O comprimento ao longo da costa de um dispositivo de captura de energia das ondas (OWC) exerce uma influência direta na sua capacidade de proteção costeira e na eficiência de captura de energia. Quando o comprimento ao longo da costa (l/h) aumenta, a capacidade de proteção costeira do dispositivo tende a diminuir, principalmente devido ao fenômeno da ressonância de oscilação. Este fenômeno ocorre dentro da câmara do OWC, fazendo com que o dispositivo deixe de capturar eficientemente a energia das ondas. A partir deste ponto, o coeficiente de reflexão teórico se aproxima de 1, indicando que a energia da onda é basicamente refletida de volta, em vez de ser absorvida.

Quando se analisa o impacto do comprimento ao longo da costa sobre as forças de onda nas paredes frontal e lateral do OWC, os resultados mostram uma diminuição significativa da força nas paredes quando l/h aumenta, dentro da faixa de 1 < k₀h < 3.5. No entanto, em um ponto específico, k₀h = 3.83, surge um pico de força na parede frontal (Fx), independente do comprimento l/h, relacionado com o fenômeno de ressonância perpendicular à linha da costa. Esse pico de força pode ser especialmente crítico para o design estrutural da unidade OWC, pois ele impacta diretamente as forças de carga aplicadas ao caixão.

Já no que diz respeito à parede lateral, o comprimento ao longo da costa tem um impacto mais pronunciado. Para valores mais elevados de l/h, como l/h = 13/6, múltiplos picos de força aparecem na faixa de frequências de interesse, e esses picos tendem a deslocar-se para frequências mais baixas à medida que o comprimento l/h aumenta. Esses comportamentos devem ser cuidadosamente avaliados para garantir que as unidades OWC sejam dimensionadas adequadamente, levando em consideração as condições específicas de ondas no local de implantação.

Além disso, a espessura da parede frontal do OWC, representada pela razão c/b (espessura da parede dividida pela altura da câmara), também desempenha um papel crucial na performance hidrodinâmica. A espessura maior da parede altera a frequência de ressonância da coluna de água dentro da câmara do OWC. Quando c/b aumenta, o ponto onde ocorre o mínimo do coeficiente de reflexão KR tende a se deslocar para regiões de frequência mais alta. Isso significa que, ao modificar a espessura da parede, é possível ajustar a frequência de ressonância e, consequentemente, a eficiência de captura de energia.

Em termos de eficiência hidrodinâmica, conforme o aumento da espessura da parede, a largura efetiva de operação (η > 0.2) diminui consideravelmente, sugerindo que um aumento na espessura da parede reduz a banda de frequências em que o dispositivo é eficiente. Essa relação é particularmente relevante para otimizar o design das câmaras OWC, ajustando suas paredes para maximizar a captura de energia dentro de um intervalo de frequências favoráveis.

Um estudo mais aprofundado do impacto da espessura da parede também revela que, para ondas incidindo de diferentes ângulos, o ajuste da espessura pode influenciar a capacidade do OWC em manter sua eficiência, tanto para ondas normais quanto oblíquas. Ao considerar ângulos de incidência variados (como θ0 = 0, π/4), a espessura da parede pode ser ajustada para garantir que o dispositivo continue funcionando de maneira eficiente, independentemente da direção das ondas.

Esses resultados indicam que tanto o comprimento ao longo da costa quanto a espessura da parede são fatores essenciais no projeto de unidades OWC. Eles não apenas afetam a capacidade do dispositivo de proteger a costa, mas também sua eficiência na captura de energia e a carga imposta às suas estruturas. Portanto, a combinação adequada dessas variáveis, de acordo com as condições de onda do local, é fundamental para otimizar o desempenho dos dispositivos OWC e garantir a viabilidade de sua aplicação em sistemas de energia renovável a partir das ondas.

Além disso, é importante ressaltar que os dispositivos OWC são extremamente sensíveis às condições ambientais, como a direção e a intensidade das ondas. Projetos que não considerem essas variáveis podem resultar em baixo desempenho e até falhas estruturais. Por isso, um estudo detalhado das características de onda de cada região de implantação é indispensável para maximizar a captura de energia e a eficiência do dispositivo. A constante evolução dos modelos teóricos, assim como o aprimoramento das simulações numéricas, continua a proporcionar um melhor entendimento das interações entre as ondas e as estruturas OWC, o que se traduz em designs mais eficientes e robustos para o futuro da energia das ondas.

Eficiência e Desempenho de Dispositivos de Energia das Ondas: Análise Hidrodinâmica e Influência do Ângulo de Incidência

A eficiência de captura de energia das ondas por dispositivos oceânicos exibe um comportamento complexo, influenciado por uma variedade de fatores, incluindo o ângulo de incidência das ondas, as características do espectro de frequência e as interações hidrodinâmicas entre as ondas e os dispositivos. Este fenômeno é particularmente evidente em sistemas compostos por arrays de dispositivos, como os tipos OWC (Oscillating Water Column) e bóias oscilantes, integrados em estruturas de defesa costeira ou quebra-mares.

Para ondas incidentes normais (θ0 = 0), dois picos na eficiência são observados, com o segundo pico sendo consideravelmente maior do que o primeiro. No entanto, à medida que o ângulo de incidência se desvia de 0°, a presença de um segundo pico se dissipa, e o comportamento da eficiência de captura de energia torna-se cada vez mais errático. A eficiência, que é um indicativo da quantidade de energia extraída pelas estruturas, apresenta variações abruptas em toda a faixa de frequências, com uma queda acentuada observada em determinadas frequências. Esse fenômeno é especialmente marcado quando a mudança abrupta ocorre em frequências mais baixas, à medida que o ângulo de incidência das ondas aumenta. Essa variação está diretamente relacionada às mudanças nos coeficientes de reflexão e transmissão, os quais exibem comportamentos similares, com uma mudança drástica de comportamento em frequências específicas.

Quando o ângulo de incidência aumenta, ocorre um aumento considerável no coeficiente de reflexão, refletindo um fenômeno de forte reflexão induzido pelo sistema. Esse aumento substancial na reflexão leva a uma significativa redução na eficiência de captura de energia em frequências específicas, o que representa um desafio para o desempenho dos dispositivos, especialmente em ângulos de ondas mais oblíquos. Em particular, as bóias oscilantes integradas em quebra-mares de cais demonstram uma queda pronunciada na resposta de elevação (heave) conforme o ângulo de incidência aumenta, sugerindo que a interação entre a onda e o dispositivo se torna menos eficiente à medida que as ondas se tornam mais inclinadas.

Estudos hidrodinâmicos, como os realizados com o modelo semi-analítico de fluxo potencial, revelaram que para arrays de dispositivos de energia das ondas, é possível prever a eficiência de extração de energia e a reflexão das ondas com base em uma solução matemática precisa. Este modelo computacional oferece uma vantagem significativa em relação aos modelos numéricos, proporcionando uma análise eficiente, especialmente para grandes arrays de dispositivos. Para dispositivos de energia das ondas baseados em áreas costeiras, as ondas oblíquas exercem um papel crucial no desempenho do sistema. Quando expostas a ondas inclinadas, pode ocorrer um movimento de oscilação na direção ao longo da costa, o que reduz drasticamente a eficiência e aumenta a carga nas paredes laterais do dispositivo. Este fenômeno não é observado para dispositivos expostos a ondas normais, sendo, portanto, um aspecto essencial a ser considerado no design de tais sistemas.

Por outro lado, para os arrays de bóias oscilantes em quebra-mares de cais, o ângulo de incidência das ondas também surge como um fator determinante para o desempenho do sistema. A eficiência de captura de energia é particularmente sensível à mudança no ângulo, com o pico de eficiência deslocando-se para a faixa de frequências mais baixas à medida que o ângulo de incidência aumenta. Isso está relacionado a um fenômeno de forte reflexão de ondas, no qual a frequência associada à reflexão intensa desloca-se para frequências mais baixas. Este comportamento deve ser levado em consideração durante o projeto de tais sistemas, pois pode afetar significativamente a viabilidade e o desempenho das instalações de energia das ondas.

A partir dessas análises, fica claro que a eficiência de sistemas de captura de energia das ondas é fortemente influenciada por fatores hidrodinâmicos complexos, como o ângulo de incidência das ondas e as características do espectro de frequências. A capacidade de projetar e otimizar dispositivos para maximizar a eficiência de captura requer uma compreensão profunda desses fatores, além de uma avaliação cuidadosa das condições de operação do sistema. Como tal, os engenheiros e pesquisadores que trabalham com essas tecnologias devem considerar não apenas as frequências de ressonância e os picos de eficiência, mas também os efeitos das ondas oblíquas, da reflexão e das mudanças abruptas nas características de transmissão e reflexão das ondas.

Como as condições extremas de ondas afetam a integridade estrutural das instalações de energia das ondas: O comportamento de dispositivos OWC sob condições extremas

A integridade estrutural das instalações de energia das ondas pode ser comprometida por forças de ondas extremas em condições meteorológicas severas, causando danos graves ou até falhas. Um exemplo claro disso foi observado na construção da planta de energia das ondas de Mutriku, na Espanha, que foi fortemente impactada por uma tempestade. Entre os cenários de carregamento críticos para as instalações de OWC (Oscillating Water Column) baseadas na costa, destaca-se o fenômeno de "wave slamming", um impacto imprevisível que pode resultar em falha das estruturas. Ao longo dos anos, diversos estudos sobre cargas de ondas em estruturas costeiras e offshore foram conduzidos utilizando métodos teóricos, numéricos, experimentais e de observação em campo, abrangendo aspectos dos efeitos não lineares fortes.

As estruturas de OWC apresentam características bastante distintas das estruturas tradicionais, como cilindros e quebra-mares. A parede frontal de um OWC é fina, e a compressão do ar na câmara pode ser significativa enquanto se extrai energia das ondas. Por essa razão, é essencial investigar o comportamento das OWCs sob eventos de ondas extremas. Trabalhos anteriores, como os de Patterson et al., examinaram as forças de deslizamento sobre as OWCs e a influência da geometria do dispositivo nos momentos de inversão induzidos pelas ondas. Outros pesquisadores, como Boccotti, estudaram a distribuição das pressões das ondas em quebra-mares integrados com OWCs, focando nas forças das ondas e nos momentos de inversão. Experimentos conduzidos por Viviano et al. correlacionaram a reflexão das ondas e o carregamento com diferentes índices de abertura das câmaras.

O estudo das pressões e carregamentos sob diversas condições está bem documentado. Romolo et al. realizaram um teste de campo em escala 1:8 de um quebra-mar U-OWC no laboratório NOEL, na praia de Reggio Calabria, na Itália. Mayon et al., Zhang et al. e Ko et al. investigaram o uso de paredes perfuradas para reduzir o carregamento sobre o caixão do OWC, e tanto investigações teóricas quanto experimentais confirmaram a eficácia dessas paredes perfuradas em reduzir o carregamento. O modelo de fluxo de ruptura de barragem, frequentemente utilizado como análogo para ondas oceânicas extremas, tem se mostrado valioso para explorar a interação entre as ondas e as estruturas sob condições extremas.

A análise numérica e experimental do comportamento hidrodinâmico do caixão de OWC sob a ação de fluxos de ruptura de barragem revelou características importantes do carregamento e do comportamento do fluxo. Estudos de Pan et al. confirmaram que a força de "slamming" sobre o caixão pode ser reduzida com a introdução de uma parede perfurada. Neste capítulo, investigamos o desempenho de dispositivos OWC baseados em terra sob condições de fluxo de ruptura de barragem, utilizando abordagens experimentais e numéricas. A modelagem numérica foi realizada com o software OpenFOAM®, que permite simular problemas complexos de dinâmica de fluidos, como o escoamento de fluidos e turbulência, utilizando o método de volume finito.

O modelo utilizado neste estudo resolve as equações de Navier-Stokes (RANS), projetado para lidar com problemas de fluxo bifásico, considerando efeitos como imiscibilidade, viscosidade e turbulência. A interface entre a água e o ar é rastreada utilizando a técnica de Volume of Fluid (VOF). Para modelar a turbulência, foi empregado o modelo RNG k-ε dentro do framework RANS, que descreve adequadamente os comportamentos turbulentos no fluxo. O setup computacional foi desenvolvido com base nas condições experimentais, com um tanque de simulação de 1,47 m de comprimento, 0,47 m de largura e 0,8 m de altura. A câmara de ar possui uma abertura circular simetricamente posicionada ao longo do eixo y central, e as condições de simetria foram aplicadas às paredes laterais do tanque, enquanto as condições de "no-slip" foram aplicadas às demais paredes.

As validações do modelo numérico foram feitas a partir de testes experimentais realizados em um tanque físico, cuja estrutura foi construída com placas acrílicas. Esses testes tiveram como objetivo verificar a capacidade do modelo numérico em prever o comportamento hidrodinâmico e o carregamento sobre o dispositivo OWC sob a ação do fluxo de ruptura de barragem.

No cenário de avaliação das condições extremas, a estrutura do OWC desempenha um papel fundamental na sua resistência ao impacto de forças imprevisíveis como o "wave slamming". A presença de paredes perfuradas pode ajudar significativamente a reduzir esses impactos, criando uma pressão distribuída de forma mais controlada e evitando a sobrecarga local das estruturas.

Em termos de previsibilidade e segurança das instalações, é importante observar que, enquanto os métodos de simulação numérica proporcionam uma visão detalhada do comportamento das estruturas sob condições extremas, a verificação experimental é fundamental para garantir a precisão dos modelos. Dessa forma, a combinação de simulações computacionais com testes em campo garante uma abordagem robusta para entender os efeitos das forças extremas sobre as instalações de energia das ondas e aprimorar o design das futuras instalações.

Quais são os avanços e desafios no design de plataformas offshore multiusos para a produção de energia renovável?

O conceito de plataformas offshore multiusos, particularmente aquelas que combinam diferentes formas de energia renovável, tem ganhado destaque nas últimas décadas como uma possível solução para os desafios energéticos globais. No contexto do projeto FP7 TROPOS, muitos estudos foram realizados para entender as implicações ambientais e de engenharia desse tipo de infraestrutura. Essas plataformas, além de otimizar o uso do espaço marítimo, buscam aumentar a eficiência na geração de energia a partir de várias fontes, como ondas, vento e energia solar. O design dessas plataformas envolve uma série de complexidades, desde a integração de diferentes sistemas de captura de energia até o gerenciamento de impactos ambientais.

As tecnologias de conversores de energia das ondas (WECs, do inglês "Wave Energy Converters") têm sido amplamente estudadas em combinação com outras tecnologias renováveis. Exemplos disso incluem sistemas híbridos de energia eólica e de ondas que permitem uma utilização mais eficiente das plataformas. Tais dispositivos são projetados para otimizar a conversão de energia das ondas do mar, integrando-se ao sistema de geração e distribuição de energia. A integração de WECs com outras estruturas como quebra-mares flutuantes tem mostrado potencial, não apenas para a produção de energia, mas também para o controle da erosão costeira e para a proteção de infraestruturas existentes.

Um dos principais avanços na área de plataformas multiusos é o desenvolvimento de modelos numéricos que podem simular a interação entre as ondas do mar e as estruturas flutuantes. Modelos baseados em métodos de elementos finitos e outros métodos computacionais têm sido utilizados para prever o desempenho hidrodinâmico de conversores de energia das ondas e suas interações com plataformas de energia eólica. Esses estudos fornecem dados essenciais para otimizar o design dessas plataformas, levando em consideração fatores como a resistência à corrosão, a movimentação das plataformas e o impacto ambiental.

Embora os avanços sejam significativos, existem ainda vários desafios. A necessidade de garantir a viabilidade econômica e a eficiência operacional de tais plataformas exige inovações contínuas na área de materiais e tecnologias de captura de energia. Por exemplo, os sistemas fotovoltaicos flutuantes têm sido explorados em conjunto com plataformas flutuantes de energia eólica e de ondas, oferecendo uma solução mais abrangente para a geração de energia renovável no mar. No entanto, o custo elevado e as questões de durabilidade das infraestruturas continuam sendo obstáculos importantes.

Além disso, o impacto ambiental dessas plataformas não pode ser negligenciado. A construção e operação de plataformas offshore podem alterar significativamente os ecossistemas marinhos. Estudos recentes indicam que, embora as plataformas possam atuar como recifes artificiais e promover a biodiversidade marinha, elas também podem causar impactos indesejados, como a modificação dos padrões de sedimentação e o deslocamento de espécies. Assim, é essencial que o desenvolvimento dessas plataformas seja acompanhado de rigorosos estudos ambientais para garantir que seus benefícios superem os impactos negativos.

Outros aspectos, como a reutilização de infraestruturas de gás offshore para a produção de "energia azul" e o uso de plataformas multiusos para a aquicultura, têm sido explorados para aumentar a viabilidade econômica dessas estruturas. Isso abre novas possibilidades de uso do espaço marítimo, além de fornecer uma abordagem mais integrada para a produção de alimentos e energia em alto-mar. Essa integração de múltiplos usos no mesmo local ajuda a reduzir o impacto ambiental e a aumentar a eficiência econômica das plataformas.

É importante compreender que a evolução do design de plataformas offshore multiusos vai muito além da simples produção de energia renovável. A colaboração entre engenharia, tecnologia, biologia marinha e políticas públicas será essencial para superar os desafios e aproveitar ao máximo o potencial das plataformas. A pesquisa contínua sobre o comportamento dinâmico das estruturas, os efeitos das ondas e o impacto ambiental será crucial para garantir que as plataformas possam ser operadas de forma segura, eficiente e sustentável a longo prazo.