O conceito de "romantismo" frequentemente provoca reações polarizadas no campo da crítica literária, especialmente quando se tenta associá-lo com elementos como superficialidade artística, personagens inverossímeis ou sentimentos artificiais. Uma parte significativa dos críticos literários acusa o romantismo de distorcer a verdade da vida, mas será essa condenação sempre justa? O crítico I. Solovyova, ao analisar a obra de Y. Kazakov, considerou sua prosa como uma "nota de falsete do romantismo", atribuindo-lhe falhas e inadequações. Contudo, será que a obra de Kazakov merece tamanha crítica, ou, na verdade, trata-se de um exemplo da complexa relação entre o romântico e o realista?

Certamente, o romantismo, assim como qualquer movimento artístico, apresenta diversas formas e nuances. Não se pode generalizar de maneira simplista que toda expressão romântica é uma falha artística. Solovyova, ao criticar histórias como "Os Segredos de Nikita" ou "Os Chifres", atenta para a prosa excessivamente poética e estilizada, que perde em verossimilhança, mas isso não implica, por si só, que essas falhas sejam inerentes ao romantismo. Devemos considerar se o que realmente está em questão é uma prosa artificial, de qualidade inferior, mais do que uma adesão pura ao romantismo.

A crítica de V. Lakshin, que se tornou uma das vozes influentes contra o romantismo, vai além, propondo que o romantismo, tal como desenvolvido nos anos 20 e 30, tornou-se obsoleto e incompatível com o espírito analítico e sóbrio das novas gerações. Para Lakshin, o romantismo é um obstáculo para o progresso do realismo socialista. Ao associar o romantismo a elementos como "excitação romântica", "ostentação auto-satisfeita" e "retórica sufocante", ele oferece uma visão negativa e restrictiva do romantismo. Essa perspectiva reflete uma mentalidade que se tornou predominante em alguns círculos críticos, onde o realismo socialista, em sua busca por retratar a vida de maneira fiel e detalhada, se afasta de qualquer elemento que pareça embelezar ou distorcer a realidade.

A proposta de A. Upits, que considera o romantismo prejudicial à representação precisa da vida do povo, também ganha espaço nesse debate. Para ele, o romantismo não só é desnecessário, mas perigoso, pois desvia o autor da verdadeira representação do cotidiano da sociedade. Em um mundo em que as condições materiais e históricas exigem uma abordagem sóbria e prática da realidade, as idealizações românticas tornam-se, portanto, uma falha crítica.

Contudo, ao olharmos para a literatura socialista realista, podemos perceber que a conexão entre o romantismo e a vida do povo não é tão simples de ser descartada. O conceito de "romantismo revolucionário", defendido por A. Fadeyev, sugere que o realismo socialista possui, em seu cerne, um "romantismo revolucionário". Esse romantismo não é uma fuga da realidade, mas uma forma de idealizar o futuro, um futuro construído pelos próprios trabalhadores e que é revelado através de uma representação otimista e progressista da realidade. Em outras palavras, o romantismo, longe de ser uma negação da verdade, pode ser uma forma poderosa de expressar o movimento histórico e as transformações sociais desejadas.

O grande erro dos críticos antirromânticos, como Lakshin, é ignorar essa dimensão do romantismo. Eles associam de forma simplista o romantismo à falsidade e à distância da realidade, sem considerar que o romantismo revolucionário pode ser, de fato, uma forma de engajamento com o futuro e com os processos de mudança que a realidade exige. O romantismo no realismo socialista não serve apenas para decorar a vida do povo com ideais exagerados e irreais, mas para criar uma visão do futuro que se baseia na luta do povo para transformar o presente.

Assim, o problema não é o romantismo em si, mas a forma como ele é compreendido e aplicado dentro da literatura. As críticas que apontam o romantismo como uma fuga da realidade e como algo que impede a verdadeira compreensão da vida social podem estar, muitas vezes, erradas. O romantismo, se corretamente compreendido, pode ser uma ferramenta poderosa para expressar o que há de mais profundo e revolucionário na sociedade, especialmente quando se trata de questões de classe, progresso e mudança histórica.

É fundamental que, ao abordar o romantismo em qualquer contexto literário, os críticos e estudiosos mantenham uma postura mais flexível e mais disposta a perceber as diferentes camadas e intenções nas obras literárias. Em vez de simplesmente condenar o romantismo como um erro, seria mais produtivo considerar como ele pode ser utilizado para enriquecer a compreensão da vida social e histórica. O realismo socialista, portanto, pode ser mais romântico do que se pensa, e isso não precisa ser uma contradição.

Como o Estruturalismo Transforma a Percepção da Literatura: Relacionamentos Acima de Essência

O conceito estruturalista de que o sistema de significantes é mais importante do que aquilo que é significando, que as relações puras estão acima da essência, e que o significado dos elementos que se relacionam é a herança de Ferdinand de Saussure, marca um ponto de virada fundamental na teoria literária. Esse princípio, transmitido pelos formalistas, intermediado por Saussure, e desenvolvido pelos estruturalistas, propõe uma revolução na forma de entender o significado da linguagem e, por extensão, a literatura.

O conceito de "relacionamentos puros" encontra eco nas propostas de autores como Victor Shklovsky e, mais amplamente, na teoria formalista que vê a literatura não como um conteúdo, mas como a combinação de elementos independentes que se relacionam entre si. Shklovsky, ao comparar a literatura com o xadrez, sublinha que a ação literária ocorre dentro de um campo delimitado: as peças do xadrez são como os tipos e máscaras do teatro contemporâneo, e os enredos, como as aberturas clássicas de uma partida de xadrez, que os jogadores variam em função das jogadas do oponente. Para Shklovsky, o trabalho literário é essencialmente uma forma pura, um jogo de relações onde o conteúdo (ou alma) de uma obra literária é a soma de seus dispositivos estilísticos. Nesse sentido, o conteúdo não é mais o ponto central de uma obra literária, mas sim como as relações são tecidas, como a forma se estrutura e, muitas vezes, se deforma.

A metáfora do xadrez utilizada por Saussure, que observa que a mudança do material das peças de madeira para marfim não altera a "gramática" do jogo, ilustra como as relações dentro de um sistema são mais determinantes do que o conteúdo ou essência das unidades que o compõem. A estrutura, portanto, deve ser analisada não pelo que as peças representam, mas pela maneira como elas se relacionam umas com as outras dentro do sistema, e essa ideia permeia o desenvolvimento das abordagens formais e estruturalistas da literatura.

No entanto, essa abordagem fragmenta a obra literária em elementos repetitivos e desprovidos de significado intrínseco. Quando a obra é reduzida a uma "teia" de sons, movimentos articulatórios e pensamentos, o que restaria de sua complexidade e profundidade? Para os estruturalistas, uma obra literária nada mais é do que a combinação de invariantes, de elementos que, ao serem combinados, ganham um significado sistêmico, mas que, em última análise, são apenas unidades sem uma identidade própria além de sua função no sistema. A obra é, assim, um "corpo de relações", e o significado não se encontra no conteúdo, mas nas interações que ocorrem entre essas partes.

Entretanto, esse olhar fragmentador também é problemático. Ao tentar isolar os elementos que compõem a obra literária, corre-se o risco de apagar sua essência única. O fato de reduzir a literatura a um conjunto de "dispositivos estilísticos" e de fragmentá-la até seus componentes mais básicos, como se a narrativa fosse apenas uma série de trocas de movimentos, elimina a integridade do objeto artístico. A literatura, em sua riqueza e complexidade, não pode ser completamente compreendida por um exame isolado de suas partes. A busca pela compreensão do todo – ou seja, a obra literária como uma entidade única e complexa – é um desafio que o estruturalismo não consegue superar sem comprometer a própria natureza da arte.

Ao aplicar o conceito de "estranhamento", de Shklovsky, que visa mostrar objetos em contextos inusitados para provocar uma nova percepção no leitor, os formalistas e estruturalistas, embora tenham abordado a literatura de maneira inovadora, acabaram por enfraquecer o impacto que a arte exerce. O "estranhamento" é uma técnica que, em sua radicalização, ameaça transformar a obra literária em uma experiência meramente formal e mecânica, desprovida de profundidade emocional ou existencial.

Ainda assim, o conceito de literatura como um sistema fechado e independente de seu conteúdo tem implicações significativas. Quando se trata de estudar a arte, especialmente a literatura, a visão estruturalista propõe uma forma de análise que privilegia a forma sobre o conteúdo, a relação sobre a essência. Isso pode ser útil para uma análise detalhada dos mecanismos internos das obras, mas deixa de lado o impacto emocional, cultural e histórico que elas podem gerar. A literatura, ao ser vista apenas como uma série de relações, perde a complexidade que faz dela uma poderosa forma de expressão humana.

No entanto, essa perspectiva também revela uma realidade importante sobre o pensamento estruturalista: ele rejeita as abordagens tradicionais de estudar a literatura como uma unidade complexa, que integra forma, conteúdo e contexto. Ao dividir a obra literária em suas partes constituintes, os estruturalistas buscam entender como as partes se conectam e funcionam dentro do sistema linguístico, mas deixam de lado o fato de que a literatura é, por sua natureza, mais do que a soma de suas partes. Cada elemento da obra, em sua inter-relação com os outros, carrega consigo não apenas uma função dentro do sistema, mas também uma significação mais profunda que não pode ser reduzida a uma mera combinação de elementos estilísticos.

Por fim, o desafio de tratar a literatura de maneira puramente estruturalista é que ela ignora a dialética entre forma e conteúdo, entre o que a obra expressa e como ela o faz. O processo de fragmentação e reestruturação proposto pelo estruturalismo pode ser uma ferramenta útil para entender as técnicas literárias, mas, ao fazer isso, acaba por empobrecer a experiência da obra, transformando-a em um objeto de estudo técnico, em vez de um objeto de emoção e reflexão.