A construção de programas e sistemas computacionais modernos envolve uma complexa interação entre diferentes níveis de abstração, tanto no software quanto no hardware. Cada um desses níveis desempenha um papel fundamental na forma como os sistemas funcionam e evoluem. Para compreender como esses níveis de abstração interagem, é necessário entender a arquitetura de computadores e os processos de tradução de linguagens de programação de alto nível para as instruções executáveis pelas máquinas.
O compilador é uma ferramenta essencial nesse processo, pois é responsável por traduzir o código de uma linguagem de alto nível (HLL) para uma linguagem de montagem, que por sua vez será convertida em código binário compreendido pela máquina. O compilador, portanto, estabelece a ponte entre o programador, que utiliza uma linguagem de programação abstrata, e o processador, que apenas executa instruções em linguagem de máquina. Em alguns casos, os compiladores podem gerar diretamente o código de máquina, sem a necessidade de uma fase de montagem.
Após a tradução feita pelo compilador, a tarefa do montador (assembler) é converter as instruções em linguagem de montagem para o código binário que o processador consegue interpretar e executar. Esse processo é realizado apenas uma vez, e, salvo modificações no programa, não é necessário repetí-lo para executar o código novamente. O objetivo dessa abordagem em múltiplos níveis é simplificar a programação, escondendo as complexidades da linguagem binária subjacente, e fornecendo uma interface mais acessível ao programador.
Além disso, muitos processadores, como os da família Intel, utilizam uma técnica de implementação chamada microprogramação. Nesse modelo, um conjunto de instruções de nível ainda mais baixo é utilizado para implementar a linguagem de máquina binária. Em vez de usar um compilador para mapear as instruções de um nível superior para um nível inferior, a microprogramação faz uso de uma abordagem chamada emulação. Na emulação, as instruções da máquina são buscadas e executadas uma a uma, com sequências de instruções de nível inferior sendo utilizadas para emular o funcionamento da máquina. Esse processo é semelhante à interpretação em software, onde um interpretador executa as instruções uma por uma, substituindo-as por sequências equivalentes de instruções de nível inferior.
A interpretação de instruções é uma técnica amplamente utilizada em várias linguagens de programação de alto nível, como o BASIC, que foi projetado para ser fácil de interpretar. Muitos sistemas operacionais também fazem uso de intérpretes para interpretar comandos digitados pelo usuário. Quando, por exemplo, o comando "dir" é digitado na linha de comando do DOS, o sistema operacional chama um interpretador de comandos que executa as instruções necessárias para mostrar o conteúdo de um diretório no PC.
A arquitetura do conjunto de instruções de um sistema computacional é, portanto, vista como a interface entre o hardware e o software de mais baixo nível. No passado, a programação de baixo nível, diretamente com código de máquina ou linguagem de montagem, era uma prática comum, dada a limitação de memória e recursos computacionais disponíveis. Nos primeiros tempos da computação, os programadores precisavam otimizar cada byte de memória e cada ciclo de processamento para garantir que os sistemas funcionassem de maneira eficiente.
Hoje, no entanto, com a evolução das tecnologias de hardware e o aumento da capacidade de memória, essa abordagem de programação de baixo nível tem sido substituída, em grande parte, por soluções mais abstratas, como compiladores e ambientes de programação de alto nível. Isso não significa, no entanto, que a programação em linguagem de montagem tenha se tornado obsoleta. Pelo contrário, muitos sistemas operacionais modernos, incluindo o Windows 95, ainda incorporam código escrito em linguagem de montagem, embora as capacidades de memória tenham aumentado significativamente.
Uma das razões para essa continuidade no uso de linguagem de montagem em sistemas operacionais modernos é a otimização. A memória era, e ainda é, um recurso precioso, e otimizar o uso dela é crucial para o bom desempenho do sistema. Por exemplo, nos primeiros PCs, a memória disponível era muito limitada (por volta de 64 KB), e os sistemas operacionais precisavam ser incrivelmente compactos. A linguagem de montagem, sendo mais próxima do hardware, permitia que os programadores escrevessem códigos extremamente eficientes em termos de uso de memória.
Contudo, a principal desvantagem de escrever programas em linguagem de montagem é que eles se tornam altamente dependentes do hardware específico para o qual foram desenvolvidos. Caso o hardware seja alterado, as instruções precisam ser reescritas, o que pode gerar problemas de portabilidade e manutenção. Suponhamos que uma máquina possua oito registradores de 16 bits. Caso os engenheiros de hardware decidam aumentar o número de registradores para 16 e a largura de cada registrador para 32 bits, isso pode afetar diretamente os programas que foram escritos para a arquitetura original.
Se a arquitetura não foi projetada para permitir essa expansão, os programas existentes precisarão ser modificados, pois o código de máquina escrito para a arquitetura original não poderá ser executado na nova configuração de hardware sem ajustes. Portanto, uma das lições importantes da evolução das arquiteturas de computador é que o design antecipado da arquitetura de hardware deve sempre considerar a possibilidade de expansão, de forma que mudanças no hardware não quebrem a compatibilidade com os programas existentes.
Ao considerar as múltiplas camadas de abstração envolvidas tanto no software quanto no hardware, fica claro que a arquitetura de computadores não deve ser vista apenas como a estrutura interna do processador, mas como um sistema de interações complexas entre o código de alto nível, o compilador, a linguagem de montagem e o hardware. Este entendimento permite aos desenvolvedores criar programas mais eficientes e sustentáveis, capazes de evoluir ao longo do tempo sem depender excessivamente de detalhes específicos de hardware.
Como o Formato de Instruções MI Impacta a Eficiência e a Escalabilidade do Sistema
No desenvolvimento de sistemas como o AS/400, a necessidade de otimizar a quantidade de instruções e operandos não foi uma prioridade inicial. O código de operação (op-code) e seu extensor foram projetados para permitir uma expansão significativa da capacidade do processador, o que, por sua vez, implicaria em um aumento na complexidade e no consumo de memória. O código de operação ocupa 16 bits, assim como o extensor do código de operação, e o campo de cada operando foi inicialmente configurado para 16 bits no System/38, sendo posteriormente expandido para 24 bits. Isso possibilitou que um programa trabalhasse com até 16 milhões de operandos diferentes, com a possibilidade de aumentar ainda mais esse número. Contudo, a preocupação com a conservação de memória não era um fator crucial no projeto do modelo de instrução.
O exemplo da instrução Add Numeric ilustra bem esse ponto. A instrução exige 2 bytes para o código de operação, 2 bytes para o extensor do código e 9 bytes para os operandos. Isso totaliza 13 bytes, sem contar o espaço adicional necessário para os operandos na Tabela de Descritores de Operandos (ODT). Não é surpreendente, portanto, que os clientes do System/36 se queixassem do uso excessivo de espaço em disco pelos programas desenvolvidos.
A eficiência de memória foi então ajustada para acomodar operações mais complexas sem comprometer o desempenho. O formato de instrução MI foi projetado para oferecer flexibilidade, mas ao custo de um aumento significativo no tamanho das instruções. A tabela de código de operação MI (op-code) é um dos componentes-chave deste sistema. Nela, os bits 3 e 4 determinam se a instrução será uma operação computacional ou não computacional. Caso seja computacional, os bits 5 a 7 proporcionam informações adicionais sobre a instrução, enquanto os bits 8 a 15 definem a função a ser executada. A existência de uma operação de arredondamento, embora pareça ter uma relação com a aritmética de ponto flutuante, na verdade, faz parte de uma abordagem decimal no MI, uma vez que o AS/400 é uma máquina comercial que lida com dados decimais.
O conceito de "formato curto" também é significativo: a versão compacta da instrução realiza a operação entre dois operandos e coloca o resultado de volta no primeiro, o que elimina a necessidade de um terceiro operando, economizando espaço e simplificando a operação. A presença do extensor de código de operação, com 16 bits adicionais, permite que cada instrução tenha um número significativo de ramificações e opções de indicadores.
O extensor pode ser dividido em duas opções: a de ramificação e a de indicador. Se o bit 4 indicar a existência de um extensor, o bit 5 determina se a opção será de ramificação ou indicador. Na opção de ramificação, o extensor é dividido em quatro campos de 4 bits, cada um especificando uma condição de ramificação. Assim, se a condição for satisfeita, o próximo código de operação pode ser retirado de um local diferente da sequência de instruções. Essas condições permitem um controle muito mais granular sobre o fluxo do programa, mas aumentam o tamanho das instruções.
Considerando a opção de ramificação, se um campo de 4 bits contiver o valor 1, isso significará uma ramificação se o resultado da operação for positivo; se contiver o valor 2, a ramificação ocorrerá se o resultado for negativo, e assim por diante. Com isso, uma única instrução computacional pode ter até quatro condições de ramificação e, consequentemente, até quatro destinos diferentes para as instruções subsequentes. Embora isso permita uma grande flexibilidade na execução, o preço disso é o aumento no tamanho da instrução, o que pode levar a uma maior utilização de memória e a um aumento no tamanho total do programa.
A opção de indicador funciona de maneira semelhante à de ramificação, mas, em vez de mudar o fluxo da execução, ela define um indicador. Este indicador, que pode ser interpretado como uma variável binária, assume o valor 1 se a condição de ramificação for atendida e 0 caso contrário. Esse mecanismo de indicadores foi, inicialmente, uma característica dos sistemas RPG, e ainda é uma funcionalidade útil em muitos dos sistemas atuais, funcionando de forma análoga aos registradores de processadores modernos.
Com esse aumento no tamanho das instruções e nas opções de controle de fluxo, como a possibilidade de ramificações múltiplas e a definição de indicadores, o sistema AS/400, apesar de sua eficiência de execução, acaba por ter uma complexidade significativa no gerenciamento de programas e memória. O impacto disso é particularmente evidente no aumento do tamanho dos programas, o que pode ser um desafio para aqueles que buscam maximizar a utilização do espaço em disco e otimizar o tempo de processamento.
Endtext
Como escalar o ITSM com ITIL® 4 em ecossistemas empresariais complexos?
Como as Representações de Grupos e o Produto de Kronecker Revelam a Estrutura Interna das Álgebras Lineares

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский