A busca por um entendimento mais profundo da divindade, em vez da mera observância de rituais superficiais, tem sido uma característica fundamental de algumas vertentes do Islã desde seus primeiros dias. Os sufis, por exemplo, não se contentavam com a compreensão antropomórfica de Allah presente no Alcorão. Para eles, a divindade era uma presença imersa em toda a criação, o que os levou a uma visão panteísta, onde Deus se manifesta em todos os aspectos do mundo. Isso os colocou em desacordo com as visões ortodoxas, levando a perseguições iniciais por parte dos fanáticos muçulmanos. Com o tempo, no entanto, uma certa conciliação entre as diferentes correntes ocorreu, e a ideia de ordens sufistas, lideradas por sheikhs ou ishans, se espalhou. Essas ordens, que eram essencialmente fraternidades monásticas, foram reconhecidas tanto por sunitas quanto por xiitas. Contudo, ao longo dos séculos, muitos desses grupos degeneraram em fraudes, onde líderes enganavam seus seguidores, os murides, com promessas místicas. Alguns desses grupos praticavam danças extáticas e rituais xamânicos durante suas cerimônias, enquanto repetiam exclamativas místicas como "Hu!", acreditando em seu grande poder.
O movimento Tariqah, inicialmente ligado ao Sufismo, também passou por transformações. Originalmente, o termo "tariqah" significava um caminho devoto rumo à comunhão com Deus, mas com o tempo, passou a ser associado a movimentos fanáticos que pregavam a guerra santa contra os infiéis, como os cristãos. Os murides, seguidores das doutrinas mais extremas, tornaram-se uma força militar em várias regiões, totalmente subordinados aos ensinamentos de seus líderes espirituais. No entanto, esse impulso militarista perdeu força à medida que novos movimentos islâmicos surgiram, especialmente em contextos sociopolíticos mais complexos.
O Wahhabismo, por exemplo, emergiu no século XVIII entre os beduínos da Arábia, como uma reação espontânea contra o luxo das cidades e o comércio que florescia entre as elites urbanas. Os wahhabitas, seguidores de Mohammed ibn Aldu'l-Wahhab, pregavam um retorno à simplicidade patriarcal dos primeiros tempos do Islã, uma rigorosa observância das tradições, dos ritos e da renúncia ao influente mundo europeu. Eles rejeitavam cultos aos santos, colocando a adoração exclusiva de Deus como seu princípio fundamental. Esse movimento, que inicialmente encontrou resistência, eventualmente se consolidou e se tornou a ideologia dominante na Arábia Saudita.
Em outra parte do mundo islâmico, na Pérsia, no século XIX, a insatisfação das classes urbanas e rurais encontrou expressão religiosa. Mohammed Ali de Shiraz, que se autodenominava Bab, proclamou-se o mediador entre Deus e o povo, criando o movimento Babista. Este movimento, que falava sobre igualdade e fraternidade entre os muçulmanos, também era imbuído de ideias místicas e panteístas. Sua repressão brutal pelas autoridades não impediu seu crescimento, mas a transformação das ideias de Bab, levadas adiante por Baha'o'llah, conduziu à criação do Bahá'ísmo. Baha'o'llah rejeitava a violência e pregava o amor, o perdão e a resistência pacífica ao mal, resultando em uma doutrina mais adaptada às sensibilidades modernas e às elites intelectuais. O Bahá'ísmo, por sua vez, encontrou seguidores até mesmo no Ocidente, mostrando uma faceta do Islã mais conciliatória e reformista.
Durante o período colonial, o Islã também foi uma fonte de inspiração para vários movimentos de libertação. O movimento Mahdi, no Sudão, liderado por Mohammed Ahmed, autodenominado Mahdi (o Messias), mobilizou grandes massas na luta contra os colonizadores. Embora tenha sido suprimido pelo imperialismo anglo-francês, o movimento deixou uma marca na história do Islã como um exemplo de resistência política e social.
Um aspecto notável do Islã é sua imersão na vida cotidiana dos seus seguidores. No mundo muçulmano, a religião não se restringe apenas ao culto; ela permeia todas as esferas da existência humana. O Estado e a Igreja estavam, historicamente, totalmente integrados em países muçulmanos, com o califa, ou monarca, sendo visto como o sucessor do profeta. O sistema jurídico também era baseado na Sharia, a lei islâmica, e era monitorado pelo clero. A distinção entre o clero e o Estado era tênue, com líderes religiosos frequentemente ocupando cargos de poder secular. Mullahs, kadis, muftis e ulemas, cada um em seu grau de especialização, desempenhavam papéis fundamentais no governo e na administração da justiça.
A educação, igualmente, era dominada pela religião, com escolas primárias localizadas nas mesquitas e universidades religiosas, ou madraçais, formadas principalmente para o estudo do Alcorão e das questões teológicas. O árabe era a língua do ensino, assim como da literatura religiosa. Mesmo nas regiões de influência turca e iraniana, o alfabeto árabe foi adotado, apesar de não ser totalmente adequado para as línguas locais.
A Igreja muçulmana também desempenhava um papel econômico significativo. Sob a Sharia, a Igreja tinha o direito de possuir propriedades, que não podiam ser confiscadas, e muitas dessas terras eram grandes e geravam enormes receitas. O sistema de waqf (doações à igreja) sustinha um grande número de clérigos, permitindo que esses grupos tivessem uma vasta influência em suas comunidades.
Embora o Islã ortodoxo se mostre implacável em relação ao dogma, muitos muçulmanos, especialmente nas regiões mais pobres e remotas, combinam suas crenças islâmicas com elementos de religiões antigas. O culto aos santos locais, por exemplo, é comum, e muitas vezes esses santos são, na realidade, deidades locais que foram renomeadas com nomes islâmicos. A prática do culto aos mazar, ou túmulos de santos, e rituais agrícolas de fertilidade são comuns em áreas como a Ásia Central, refletindo a continuidade de crenças e práticas pré-islâmicas.
Por que o Islã foi tão bem-sucedido na história em comparação ao Cristianismo?
O Islã, desde suas origens, se espalhou rapidamente em vastas regiões do mundo, com uma força notável que o fez prevalecer em várias áreas ao longo da história. Embora os cristãos e muçulmanos tenham se confrontado diversas vezes, o Islã frequentemente emergiu vitorioso, não apenas militarmente, mas também como a religião dominante. Nas terras que hoje fazem parte do Norte da África, Egito, Síria e Anatólia, o Islã substituiu o Cristianismo, enquanto em áreas como os Bálcãs, algumas comunidades cristãs, como búlgaros e macedônios, adotaram a fé islâmica. Esta dinâmica não ocorreu de forma reversa: o retorno dos muçulmanos ao Cristianismo foi uma exceção, como no caso da Reconquista, quando o Islã foi expulso da Península Ibérica, mas o processo foi mais político e social do que ideológico.
A razão do sucesso do Islã pode ser atribuída, em grande parte, à sua simplicidade e clareza para com as massas, especialmente em regiões onde as tradições patriarcais e feudais predominavam. Essa característica tornou o Islã acessível e de fácil compreensão, em contraste com religiões como o Cristianismo, que, muitas vezes, apresentavam complexidades dogmáticas que desafiavam o entendimento das massas.
Com a modernização global pós-Segunda Guerra Mundial, houve um movimento significativo em muitos países muçulmanos para limitar a influência da religião no espaço público. Diversas reformas progressistas foram implementadas, especialmente após a queda do colonialismo na Ásia e na África, com o objetivo de modernizar a sociedade e a política. Em países como a Turquia, onde Mustafa Kemal Atatürk liderou reformas radicais nas décadas de 1920, o secularismo foi promovido ativamente, com a separação da religião e do Estado, além da introdução de uma educação secular e a limitação da jurisdição da Sharia.
