As lesões do tendão do bíceps (TB) são frequentemente observadas em cães maiores e muito ativos, especialmente aqueles envolvidos em esportes de agilidade, onde representam a lesão mais comum. Essas lesões podem ser primárias, como tendinite, tendinopatia ou ruptura, ou secundárias a outras alterações no ombro. A tendinite geralmente surge após um trauma agudo, com uma combinação de flexão do ombro e extensão do cotovelo, ou devido a um impacto direto. No entanto, a maioria das lesões do TB resulta do estresse repetitivo crônico, causado pelo uso excessivo contínuo.
A tendinopatia, distinta da tendinite, é uma condição degenerativa não inflamatória, caracterizada pela desorganização das fibras de colágeno, aumento da substância mucoide e áreas de necrose ou mineralização. Esse processo degenerativo é desencadeado pelo sobrecarregamento repetitivo, que pode comprometer a irrigação sanguínea do tendão, especialmente em sua origem, uma região relativamente pobre em vascularização, predispondo-a à falha mecânica. Por esse motivo, tratamentos anti-inflamatórios convencionais geralmente não surtem efeito eficaz na tendinopatia. O foco terapêutico deve ser a inibição da degradação do colágeno e a estimulação da sua síntese para promover a recuperação estrutural do tendão.
Frequentemente, as lesões do TB evoluem para uma inflamação da bainha tendínea, conhecida como tenossinovite bicipital, que pode ocorrer isoladamente ou secundariamente a outras lesões do ombro. Em cães como os de corrida de longa distância, foi observada a presença aumentada de fluido na bainha do bíceps, sugerindo uma adaptação fisiológica ao movimento repetitivo, mesmo na ausência de claudicação. Alterações patológicas no tendão supraespinhal podem causar o aumento do seu volume, provocando atrito e inflamação localizada no tendão do bíceps, devido à compressão na região do sulco intertubercular.
Como a bainha do TB é contínua com a articulação glenoumeral, doenças articulares como osteocondrose, osteoartrite ou síndrome do ombro medial frequentemente resultam em derrames articulares que afetam a bainha tendínea. Assim, as alterações no tendão do bíceps costumam coexistir com outras patologias do ombro, dificultando o diagnóstico e contribuindo para o quadro clínico de tenossinovite ou tendinopatia bicipital.
A gravidade da claudicação causada pelas lesões do TB varia amplamente, desde rigidez leve após exercício até claudicação contínua e intensa. A palpação do tendão, localizada medialmente ao tubérculo maior do úmero, pode provocar dor, especialmente quando o tendão é esticado por meio da flexão do ombro combinada com a extensão do cotovelo — o chamado teste de alongamento do bíceps. Esse exame pode ajudar a diferenciar tendinopatia de ruptura do tendão: na tendinopatia, há desconforto moderado durante o alongamento, enquanto na ruptura há perda do “fim-de-toque”, ou seja, o tendão não oferece resistência no estiramento.
Entretanto, alterações em estruturas adjacentes, como o tendão supraespinhal, podem confundir os sinais clínicos, tornando o diagnóstico preciso por palpação um desafio. Por isso, o uso de exames de imagem é fundamental para confirmar a extensão da lesão, identificar outras comorbidades e planejar o tratamento adequado. A radiografia auxilia na exclusão de alterações ósseas, como fraturas, luxações e osteocondrose, além de evidenciar avulsões ósseas e mineralizações de tecidos moles. Contudo, ela é pouco sensível para avaliar o próprio tendão, com até 70% dos exames radiográficos sendo normais em cães clinicamente afetados.
Tomografia computadorizada pode acrescentar detalhes ósseos, mas a ultrassonografia musculoesquelética e a ressonância magnética são superiores para avaliação do tecido mole. A ultrassonografia identifica a tenossinovite pelo aumento do fluido anecóico ao redor do tendão e alterações na ecogenicidade da bainha sinovial. Rupturas e desorganizações fibrilares aparecem como áreas irregulares e heterogêneas no tendão. A ressonância magnética, embora sensível, é menos utilizada devido ao custo e à necessidade de sedação, enquanto a ultrassonografia é mais acessível, rápida e pode ser repetida para monitorar a resposta ao tratamento.
