A proposta de reforma imigratória apresentada pelo presidente Barack Obama nos Estados Unidos, em 2009, enfrentou uma série de desafios e divisões, tanto no Congresso quanto na sociedade americana. A proposta visava reformar o sistema de imigração, incluindo um caminho para a cidadania para imigrantes indocumentados, melhorando a segurança nas fronteiras, e aumentando os fundos para programas de reassentamento e integração. No entanto, a legislação nunca foi completamente aprovada, encontrando resistência tanto de grupos pró-imigração quanto de grupos contrários à imigração.
Os grupos favoráveis à imigração criticaram as disposições que aumentavam os recursos destinados à aplicação das leis nas fronteiras, enquanto os opositores da imigração consideraram insuficiente as medidas que ofereciam status legal e um caminho eventual para a cidadania para os imigrantes indocumentados. Isso resultou em uma paralisia legislativa que impediu que a reforma fosse concretizada.
Quando Obama assumiu o cargo em 2009, os Estados Unidos estavam imersos em uma recessão econômica severa. A falta de empregos e oportunidades econômicas levou a uma queda acentuada no número de pessoas tentando entrar ilegalmente no país. De fato, mais imigrantes indocumentados deixaram o país do que chegaram durante a recessão, o que fez com que a população indocumentada diminuísse para cerca de 11,4 milhões em 2010. Obama acreditava que essa mudança poderia ser uma oportunidade para atrair o apoio bipartidário para a reforma imigratória, propondo uma reestruturação completa do sistema, com o objetivo de equilibrar as necessidades de segurança nas fronteiras e os direitos dos imigrantes.
No entanto, a administração Obama também precisou mostrar seu compromisso com a segurança nas fronteiras para obter o apoio dos republicanos no Congresso. Para isso, intensificou os esforços para identificar e deportar imigrantes indocumentados, especialmente aqueles que apresentavam ameaça à segurança nacional, como terroristas, criminosos violentos e traficantes de drogas. A prioridade foi dada à deportação de imigrantes que haviam chegado recentemente aos Estados Unidos e de indivíduos que reincidiam nas violações das leis de imigração.
Essa abordagem, porém, teve efeitos indesejados. Ao focar na deportação de criminosos e recém-chegados, muitos imigrantes de longa data, que haviam estabelecido laços familiares e profissionais, foram deportados. A administração Obama, embora tenha alcançado números recordes de deportações, com quase 397 mil pessoas removidas em 2011, também enfrentou críticas por deportar imigrantes que, na visão de muitos defensores dos direitos humanos, não representavam uma ameaça significativa. Esses números fizeram com que Obama fosse apelidado de "o deportador-chefe" por muitos grupos pró-imigração.
Ainda assim, Obama justificou suas políticas, argumentando que as deportações estavam sendo feitas de maneira mais direcionada do que nas administrações anteriores, priorizando aqueles que realmente representavam uma ameaça, em vez de remover pessoas que haviam vivido nos Estados Unidos por muitos anos e que haviam formado famílias e comunidades. Mesmo assim, a questão da imigração se manteve um ponto de forte tensão, e as tentativas de reforma no Congresso não avançaram.
Em 2013, o Senado dos EUA aprovou um projeto de lei de reforma imigratória, a "Border Security, Economic Opportunity, and Immigration Modernization Act", que visava proporcionar um caminho para a cidadania para milhões de imigrantes indocumentados. No entanto, o projeto foi bloqueado na Câmara dos Deputados, com o Speaker John Boehner se recusando a levar o projeto a votação, alegando falta de confiança dos republicanos na abordagem do presidente. Diante disso, Obama tomou a decisão de adotar medidas unilaterais, por meio de ordens executivas, para implementar mudanças na política de imigração.
Em 2012, ele criou o programa DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals), que oferecia proteção temporária contra a deportação e permissão de trabalho para imigrantes indocumentados que chegaram aos EUA ainda crianças. Em 2014, Obama anunciou outras ações executivas para expandir o DACA e introduziu o DAPA (Deferred Action for Parents of Americans and Lawful Permanent Residents), que protegeria de deportação cerca de 4 milhões de imigrantes indocumentados que eram pais de cidadãos americanos ou residentes legais.
Essas medidas, embora promissoras para muitos, encontraram obstáculos legais, com um tribunal suspendendo sua implementação. Além disso, Obama também enfrentou uma crise na fronteira, em 2014, quando mais de 60 mil crianças migrantes não acompanhadas tentaram cruzar a fronteira entre os EUA e o México, um aumento significativo em relação aos anos anteriores. Essa situação exacerbada contribuiu para o desgaste da política imigratória da administração Obama, gerando uma pressão ainda maior para uma solução legislativa eficaz.
Embora o número de imigrantes indocumentados tenha diminuído durante o período de Obama, a política de imigração continuou sendo um tema polarizador e controverso nos Estados Unidos, com poucos progressos concretos em termos de reforma legislativa. A frustração com o impasse no Congresso levou muitos a questionar a eficácia das políticas de imigração, enquanto outros apontaram as falhas em uma abordagem que não conseguiu conciliar segurança nas fronteiras com os direitos dos imigrantes.
É importante entender que, enquanto a proposta de reforma abrangente de Obama visava uma mudança estrutural no sistema de imigração, a execução de políticas de imigração baseadas em ordens executivas demonstrou a complexidade de lidar com o tema de maneira eficaz e equilibrada. Em muitos casos, os imigrantes que contribuíam para a economia e sociedade dos EUA enfrentaram uma batalha constante contra a insegurança jurídica e a possibilidade de deportação. Além disso, a ideia de um caminho para a cidadania, uma das principais propostas de Obama, continuou sendo um ponto central de disputa política, com diferentes grupos tendo visões divergentes sobre como e quando tal caminho deveria ser implementado.
Como a Crise Migratória e o Medo da "Invasão" Moldaram o Discurso Político de Trump
Em 2018, durante a campanha para as eleições intermediárias nos Estados Unidos, o então presidente Donald Trump usou a migração como uma das principais bandeiras de sua estratégia política. Apresentando a caravana de migrantes centro-americanos como uma ameaça iminente à segurança nacional, Trump instigou um clima de medo, retratando-os como criminosos, terroristas e elementos perigosos. Ele não hesitou em caracterizar os migrantes como uma "invasão", chamando-os de "caravanas de criminosos" e "traficantes", tentando incutir um senso de urgência e pavor na população americana. A retórica agressiva e polarizadora fez com que, durante sua campanha, se criasse uma imagem de uma nação sendo invadida, a qual necessitava de defesa a todo custo.
No entanto, as alegações de Trump frequentemente se mostraram infundadas. Aclamadas como grandes fontes de perigo, as caravanas de migrantes eram compostas majoritariamente por mulheres e crianças, muitas das quais buscavam asilo em busca de proteção contra a violência e a pobreza extremas em seus países de origem. Um dado importante, que muitas vezes foi desconsiderado na narrativa construída por Trump e seus apoiadores, é que grande parte desses migrantes se apresentou voluntariamente nos postos de imigração para pedir asilo, em conformidade com as leis internacionais. Mesmo assim, o presidente insistia que, dentro dessas caravanas, havia terroristas infiltrados, afirmando, sem provas, que indivíduos de países como o Irã e o Oriente Médio estavam entre os migrantes.
Trump foi além de suas palavras, realizando ações concretas para "enfrentar" a ameaça que ele alegava estar se formando nas fronteiras. A administração enviou 7.000 soldados e membros da Guarda Nacional para reforçar a segurança no sul, erguendo cercas de arame farpado e montando tendas para abrigar possíveis detidos. O governo dos Estados Unidos também ameaçou cortar ajuda financeira de bilhões de dólares para países da América Central, como El Salvador, Guatemala e Honduras, alegando que suas lideranças não estavam tomando medidas suficientes para impedir as caravanas. Esta política, no entanto, foi amplamente criticada, uma vez que muitos desses fundos eram utilizados para combater os próprios problemas que impulsionavam os migrantes a fugir: pobreza, violência, corrupção e falta de oportunidades.
Ao mesmo tempo, o presidente insistia em responsabilizar os democratas por tudo o que acontecia na questão migratória, acusando-os de negligenciarem a segurança do país. Para muitos, isso não passava de uma estratégia eleitoral para galvanizar seu eleitorado, manipulando o medo e a xenofobia em sua campanha. Com a narrativa de que "os democratas não se importam com o que sua agenda migratória fará com os bairros, hospitais e escolas", Trump conseguiu mobilizar uma parcela significativa de seus eleitores, principalmente em estados swing, onde a questão da imigração sempre gerou divisões.