Essas mudanças não se limitaram a ajustes superficiais, mas resultaram em transformações profundas nas normas jurídicas e na estrutura social. No entanto, após a independência e a descolonização, uma nova questão surgiu: qual seria a posição do Islã em relação aos sistemas capitalista e socialista? Várias abordagens emergiram. Uma parte da intelectualidade muçulmana tentou adaptar o Islã às estruturas do capitalismo, enquanto outros, principalmente em países árabes, viam o Islã como uma doutrina compatível com os ideais de igualdade e justiça social, alinhando-o ao pensamento democrático e socialista. Em alguns casos, ideólogos de "socialismo muçulmano" buscavam uma terceira via de desenvolvimento não capitalista, com base nos princípios islâmicos.
Contudo, ao longo da história, o Islã tem se mostrado uma religião com uma resiliência única. O que pode ser aprendido com a trajetória religiosa é que, ao contrário de uma simples falácia ou erro de interpretação do mundo, a religião desempenha um papel duradouro nas sociedades humanas. A religião não é apenas um conjunto de concepções equivocadas; ela é um conjunto de práticas, rituais, códigos morais e legais que permeiam o tecido social, a política, a economia e até as relações internacionais. Em muitas culturas, a religião tornou-se uma parte fundamental da vida cotidiana, influenciando desde a estrutura familiar até a legislação nacional.
Além disso, a religião não é apenas uma relação entre o homem e Deus, mas uma relação entre os indivíduos e as suas concepções sobre Deus. A sobrevivência da religião está intimamente ligada ao fato de que grupos poderosos têm interesses materiais, sociais e políticos nela. A religião foi, e continua sendo, uma ferramenta de coesão social e controle. Não por acaso, ao longo da história, foram os xamãs, curandeiros, sacerdotes e líderes espirituais que, em muitos casos, não só preservaram as crenças religiosas, mas também as moldaram, oferecendo interpretações que, com o tempo, se tornaram fundamentais para a coesão dos grupos sociais.
O processo de criação e transmissão dessas crenças não foi um simples fenômeno de engano, mas sim uma construção social complexa. Nos estágios iniciais das sociedades tribais, líderes espirituais, muitas vezes em estreita relação com o poder político, eram responsáveis por formular, preservar e disseminar as crenças religiosas. Essas figuras não eram apenas transmitentes passivos de crenças populares; muitas vezes, eram os próprios criadores dessas concepções.
A religião, portanto, é um fenômeno multifacetado. Ela está ligada a interesses financeiros, políticos e sociais de diversos grupos dentro da sociedade. Além disso, suas crenças e rituais, por mais que contenham elementos de fantasia e erro, possuem uma força que, de forma enigmática, permanece intacta frente ao avanço do conhecimento científico e da racionalidade. No caso do Islã, isso se reflete na durabilidade e na expansão contínua da religião, que, apesar das reformas, mantém um lugar significativo na sociedade e na cultura de muitos países muçulmanos.
Como a Religião Serve como Instrumento de Opressão Social em Sociedades de Classes
A religião, em seu papel mais profundo, se revela como uma construção social complexa, interligada aos aspectos econômicos, políticos e psicológicos das sociedades. Em uma sociedade de classes, a religião transcende a mera crença em forças sobrenaturais ou em dogmas abstratos; ela se torna uma ferramenta literal de opressão. Isso ocorre porque, mais do que ideais errôneos ou concepções distorcidas do mundo, a religião se torna um meio pelo qual as estruturas de poder se consolidam, ganham força e perpetuam as desigualdades. Não é suficiente afirmar que a religião apenas reflete visões equivocadas sobre a realidade, pois suas raízes mais profundas estão no entrelaçamento com os interesses da classe dominante e suas instituições.
Em uma sociedade dividida por classes, a religião não é apenas um conjunto de ideias errôneas que podem ser facilmente refutadas pela experiência cotidiana. O desafio de combater a religião não está na negação de suas doutrinas, mas na estrutura sólida e profundamente enraizada que sustenta suas crenças. A longa tradição de normas estabelecidas e rituais religiosos é o principal suporte para essas crenças, e essa tradição é reforçada pela força organizada e coesa dos sacerdotes e hierarquias eclesiásticas. Essas corporações religiosas funcionam como parte do aparato de controle da classe dominante, consolidando e expandindo o domínio de quem detém o poder. Assim, a religião não apenas reflete as condições materiais da vida, mas também atua como um mecanismo que sustenta a ordem social e econômica estabelecida, criando uma verdadeira relação simbiótica entre a estrutura material da sociedade e as ideologias religiosas.
Além disso, a religião exerce um impacto psicológico profundo sobre os indivíduos. Quando uma pessoa recorre à religião para apoio e consolo diante das adversidades da vida, ela não apenas adota um sistema de crenças, mas internaliza uma visão de mundo que limita sua percepção e, muitas vezes, a sua capacidade de agir contra as condições de exploração. A ideia de uma recompensa divina por sofrimento ou sacrifício terreno perpetua a aceitação passiva da opressão social e econômica. Este aspecto psicológico da religião reforça seu papel conservador e retroativo, mantendo os indivíduos sob controle não apenas por meio de dogmas, mas também pela promessa de um consolo transcendente, que frequentemente se revela ilusório.
Historicamente, a religião tem sido um divisor de águas, mais do que um fator de união entre os seres humanos. As guerras religiosas, perseguições, execuções de hereges e a queima de bruxas são exemplos dramáticos do papel destrutivo da religião em tempos de conflito. Embora muitas vezes essas guerras tenham sido movidas por interesses materiais — como a luta por poder e riquezas —, a ideologia religiosa forneceu o combustível para justificar a violência e a crueldade. Os gritos de guerra como “Matar os infiéis!” ou “Aniquilar os hereges!” mostram como a religião tem sido usada para incitar e intensificar divisões sociais e políticas, perpetuando um ciclo de violência.
Além disso, a religião impõe fardos econômicos pesados à humanidade. A busca por favores sobrenaturais e a tentativa de garantir a assistência de forças invisíveis levam os indivíduos a sacrificar grande parte de seus recursos materiais, numa tentativa desesperada de obter recompensas que nunca se concretizam. Esse comportamento sacrificial é resultado de uma profunda superstição alimentada por séculos de tradição religiosa e medo do desconhecido, estabelecendo um vínculo estreito entre a pobreza material e a promessa de recompensas espirituais.
A religião é, acima de tudo, um fenômeno social, que nasce e se adapta às condições materiais da vida, ao mesmo tempo em que se reflete nelas de maneira distorcida. As crenças religiosas não surgem de uma visão pura e genuína da realidade, mas como uma interpretação das condições de vida que existem em determinado momento histórico. As ideias religiosas não são apenas reflexos mecânicos das condições materiais; elas são também uma distorção dessas condições, que se apresenta como algo imutável e transcendente.
Este fenômeno é multifacetado e exige uma análise profunda. Não se pode entender a religião apenas como um conjunto de crenças desconectadas de seus contextos materiais e históricos. Cada rito, cada dogma, cada tradição religiosa tem suas raízes em práticas antigas e frequentemente distorcidas. Por exemplo, o batismo cristão, que se originou das seitas mandeanas do Oriente Médio, pode ser visto como um reflexo da tradição de purificação associada à água, mas sua origem remonta a uma prática religiosa mais antiga, relacionada ao culto de Ea, deus da água na antiga Babilônia. Assim, é necessário compreender essas práticas como resultados de longos processos históricos, e não como fenômenos isolados ou explicações simplistas baseadas em suas manifestações visíveis.
O mesmo vale para a circuncisão, que é frequentemente explicada em termos de um rito higiênico, mas que, na realidade, tem suas raízes em práticas antigas de sociedades mais primitivas, onde servia para marcar a transição para a maturidade, muitas vezes de forma brutal. O dogma cristão da Imaculada Conceição de Maria também pode ser visto à luz dessas crenças arcaicas sobre o nascimento de grandes figuras sobrenaturais, mas sua origem está ligada a um desejo de mostrar a divindade de Cristo, algo que se reflete em mitos de outras culturas antigas.
Por fim, entender a religião e seus rituais não é apenas estudar suas crenças superficiais, mas também explorar as condições materiais, históricas e sociais que deram origem a esses fenômenos. Sem uma análise rigorosa dessas raízes, qualquer tentativa de compreender a religião estará fadada a ser incompleta e falha.
A Intercalação do Cristianismo com as Crenças Antigas entre os Eslavos
Sob a pressão do regime feudal-monárquico, os eslavos adotaram o cristianismo oriundo do catolicismo romano. No entanto, à medida que o cristianismo se espalhava, ele foi se fundindo com as antigas crenças pagãs, um processo incentivado pelo clero cristão que buscava tornar a nova fé mais palatável para o povo. As festas e rituais agrícolas de outrora foram adaptados para coincidir com os feriados cristãos, o que facilitou a aceitação da nova religião entre os eslavos. Deuses antigos foram progressivamente incorporados aos santos cristãos, com muitos dos nomes originais sendo substituídos, mas suas funções e atributos preservados. Perun, o deus do trovão, continuou sendo venerado, mas sob o nome de Ilia, o Profeta; Veles, deus do gado, passou a ser conhecido como São Vlásia; Mokosh, a deusa da fertilidade, foi associada a Santa Paraskeva ou Santa Sexta-feira.
Esses processos de sincretismo não se limitaram apenas aos deuses, mas também afetaram os heróis mitológicos, cujas lendas continuam presentes até os dias de hoje. Contudo, não é sempre fácil discernir quais elementos dessas histórias são de origem antiga e quais foram acrescentados posteriormente. De maneira geral, todos os povos eslavos compartilham uma crença no mundo espiritual da natureza. Espíritos, que personificam os bosques, eram comuns em áreas florestais: os duendes das florestas russos e poloneses. Estes espíritos representavam o temor que o agricultor eslavo tinha das florestas densas que deveria desbravar, territórios onde se podia facilmente se perder e que eram habitados por animais selvagens que poderiam matá-lo.
Além dos espíritos florestais, os eslavos também acreditavam em espíritos das águas, muito mais temidos do que os brincalhões duendes da floresta. O perigo de se afogar em um redemoinho ou lago era uma ameaça muito mais concreta e aterradora. Na Rússia, na Polônia e na Boêmia, a figura do espírito do campo também era comum. Ela era descrita como uma mulher de branco, que surgia trabalhando nos campos durante o calor do meio-dia, quando era costume fazer uma pausa. Este espírito punia os transgressores dessa regra, decapitando-os ou aplicando outros castigos, personificando o risco de insolação.
A crença nas "rusalcas", ou sereias, é igualmente difundida entre os eslavos. A figura da rusalca foi vista de diferentes formas: como personificação das águas ou como a alma de uma mulher afogada. Para entender as crenças e rituais associados às rusalcas, é preciso levar em consideração as influências do período romano e pré-cristão. O termo "rusalca" vem de "ruslo", que significa rio, e tem raízes no latim, em particular relacionado às sereias da tradição greco-romana. Estas figuras foram incorporadas às crenças eslavas, associando-se aos antigos rituais agrícolas da primavera e verão, como os celebrados pelos búlgaros e macedônios, conhecidos como "rusália" ou "rusalnitsa", antes do Domingo de Pentecostes.
Embora a imagem mitológica da rusalca, como uma criatura aquática, tenha se desenvolvido mais tarde, no século XVIII, ela já refletia a fusão das crenças eslavas com os antigos mitos sobre a água, a morte por afogamento, e a personificação das divindades femininas associadas à fertilidade. De acordo com crenças do sul da Rússia, as rusalcas percorriam o centeio e brincavam na grama, garantindo boas colheitas de grãos, linho e cânhamo. Esta nova imagem da rusalca substituiu as antigas visões eslavas sobre ninfas aquáticas e outros espíritos femininos das águas.
Até hoje, muitos povos eslavos mantêm uma rica tapeçaria de superstições sobre seres sobrenaturais, algumas benignas, outras ameaçadoras. Esses espíritos personificam as calamidades da natureza e os medos oriundos da pobreza e das dificuldades sociais, especialmente em épocas
Como surgiu uma religião universal separada da etnia, da língua e do Estado?
