A reflexão sobre o heroísmo na literatura de guerra é um tema que se manifesta de formas contraditórias e multifacetadas, especialmente nas obras que buscam desvendar não apenas os feitos de coragem, mas também as fraquezas humanas diante do sofrimento e da morte. Os textos de M. Parkhomov e G. Baklanov são exemplos significativos dessa reavaliação da figura do herói, onde a visão tradicional de bravura e invulnerabilidade é substituída por uma representação mais sombria e realista do ser humano.
O conto longo de Parkhomov, "Nós Fomos Fuzilados em '42", surge como uma forte contestação à ideia convencional de heróis. A história narra a trágica morte de dezessete marinheiros soviéticos capturados pelos nazistas, sendo um retrato de dor, sofrimento e, acima de tudo, de uma forma de desumanização que desmantela a glorificação do sacrifício heroico. Através da narrativa de Ponomaryov, o protagonista e narrador, Parkhomov enfatiza a experiência da impotência frente à morte iminente. A morte de seus companheiros, descrita como "sem sentido", ecoa a dúvida existencial que permeia a obra: "E alguma morte faz sentido?" Esta indagação parece ser um reflexo direto da visão do autor sobre o sofrimento dos prisioneiros, cujas vidas e mortes, longe de serem heroicas, são simples e esmagadas pela brutalidade da guerra.
O elemento central da obra é a "deserotização" do herói. Parkhomov não busca figuras heroicas, mas, sim, os despojos de uma humanidade dilacerada. Os marinheiros que sobreviveram ao campo de concentração não são corajosos ou invencíveis; são, em vez disso, homens comuns, enfraquecidos, moralmente quebrados, que apenas aguardam o fim. Mesmo nos últimos momentos antes da execução, quando os marinheiros começam a cantar uma canção popular, este gesto não é interpretado como um auge heroico, mas como uma expressão tardia de uma coragem que já havia se esgotado muito antes, um lampejo de resistência em meio à aceitação do destino trágico.
Além disso, Parkhomov toma cuidado ao construir personagens cujas falhas e falências morais são evidentes. Não há personagens idealizados, mas, sim, figuras humanas, com todas as suas imperfeições. Mesmo aqueles que, à primeira vista, podem ser vistos como heróis, como o Tenente Semin, estão longe de serem modelos de virtude. A complexidade psicológica dos personagens é explorada através de suas fraquezas, traumas e dilemas, o que leva a obra a questionar as noções convencionais de honra e coragem.
Por outro lado, o romance "Um Polegar de Terra", de G. Baklanov, adota uma abordagem semelhante ao retratar a guerra e os soldados, embora de forma menos radical. O protagonista, Generalov, é um homem comum que se vê diante da brutalidade da guerra e, em um momento de desespero, abandona seus companheiros. O romance de Baklanov, embora também busque desmistificar o herói guerreiro, parece se prender a uma visão mais complexa e contraditória do indivíduo diante do conflito. O autor apresenta um quadro naturalista do horror da guerra, onde a sobrevivência, a vergonha e o medo predominam.
A crítica à obra de Baklanov destaca, por um lado, a tentativa do autor de criar uma figura heroica, mas com falhas humanas inegáveis, e, por outro, a forma como ele exagera certos sentimentos de medo e pânico, que acabam por enfraquecer a construção de seus personagens. A crítica aponta que a tentativa de justificar as ações de um desertor, como Generalov, coloca-o em uma posição moral ambígua, desafiando a ideia de heroísmo ao compará-lo aos que pereceram. A busca do autor por realismo psicológico, ao abordar o medo e o instinto de sobrevivência, também foi questionada por uma certa alienação das "grandes" questões da guerra, como a luta pelo ideal, a importância do sacrifício e o destino coletivo de um povo.
