos reduzidos propostos oferecem um equilíbrio entre precisão e eficiência computacional, sendo altamente adequados para simulações rápidas e precisas do congelamento de gotas.

Além disso, deve-se considerar que a precisão nos modelos de redução depende da acurácia dos parâmetros envolvidos, como a condutividade térmica e as propriedades do material, além da importância de compreender como as condições ambientais, como o fluxo de ar e a geometria da superfície, afetam o processo. Para um entendimento mais profundo do processo de congelamento de gotas superresfriadas, é essencial levar em conta não apenas as condições ideais, mas também as variáveis externas que podem interferir no comportamento térmico do sistema.