As religiões universais representam um fenômeno tardio e radicalmente distinto das chamadas religiões nacionais ou étnicas. Até certo ponto da história humana, a fé era inseparável da identidade coletiva: ser de uma determinada tribo, falar um certo idioma, pertencer a um povo ou reino — tudo isso implicava adorar os deuses próprios desse grupo. A religião estava profundamente entrelaçada com a cultura, a política e a etnicidade. A emergência das religiões universais, como o budismo, o cristianismo e o islamismo, marcou a primeira vez em que uma fé rompeu essas fronteiras e passou a unir pessoas além de seus vínculos de sangue, língua ou cidadania. Era agora possível fazer parte de uma comunidade religiosa que transcendia os limites geográficos, culturais e nacionais. Cada uma dessas religiões surgiu sob condições históricas excepcionais.
O budismo foi a primeira dessas religiões a surgir e teve, na Ásia, um papel comparável ao que o cristianismo exerceu na Europa e o islamismo no Oriente Médio e norte da África. A origem do budismo, no entanto, permanece envolta em incertezas. Não há fontes escritas contemporâneas ao surgimento dessa tradição religiosa, e talvez nunca tenham existido. As primeiras inscrições disponíveis são atribuídas ao rei Ashoka, do século III a.C., quando o budismo já se encontrava plenamente desenvolvido, com doutrinas estabelecidas, organização e rituais.
Tudo o que se sabe sobre os primórdios do budismo — anteriores à era de Ashoka — deriva de escritos posteriores, criados em diferentes épocas e regiões, e que juntos formaram um vasto corpo de literatura religiosa. Entre essas fontes, o mais valioso conjunto para os historiadores é o Tipitaka, uma compilação de textos canônicos em língua pali, preservada sobretudo no Sri Lanka. Redigido nos primeiros séculos antes de Cristo, o Tipitaka — literalmente, “três cestos” — se divide em três partes: o Vinayapitaka, que reúne as regras de conduta para a comunidade monástica; o Suttapitaka, composto por discursos e provérbios atribuídos ao Buda; e o Abhidhammapitaka, que trata de especulações metafísicas. Embora existam versões posteriores muito mais extensas em sânscrito, chinês, tibetano e outras línguas, sua relevância histórica é menor.
As lendas mais antigas retratam o Buda como uma figura histórica, um mestre espiritual que viveu por volta dos séculos VI ou V a.C. no norte da Índia. De acordo com a tradição, seu nome era Siddhartha, membro da tribo dos Sakya, e filho do rei de um pequeno Estado aos pés do Himalaia. Após tornar-se mestre, recebeu diversos títulos, como Gautama, Sakyamuni (sábio dos Sakya), Tathagata (aquele que assim chegou), Bhagavat (venerável), e Jina (vencedor). Seu pai, o rei Suddhodana, cercou-o de riqueza e prazeres, protegendo-o da realidade do sofrimento. O jovem príncipe cresceu sem nunca ver doença, velhice ou morte — até o dia em que, ao sair do palácio, teve quatro encontros decisivos: viu um homem doente, um velho, um cadáver e um monge pobre, mas sereno. Com isso, Siddhartha compreendeu que o sofrimento era universal e que havia aqueles que abriam mão do prazer mundano para buscar a paz interior. Resolveu então seguir o mesmo caminho.
Abandonando o luxo e sua família, tornou-se um eremita e mergulhou em práticas ascéticas extremas. Por sete anos viveu nas florestas, punindo seu corpo e jejuando, na esperança de alcançar a verdade. No entanto, percebeu que nem a vida de indulgência nem a de mortificação traziam a libertação. Foi então que, meditando sob uma árvore pipal (ficus religiosa), alcançou o estado de iluminação. Nesse momento, Siddhartha tornou-se o Buda — o Iluminado. Sua principal conclusão foi a rejeição dos extremos: tanto a vida de prazer quanto a de sofrimento voluntário são indignas. A via correta era o caminho do meio — introspectivo, contemplativo, conduzido pela busca da verdade e da libertação interior.
Depois da iluminação, o Buda começou a ensinar sua doutrina, inicialmente no parque de Risipatan, próximo a Varanasi, e depois em várias cidades e aldeias do nordeste da Índia. Formou discípulos, reuniu seguidores, enviou missionários. Durante os 40 anos seguintes — segundo as lendas — ele percorreu
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