Ambas as obras, de formas distintas, desconstroem a figura do herói tradicional na literatura de guerra. Através do sofrimento, da desilusão e da morte, tanto Parkhomov quanto Baklanov revelam um tipo de "anti-herói", cujos feitos e destinos são decididos por forças externas, implacáveis e, muitas vezes, incompreensíveis. A visão que eles propõem não é de uma guerra heróica, mas de um sofrimento humano universal, no qual a luta pela sobrevivência e a perda de moralidade se tornam centrais.
O importante para o leitor, ao se deparar com essas obras, é entender que o conceito de herói na literatura de guerra não se resume mais a uma figura de glória e pureza moral. Ao invés disso, o verdadeiro heroísmo pode ser encontrado na resistência diante da desesperança, na humanidade que persiste mesmo em face da destruição. No entanto, isso não implica uma glorificação da guerra ou do sofrimento, mas sim uma meditação sobre os limites humanos, a fragilidade do espírito diante da violência e a inevitabilidade do destino de cada indivíduo em tempos de conflito.
Qual é o papel da literatura na compreensão do mundo?
A literatura, em seu cerne, sempre se apresentou como uma prática de investigação das formas de comunicação e expressão humana, algo que vai além do simples relato ou narração de fatos. A tentativa de isolar e compreender a literatura como um sistema fechado de significados, livre de influências externas como o contexto histórico e social, é um princípio fundamental do formalismo, que propõe que a obra de arte deve ser vista em sua totalidade, sem a necessidade de considerar suas raízes no mundo real. O formalismo sustenta que o significado de uma obra reside exclusivamente na estrutura interna, na organização dos seus elementos, e que sua apreciação deve se dar a partir da forma e das técnicas empregadas, em vez de se buscar compreender suas relações com a realidade ou com o autor.
No entanto, é preciso questionar: esse sistema fechado realmente pode ser suficiente para explicar a complexidade da literatura? Mesmo na crítica estruturalista, que, a exemplo do formalismo, busca abstrair o texto de qualquer vínculo com o contexto externo, há uma tentativa de criar um entendimento baseado puramente na organização e na correlação dos elementos dentro de uma obra. Para críticos como Roland Barthes e Mikel Dufrenne, o texto literário não é um reflexo da realidade, mas um sistema autossuficiente que se constrói por meio da disposição de seus signos. As palavras, nesse sentido, são desprovidas de um significado imediato, e o papel do crítico é identificar como esses elementos sem sentido, desconectados do mundo externo, podem gerar significado a partir da sua estrutura interna.
Essa busca pela essência do texto, longe de se limitar ao estudo da forma, também reflete uma visão do mundo que se distanciaria do entendimento de que a arte é uma representação de algo mais profundo, mais conectado à realidade humana. A obra literária é tratada como um objeto autônomo, cuja compreensão se dá não por seu conteúdo, mas por sua forma. Essa posição, no entanto, foi amplamente desafiada por várias correntes de crítica, incluindo aquelas que tentam reestabelecer o vínculo entre a literatura e sua função social ou histórica.
É importante reconhecer que o formalismo, embora tenha sido um movimento revolucionário ao seu tempo, ainda exerce uma influência profunda nas abordagens contemporâneas da crítica literária. A ideia de que a literatura, ao ser tratada como um sistema fechado, pode ser estudada sem a necessidade de se considerar seu contexto, não desapareceu. Em vez disso, essa ideia foi adaptada e incorporada por escolas como a crítica nova americana e o estruturalismo francês. No entanto, isso não impede que se faça uma crítica à falta de engajamento com as questões sociais e históricas que formam o substrato da obra literária.
No entanto, se por um lado o estruturalismo enfatiza a necessidade de compreender a estrutura interna das obras, ao focar nos elementos e nas relações que compõem o texto, ele ainda perpetua, em muitos aspectos, a ideia de um isolamento do contexto histórico e social. Nesse ponto, é fundamental que o leitor se pergunte: até que ponto é possível compreender uma obra de arte sem considerar as circunstâncias que a geraram, o autor que a produziu e o mundo ao qual ela responde? Será que a estrutura, por si só, é suficiente para explicar as intenções ou os efeitos da obra?
