O Partido Republicano, nos Estados Unidos, passou por uma transformação significativa ao longo das últimas décadas, convergindo para uma formação ultradireitista que, cada vez mais, se afasta do centro político. Essa mudança foi moldada por um apelo crescente aos sentimentos de racismo, indignação e divisão, elementos que se tornaram centrais para a sua estratégia eleitoral. O partido conseguiu combinar o populismo de direita com uma plutocracia que promove políticas descoladas das reais necessidades da sua base de eleitores.
O populismo de direita nos Estados Unidos, ao contrário de suas versões europeias, apresenta uma diferença fundamental: a rejeição radical ao estado de bem-estar social. Enquanto partidos de direita da Europa, como os conservadores britânicos e a Frente Nacional de Marine Le Pen, ainda defendem a preservação das instituições de proteção social, nos Estados Unidos os republicanos optaram por uma postura agressiva contra qualquer forma de assistência social. Eles usaram a identidade branca e a animosidade racial para justificar uma agenda política que se opõe diretamente aos direitos das minorias.
Pesquisas empíricas demonstram claramente que muitos eleitores brancos rejeitam programas de bem-estar social quando percebem que esses benefícios favorecem, principalmente, as minorias, mesmo que os próprios brancos também se beneficiem desses programas. Essa percepção de que o dinheiro público flui desproporcionalmente para negros e latinos é um dos principais fatores que alimentam a hostilidade branca contra essas políticas. A ideia de que o “racismo reverso” e a alegação de que os programas sociais favorecem as minorias em detrimento dos brancos são argumentos recorrentes entre os apoiadores do Trump.
Além disso, o que é comumente chamado de "salário psicológico" ajuda a entender grande parte dessa oposição: a sensação de que os brancos pobres merecem ajuda, enquanto os não-brancos pobres são vistos como preguiçosos ou responsáveis por sua própria miséria. Essa ideia reforça o estigma racial e constrói uma narrativa onde os brancos pobres são vítimas de forças externas, ao passo que os pobres não-brancos são vistos como vítimas de sua própria falha moral ou cultural.
Essa relação entre o medo da perda de status social e o apoio a políticas contra o bem-estar social é um dos principais motores da hostilidade branca para com os programas de assistência. Com o tempo, essa narrativa foi absorvida e fortalecida pelos líderes republicanos, especialmente durante a ascensão de Trump. Ele soube articular esse medo, sugerindo que o retrocesso racial e a hostilidade aos imigrantes poderiam restaurar o privilégio branco e recuperar o poder perdido em um período de mudanças demográficas e turbulência econômica.
Embora a retórica de Trump tenha dado a muitos brancos a ilusão de que ele estava os defendendo, a realidade foi bem diferente. Ao atacar os programas de saúde pública, desregulamentar as leis ambientais e reduzir os programas de bem-estar social, o resultado foi devastador para exatamente aqueles que ele prometia proteger. A falta de poder econômico e a deterioração dos serviços públicos afetaram as próprias classes brancas mais baixas que Trump alegava defender.
Ao longo dessa trajetória, o Partido Republicano, que antes tinha uma postura mais moderada e focada em governança, se transformou em uma força ultraconservadora que obstrui, sabota e minam as instituições democráticas. O apoio incondicional à plutocracia e o ataque aos programas sociais moldaram uma base que é notavelmente unificada, leal e ressentida. O medo do declínio social e da perda de poder político reforçou a necessidade de manter a base republicana coesa, ainda que isso envolvesse intensificar a retórica racial e prometer uma restauração do status quo social.
A descoberta de Lee Atwater, sobre como a animosidade racial foi usada para garantir o apoio dos pobres do Sul a um programa econômico que beneficiava as corporações, ilustra como os republicanos conseguiram unir interesses econômicos com ressentimentos raciais. Inicialmente concentrada no Sul, essa estratégia se espalhou pelo resto do país, formando a base política que atualmente sustenta o Partido Republicano.
Por fim, a crescente polarização racial, ligada à ascensão da plutocracia, fez com que o partido se distanciasse cada vez mais de qualquer compromisso com a justiça social ou com a defesa dos direitos civis. O princípio fundamental do nacionalismo cívico americano, que garante a cidadania a todos, independentemente de sua raça ou religião, está sendo profundamente desafiado. O Partido Republicano parece agora mais próximo de rejeitar esse princípio em favor de um nacionalismo branco que renuncia aos avanços conquistados pela luta pelos direitos civis.
A ascensão de Trump, com seu envolvimento nos casos envolvendo a identidade de Obama, é um reflexo claro dessa dinâmica. Sua postura agressiva, inicialmente disfarçada, tornou-se aberta ao longo do tempo, e o "birtherismo" - teoria que afirmava que Obama não era nascido nos Estados Unidos - se tornou uma das maiores evidências de sua disposição para explorar o racismo como uma ferramenta política.
Como o Partido Republicano Está Constrangido pela Diversificação Demográfica e pela Mudança Social
O Partido Republicano dos Estados Unidos, em sua estrutura atual, tem se organizado em torno da animosidade racial, sem demonstrar sequer um interesse superficial em representar os anseios da maioria da população. À medida que sua base de apoio encolhe e se radicaliza, o partido se alinha cada vez mais contra o conceito de uma democracia multirracial. O que estamos testemunhando é o colapso gradual de um partido que, ao se tornar uma minoria dentro de outra minoria, continua, de maneira sistemática, a ser super-representado no governo nacional, enquanto sua tentativa de organizar um regime de minoria branca se intensifica. No entanto, o tempo trabalha contra eles, e eles sabem disso. O país está se tornando cada vez mais diverso, apesar de seus desesperados esforços para manter um domínio da minoria branca.
Nos últimos quinze anos, enquanto o Partido Republicano tem se deslocado cada vez mais para a extrema-direita, os Democratas e os independentes avançaram em questões de equidade racial e redistribuição econômica. Esta mudança direta ameaça um partido de extrema-direita que se dedica ao rancor racial e à plutocracia. Embora tenha intensificado a política da indignação racial e colocado a luta contra a teoria crítica da raça no centro de sua estratégia política nacional, o Partido Republicano reflete a orientação de uma base eleitoral branca, ressentida e determinada a "Fazer a América Grande Novamente". Contudo, a sociedade americana está se tornando mais cosmopolita, secular, educada e integrada. A evolução demográfica, padrões de emprego, estilos de vida, relacionamentos afetivos e muito mais estão impondo desafios que irão reestruturar a sociedade americana, independentemente dos esforços de qualquer partido político.
Por mais que o Partido Republicano tente fechar o país para imigrantes e restaurar as antigas hierarquias raciais, ele tem sido incapaz de moldar o futuro do país. A estrutura política obsoleta e disfuncional que ainda protege os interesses de uma minoria está levando o partido a um futuro sem perspectivas, onde ele pode se tornar uma força meramente obstrutiva, incapaz de lidar com a crise ambiental, a crescente desigualdade e a democracia ameaçada. Dependente de uma unidade ideológica rígida, o partido está se relegando à tarefa de proteger os interesses da plutocracia em um ambiente cada vez mais hostil. Em sua obsessão com a pureza ideológica, eles se isolam mais e mais, sem perceber que o futuro é inevitavelmente hostil ao seu projeto.
Os plutocratas americanos almejam políticas que as eleições, em sua configuração atual, não podem proporcionar. Ao mesmo tempo, os nacionalistas brancos desejam um retorno a um passado que está se esvaindo. Embora a estrutura política atual seja suficiente para proteger, por ora, os interesses de ambos, o tempo está contra eles. O Partido Republicano, obcecado com o nacionalismo branco e com a plutocracia, enfrenta um futuro severamente inclemente.
O que os republicanos parecem não entender é que sua trajetória de resistência à mudança os está levando a um beco sem saída. Eles não estão conseguindo se adaptar às mudanças demográficas que estão remodelando a sociedade americana, e sua ideologia, construída em torno da manutenção de um status quo desigual, parece cada vez mais arcaica. Enquanto o Partido Republicano continua a resistir a essas transformações, os ventos da mudança continuam a soprar, e é provável que, ao longo do tempo, suas tentativas de manter o poder sejam cada vez mais infrutíferas.
Esse fenômeno não é único da política americana. Vários outros países enfrentam desafios semelhantes, com partidos conservadores e de direita tentando preservar uma ordem antiga enquanto as sociedades se diversificam. A questão central é como a democracia pode sobreviver quando uma parte significativa da população não está disposta a aceitar essas mudanças e, em vez disso, se apega a uma versão do passado que se torna cada vez mais distante da realidade. É esse embate entre o passado e o futuro que vai determinar, nos próximos anos, o rumo das democracias liberais, não apenas nos Estados Unidos, mas também em outras partes do mundo.
A transição para uma sociedade mais integrada e diversa não é uma questão de tempo. A mudança já está acontecendo e só a resistência a essa mudança, alimentada pela ideologia de uma minoria em declínio, é que pode retardar ou prejudicar os benefícios dessa evolução. A compreensão de que a diversidade não é uma ameaça, mas uma oportunidade de fortalecimento para a democracia, é algo que ainda precisa ser amplamente reconhecido, não apenas em discursos políticos, mas no cotidiano da sociedade. Esse é o desafio que muitos países enfrentarão nas próximas décadas.
Como a engenharia genética aprimora a terapia celular na imunoterapia do câncer?
Como Desenvolver Habilidades Metacognitivas para Ser um Aprendiz Autodirigido?
Quais são os avanços e desafios no uso de dispositivos de assistência circulatória mecânica (MCS) no tratamento da insuficiência cardíaca avançada?
Uso de Antirretrovirais na Gravidez: Efeitos, Transferência Placenta e Prevenção da Transmissão Vertical do HIV

Deutsch
Francais
Nederlands
Svenska
Norsk
Dansk
Suomi
Espanol
Italiano
Portugues
Magyar
Polski
Cestina
Русский