A aplicação dos eletrodos na pele é fundamental para o sucesso da eletroestimulação neuromuscular (NMES) e da estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) em cães. Alguns eletrodos são revestidos com polímeros condutores, enquanto outros, feitos de carbono com silicone-borracha, utilizam gel aquoso para garantir a condução elétrica. Em cães com pelagem densa, pode ser necessário aparar os pelos para melhorar a transmissão da corrente, embora, na maioria das vezes, a aplicação de gel seja suficiente para estabelecer uma boa interface entre o eletrodo e a pele.

A escolha do tamanho do eletrodo é decisiva. Eletrodos pequenos são úteis para pacientes menores ou áreas restritas, porém, podem causar desconforto devido à maior densidade de corrente. Por isso, sempre que possível, deve-se optar por eletrodos maiores, que proporcionam maior conforto sem permitir que a corrente se espalhe para músculos adjacentes, evitando estímulos indesejados. Além disso, os eletrodos nunca devem se tocar nem entrar em contato por meio do gel condutor, pois isso cria um curto-circuito que impede a corrente de penetrar nos tecidos do paciente. A distância adequada entre os eletrodos não só previne esse problema, mas também influencia diretamente a força da contração muscular, independentemente da intensidade aplicada.

No início dos tratamentos com NMES, a posição relaxada do paciente facilita a receptividade à estimulação. A recomendação é utilizar o modo de saída contínua para aumentar gradualmente a intensidade até que uma contração muscular satisfatória seja obtida. Posteriormente, pode-se alternar para o modo de saída desejado durante toda a sessão. Com a familiarização do cão à sensação, o uso da NMES em posições funcionais, como a posição de apoio em pé, potencializa a aprendizagem motora e melhora a transferência para atividades reais.

Os parâmetros recomendados para fortalecimento muscular via NMES incluem frequências entre 25 e 50 Hz, duração de pulso entre 100 e 400 microssegundos, rampas de subida e descida de 2 a 4 segundos, e uma proporção de tempo ligado/desligado entre 1:3 e 1:5, sendo esta última mais indicada para músculos mais fracos para evitar fadiga. A amplitude deve ser suficiente para provocar contrações vigorosas, essenciais para ganhos de força, e as sessões podem variar entre três e sete vezes por semana.

Na aplicação da TENS, os eletrodos são posicionados diretamente sobre áreas dolorosas, nervos periféricos, raízes nervosas espinhais ou pontos de acupuntura, podendo-se testar diferentes arranjos para otimizar o efeito analgésico. Quando a TENS é empregada para melhorar a flexibilidade em casos ortopédicos, recomenda-se realizar o alongamento após a sessão para minimizar o desconforto. Em pacientes neurológicos com espasticidade, a aplicação do alongamento deve ocorrer durante ou imediatamente após o tratamento com TENS no músculo antagonista.

Os parâmetros típicos da TENS incluem frequências entre 30 e 150 Hz, duração do pulso de 50 a 100 microssegundos, e amplitude ajustada para uma resposta sensorial confortável que permita analgesia eficaz. A duração da sessão varia conforme a finalidade e a resposta do paciente. É imprescindível que o terapeuta esteja sempre apto a ajustar os parâmetros para maximizar os resultados clínicos.

É essencial observar precauções rigorosas na eletroterapia. Áreas com diminuição da sensibilidade, feridas abertas ou irritações cutâneas devem ser evitadas para prevenir complicações. Pacientes com osteoporose apresentam risco aumentado de fraturas, e a adiposidade excessiva pode dificultar a condução elétrica adequada. A estimulação direta sobre o coração, áreas infectadas ou cancerosas, tronco durante a gestação, locais com trombose ou tromboflebite, região do seio carotídeo ou faringe, e em pacientes com distúrbios convulsivos é contraindicada. A presença de marca-passo cardíaco é uma contraindicação relativa, desde que o músculo estimulado esteja a distância segura do dispositivo e o paciente seja estável para o procedimento.

A monitorização constante da pele sob os eletrodos é mandatória para identificar e prevenir queimaduras e outras irritações. Essas complicações, embora raras, podem comprometer a continuidade do tratamento e a integridade cutânea do paciente.

Além dos aspectos técnicos, é importante compreender que a eletroterapia integra-se a um protocolo multidisciplinar que inclui manejo da dor, terapias manuais, exercícios terapêuticos e orientações domiciliares para o sucesso da reabilitação. O conhecimento detalhado sobre os parâmetros e posicionamento dos eletrodos, assim como o entendimento das contraindicações e adaptações necessárias, são determinantes para o alcance dos objetivos funcionais em pacientes caninos.

Qual a Importância do Planejamento Adequado em Programas de Reabilitação para Animais?

O sucesso de um programa de reabilitação está intrinsicamente ligado à avaliação regular dos pacientes. Isso garante que a intensidade do exercício seja ajustada de forma a desafiar o corpo e promover ganhos, sem causar lesões. A quantidade de esforço exigido pelo animal deve ser cuidadosamente planejada, respeitando as limitações e os estágios de recuperação dos tecidos lesados. No processo de recuperação, os exercícios devem ser aplicados de acordo com a fase de cicatrização do tecido. Durante a fase aguda, os exercícios são evitados. Na fase subaguda, inicia-se o trabalho com exercícios de carga progressiva, equilíbrio e amplitude passiva de movimento (PROM), e, finalmente, na fase crônica de cicatrização, começam os treinamentos com cargas e intensidades crescentes, visando melhorar a força, a amplitude ativa de movimento e a resistência do animal.

É fundamental que os exercícios prescritos para serem realizados em casa contemplem períodos de descanso adequados, com 1 a 2 dias de folga a cada semana de treino intensivo. O corpo precisa de tempo para se recuperar dos microtraumas causados pela aplicação de estresse fisiológico nos tecidos. Muitos tutores tendem a insistir em exercícios diários, mas se não for dada a devida importância ao descanso e à recuperação, existe o risco de sobrecarregar o animal, resultando em inflamação excessiva e, consequentemente, prejudicando o desempenho atlético. Uma abordagem que se pode adotar, nesses casos, é orientar o tutor a focar em componentes específicos do exercício em dias alternados. Por exemplo, o treinamento proprioceptivo, o equilíbrio e o alongamento ativo podem ser feitos diariamente, o fortalecimento do core duas vezes por semana, o fortalecimento dos membros torácicos e pélvicos em dias alternados, enquanto o treinamento cruzado (alternando entre resistência e força) deve ocorrer no máximo a cada dois dias, exceto se o animal for um atleta de alta performance.

Quando se prescreve um exercício terapêutico como parte de um programa de reabilitação, é essencial ter metas específicas em mente. A prescrição de terapia para fortalecer um cão sem um plano claro sobre como alcançar esse objetivo pode resultar em respostas subótimas ao tratamento. O uso do acrônimo SMART ajuda os clínicos a formular metas adequadas para o sucesso do paciente:

  • Específica: O exercício será particular à condição, à estrutura ou tecido de interesse, e ao resultado desejado.

  • Mensurável: A resposta ao exercício será mensurável, como aumento da circunferência muscular, suporte de peso em um analisador de postura, melhora na goniometria, habilidade de transitar independentemente ou aumento de força.

  • Atingível: O exercício não deve ser excessivamente extenuante para o paciente e pode ser realizado dentro de um tempo razoável com o esforço adequado.

  • Relevante: O exercício deve ser apropriado para o paciente, levando em consideração a fase de cicatrização, a força atual e o objetivo do resultado terapêutico.

  • Com prazo definido: Deve ser determinado um período para alcançar a meta. Por exemplo, uma meta SMART para um paciente com uma osteotomia de cabeça femoral realizada há dois meses e que apresenta redução na extensão do quadril poderia ser: O paciente colocará seus membros torácicos sobre uma superfície elevada por 30 segundos, repetindo seis vezes, três vezes por semana, aumentando gradualmente a elevação para alcançar um aumento de 15° na extensão.

Quando o objetivo é alcançar metas funcionais específicas, o movimento biomecânico de cada exercício e o que pode ser esperado dele são fundamentais. Alguns exercícios podem alterar a amplitude de movimento articular, melhorar a flexibilidade e ativar músculos específicos de forma mais eficaz. Para auxiliar na escolha do exercício mais adequado, é possível consultar tabelas que indicam os músculos de suporte envolvidos em movimentos específicos, permitindo um foco no fortalecimento muscular necessário para cada objetivo.