Além disso, a noção de que a crítica literária deve ser "estritamente sincrônica", ou seja, voltada para a análise das técnicas e formas do texto, sem se distanciar para questões externas, impõe uma série de limitações à própria compreensão da literatura. Tal postura, embora lógica dentro de seu próprio sistema, pode levar a uma redução do potencial interpretativo da obra, ignorando as dinâmicas culturais, sociais e históricas que inevitavelmente influenciam tanto a criação quanto a recepção da obra literária.
A crítica que se distancia do histórico e do social, como é o caso de algumas formas de formalismo e estruturalismo, corre o risco de perder a capacidade de compreender plenamente a literatura, reduzindo-a a uma série de signos e estruturas que, sem o contexto, podem parecer desprovidos de sentido. Mesmo na busca pela "pureza" da arte, é crucial lembrar que o valor de uma obra não está apenas em sua forma, mas também em sua capacidade de dialogar com o mundo em que foi criada.
A Estrutura da Poesia e a Impossibilidade de Aplicação Prática da Poética Estruturalista
Letman acredita que as palavras em itálico permitem que assumamos que "o pensamento inevitavelmente é expresso nas letras de Zabolotsky como uma ascensão vertical da natureza libertada...". A oposição abrangente "topo-baixo" prevalece, mas, com ela, surge um tratamento desolado, sem vida e excessivamente literal das imagens poéticas. A razão oculta para isso é que, apesar das reservas do autor, o princípio da oposição é apenas um elemento da linguagem formalizada de uma obra, e sua relação com o conteúdo é ilusória. Um dos críticos das "Lições sobre Poética Estrutural", B. Maryev, também apontou isso. Em sua opinião, Letman "frequentemente busca... oposições apenas dentro da estrutura textual, o que o leva a ignorar o contexto artístico". Isso também se aplica à divisão puramente formal de todos os fenômenos artísticos em duas categorias – "a estética da identidade" e "a estética do contraste" (essa divisão também é tratada em "A Estrutura do Texto Artístico"): "a investigação do conteúdo... destruiria imediatamente a rigidez do esquema proposto".
Os exemplos mencionados em relação ao princípio da oposição demonstram uma das fraquezas essenciais da escola estruturalista: ela ainda não consegue provar a aplicabilidade prática de sua poética. As tentativas de aplicar seus postulados aos fenômenos artísticos são, na maioria das vezes, forçadas e improváveis. Isso é válido até mesmo para modelos considerados como os mais perfeitos, como a análise de Jakobson e Levi-Strauss do poema "Les Chats" de Baudelaire (L'Homme, janeiro-abril de 1962). Nas notas para a tradução russa desse poema, N. Balashov e I. Postupalsky demonstram convincentemente a "distância entre os resultados desejados e os alcançados na análise estrutural da poesia". Em qualquer caso, uma aplicação sistemática e bem-sucedida dos métodos estruturais na crítica literária ainda parece mais uma possibilidade distante do que uma realidade.
Letman também não consegue superar essa barreira. A maior parte de seu texto dedicada à análise concreta é apenas uma ilustração para proposições teóricas. Apesar das percepções ocasionais, é difícil não pensar que suas observações originais nem sempre são convincentes ou aplicáveis, e o que realmente desperta interesse, além da terminologia, ainda se encontra no campo da poética tradicional. A terminologia deve ser tratada separadamente. A renovação do arsenal terminológico é um processo natural e necessário, e não deve nos assustar ou nos colocar em alerta. No entanto, é improvável que, por si só, tais inovações garantam progresso. Novos termos são justificados apenas quando são necessários para ampliar o escopo dos conceitos que, nas palavras de Niels Bohr, não só serviram para "restaurar a ordem nas respectivas ramificações do conhecimento, mas também para revelar analogias... em domínios aparentemente separados do saber". Será que essa nova terminologia, que saturou (se não sobrecarregou) as obras dos representantes da escola estruturalista, atende a esse requisito? Isso ainda não foi provado. Eu, por exemplo, não estou convencido de que termos como "informação", "ruído no canal de comunicação", "código", "recodificação" e "invariante" servirão para "restaurar a ordem" na crítica literária.