A retórica de Trump e suas ações acabaram por criar um cenário de grande confusão e frustração, principalmente para os migrantes que chegavam às fronteiras. Quando a caravana finalmente alcançou a cidade mexicana de Tijuana, os migrantes se viram confinados a abrigos superlotados, aguardando meses para realizar suas entrevistas de asilo. Sem alternativas imediatas, alguns tentaram cruzar a fronteira de maneira ilegal, o que resultou em confrontos violentos com a polícia de fronteira americana, que usou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Além da tensão política, o caso da caravana de migrantes também revelou as profundas divisões dentro da sociedade americana em relação à imigração. Para muitos opositores de Trump, a forma como ele tratou a questão, exacerbando a percepção de uma invasão, representava um exemplo claro de xenofobia. Em contraste, os apoiadores viam isso como uma tentativa de proteger os valores e a segurança nacional. A forma como o presidente abordou o tema foi constantemente criticada por desinformação, mas também revelou a habilidade de manipulação do medo para fins eleitorais.
O que ficou claro após o fim das eleições de 2018, no entanto, foi que a “invasão” que Trump havia retratado não passava de uma construção política. Depois de ter usado o tema incessantemente durante a campanha, ele abandonou a questão logo após o pleito, sem nenhuma ação significativa para resolver a situação da fronteira. Esse giro, observam os críticos, foi uma demonstração do caráter oportunista e eleitoral de sua retórica, que se apagou assim que ele alcançou seus objetivos imediatos.
Entretanto, é importante considerar que a manipulação política da imigração por Trump não se limitou às palavras. As políticas da sua administração, como a separação de famílias nas fronteiras e a negação de pedidos de asilo para centenas de migrantes, criaram uma crise humanitária que continua a ser debatida até hoje. A utilização de temas como a "invasão" e a "ameaça" migratória como ferramentas de divisão, visando a polarização do eleitorado, teve um impacto significativo nas percepções sobre imigração, tanto dentro dos Estados Unidos quanto internacionalmente.
Como as Políticas de Imigração e o Racismo Estrutural Afetam a Saúde e Bem-Estar das Comunidades Imigrantes nos EUA
A imigração sempre foi um tema central nas discussões políticas e sociais dos Estados Unidos, mas a forma como é tratada pelas autoridades, especialmente em tempos de políticas restritivas, tem implicações profundas para as comunidades imigrantes, particularmente as que chegam de forma irregular. Laura Wood, pesquisadora da área, observa que as famílias imigrantes muitas vezes enfrentam formas de racismo estrutural que as transformam em "outros" desvalorizados e desumanizados pela sociedade mais ampla. Este processo, de acordo com Wood, tem consequências devastadoras, especialmente em termos de saúde e bem-estar, criando um ciclo de desigualdades difíceis de quebrar.
As decisões políticas recentes nos EUA, que frequentemente visam aumentar a hostilidade em relação aos imigrantes, são apontadas como um fator chave para o aumento do estresse e da marginalização de comunidades latinas e de outros grupos imigrantes. Essa hostilidade não só afeta a saúde física e mental, mas também o acesso a serviços de saúde, agravando ainda mais as disparidades. O impacto dessas políticas vai além do nível individual, afetando o tecido social de maneira mais ampla. A separação de famílias, a detenção e a deportação criam uma sensação de insegurança e alienação, dificultando a integração e o bem-estar dessas populações.
A crise gerada pelas políticas anti-imigração tem repercussões que vão além da esfera social. Diversos estudos apontam que atitudes negativas em relação aos imigrantes têm um efeito direto sobre a economia e a competitividade global dos Estados Unidos. As restrições à imigração legal, por exemplo, podem levar à perda de trabalhadores qualificados, que desempenham papéis essenciais em diversos setores, incluindo a segurança nacional e a economia de trabalho altamente especializada. A relação com outros países também se vê prejudicada, uma vez que atitudes xenofóbicas minam a imagem internacional do país e sua capacidade de defender os direitos humanos globalmente.
Além das questões econômicas e sociais, as políticas migratórias rígidas também afetam a política interna dos Estados Unidos. Embora a retórica de Donald Trump, que muitas vezes apelava ao racismo e xenofobia, tenha mobilizado a sua base, também provocou uma reação contrária significativa, especialmente de eleitores moderados e de grupos minoritários. As eleições de 2018 mostraram uma mobilização de eleitores latinos e de outras etnias, que, com sua participação maciça, ajudaram a dar início a uma onda de mudança política. O crescente poder do voto latino, que representa agora um bloco de 32 milhões de eleitores, foi um reflexo claro da resistência à narrativa anti-imigração promovida por certas figuras políticas.
Em resposta a essa crise, muitos membros da comunidade latina intensificaram sua participação política, buscando não só derrubar as políticas de imigração discriminatórias, mas também melhorar a representação da comunidade na mídia e em diversas esferas de poder. Artistas, atores, e líderes de diversas origens latinas se uniram para exigir justiça e dignidade, denunciando os ataques racistas e as injustiças enfrentadas por aqueles que cruzam as fronteiras em busca de uma vida melhor.
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa resposta foi o movimento crescente entre os latinos que buscaram se tornar advogados especializados em imigração ou terapeutas, com o intuito de oferecer apoio emocional e legal para aqueles afetados pela separação de famílias, detenções e deportações. Outros, conscientes da necessidade de combater os estereótipos, se engajaram ativamente na promoção de uma representação mais justa e precisa dos 60 milhões de latinos vivendo nos Estados Unidos.
A luta contra essas políticas de imigração opressivas também reflete um conflito mais profundo sobre a identidade nacional dos Estados Unidos. As tensões entre uma visão nacionalista, que promove a exclusão, e uma América plural e inclusiva, com um grande número de cidadãos de diversas etnias, estão no centro dessa batalha política. Aqueles que defendem uma nação multicultural e multirracial se veem como os verdadeiros defensores do espírito americano, que se baseia na união e na diversidade.
Além de compreender os impactos sociais e econômicos das políticas de imigração, é crucial que o leitor também reflita sobre o impacto psicológico dessas políticas nas comunidades afetadas. A criminalização dos imigrantes, especialmente aqueles sem documentos, gera um ambiente de medo constante, o que, por sua vez, prejudica a saúde mental e o bem-estar de crianças e adultos. Esta contínua desumanização não só enfraquece as bases do sistema de saúde, mas também mina a confiança das pessoas imigrantes no próprio sistema de justiça e serviços públicos.
Ao compreender o contexto de como o racismo
Como a Separação Familiar e a Detenção Afetam Crianças Migrantes?
Em meio à crescente criminalização da migração nos Estados Unidos, políticas de tolerância zero resultaram na separação sistemática de famílias e na detenção prolongada de crianças em abrigos federais. As imagens das chamadas “gaiolas” de arame em centros de detenção, como os de McAllen e Tornillo, causaram indignação mundial. No entanto, a devastação não se limita ao plano simbólico ou político — os impactos sobre o desenvolvimento emocional, cognitivo e neurológico das crianças são duradouros e, muitas vezes, irreversíveis.
Estudos conduzidos por especialistas em saúde mental, como Laura Wood, evidenciam que crianças separadas de seus pais enfrentam níveis extremos de estresse tóxico. Esse tipo de estresse prolongado, não mediado por figuras de apego, interfere diretamente no desenvolvimento do cérebro, afetando áreas responsáveis pela memória, regulação emocional, aprendizado e empatia. Crianças pequenas expostas a esse tipo de ruptura relacional podem manifestar sintomas que vão desde distúrbios de sono e regressão comportamental até quadros clínicos de depressão e transtorno de estresse pós-traumático.
Relatos colhidos em abrigos revelam um cenário de silêncio e retraimento. Algumas crianças param de falar, outras choram ininterruptamente, chamando pelos pais que não sabem se voltarão a ver. O próprio sistema dificulta ou impede o contato regular com a família, seja por barreiras burocráticas, seja por intencionalidade política. O efeito é cumulativo: o trauma da travessia, frequentemente marcada por violência e privação, é seguido por um segundo trauma — a institucionalização forçada.
A legislação norte-americana não está desprovida de normas que buscam limitar a duração e as condições da detenção infantil. O Acordo Flores, resultado do caso Flores v. Reno, estabelece que crianças migrantes devem ser mantidas em condições “seguras e sanitárias” e, sempre que possível, liberadas rapidamente para custódia de familiares ou responsáveis. Ainda assim, o cumprimento desse acordo tem sido negligenciado ou reinterpretado para servir a interesses políticos. Casos judiciais subsequentes demonstram como o Departamento de Segurança Interna dos EUA e a Imigração e Alfândega têm contornado os princípios básicos de proteção infantil.
A política de separação familiar, sob a justificativa de dissuasão, foi aplicada de forma deliberada pela administração Trump. Diversos memorandos internos revelam que a separação não era um efeito colateral, mas um objetivo estratégico. Ao tratar crianças como instrumentos de coerção, o Estado institucionalizou o sofrimento como ferramenta de controle migratório.
Além do impacto imediato sobre a saúde mental, há também a desintegração do senso de identidade e pertencimento das crianças. Quando a relação de apego primário é rompida, a capacidade da criança de desenvolver confiança em outras pessoas e em estruturas sociais se enfraquece. Essa erosão do vínculo humano compromete profundamente a construção da autonomia e da autoestima. Pesquisadores como Megan Gunnar demonstram que, mesmo após a reunificação familiar, os efeitos da separação prolongada podem persistir por toda a vida adulta, manifestando-se em distúrbios de ansiedade, isolamento afetivo e dificuldades de regulação emocional.
O ambiente das instalações de detenção agrava ainda mais o quadro. Muitas vezes, essas estruturas não atendem ao critério mínimo de salubridade e dignidade. Testemunhos documentam a ausência de camas, roupas adequadas, acesso à higiene pessoal e assistência psicológica básica. O conceito de “seguro e sanitário”, previsto legalmente, é desprovido de sentido quando interpretado de forma meramente técnica, ignorando as necessidades afetivas e humanas das crianças.
É importante compreender que essas políticas não ocorrem no vácuo. Elas são sustentadas por discursos políticos e narrativas midiáticas que desumanizam os migrantes, associando-os ao perigo, à ilegalidade ou à ameaça econômica. Essa construção simbólica legitima a suspensão de direitos básicos sob o pretexto de segurança nacional. A retórica da excepcionalidade, frequentemente mobilizada para justificar ações emergenciais, é usada como escudo para normalizar o abuso estrutural contra populações vulneráveis.
É essencial também considerar que, ao separar uma criança de seu cuidador primário, o Estado não apenas viola normas internacionais de direitos humanos, como a Convenção sobre os Direitos da Criança, mas também compromete a própria integridade moral da sociedade que consente com tal prática. O trauma infligido às crianças migrantes transcende o tempo da detenção: ele se inscreve no corpo, na linguagem e na memória como cicatriz duradoura de uma violência institucionalizada.
A compreensão da magnitude desses danos exige um olhar que vá além das estatísticas ou das manchetes. Trata-se de uma violência silenciosa, muitas vezes invisível, mas de potência destrutiva inquestionável. Ela compromete gerações inteiras e configura uma forma de exclusão que começa na infância e se perpetua no tecido social.
Para o leitor, é fundamental perceber que, além dos efeitos psicológicos imediatos, há uma interseção entre essas práticas e a lógica histórica de controle de corpos racializados e empobrecidos. O encarceramento infantil de migrantes não é um erro isolado de política pública: é expressão de uma continuidade histórica que abrange desde os internamentos forçados de populações indígenas até os sistemas contemporâneos de encarceramento em massa. É nessa interseção entre raça, pobreza, exclusão e poder estatal que se inscreve o verdadeiro significado da separação familiar como prática de governo.
A Imigração e a Reforma nos EUA: Entre a Segurança Nacional e a Tradição de Acolhimento
Nos últimos anos, os Estados Unidos se encontraram em um impasse político sobre a reforma da imigração. Conforme o tempo passou, as discussões sobre imigração evoluíram de um debate social e econômico para um assunto de segurança nacional, entrelaçado com questões de identidade e políticas tribais. A partir de 2001, o país viu suas políticas migratórias se transformarem substancialmente, refletindo uma visão de que as fronteiras não eram apenas uma questão de economia, mas uma questão de proteger a nação de ameaças externas.