A avaliação do desempenho dos exercícios é essencial para garantir que o paciente esteja realizando corretamente a atividade prescrita. Inicialmente, é importante que o paciente entenda o que se espera dele, para que sejam feitas repetições de prática. Depois, o clínico deve observar a execução do exercício, garantindo que o paciente mantenha uma forma adequada durante a atividade. Caso o paciente consiga manter a forma correta (sem evidências de compensações, como desalinhamento da coluna, deslocamento do peso ou mudanças no padrão de movimento) durante todas as repetições prescritas, isso indica que o exercício foi realizado corretamente. Se o paciente só conseguir executar uma ou duas repetições sem perder a forma, o exercício é provavelmente muito exigente. Por outro lado, se o paciente não mostrar sinais de fadiga, o exercício pode ser muito fácil. No entanto, é importante evitar usar apenas a fadiga como critério de sucesso, pois alguns animais não têm o "botão de desligar" e podem continuar até se lesionar.

O número ideal de repetições de exercício continua sendo um ponto debatido entre os especialistas. No entanto, a chave para uma recuperação bem-sucedida reside na capacidade de adaptar os exercícios ao ritmo de cicatrização do paciente e na conscientização da importância do descanso para evitar a sobrecarga.

Como a Terapia Aquática Pode Ajudar no Tratamento de Distúrbios Musculoesqueléticos em Cães

A terapia aquática tem se consolidado como uma abordagem eficaz no tratamento de diversas condições musculoesqueléticas em cães, especialmente em casos pós-operatórios ou de lesões que exigem reabilitação controlada. O uso da Terapia Aquática em Treadmill Submerso (UWTM) é uma das opções mais indicadas, pois oferece um ambiente mais controlado, limitando os riscos e proporcionando uma recuperação mais direcionada. No entanto, sua aplicação depende da condição específica do animal e do estágio da lesão.

O UWTM é particularmente útil em cães que passaram por substituição total da articulação do quadril. Nessas situações, nadar pode ser contraproducente, pois exerce uma pressão excessiva nos tecidos moles da articulação coxofemoral, além de ser um ambiente menos controlado. O uso de água em níveis progressivamente mais baixos, conforme o cão ganha força e confiança, facilita um tratamento mais seguro e eficaz. Os cães com dificuldade para nadar, como os de raças pequenas que tendem a abduzir e rotacionar externamente os quadris, também podem se beneficiar mais do UWTM, pois a água proporciona suporte e resistência ao movimento sem as complicações do abalo físico causado pela natação convencional.

Em cães com doenças articulares específicas, como luxação patelar medial ou distúrbios no ligamento cruzado craniano (CCL), a terapia aquática deve ser introduzida de maneira gradual, respeitando o nível de flexão e mobilidade funcional da articulação. Para os cães com lesões no ligamento cruzado, por exemplo, a natação deve começar apenas quando a dor e a inflamação desaparecerem, sendo recomendada a utilização de níveis mais altos de água nas fases iniciais. Para lesões mais graves, o UWTM é iniciado após a cicatrização das incisões, com a água posicionada em um nível mais alto, reduzindo progressivamente conforme o animal ganha força e flexibilidade. Este protocolo permite um controle melhor sobre a recuperação e evita sobrecarga nos tecidos moles.

Em relação à luxação patelar, a ênfase recai sobre o fortalecimento dos músculos quadríceps e isquiotibiais. O aumento do tônus do músculo sartorius deve ser cuidadosamente monitorado, uma vez que um excesso de tônus pode desviar a patela medialmente, agravando a condição. O tratamento pós-operatório de transposição da tuberosidade tibial, por exemplo, exige que a natação só seja iniciada após o sexto mês da cirurgia, devido ao risco de tensões excessivas no tendão patelar. O UWTM, em níveis mais elevados de água, pode ser iniciado logo após a cicatrização da incisão, sem causar os impactos negativos da natação convencional.

A displasia coxofemoral é outra condição em que a terapia aquática tem se mostrado benéfica. Para os cães não submetidos à cirurgia, é essencial que o controle da dor, a amplitude de movimento funcional e o equilíbrio muscular estejam adequados antes do início do tratamento. A terapia aquática deve ser realizada com foco na liberação da tensão dos músculos flexores e adutores, que geralmente se apresentam rígidos, e no fortalecimento dos músculos extensores e abdutores, frequentemente enfraquecidos. Já para pacientes que passaram por ostectomia ou femoral head ostectomy (FHO), o UWTM pode ser iniciado logo após a cicatrização das incisões, com atenção especial para a utilização ativa da perna envolvida. Nesses casos, o uso adequado da água facilita o movimento sem forçar articulações vulneráveis.

Para distúrbios da articulação do cotovelo e condições do ombro, como osteocondrose (OCD), a terapia aquática também se mostra eficaz, pois promove o fortalecimento muscular e o controle da carga sobre as articulações afetadas. No entanto, em casos de lesões musculares ou tendinites, os exercícios excêntricos, realizados fora da água, podem ser mais indicados do que a natação. A terapia aquática tem suas limitações, sendo mais eficaz no tratamento de atrofias musculares e na estabilização das articulações afetadas.

Nos casos pós-operatórios, como em hemilaminectomias para tratamento de hérnias de disco, o UWTM pode ser utilizado de forma gradual. Inicialmente, é importante trabalhar na mobilização suave e controle da temperatura da água, permitindo que o animal relaxe e os músculos sejam ativados sem sobrecarregar as articulações e tecidos em recuperação. As fases subsequentes envolvem a progressão do tempo e a intensidade do movimento dentro da água, sempre ajustando a profundidade e a velocidade para acompanhar o progresso do paciente.

Além disso, um aspecto importante da terapia aquática é a redução do risco de lesões secundárias durante o processo de reabilitação. Embora a água ajude a aliviar o impacto sobre as articulações, ela também cria resistência, o que estimula o fortalecimento muscular sem os riscos associados aos exercícios em superfícies duras. Por isso, os profissionais devem avaliar cuidadosamente a condição de cada animal, levando em conta fatores como a gravidade da lesão, o tempo de recuperação e o nível de mobilidade do paciente.

É crucial que o plano de tratamento seja individualizado, levando em consideração não apenas a condição clínica, mas também o comportamento do animal. Cães mais agressivos podem ser mais facilmente controlados na água, devido à redução da confiança e ao suporte proporcionado pelo ambiente aquático. Já os cães menores, ou aqueles que ficam excessivamente excitados, tendem a se comportar melhor em um ambiente controlado como o UWTM, em comparação com a piscina.

Como a Neuroplasticidade e a Terapia Baseada na Atividade Promovem a Recuperação Funcional em Lesões Neurológicas

A neuroplasticidade é a capacidade intrínseca do sistema nervoso de se modificar estruturalmente e funcionalmente em resposta a estímulos, experiências e demandas ambientais. Esse fenômeno inclui a reorganização de conexões neuronais, formação de novas sinapses e ativação de vias alternativas para compensar funções perdidas. A plasticidade adaptativa, especialmente desejada em contextos de reabilitação, aprimora a eficiência, especificidade e precisão dos programas motores, facilitando a recuperação funcional. A estrutura redundante das redes neurais permite que funções previamente comprometidas sejam restabelecidas por meio de caminhos alternativos, estimulados por processos como brotamento neuronal e reativação de conexões latentes.

A aplicação precoce de programas de reabilitação é fundamental, aproveitando esse potencial de reorganização neural enquanto as vias originais ainda estão em processo de regeneração. O progresso e a manipulação cuidadosa das variáveis de prática durante os exercícios terapêuticos promovem o aprendizado motor, reforçando a neuroplasticidade. O uso concomitante de dispositivos assistivos mecânicos, modalidades eletroterapêuticas, terapias descompressivas e técnicas manuais durante atividades funcionais também potencializa a recuperação, estimulando receptores sensoriais nas regiões afetadas e promovendo a reorganização cortical. A estimulação sensorial ampliada, realizada de forma manual ou mecânica, apoia o paciente durante a execução das tarefas, podendo ser gradualmente reduzida à medida que o controle motor independente e a percepção sensorial retornam.

A terapia baseada na atividade (ABT), ou terapia orientada a tarefas, é uma abordagem neurorehabilitativa que se baseia em protocolos terapêuticos padronizados e fundamentados em evidências para acelerar a recuperação, restaurar a função e aumentar a neuroplasticidade. No contexto de lesões medulares, as intervenções baseadas em atividades focam na melhora da função muscular e percepção sensorial abaixo do nível da lesão, buscando promover a recuperação neural e funcional além da simples compensação das deficiências.

A ABT fundamenta-se em princípios provenientes da psicologia experimental, fisiologia do exercício e neurociência, e considera aspectos físicos, mentais e sociais da reabilitação para aprimorar a qualidade de vida e recuperar habilidades funcionais. O método privilegia a utilização de atividades intencionais e estruturadas, adaptadas às necessidades individuais, para alcançar tarefas funcionais. O modelo contemporâneo do controle motor entende que não existe uma única forma ideal de realizar um movimento, mas múltiplas soluções motoras possíveis que atingem o mesmo objetivo. Contudo, em pacientes com déficits neurológicos, a redundância cinemática — ou seja, a variedade de padrões de movimento para realizar a mesma tarefa — está reduzida, devido à disfunção nos receptores sensoriais, vias neurais e efetores motores.

O princípio da equivalência motora orienta a ABT, estimulando o paciente a descobrir suas próprias soluções motoras para completar tarefas, evitando o uso de padrões prejudiciais que possam causar dor, contraturas ou a chamada “não utilização aprendida” — quando um membro afetado não é usado mesmo que a função motora esteja preservada. Entre as estratégias-chave da ABT destacam-se a Estimulação Elétrica Funcional (FES), a Terapia de Movimento Induzido por Restrição (CIMT) e o treino locomotor, que combinam tecnologia, dispositivos assistivos e atividades terapêuticas.

A Estimulação Elétrica Funcional aplica estímulos elétricos neuromusculares em posições funcionais ou durante atividades específicas, auxiliando não só na contração muscular, mas também na entrada sensorial durante tarefas, estimulando a neuroplasticidade. No contexto veterinário, por exemplo, a FES pode ser usada em treinamento locomotor em esteira, transições posturais e atividades estáticas, sendo eficaz em lesões periféricas e do sistema nervoso central, além de sua aplicação na medicina esportiva para aprimorar o aprendizado motor através do feedback sensorial.

A Terapia de Movimento Induzido por Restrição visa reduzir estratégias compensatórias, forçando o uso de um membro enfraquecido mas funcional. Essa prática, realizada com alta frequência e duração prolongada, reativa vias neurais inativas e fortalece circuitos neuronais adormecidos. Protocolos personalizados para pacientes caninos, por exemplo, podem incluir o uso de restritores específicos que promovem o uso do membro comprometido, ajustando a intensidade e a duração para maximizar o efeito neuroplástico, sempre monitorando as alterações biomecânicas induzidas.

O treino locomotor se baseia na ativação do gerador central de padrões (CPG), capaz de produzir movimentos rítmicos independentes do cérebro, embora modulados por sinais descendentes do sistema nervoso central. Essa abordagem busca restaurar a marcha funcional em pacientes com lesões medulares por meio da estimulação repetitiva e sistemática do CPG, favorecendo a recuperação reflexa e voluntária da marcha.

Além dos protocolos específicos, é crucial compreender que a neuroplasticidade não é um processo automático nem homogêneo. A reabilitação deve ser intensiva, orientada e individualizada, com variação e repetição adequadas para estimular circuitos neurais e permitir a consolidação do aprendizado motor. A integração de múltiplos estímulos — motores, sensoriais e cognitivos — potencializa a reorganização neural e otimiza a recuperação. A compreensão das limitações inerentes ao grau de lesão e do potencial de recuperação é essencial para o ajuste das intervenções e para evitar estratégias que possam induzir compensações deletérias ou limitar o ganho funcional.

A recuperação funcional em lesões neurológicas depende de uma abordagem multifacetada que combina os avanços da neurociência com protocolos terapêuticos baseados na atividade, tecnologia e uma visão integrativa do indivíduo. O equilíbrio entre a estimulação intensiva e a adaptação às necessidades e respostas do paciente é fundamental para alcançar resultados duradouros e significativos.

Como fortalecer os membros pélvicos e torácicos do cão por meio de exercícios específicos

O treinamento direcionado dos membros pélvicos em cães pode ser iniciado com um exercício simples, mas eficaz: posicionar os membros pélvicos sobre um suporte elevado, como uma caixa a 8 a 10 cm do chão, um recipiente virado ou qualquer objeto estável dessa altura. O condutor deve posicionar-se ao lado do cão, utilizando um petisco para desviar a atenção da cabeça do animal para o lado oposto ao da direção que ele irá se movimentar. Por exemplo, se o cão vai deslocar-se para a direita, o condutor deve estar à esquerda, guiando a cabeça para a esquerda enquanto se movimenta para a direita. Essa inversão do olhar estimula o equilíbrio e a coordenação durante o deslocamento. Inicialmente, o cão deve circular três vezes ao redor do suporte em ambas as direções. Para aumentar a dificuldade, o exercício pode variar a velocidade, parar e mudar de direção após diferentes números de voltas ou até mesmo elevar gradualmente o suporte até a altura do cotovelo, usando degraus ou caixas mais altas. A introdução de obstáculos, como bastões para que o cão precise ultrapassá-los ao virar, potencializa o trabalho de força e agilidade dos membros pélvicos.

Outro exercício que complementa essa metodologia é o uso da bola fisioterápica em formato de amendoim, que tem altura aproximada da cernelha do cão e é posicionada transversalmente em relação ao corpo do animal. O cão apoia as patas dianteiras sobre a bola e é estimulado a rolá-la em direção ao condutor, que controla a velocidade com o pé. A complexidade aumenta com o movimento da bola para frente e para trás, sobre superfícies resistentes como grama, e em rampas com inclinação progressiva. Esta atividade promove não apenas o fortalecimento dos membros pélvicos, mas também a ativação da musculatura do core, fundamental para a estabilidade e prevenção de lesões.

O exercício “Beg-Stand-Beg” se destaca como uma das melhores formas internas de fortalecer os membros pélvicos. O cão inicia sentado na posição de “beg” (sentado com as patas dianteiras elevadas), depois eleva-se apenas sobre os membros pélvicos, mantendo a posição de pé por 15 segundos sem apoiar as patas dianteiras no chão, e retorna à posição inicial da mesma forma. Essa prática deve ser realizada progressivamente, começando em superfícies firmes e avançando para superfícies instáveis, como bolas fisioterápicas. A limitação a três repetições por sessão evita fadiga excessiva. Importante ressaltar que esse exercício é contraindicado para cães com dores agudas ou lesões não diagnosticadas.

O fortalecimento dos membros torácicos segue um princípio similar, com o cão posicionando as patas dianteiras sobre um suporte elevado, e o condutor utilizando a mesma estratégia para direcionar o olhar do animal. A progressão do exercício inclui variações na velocidade, mudanças de direção, elevação gradual do suporte e inserção de obstáculos para ultrapassagem. Isso desenvolve não só a força, mas também a coordenação motora e o equilíbrio dinâmico do cão.

A técnica de “Targeting” com os membros pélvicos, onde o cão aprende a colocar a pata traseira sobre um alvo no chão, que é progressivamente movido e elevado, reforça a precisão do movimento e o controle muscular. Ao elevar o alvo até a altura do tarso, o cão deve sustentar a pata no ar, desenvolvendo força e consciência corporal.

Exercícios de corpo inteiro, como o treino de pliometria, promovem a capacidade do cão de realizar esforços máximos em curto espaço de tempo. O cão aprende a aterrissar e decolar rapidamente em séries de saltos progressivamente ajustados em distância e altura. Em níveis avançados, utiliza-se a bola fisioterápica para que o cão salte de sua superfície instável para o chão e imediatamente volte, estimulando força explosiva, equilíbrio e propriocepção.

Outra modalidade fundamental para o fortalecimento geral é o trote sobre bastões paralelos, espaçados aproximadamente conforme a altura da cernelha do cão. A distância entre os bastões é gradualmente aumentada, o que exige maior extensão e controle dos membros, contribuindo para o desenvolvimento muscular e a coordenação motora.

Além dos exercícios específicos, é essencial compreender que o fortalecimento muscular e o condicionamento funcional devem respeitar o estágio físico e clínico do cão. Exercícios devem ser progressivos, respeitando a adaptação neuromuscular e evitando sobrecargas que possam gerar lesões. A consciência corporal, o controle postural e o estímulo proprioceptivo são componentes fundamentais do treinamento eficaz e seguro. O uso de superfícies instáveis, variações de velocidade e mudanças de direção contribuem não apenas para o ganho de força, mas também para a capacidade de resposta do cão em situações dinâmicas, essenciais para a performance atlética e a prevenção de lesões.

A integração desses métodos oferece uma abordagem ampla que fortalece o cão de forma funcional, preparando-o para demandas físicas variadas e promovendo seu bem-estar integral.