Um dos revisores da obra de B. Uspensky, "A Poética da Composição", observou: "Não se sente uma fusão orgânica entre a terminologia e a descrição; novas definições, como regra, não parecem indispensáveis na apresentação que se baseia em conceitos literários tradicionais." Esse dualismo terminológico é visto pelo revisor como uma evidência de dualidade metodológica e incerteza. Ele admite que existem muitas observações convincentes no livro, mas não vê nada "especificamente semiótico" nelas. Ao descrever e classificar variantes composicionais, Uspensky, em essência, "realiza o mesmo tipo de investigação que foi feito diversas vezes por seus predecessores, da mesma maneira".
Parece que estamos diante de um fenômeno bastante típico na literatura sobre poética estrutural. Há também outras coisas curiosas. Os novos termos foram introduzidos, aparentemente, para facilitar a precisão nos critérios da crítica literária. O que, na verdade, eles fazem? Recordemos a análise de Lotman da poesia de Zabolotsky. Ela é aproximada e arbitrária, mas envolta na mais moderna terminologia... Deve-se também confessar que muitos dos termos amplamente utilizados pelo autor e seus colegas, e considerados "precisos", acabam sendo difusos e podem gerar interpretações extremamente variadas. E não foi Lotman quem escreveu que tais conceitos não devem ser vistos como termos?
Aparentemente, o problema da precisão na crítica literária não é tão simples quanto às vezes se imagina, e ainda não está claro se a poética estrutural realmente revela novas perspectivas nesse sentido. Outra conclusão, entretanto, é bem clara: mesmo os experimentos mais bem-sucedidos na aplicação da análise estrutural, assim como os métodos da semiótica, matemática e métodos de probabilidade estatística, estão relacionados a aspectos individuais da criação artística, aqueles onde uma grande parte é formada por elementos recorrentes e calculáveis. Se forem tentativas de aplicar a teoria da probabilidade à prosódia, onde o efeito artístico frequentemente depende de várias formas repetidas, ou análises estatísticas e probabilísticas dos componentes da linguagem de um escritor (dimensão da frase, mudanças na frequência de uso das partes do discurso etc.), ou ainda investigações de modelos do folclore, cujas formas, como observam nossos ancestrais distantes e parcialmente devido a considerações temporais (o tempo, como A. Veselovsky observa, sendo "o grande simplificador"), são algo estáticas.
Os próprios estruturalistas admitem isso. "A análise semiótica, por enquanto, só pode ser aplicada aos aspectos mais simples e massivos das obras artísticas", escreve I. Revzin em seu ensaio "Os Objetivos dos Estudos Estruturais da Arte". "Quando falamos de analisar coisas acabadas, os métodos estruturais são capazes de estudar fenômenos comparativamente simples, como chastushkas, adivinhações, bylina, contos de fadas e mitos". Eu não tenho intenção de duvidar desses estudos; pelo contrário, sua contribuição para o entendimento de certos aspectos da literatura é evidente.
Como Gerenciar a Saúde de Idosos: Abordagens e Estratégias Multidimensionais para a Reabilitação e Prevenção de Doenças
Como a Tecnologia do Motor Diesel Está Transformando os Veículos Comerciais?
Como o Compartilhamento de Carga Impacta a Detecção e a Resolução em Detectores de Pixels Pequenos
Como os Sabores e as Combinações de Alimentos Afetam Nossa Experiência Gastronômica?

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский