A eficácia das terapias físicas no tratamento de patologias musculoesqueléticas tem sido tema de estudos e investigações ao longo das últimas décadas. A aplicação de terapias não invasivas, como a Terapia de Ondas de Choque Extracorpóreas (ESWT), tem se destacado como uma opção promissora em várias condições, especialmente em casos de tendinopatias e tenossinovites em animais.

Recentemente, um estudo ilustrativo de um cão da raça Chinook de três anos mostrou os benefícios da combinação de PRP (plasma rico em plaquetas) e ESWT no tratamento de tendinopatias no músculo supraspinatus e na tenossinovite do bíceps braquial. O tratamento começou com uma aplicação de ESWT na região do ombro esquerdo do animal, seguido por uma injeção de PRP duas semanas depois, e outras três sessões de ESWT a intervalos de três semanas. O resultado foi notável: a claudicação (laminência) do animal foi resolvida após duas semanas de tratamento durante o caminhar, embora o trote ainda apresentasse algum nível de dificuldade. No entanto, ao final de 12 semanas, tanto a dor quanto a claudicação haviam sido totalmente resolvidas.

A Terapia de Ondas de Choque Extracorpóreas funciona aplicando ondas acústicas de alta energia nas áreas afetadas, estimulando os processos de cicatrização natural e regeneração dos tecidos danificados. Essa técnica tem sido cada vez mais utilizada em medicina veterinária devido à sua eficácia e à capacidade de promover uma recuperação mais rápida em comparação com métodos tradicionais.

A combinação com o PRP tem se mostrado ainda mais eficaz. O PRP é rico em fatores de crescimento que aceleram a regeneração celular e reduzem a inflamação. Quando injetado nas áreas afetadas, como o músculo supraspinatus e o bíceps, o PRP estimula a cura do tecido danificado, potencializando os efeitos da ESWT.

Esse tipo de abordagem terapêutica tem sido bastante útil em lesões musculoesqueléticas crônicas e agudas, especialmente em cães atletas ou animais que realizam atividades de alto impacto. A claudicação em animais, muitas vezes resultante de lesões como tendinopatias, é um problema comum, que, se não tratado adequadamente, pode levar à diminuição da qualidade de vida do animal e ao desenvolvimento de complicações secundárias.

Além da ESWT e do PRP, outros métodos, como o uso de ultrassom terapêutico e a estimulação elétrica funcional, também podem ser empregados de forma complementar para otimizar o processo de reabilitação. O ultrassom terapêutico, por exemplo, tem a capacidade de promover aquecimento profundo nos tecidos, aliviando a dor e aumentando a extensibilidade do tendão ou músculo lesionado.

Para o sucesso do tratamento, é crucial uma avaliação precisa da condição do animal, com o auxílio de exames como a ressonância magnética (RM) ou ultrassonografia musculoesquelética, que permitem identificar a extensão do dano nos tecidos moles e guiar a escolha da terapêutica mais apropriada. A combinação de técnicas de imagem com terapias físicas proporciona uma abordagem personalizada, que pode variar conforme a gravidade da lesão e a resposta do paciente ao tratamento.

O acompanhamento contínuo é fundamental para garantir que o tratamento esteja produzindo os resultados desejados e para ajustar a terapia conforme necessário. Além disso, é importante que os tutores de animais com lesões musculoesqueléticas entendam que a recuperação pode exigir paciência, e a reabilitação deve ser realizada de forma gradual, respeitando os limites do animal e evitando sobrecarga nas fases iniciais da recuperação.

Importante ressaltar que a terapia de ondas de choque extracorpóreas não é uma solução mágica e pode não ser eficaz em todos os casos. Lesões graves, como rupturas totais de tendões ou fraturas ósseas, podem exigir intervenções cirúrgicas mais invasivas. Além disso, a resposta individual de cada animal ao tratamento pode variar, e alguns casos podem necessitar de combinações de terapias para alcançar o melhor resultado possível. A colaboração entre o veterinário e o proprietário do animal é essencial para garantir a eficácia do plano de reabilitação, com foco na melhoria da mobilidade e na redução da dor.

Como a Vibração Corporal Total e Dispositivos Assistivos Podem Potencializar a Reabilitação

A vibração corporal total (VBT) tem sido uma ferramenta cada vez mais explorada na fisioterapia humana como um complemento aos exercícios terapêuticos. O mecanismo de ação proposto para a VBT envolve vibrações rápidas que ativam o reflexo tônico de vibração. Este estímulo provoca contrações involuntárias dos músculos e a ativação de proprioceptores, o que, por sua vez, leva a um aumento da hipertrofia muscular, força e percepção corporal. Estudos em humanos mostraram que adultos mais velhos com sarcopenia, por exemplo, experimentaram um aumento da massa muscular, da aptidão física e da qualidade de vida após a aplicação da VBT (Chang et al., 2018). Além disso, a VBT também melhora a estabilidade e a capacidade de realizar exercícios como o "sentar e levantar" em adultos de meia-idade a idosos (Ko et al., 2017).

Outros estudos indicam benefícios adicionais, como a redução da incidência da dor muscular tardia, alívio da dor em pacientes com osteoartrite no joelho e até um aumento na densidade óssea (Park et al., 2013; Wheeler & Jacobson, 2013; DadeMatthews et al., 2022). Mesmo a literatura veterinária aponta melhorias no ganho de massa muscular em cães com displasia do quadril ao utilizar um protocolo que inclui sessões semanais de VBT. Um estudo recente demonstrou que a combinação de injeções intra-articulares de ácido hialurônico reticulado com a VBT proporcionou melhorias na força vertical máxima em cães com osteoartrite (Martins et al., 2022).

Embora a VBT tenha mostrado um potencial terapêutico significativo, ela é considerada segura, pois não altera os níveis de química sanguínea (Santos et al., 2017) nem afeta o sistema cardiovascular (Silva et al., 2022). Essa segurança tem sido um dos pilares para o uso da VBT em diferentes protocolos de reabilitação, tanto em humanos quanto em animais, destacando-se sua versatilidade no tratamento de várias condições musculoesqueléticas.

Dispositivos Assistivos são igualmente essenciais no contexto da reabilitação, principalmente para pacientes que apresentam fraqueza muscular ou dificuldades para se locomover de maneira independente. A ajuda de um clínico pode ser crucial nas fases iniciais de um programa de reabilitação. Dentre os dispositivos mais utilizados, destacam-se os arnês de levantamento corporal completo, como o Help’EmUp® Harness, que é frequentemente preferido pela sua versatilidade e funcionalidade. Este tipo de dispositivo pode ser utilizado tanto nas sessões terapêuticas quanto em casa, oferecendo suporte ao paciente e aliviando a carga sobre os cuidadores. Embora diversos tipos de slings e arnês possam ser adquiridos comercialmente ou feitos de maneira improvisada, eles nem sempre fornecem o suporte necessário para todas as condições de fraqueza muscular.

Dispositivos de suporte de peso corporal, como o Hoyer lifts ou o Rover®, também têm papel fundamental, permitindo ao paciente realizar movimentos e exercícios de reabilitação com maior segurança e apoio. Esses dispositivos ajudam a minimizar o risco de lesões e promovem uma recuperação mais eficaz ao facilitar a mobilização de pacientes que ainda não conseguem sustentar todo o peso corporal de forma autônoma.

Na prática clínica, os exercícios terapêuticos são adaptados conforme a condição do paciente, com o objetivo de aliviar a dor, melhorar a amplitude de movimento e promover a recuperação funcional. A progressão dos exercícios é cuidadosamente planejada, começando por movimentos passivos e evoluindo para atividades mais complexas, como o uso de superfícies instáveis para desafiar e melhorar a coordenação e força muscular. Em pacientes com deficiências neurológicas ou musculoesqueléticas graves, a reabilitação pode envolver desde exercícios simples de mudança de postura até atividades mais avançadas que exigem maior controle postural e força muscular.

A adaptação e a progressão da reabilitação têm como foco fundamental a recuperação da funcionalidade do paciente, seja através de um aumento da força muscular, da melhora na coordenação e no controle postural, ou da restauração de movimentos simples, como o ato de se levantar da cadeira ou caminhar com segurança. Cada fase do processo terapêutico é planejada para maximizar os ganhos funcionais e garantir que o paciente seja capaz de retomar suas atividades cotidianas com o mínimo de assistência possível.

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Lesões na Medula Espinhal de Cães: Abordagens Terapêuticas e Reabilitação

Lesões na medula espinhal em cães representam um dos maiores desafios clínicos enfrentados na medicina veterinária. A incapacidade de recuperação total da função motora, principalmente em lesões irreversíveis, faz com que a reabilitação e os tratamentos complementares desempenhem um papel essencial no manejo de cães com essas condições. Nos últimos anos, o progresso nas estratégias de tratamento e reabilitação tem sido notável, com novas abordagens e terapias emergindo para melhorar a qualidade de vida desses animais. A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, assim como das opções de tratamento e reabilitação, é essencial para maximizar a recuperação e prevenir complicações futuras.

As lesões medulares em cães podem resultar de diversos fatores, como trauma, hérnia de disco intervertebral, doenças degenerativas ou tumores. A avaliação inicial é fundamental para definir o prognóstico e as opções terapêuticas adequadas. Nos casos de lesões incompletas, em que ainda há alguma preservação da função motora, a intervenção precoce com terapias de reabilitação pode resultar em melhorias significativas. Já nas lesões completas, em que a função motora é totalmente perdida, o foco se volta para o manejo da dor e para a manutenção da qualidade de vida do animal.

O treinamento locomotor tem se mostrado uma das formas mais eficazes de reabilitação para cães com lesão medular. O treinamento baseado em esteira com suporte de peso, por exemplo, tem sido utilizado para estimular a recuperação das funções locomotoras. Estudos demonstram que o treinamento locomotor pode ajudar a promover a plasticidade neural, mesmo em lesões crônicas. O uso de técnicas de estimulação elétrica também tem ganhado destaque, oferecendo uma modulação adicional da função neurológica. Quando combinado com terapia física convencional, esse tipo de intervenção pode acelerar o processo de recuperação, promovendo maior independência funcional para o animal.

Além disso, o uso de medicamentos para o manejo da dor neuropática, como a amantadina, que atua como antagonista do NMDA (N-metil-D-aspartato), tem mostrado resultados promissores no tratamento da dor crônica associada a lesões medulares. O controle da dor é essencial, não apenas para o bem-estar do animal, mas também para permitir que ele participe ativamente das sessões de reabilitação. O manejo adequado da dor pode ajudar a prevenir o quadro de “não uso aprendido” (learned nonuse), um fenômeno no qual o animal evita o uso de partes do corpo devido à dor, o que pode impedir a recuperação funcional.

A fisioterapia manual e a facilitação neuromuscular também são amplamente utilizadas como parte do protocolo terapêutico, ajudando a melhorar o tônus muscular e a coordenação motora. Essas técnicas permitem ao fisioterapeuta manipular diretamente as articulações e os músculos afetados, estimulando o sistema nervoso central e auxiliando na recuperação da função muscular.

Em relação à mobilização postural, os cães com lesões medulares podem se beneficiar de intervenções focadas no equilíbrio e na postura, que ajudam a prevenir complicações secundárias, como úlceras de pressão e atrofia muscular. A reabilitação também deve ser adaptada ao estágio de recuperação do cão, sendo que os tratamentos mais intensivos podem ser indicados durante a fase inicial, enquanto os protocolos mais leves e de manutenção se tornam necessários à medida que o animal melhora.

As terapias combinadas, que integram técnicas de reabilitação física, modulação elétrica e controle farmacológico, têm mostrado ser as mais eficazes. O uso de terapias adjuvantes, como a fotobiomodulação (terapia a laser), também tem demonstrado eficácia no alívio da dor e na promoção da regeneração dos tecidos lesados.

É importante também destacar a importância de um diagnóstico adequado e do acompanhamento contínuo do progresso do animal. A avaliação regular da função locomotora, por meio de testes como o "Timed Up and Go", é fundamental para monitorar os avanços no processo de reabilitação e ajustar o plano de tratamento conforme necessário. A avaliação neurofuncional deve ser um componente constante do manejo clínico para garantir que o animal esteja se beneficiando das intervenções e que não ocorram retrocessos.

A reabilitação de cães com lesões medulares não é apenas uma questão de recuperação funcional, mas também envolve uma abordagem holística que leva em consideração o bem-estar emocional e psicológico do animal. O suporte de uma equipe multidisciplinar, incluindo veterinários, fisioterapeutas e especialistas em comportamento animal, é essencial para garantir que o tratamento seja eficaz e personalizado.

É relevante que o dono do animal esteja ciente de que a reabilitação de uma lesão medular pode ser um processo longo e desafiador. A adesão rigorosa ao plano de tratamento, junto ao acompanhamento veterinário, aumenta significativamente as chances de sucesso. Em muitos casos, embora a recuperação completa da função motora não seja possível, as terapias podem melhorar a qualidade de vida do cão, restaurando sua capacidade de locomover-se, interagir com o ambiente e, em muitos casos, retornar a atividades cotidianas.

O papel do proprietário também é crucial, pois o ambiente de casa deve ser adaptado para garantir a segurança e conforto do animal. Barreiras como escadas ou pisos escorregadios devem ser eliminadas, e o animal deve ter acesso a um espaço seguro e confortável para descansar e se mover. Além disso, os donos devem estar atentos aos sinais de dor ou desconforto, ajustando o tratamento conforme as necessidades do cão.