É importante compreender que a tendinopatia não é simplesmente uma inflamação e, portanto, tratamentos anti-inflamatórios convencionais podem ser ineficazes. O manejo adequado deve focar em estratégias que promovam a regeneração tecidual e a recuperação da função do tendão. Além disso, as lesões do tendão do bíceps raramente ocorrem isoladamente; a abordagem diagnóstica e terapêutica deve considerar o contexto mais amplo das doenças do ombro, que frequentemente coexistem e interagem, influenciando o prognóstico e a resposta ao tratamento.
Qual a Causa e Diagnóstico das Instabilidades Mediais no Ombro Canino?
A instabilidade do ombro medial (MSS) tem sido apontada como uma das causas mais frequentes de claudicação em membros torácicos de cães, especialmente entre os de porte médio a grande e aqueles envolvidos em atividades de desempenho (Pechette Markley et al., 2021). A articulação glenohumeral, responsável pelo movimento do ombro, é estabilizada por uma combinação de estruturas passivas e dinâmicas, que são essenciais para a manutenção da funcionalidade e estabilidade da articulação durante os movimentos. Os estabilizadores estáticos, como o ligamento glenohumeral medial (MGL), o ligamento glenohumeral lateral (LGL) e a cápsula articular, têm um papel fundamental na estabilidade, mas não respondem ativamente às mudanças de posição da articulação durante a locomoção ou o suporte de peso. Por outro lado, os estabilizadores dinâmicos, que incluem os músculos periarticulares, ajustam-se à posição da articulação, contraindo-se ou relaxando conforme necessário para adaptar o movimento (Bardet, 1998; Sidaway et al., 2004).
O principal fator que contribui para o MSS parece ser o uso excessivo ou o estresse crônico repetido nas estruturas estabilizadoras do ombro, em vez de um evento traumático específico (Rocheleau et al., 2024). O sobrecarregamento dessas estruturas pode levar à degeneração tecidual, enfraquecendo as fibras e resultando na ruptura progressiva do tecido conjuntivo (Maganaris et al., 2004; Marcellin-Little et al., 2007). A instabilidade do ombro pode se manifestar em qualquer plano, mas a instabilidade medial é a mais comum, representando até 80% dos casos, enquanto alterações laterais ou multidimensionais são menos frequentes (Cogar et al., 2008; Franklin & Devitt, 2013).
Entre as estruturas mais frequentemente comprometidas no MSS estão o MGL e o tendão do subescapular (SST), que desempenham um papel crucial na estabilidade medial do ombro. No entanto, identificar qual estrutura estabilizadora está danificada e a extensão do dano é um grande desafio clínico. Embora o MGL tenha sido identificado como o estabilizador primário da parte medial da articulação, há controvérsias quanto à influência do dano a esse ligamento na instabilidade do ombro (Sidaway et al., 2004). Em alguns estudos, a transeção do braço cranial do MGL em cães normais não afetou a estabilidade do ombro, sugerindo que a instabilidade pode ser o resultado de uma inflamação crônica associada a movimentos repetitivos (Fujita et al., 2013).
O diagnóstico do MSS exige uma avaliação cuidadosa que envolva histórico, sinais clínicos e exames de imagem. Embora a claudicação possa ser sutil e intermitente, especialmente em cães de desempenho, a progressão da doença geralmente resulta em dor contínua, que não melhora com repouso ou medicamentos analgésicos. Em cães que praticam esportes, o MSS é frequentemente identificado por uma redução na performance, com dificuldades em realizar movimentos específicos, como curvas fechadas ou passagens por obstáculos (Pechette Markley et al., 2021). No exame físico, atrofia muscular no ombro, dor e espasmos musculares são comuns, além de uma amplitude de movimento restrita, particularmente na extensão. Embora o teste de abdução do ombro tenha sido utilizado para diagnosticar o MSS, a validade e a utilidade clínica desse exame são questionáveis, devido à sua imprecisão e à variação nos resultados entre diferentes observadores (Jones et al., 2019).
O uso de radiografias convencionais, em geral, não revela anormalidades em casos isolados de MSS, exceto quando há alterações degenerativas associadas a outras condições patológicas. Em tais casos, os radiografistas podem suspeitar do MSS com base em sinais indiretos. Técnicas de radiografia por estresse podem ser úteis, mas frequentemente apresentam resultados contraditórios, assim como o teste de abdução do ombro. A ressonância magnética (RM) é uma ferramenta importante no diagnóstico do MSS, permitindo a avaliação detalhada do MGL e do tendão subescapular, embora a gravidade das lesões observadas por RM possa ser subestimada em comparação com a avaliação por artroscopia (Murphy et al., 2008). A RM tem como vantagem a capacidade de avaliar toda a extensão do tendão subescapular e os músculos circundantes, enquanto a artroscopia só permite a observação intra-articular do tendão. Já a ultrassonografia musculoesquelética (USMS) pode auxiliar no diagnóstico, embora não seja eficaz para visualizar diretamente as lesões no MGL, LGL ou no tendão subescapular. No entanto, pode ser útil para avaliar outras estruturas periarticulares.
Além disso, é importante que os clínicos compreendam que a instabilidade do ombro medial pode não ser facilmente diagnosticada em estágios iniciais, especialmente em cães com sintomas leves ou em cães de alto desempenho. A avaliação cuidadosa do histórico clínico e a combinação de exames físicos e de imagem, incluindo ultrassonografia e ressonância magnética, são cruciais para uma abordagem diagnóstica eficaz. Em cães de desempenho, a abordagem preventiva e o monitoramento contínuo da saúde das articulações são fundamentais para evitar o agravamento da condição e promover um prognóstico mais favorável.
Qual é o papel da laxidez passiva na patogênese da displasia coxofemoral (HD) e como os tratamentos cirúrgicos podem melhorar o prognóstico?
A laxidez passiva das articulações desempenha um papel crucial na patogênese da displasia coxofemoral (HD), uma condição comum que afeta cães, especialmente em raças de grande porte. Estudos indicam que o fortalecimento das estruturas de suporte do tecido mole ao redor da articulação coxofemoral pode ser uma abordagem benéfica para lidar com essa condição. Por exemplo, cães da raça Pastor Alemão, conhecidos por apresentarem menor índice de distração (menos laxidão passiva) do que outras raças com maior massa muscular, como o Rottweiler, têm uma maior propensão a desenvolver osteoartrite (OA) do quadril. Isso sugere que a musculatura ao redor da articulação pode desempenhar um papel importante na mitigação dos efeitos da laxidez passiva, ajudando a preservar a funcionalidade da articulação (Gatineau et al., 2012).
Em um estudo sobre Labradores com HD, observou-se uma diminuição média de aproximadamente 2 cm na extensão do quadril a cada ano de vida, o que confirma a progressão gradual da condição com o envelhecimento (Greene et al., 2013). Com base nesse dado, uma abordagem prática e eficaz no manejo de cães com displasia seria a implementação precoce de programas de reabilitação, visando não só manter a amplitude de movimento, mas também preservar a massa muscular. Tais programas têm mostrado ser eficazes, tanto isoladamente quanto como complemento a intervenções cirúrgicas (Greene et al., 2013).
No entanto, quando o tratamento conservador não é suficiente para controlar os sinais clínicos, a intervenção cirúrgica se torna uma opção. Entre os procedimentos cirúrgicos disponíveis, a preservação da articulação tem se mostrado uma alternativa interessante, particularmente em cães jovens e com hiperlaxidez coxofemoral.
Procedimentos de preservação articular
Os procedimentos cirúrgicos de preservação articular são frequentemente indicados em cães jovens com sinais iniciais de displasia, visando melhorar a cobertura do quadril e retardar a progressão para osteoartrite. Um exemplo clássico é a pubic symphysiodesis juvenil (JPS), que causa o fechamento prematuro da sínfise púbica, levando a uma rotação ventral da borda dorsal do acetábulo enquanto as placas de crescimento continuam a se desenvolver. Esse procedimento é eficaz em cães com laxidez leve a moderada, mas apresenta limitações em casos de laxidez grave. Para que a JPS seja eficaz, ela deve ser realizada antes dos 16 semanas de idade, de preferência em cães que ainda não apresentam sinais clínicos evidentes de HD (Patricelli et al., 2002; Bernarde, 2010). A imagem dinâmica das articulações, para demonstrar a laxidão, é essencial para a seleção dos cães candidatos a esse procedimento.
Outro procedimento usado para melhorar a cobertura da cabeça do fêmur é a osteotomia pélvica tripla (TPO). Esse procedimento é recomendado para cães de até 5-8 meses, com um ângulo de relocação inferior a 25-30° e sem sinais de erosão na borda dorsal do acetábulo. A TPO envolve a realização de osteotomias ao redor do acetábulo, seguido pela rotação manual do acetábulo sobre a cabeça do fêmur, sendo estabilizado com placas e parafusos. O sucesso da TPO depende da ausência de claudicação clínica significativa no animal, já que cães com dor crônica não são os melhores candidatos. As complicações associadas à TPO, como afrouxamento do implante e estreitamento do canal pélvico, foram reduzidas com o uso de implantes de bloqueio, com uma taxa de complicação geral de apenas 8,2%, sendo 0,6% desses casos classificados como graves (Rose et al., 2012; Tavola et al., 2022).
Procedimentos de salvamento
Em casos em que a displasia coxofemoral é avançada ou refratária ao tratamento conservador, a substituição total do quadril (THR) é a opção mais indicada. Este procedimento visa restaurar a função da articulação, removendo a cabeça do fêmur e o acetábulo e substituindo-os por um implante composto por uma xícara de polietileno e um stem metálico. Embora a osteoartrite avançada não seja uma contraindicação absoluta para o THR, ela pode dificultar a execução da cirurgia, especialmente em cães com ossos mais frágeis ou com modificações ósseas graves, como a deriva lateral do fêmur em cães jovens com luxação. Além disso, a cirurgia tem um risco elevado de complicações em cães com luxação coxofemoral de conformação luxóide, que pode dificultar o procedimento e aumentar o risco de fraturas ou luxações pós-operatórias (Horwood et al., 2024).
As complicações associadas ao THR incluem luxação do prótese, neuropraxia ciática, fraturas do fêmur e falhas no implante, embora esses casos sejam raros. A satisfação dos proprietários com os resultados do THR é, no entanto, extremamente alta, com 95% dos casos apresentando resultados classificados como "muito bons" ou "bons" (Henderson et al., 2017). Além disso, a técnica de fixação do implante pode variar, sendo que a fixação híbrida, que combina uma xícara de polietileno sem cimento com um stem cimentado, é frequentemente utilizada para proporcionar maior durabilidade.
Considerações finais
Embora os procedimentos conservadores como a reabilitação física possam ser eficazes para cães com displasia coxofemoral inicial, a intervenção cirúrgica torna-se necessária quando a condição progride para osteoartrite severa ou quando as opções de tratamento não invasivo falham. A escolha do procedimento adequado depende do grau de laxidez da articulação, da idade do cão e da gravidade dos sintomas. O tratamento cirúrgico oferece uma solução eficaz para a restauração da função articular e alívio da dor, embora a decisão de realizar uma intervenção deva ser cuidadosamente ponderada, considerando as características individuais de cada caso. O diagnóstico precoce e o manejo adequado, seja por meio de fisioterapia ou cirurgia, são essenciais para garantir uma melhor qualidade de vida ao animal.
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