Nor é uma entidade conceitualmente sensível ao contexto, dependendo de fatores como tempo, indivíduos receptores e outras variáveis. Por exemplo, a frase "Terrence Deacon é membro do corpo docente do Departamento de Antropologia, Universidade da Califórnia, Berkeley" não é uma informação relevante para mim, mas o é para minha mãe. Esse é um exemplo do que a expressão (c) afirma.

A informação não é apenas útil para os usuários, mas também é útil de maneira estabilizada e confiável. Isso é conhecido como a função adequada ou função estabilizadora de uma mensagem (Str + Ref), como foi descrito por Millikan (1984a; 2005). Em outras palavras, trata-se da mesma informação que deve sempre servir de maneira confiável a uma função específica. No exemplo de A ♥ B, a mensagem "Eu te amo" sempre deve servir à função de expressar o amor de uma pessoa para outra, permitindo que a comunicação interpessoal aconteça de forma efetiva. O que torna essa função confiável e estável ao longo do tempo?

A razão para que uma mensagem realize consistentemente sua função decorre do fato de que o usuário da informação pode interpretar um token físico como um Str (símbolo) sobre qualquer coisa, pois tudo se associa a algo de alguma forma. No entanto, nem toda maneira de empregar o token físico, ou qualquer Ref (referente), serve a uma função que contribua para o interesse do usuário. Apenas os Ref que contribuíram de maneira eficaz para a função no passado são estabilizados como o Nor (significado) do Str (Millikan 1984b; Neander 2017; Shea 2018). Ou seja, o Ref de um Str é determinado pelo processo estabilizador da comunicação. Isso sugere que o Nor emerge como um processo estabilizador das relações entre Ref e Strs, tomando a existência desses elementos como premissas. São as relações estabilizadas entre Strs e Ref e os efeitos resultantes que definem o Nor.

Ademais, é importante perceber que Nor pressupõe Ref, que por sua vez pressupõe Str. Portanto, Nor depende hierarquicamente de Ref, que depende de Str.

Nor também se refere ao efeito que a informação exerce no mundo físico, sugerindo que a informação possui um poder causal. O poder causal do Nor, enquanto elemento transformador de uma situação, não deriva de seu realizador físico. Como Wiener afirmou, "Informação é informação, não matéria nem energia" (Wiener 1948/1961, 132). Wiener reconheceu que qualquer mecanismo que processa informação exige uma certa quantidade de energia, seja ele um computador ou o cérebro humano. Contudo, as consequências físicas provocadas pela informação não podem ser explicadas apenas pelo custo energético. Isso implica que não existe uma relação intrínseca entre Nor e seu realizador físico.

O entendimento da sensibilidade contextual do Nor, quanto à função adequada de uma mensagem, está intimamente ligado à diferença entre dois níveis distintos de Nor. Quando Nor é entendido no nível (a), ele se refere à sua função adequada e, portanto, pode ser visto como um tipo. Já no nível (b), ele se manifesta como um token, realizando sua função de forma concreta, em contextos específicos. No caso de A ♥ B, o Nor2 da mensagem para A é permitir que B saiba do seu amor. Se a mensagem for transmitida sem distorções e B não souber que A o ama antes de receber a mensagem, então o Nor3 será que B aprende uma nova informação: A ama B. Neste exemplo, Nor1, Nor2 e Nor3 estão consistentes entre si. Contudo, podem surgir situações em que esses três níveis não se alinham. Se A não ama B, mas pretende apenas brincar com seus sentimentos, o Nor2 de A não coincide com o Nor1. Da mesma forma, se o operador de um sistema de comunicação interpretar erradamente a mensagem como "Ich liebe dich", e B não entender alemão, o Nor3 de B será que A enviou uma sequência de símbolos sem significado. Nesse caso, Nor3 está em desacordo com Nor1 e Nor2.

Essa discrepância entre os diferentes níveis do Nor abre uma série de questões: Quais são as relações entre Nor1, Nor2 e Nor3? Como o Nor1, enquanto tipo, emerge? Ele surge a partir de Nor2 e Nor3, ou seja, de tokens? E como o Nor1 se realiza em Nor2 e Nor3, transformando-se de tipo em token? Essas questões também estão relacionadas ao teorema da dupla contingência na comunicação, proposto inicialmente por Talcott Parsons (1951) e mais tarde investigado por Niklas Luhmann (1984). Esse teorema sugere que pode haver uma possibilidade conceitual de falha na comunicação. Suponha que dois indivíduos, Amy e Billy, interajam por meio de sinais. Amy escolhe um sinal que deve representar corretamente sua ideia e alcançar sua intenção. Billy, por sua vez, tem a liberdade de interpretar o sinal de acordo com sua própria perspectiva. O teorema da dupla contingência sugere que a forma como ambos interpretam o sinal é contingente, ou seja, há uma liberdade na interpretação, o que pode resultar em uma falha na comunicação. No entanto, a comunicação é, na maioria das vezes, bem-sucedida. Por quê?

Para entender melhor o teorema da dupla contingência, podemos recorrer ao conceito de Nor. As interpretações pessoais de Amy e Billy sobre o sinal são Nor2 para cada um. O resultado do Nor2 de um se torna o Nor3 do outro. No caso de falha na comunicação, os Nor1 de Amy e Billy são diferentes, o que leva a um descompasso entre Nor1 e Nor3. Contudo, a comunicação normal ocorre porque os Nor2 e Nor3 de ambos são consistentes com o Nor1 do sinal. Isso sugere que a comunicação eficaz está baseada na estabilização do Nor em seus diversos níveis.

Finalmente, o conceito de Nor e suas implicações para a comunicação exigem uma análise mais profunda. A teoria dos jogos de sinais, proposta por David Lewis (1969) e posteriormente desenvolvida por Brian Skyrms (2010a), pode ser uma ferramenta útil para entender como o significado (Nor) dos sinais emerge e evolui espontaneamente. Esse campo ainda está em desenvolvimento, mas oferece uma maneira de modelar como a informação se estabiliza e se transmite eficazmente entre os indivíduos, apesar das possibilidades de mal-entendidos.

Como a Forma e a Diferença São Determinadas pelo Observador?

A questão fundamental que surge ao estudar a natureza da forma e da diferença é como esses conceitos são percebidos e interpretados. Bateson, ao abordar este dilema, propõe uma solução que nos remete à interpretação: a forma e a diferença são conceitos dependentes do observador. O papel do conhecedor, ou seja, da mente que observa, é crucial, pois é ela quem interpreta as mudanças nos estados do mundo e as classifica como forma ou diferença. Portanto, a forma não é algo intrínseco à natureza, mas algo que depende da percepção do observador.

Esse ponto de vista nos traz de volta à questão inicial da investigação: podemos afirmar que a intencionalidade ou a referência têm uma base na natureza, ou a fundação de tais conceitos reside, na verdade, na mente do observador? O próprio Bateson, ao refletir sobre essa questão, se depara com um dilema filosófico: a forma seria uma entidade abstrata, no sentido platônico, ou ela é algo dependente do observador? A primeira alternativa, de caráter ontológico, acaba por ser excessiva e difícil de aceitar, enquanto a segunda tende a gerar um círculo vicioso. Deacon (2012a), por exemplo, argumenta que a percepção de regularidades ou padrões exige um hábito mental pré-existente. Em outras palavras, a atribuição de regularidade física a um fenômeno observado pressupõe uma regularidade mental prévia, que serve de base para a avaliação da regularidade física. Se não atribuirmos algum tipo de abstração mental ao processo de observação, dizer que regularidades, semelhanças e tipos gerais existem apenas na mente e não no mundo parece uma solução insustentável. Para que possamos atribuir uma tendência geral a algo, deve haver uma tendência geral pré-existente, que já se manifesta de alguma maneira no mundo.

A solução para essa questão não é simples, pois, ao tentar entender a forma e a diferença, surge uma nova dúvida: será que a forma é um conceito epistemológico que só existe na mente, ou ela também tem uma existência na natureza? Deacon (2012a) sugere que a forma, de fato, existe na natureza, mas de maneira negativa. Para ilustrar essa visão, ele nos propõe o exemplo do redemoinho em um fluxo de água. Não podemos definir a individualidade de um redemoinho pelos próprios moléculas de água que o formam, uma vez que essas moléculas estão em constante movimento e substituição. O movimento das moléculas individuais também não segue um padrão regular. Não há um padrão constante que regule o movimento da água no redemoinho. Contudo, ainda conseguimos distinguir um redemoinho de seu entorno pela simetria circular e pela rotação da água. No entanto, esses padrões não são fixos e mudam com o tempo, o que nos leva à pergunta: o que define a individualidade de um redemoinho?

A resposta de Deacon é que a semelhança entre diferentes instantes do movimento da água é o que nos permite considerar o fluxo de água como o mesmo redemoinho, independentemente das variações no movimento da água em momentos diferentes. Essa semelhança pode ser generalizada. Por exemplo, podemos classificar tanto os redemoinhos em água quanto as galáxias como pertencentes ao mesmo tipo, porque ambos exibem uma forma espiral, apesar das enormes diferenças de escala, constituintes, e localização. A forma espiral compartilhada é abstrata e desconsidera as diferenças concretas entre eles. Isso nos leva a duas conclusões importantes: a forma não está atrelada às propriedades físicas dos elementos individuais do sistema e não pode ser reduzida a esses elementos; e, em segundo lugar, não existe uma forma eterna no sentido platônico, pois isso geraria paradoxos sobre a infinitude, como já criticado por Aristóteles.

Portanto, a forma não é uma essência intrínseca ou um padrão eterno, mas sim o resultado de uma abstração mental, uma característica descritiva imposta por uma análise externa. No entanto, essa explicação cai na armadilha de depender da observação externa, algo que buscamos evitar desde o início. Deacon propõe, então, o conceito de restrição como uma forma de contornar esse dilema, por meio de uma lógica negativa. Em mecânica estatística, a restrição é usada para descrever a redução dos graus de liberdade de um sistema, ou seja, a restrição da variação possível de suas propriedades. De maneira simples, quando um sistema é restrito, o número de estados que ele pode atingir é reduzido. A restrição não se concentra no que é adicionado ou presente, mas no que é excluído ou reduzido. Por exemplo, a cera derretida pode assumir qualquer forma até ser impressa por um selo. Após a impressão, ela assume uma forma específica e todas as outras formas possíveis são eliminadas. Dessa forma, a restrição reduz o espaço de estados da cera.

Esse conceito de restrição evita as dificuldades associadas à concepção de forma de Bateson, ao focar na quantidade de possíveis estados, em vez de qualidades específicas. Ao discutir a realização da forma em termos de restrição, a lógica negativa permite uma análise mais dinâmica e evita pressupostos extrínsecos relacionados à observação. A forma, então, não é algo abstrato, mas um resultado da interação com as restrições que definem o que é possível em um sistema.

A ideia de Peirce sobre a informação como comunicação de forma, bem como a noção contemporânea de informação como uma distinção que faz a diferença, pode também ser reformulada a partir do conceito de restrição. A comunicação de forma seria, assim, a propagação de restrições. Ao afirmar que "onde não há diferença, não pode haver diferença", Bateson indica que o que algo não exibe não pode ser imposto a outro objeto ou sistema através da interação. Assim como a restrição reduz as possibilidades de um sistema, ela determina indiretamente quais diferenças podem ou não causar efeitos nas interações entre os elementos do sistema.

O que se torna claro é que, para que possamos falar em uma forma ou diferença, devemos considerar os limites impostos por essas restrições. Essas restrições não são apenas abstrações, mas possuem uma realidade concreta, expressa nas possíveis mudanças que um sistema pode ou não realizar, tendo em vista as exclusões que elas provocam. Essa abordagem proporciona uma compreensão mais profunda e dinâmica dos processos de diferenciação e formação, sem depender exclusivamente de uma observação externa ou de um conceito platônico de forma eterna.

Como a Função Representacional dos Signos Explica a Norma e a Evolução na Interpretação

O sistema interpretativo, ou seja, a função representacional de um signo, deve ser compreendido em duas dimensões: evolução e interpretação. Como afirma Deacon (2008, 188), o mecanismo evoluído restringe a dinâmica das interpretações possíveis, mas não as determina. Cada momento interpretativo de alguma forma apoia ou perturba a autossustentação dessa tendência dinâmica. Isso significa que não apenas existe uma origem histórica para a propriedade normativa desse processo interpretativo, mas também uma propriedade normativa ahistórica e imediatamente eficaz.

Essa abordagem semiótica naturalista apresenta várias vantagens em relação à teleosemântica. A principal delas é que ela explica a normatividade da representação, ao invés de simplesmente explicá-la como algo superficial, como faz a teleosemântica. A teleosemântica explica a normatividade da representação apelando para a evolução por seleção natural, uma abordagem completamente mecanicista. O problema dessa explicação é que a representação, sendo um produto da evolução, teria sua normatividade desprovida de profundidade, apenas superficialmente ligada a esse processo evolutivo. Por outro lado, a evolução por seleção natural assume, mas não explica, o sistema vivo. A semiótica naturalista, por sua vez, explica os fundamentos dos sistemas vivos e entende a normatividade em relação à autossustentação desses sistemas. Assim, os problemas de desinformação e determinação do conteúdo são resolvidos. Se uma representação é sobre algo que não é restrito pela sua história e, consequentemente, falha em desempenhar a função evoluída relacionada à autossustentação, ela apresenta um mau funcionamento e carrega desinformação. O aspecto do objeto representado que fundamenta uma representação (o objeto imediato, nos termos semióticos de Peirce) é determinado pela história da representação e pelas propriedades que atualmente contribuem para a autossustentação do sistema interpretativo. Além disso, essa explicação evita cair na armadilha idiossincrática de apelar para a interpretação individual a fim de explicar a normatividade, pois a interpretação é restringida e estabilizada pelo seu contexto histórico.

Outro ponto relevante dessa abordagem semiótica naturalista é como ela explica o processo de estabilização de uma representação, que, apesar de influenciada por condições passadas, pode se referir a condições presentes. A teleosemântica, por exemplo, argumenta que a função estabilizadora de uma representação é determinada pelo seu passado, o que faz com que a representação se refira a condições passadas. No entanto, uma representação é geralmente usada para se referir a condições presentes. O modelo proposto argumenta que, quando uma representação está envolvida em um sistema interpretativo, ela se refere às condições presentes, embora seja restringida pelo seu passado.

Além disso, essa explicação resolve a tensão entre a abertura e a estabilização da representação. A teleosemântica não deixa espaço para a flexibilidade da representação, enquanto os sistemas vivos continuamente utilizam representações de maneiras diferentes sob condições variadas. Ao entender a evolução a partir da perspectiva da lógica negativa, a semiótica naturalista explica o aspecto estabilizador da representação, ao mesmo tempo em que permite as possibilidades de evolução na maneira como a representação pode se desenvolver.

Com essa explicação semiótica naturalista, proporcionamos uma teoria construtiva sobre informação estrutural, referencial e normativa. A informação estrutural é naturalizada como restrições, e a informação referencial é fundamentada na propagação dessas restrições por meio de interações dinâmicas entre processos distintos. A propagação de restrições só se torna significativa quando está envolvida em um sistema interpretativo. Como Deacon afirma, “Função e representação são possibilitados pela forma como os processos vivos são intrinsecamente organizados em torno de fatores ausentes e extrínsecos, e o processo darwiniano gera inevitavelmente formas cada vez mais convolutas de dependência do ausente. A informação é uma propriedade relacional que emerge de camadas aninhadas de restrição: restrições de probabilidade de sinal (Shannon), restrições da dinâmica de geração de sinais (Boltzmann) e as restrições necessárias para dinâmicas de finalidades distantes e fora de equilíbrio (Darwin)” (Deacon, 188).

Essa explicação semiótica naturalista de informação e representação aborda representações simples e ideais. No entanto, a representação pode ser muito mais complexa e convoluta, especialmente na linguagem. A ficção, por exemplo, está presente na expressão linguística, com instâncias como "Harry Potter" ou "o Rei francês em 2025". Explicar a ficção como uma má representação ou como uma representação de fingimento é insatisfatório e difícil de aceitar. Uma teoria completa também deve ser capaz de explicar esses casos mais complexos de representação.

É importante destacar que, enquanto a representação em sistemas biológicos pode ser explicada por uma normatividade que surge da autossustentação e evolução dos próprios sistemas vivos, essa explicação ainda não aborda por completo a complexidade da linguagem humana. A linguagem é capaz de criar e manipular representações altamente abstratas e muitas vezes desvinculadas de uma realidade tangível, como no caso da ficção ou mesmo da metáfora. A relação entre significante e significado em tais representações deve ser entendida não apenas a partir de uma perspectiva evolutiva ou biológica, mas também considerando os aspectos culturais, sociais e históricos que moldam a interpretação dos signos. A evolução da linguagem e dos sistemas simbólicos deve ser vista como um fenômeno multifacetado, onde as forças biológicas e sociais interagem para produzir uma semiótica que transcende as necessidades imediatas de autossustentação dos organismos.

Como a Semiótica e a Convenção Influenciam a Linguagem e a Comunicação

A linguagem, em sua complexidade, vai além de uma simples correspondência entre palavras e os objetos que elas representam. Ao examinar a infraestrutura semiótica subjacente, notamos que não há uma relação direta e simples entre as palavras e seus significados. Ao contrário, a linguagem opera através de um sistema holístico, onde os símbolos não apontam apenas para os objetos que representam, mas também interagem com outros símbolos dentro do próprio sistema linguístico.

A visão tradicional da representação, comumente entendida como uma simples correspondência semântica entre o que é representado e a representação, sofre de uma falácia chamada "falácia do código", que dificulta a explicação de muitos fenômenos linguísticos. Para resolver essa questão, a semiótica peirciana oferece uma abordagem alternativa que permite explicar as complexidades da linguagem. De acordo com o modelo triádico de Peirce, a interpretação semiótica opera de maneira assimétrica: a interpretação simbólica depende da interpretação indicial, que, por sua vez, depende da interpretação icônica. Essa estrutura subjacente à linguagem permite compreender as continuidades e descontinuidades entre a comunicação animal e a linguagem humana.

Através dessa infraestrutura semiótica, a referência simbólica se desvincula das correlações diretas com os objetos, passando a se ancorar no mundo por meio de duas relações indiciais interdependentes. Essa abordagem ajuda a explicar fenômenos como descrições indefinidas, ficcionais, abstratas e metáforas. Em vez de ver a linguagem como uma simples representação de objetos no mundo, ela é vista como um sistema dinâmico, onde os símbolos não estão diretamente ligados às coisas que representam, mas são parte de um jogo simbólico mais amplo.

Outro aspecto importante da linguagem é a convenção. A palavra "cachorro" não possui uma conexão intrínseca com o animal que ela designa; trata-se de uma convenção social, um acordo entre os membros de uma comunidade linguística. O mesmo ocorre com a palavra "gato", que, embora se refira ao animal felino, poderia, teoricamente, ser utilizada para representar um cachorro, e vice-versa. Essa arbitrariedade das relações linguísticas é o que torna a linguagem uma construção social baseada na convenção. O que a convenção faz é estabelecer um significado para as palavras dentro de uma determinada comunidade, tornando possível a comunicação.

Pesquisas sobre a comunicação animal também revelam que essa arbitrariedade e convencionalidade não são exclusivas da linguagem humana. Os macacos vervet, por exemplo, usam diferentes chamados para alertar sobre a presença de diferentes predadores, e esses chamados não têm uma conexão intrínseca com as características dos predadores. Essa observação sugere que a arbitrariedade e a convenção podem ser características comuns também dos sinais usados por outros animais, e, portanto, podem fornecer pistas valiosas para desenvolver uma teoria unificada sobre a intencionalidade e o significado.

A teoria da convenção, no entanto, enfrenta um desafio filosófico importante, como argumentado por W.V. Quine: para que a convenção exista, é necessário um sistema primário de sinais para que os agentes possam se comunicar e chegar a um acordo. Mas o que queremos explicar, exatamente, é como esses sistemas de sinais emergem. David Lewis, seguindo uma linha diferente, argumentou que as convenções podem surgir das interações sociais entre os agentes e formalizou isso por meio de jogos de sinalização. Segundo Lewis, esses sistemas de sinalização funcionam como equilíbrios de Nash estritos, ou seja, um equilíbrio em que nenhum dos participantes pode melhorar sua posição alterando sua estratégia de forma unilateral.

Essa ideia de jogos de sinalização foi posteriormente aprofundada por Brian Skyrms, que sugeriu que, ao contrário de Lewis, a emergência de sistemas de sinalização não exige agentes racionais nem conhecimento comum. Ao invés disso, esses sistemas surgem espontaneamente a partir das interações entre os agentes, sendo um processo natural e dinâmico. O estudo desses jogos de sinalização, agora com uma abordagem evolucionária, mostrou que tais sistemas podem emergir sem necessidade de convenções pré-estabelecidas ou de um conhecimento comum entre os participantes.

A importância dessa teoria é imensa, pois ela não se limita apenas à linguagem humana, mas pode ser aplicada a uma gama mais ampla de interações de sinalização, incluindo aquelas entre diferentes organismos. Os jogos de sinalização se tornaram uma ferramenta teórica poderosa, amplamente utilizada para estudar como a comunicação e a linguagem podem surgir e evoluir de maneira naturalista.

Em sua aplicação a questões sobre a linguagem, a teoria dos jogos de sinalização também fornece insights sobre como a informação é transmitida, como sinais podem carregar conteúdo informativo, e como a comunicação entre os agentes pode se dar de forma eficaz mesmo sem um entendimento completo ou comum. O estudo desses sistemas dinâmicos abre portas para uma nova compreensão da evolução da linguagem, da lógica e até mesmo da verdade. Em vez de uma simples troca de significados, a comunicação pode ser vista como um jogo complexo de trocas de sinais e interpretações, no qual a evolução dos significados é uma constante.

Compreender a semiótica e a convenção como partes interdependentes e dinâmicas de um sistema de comunicação é essencial para entender não só a linguagem humana, mas também os processos de comunicação no mundo natural. A linguagem não é um reflexo direto da realidade, mas uma construção social e cultural que se desenvolve e se adapta ao longo do tempo, moldada por interações e convenções emergentes.

Como a Desinformação Mútua Pode Promover o Equilíbrio em Jogos de Sinalização

No contexto dos jogos de sinalização, um cenário de desinformação mútua pode, de maneira paradoxal, conduzir a um equilíbrio de sinalização estável, mesmo na ausência de qualquer troca efetiva de informações entre os jogadores. Para compreender isso, é necessário analisar não apenas os sinais trocados, mas também as crenças pessoais dos participantes e os efeitos dessas crenças nas estratégias que eles adotam.

Considerando um jogo entre um emissor e um receptor, onde o emissor envia um sinal (por exemplo, "SH") e o receptor, baseado nesse sinal, faz uma escolha estratégica, podemos observar que, se o receptor receber uma recompensa de 2 unidades ao jogar "HF", ele pode acreditar que o emissor está jogando "WF". Esse cenário ilustra como, mesmo sem uma comunicação direta e clara, as expectativas e percepções de ambos os jogadores formam uma estrutura complexa de interações, permitindo que um equilíbrio seja alcançado.

No entanto, a chave para entender esse fenômeno é a noção de "conteúdo funcional" e "conteúdo informativo" em um jogo de sinalização. Enquanto o conteúdo informativo está relacionado à probabilidade de determinado estado do mundo ou ato ser verdade após o envio de um sinal, o conteúdo funcional refere-se à importância desse estado ou ato para a estabilização do sistema de sinalização. Em outras palavras, o conteúdo funcional lida com a capacidade do sinal de criar um equilíbrio estável, mesmo que as informações que ele transmite não sejam claras ou não correspondam exatamente ao que o emissor e o receptor acreditam estar acontecendo.

No caso de um jogo de sinalização onde ocorre desinformação mútua, como no cenário descrito, o sinal enviado pelo emissor pode ser interpretado de forma diferente pelo receptor, e vice-versa, mas isso não impede que ambos encontrem um equilíbrio em suas estratégias, baseadas em suas crenças subjetivas. A coordenação entre os jogadores, embora não baseada em uma comunicação explícita, pode ocorrer de maneira eficiente, pois cada jogador ajusta suas expectativas e crenças de forma a alcançar um resultado que seja considerado ótimo para ambos, mesmo que isso não envolva uma troca clara de informações.

A análise formal dessas interações pode ser representada por equações matemáticas que levam em consideração as crenças dos jogadores sobre o comportamento do outro e as ações que cada um acredita que o outro tomará. A partir dessa formalização, podemos concluir que a desinformação mútua não apenas permite, mas às vezes facilita a convergência para um equilíbrio de sinalização, pois os jogadores se adaptam de acordo com as crenças subjetivas sobre as estratégias do outro, sem que haja necessidade de uma troca direta de informações.

Adicionalmente, a ideia de conteúdo subjetivo entra em jogo. O conteúdo subjetivo refere-se às crenças individuais que o emissor e o receptor têm sobre o que o outro jogador está fazendo, e essas crenças podem divergir da realidade objetiva do jogo. A divergência entre o conteúdo subjetivo e o conteúdo objetivo é uma característica fundamental nos jogos de sinalização onde a desinformação mútua ocorre. Cada jogador acredita em diferentes estratégias e interpretações do que está acontecendo, mas essas crenças ainda podem levar à estabilização do sistema de sinalização e à coordenação entre as ações dos jogadores.

Por fim, o jogo descrito aqui revela um aspecto fundamental da teoria dos jogos de sinalização: a percepção e a crença desempenham papéis cruciais na formação de equilíbrios, mesmo na ausência de uma comunicação clara ou precisa. No caso da desinformação mútua, a estabilidade do equilíbrio não depende da precisão das informações, mas da capacidade dos jogadores de ajustar suas expectativas com base nas suas crenças subjetivas e nos padrões de comportamento do outro. A desinformação mútua, portanto, não é um obstáculo para o equilíbrio, mas um mecanismo pelo qual esse equilíbrio pode ser alcançado.