O presidente George W. Bush, que assumiu a presidência em 2001, trouxe uma perspectiva única para o debate sobre imigração, moldada por sua experiência como governador do Texas, um estado com uma longa fronteira com o México. Bush reconheceu as contribuições dos imigrantes, especialmente dos mexicano-americanos, para a cultura e economia dos EUA, e acreditava que os Estados Unidos poderiam ser ao mesmo tempo uma sociedade de leis e uma nação acolhedora. Ele afirmou que a imigração não deveria ser vista como uma contradição, mas como uma parte integral da identidade nacional.
Contudo, após os ataques de 11 de setembro de 2001, a política de imigração nos EUA sofreu uma transformação. A imigração, antes considerada uma questão de bem-estar social e crescimento econômico, passou a ser encarada como uma questão de segurança nacional. Os atentados, perpetrados por estrangeiros que entraram legalmente no país com vistos de turista, de negócios ou de estudante, despertaram uma nova percepção sobre os riscos de uma imigração descontrolada. O Congresso aprovou, então, o USA Patriot Act, que ampliou os poderes das autoridades para monitorar, deter e deportar estrangeiros com base em suspeitas de atividades terroristas.
Além disso, em 2002, foi criada a Secretaria de Segurança Interna (DHS), que uniu diversas agências federais com a missão de proteger os Estados Unidos contra ameaças externas, incluindo terrorismo, desastres naturais e, claro, a segurança das fronteiras. Três principais agências desempenhavam papéis críticos na segurança das fronteiras e na execução das leis de imigração: o Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA (CIS), a Patrulha de Fronteira dos EUA (CBP) e o Serviço de Imigração e Fiscalização de Alfândega (ICE). Juntas, essas entidades assumiram as responsabilidades da extinta Inspeção de Imigração e Naturalização (INS).
Apesar do fortalecimento da segurança e do aumento do orçamento para patrulhamento da fronteira durante os dois mandatos de Bush, com um aumento no número de agentes e a construção de cercas e sistemas de vigilância, o número de imigrantes indocumentados continuou a crescer, passando de 8,6 milhões em 2000 para mais de 12 milhões em 2007. Esse aumento gerou críticas intensas, especialmente entre os republicanos conservadores, que viam os imigrantes ilegais como uma ameaça à segurança dos empregos dos trabalhadores americanos. No entanto, Bush rejeitou tanto a ideia de uma anistia para imigrantes indocumentados quanto a proposta de deportação em massa. Ele acreditava que uma abordagem equilibrada, que permitisse aos trabalhadores indocumentados pagar uma multa, aprender inglês, passar por uma verificação de antecedentes criminais e esperar na fila para a cidadania, seria a mais sensata. Ele também propôs a criação de um programa temporário de trabalhadores estrangeiros, que permitiria a entrada legal de imigrantes para preencher lacunas no mercado de trabalho americano.
Embora a tentativa de Bush de implementar uma reforma abrangente tenha encontrado resistência tanto entre os democratas quanto entre os republicanos, ele continuou a defender que todos os aspectos da imigração deveriam ser abordados simultaneamente para que a questão fosse resolvida de forma eficaz. A proposta de uma reforma que incluísse medidas para melhorar a segurança das fronteiras, a criação de caminhos legais para trabalhadores temporários e a regularização de imigrantes indocumentados ficou no centro do debate político durante sua presidência.
Esses eventos mostram que a imigração não é apenas uma questão de números e políticas governamentais, mas também de valores e identidade. Ao longo dos anos, a imigração se tornou mais do que uma questão política; ela passou a ser um reflexo das divisões internas da sociedade americana. A tensão entre a necessidade de garantir a segurança nacional e a tradição de ser uma nação acolhedora permanece um desafio que ainda precisa ser resolvido.
Ao abordar a imigração, é crucial entender que o tema não pode ser reduzido a números e estatísticas. A imigração envolve pessoas, histórias de vida e desafios diários. Portanto, qualquer reforma deve considerar as complexidades humanas, além das questões legais e econômicas. O desafio é encontrar um equilíbrio entre a segurança, a equidade e a humanidade.
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