A comunicação, em suas diversas formas, não se limita apenas ao que é dito; ela envolve também o modo como as palavras são organizadas e como os interlocutores interpretam o ritmo da conversa. Entre os fenômenos mais comuns na interação verbal estão as interrupções, sobreposições e as pausas, que podem ser mal interpretadas, especialmente em contextos multiculturais.
As interrupções, muitas vezes, acontecem quando um interlocutor tenta dominar a conversa, interrompendo o outro, seja por desejo de participar ou por uma tentativa de estabelecer controle sobre o discurso. No entanto, nem toda interrupção é intencional. Algumas podem ser o resultado de um mal-entendido sobre os sinais do outro, enquanto outras são meras sobreposições, quando duas pessoas falam ao mesmo tempo, sem que isso configure uma tentativa deliberada de interromper.
É importante destacar que essas falhas no turn-taking, como interrupções ou sobreposições, podem gerar mal-entendidos, especialmente quando as pessoas envolvidas pertencem a diferentes culturas ou subculturas. Em algumas culturas, por exemplo, espera-se que a pausa que marca o fim de um turno de fala seja breve, enquanto em outras a pausa pode ser mais longa. Em muitas culturas euro-americanas, uma pausa de cerca de um segundo é vista como um sinal de que o orador concluiu seu turno e que o outro pode começar a falar. Por outro lado, em algumas culturas, como a Athabaskan, uma pausa de um segundo e meio é considerada normal. Um intervalo mais curto do que isso pode ser interpretado como sinal de que o orador ainda tem a palavra.
Esse pequeno meio segundo pode parecer insignificante, mas no contexto de uma conversa pode fazer toda a diferença. Quando as pausas são interpretadas de maneira diferente, pode ocorrer um mal-entendido. Por exemplo, alguém que espera uma pausa longa pode considerar que a breve pausa de um segundo seja uma oportunidade para falar, enquanto o orador pode apenas estar fazendo uma pausa, sem a intenção de ceder a palavra. Isso pode resultar em comportamentos vistos como desrespeitosos ou impolidos de ambas as partes.
O silêncio também desempenha um papel significativo na interação verbal, embora muitas vezes não seja reconhecido como tal. Dependendo do contexto cultural, o silêncio pode ter significados diversos: pode ser desconfortável, amigável, respeitoso ou até indicar uma atitude de indiferença. Em muitas comunidades de língua inglesa, o silêncio prolongado é visto de forma negativa, sendo considerado um espaço vazio que precisa ser preenchido com palavras. Porém, em outras culturas, como a das comunidades Athabaskan, o silêncio possui um valor especial e é até necessário em algumas interações. Por exemplo, ao se encontrar com um amigo após um longo período sem se ver, ou ao interagir com estranhos, a presença de silêncio é considerada uma forma de estabelecer ou restabelecer a conexão, em vez de recorrer a conversas superficiais.
Além disso, o silêncio pode ser um elemento de respeito e consideração, especialmente quando a conversa envolve tópicos sensíveis ou quando se está construindo uma relação. Nesses contextos, o tempo de silêncio é visto como algo que facilita o entendimento mútuo, permitindo que ambas as partes se sintam à vontade para falar. Portanto, entender as diferentes abordagens do silêncio nas várias culturas pode prevenir mal-entendidos e fortalecer as relações interpessoais.
Outro aspecto fundamental da comunicação é a pragmática, que estuda a linguagem no contexto de sua utilização social. A pragmática trata de entender como interpretamos as falas dos outros, considerando fatores como o contexto, o poder e a solidariedade. Ela busca entender não apenas o que é dito, mas o que se quer dizer e como a linguagem é usada para atingir certos objetivos sociais.
A pragmática envolve a análise de como as palavras fazem coisas no mundo. Muitas vezes, não usamos as palavras apenas para transmitir informações, mas para realizar ações, como prometer, sugerir, ameaçar, elogiar ou insultar. A linguagem nos permite negociar relações de poder, afirmar nossas identidades sociais, sinalizar aproximação ou distanciamento e, muitas vezes, expressar atitudes de respeito ou desrespeito. Por exemplo, ao cumprimentar alguém, a escolha das palavras e do tom de voz não é apenas uma formalidade, mas um reflexo da relação entre as pessoas, do contexto em que se encontram e de muitos outros fatores que influenciam a comunicação.
A decisão de como cumprimentar alguém não é simples. Se estou cumprimentando um colega de trabalho, posso dizer "Oi"; se for um estudante, "E aí"; se for um superior hierárquico, como um chefe ou um professor, "Olá". Cada um desses cumprimentos está impregnado de significado sobre o nosso relacionamento social, que vai além da simples troca de saudações. Esse mesmo raciocínio se aplica a outras expressões, como quando alguém pergunta "Como vai?" ou "O que há de novo?", frases que, embora pareçam perguntas, muitas vezes não buscam uma resposta real, mas sim servir como uma forma de interação social. Responder diretamente a uma dessas expressões com uma explicação detalhada pode ser visto como estranho ou, no pior dos casos, rude.
Esses exemplos demonstram como as palavras, embora pareçam ter um significado claro, podem carregar múltiplas intenções e interpretações. A frase "Ah, é?" pode significar concordância, sarcasmo, desdém, surpresa, ou até mesmo uma ameaça, dependendo do tom e do contexto. Assim, em vez de focarmos apenas no significado das palavras, a pragmática nos ensina a interpretar a intenção por trás delas, o que torna a comunicação mais rica e complexa.
Por fim, é importante reconhecer que, na interação verbal, a linguagem vai além da mera troca de informações; ela é um reflexo das relações sociais, culturais e individuais. A compreensão da pragmática e das normas de turn-taking, das diferenças culturais no uso do silêncio e das sutilezas na escolha das palavras pode enriquecer nossas interações cotidianas, evitando mal-entendidos e promovendo um diálogo mais eficaz e respeitoso entre as pessoas.
O que é o inglês hispânico? Distinções, variações e estigmas linguísticos
As comunidades hispânicas, especialmente nas partes do sudoeste dos Estados Unidos, têm uma presença que remonta a séculos. Dentre as diversas variações do inglês hispânico, as mais conhecidas e estudadas são o Chicanx English, o Puerto Rican English e o Cuban English. Essas variantes não devem ser confundidas com o simples inglês falado com um sotaque espanhol ou com o que é muitas vezes chamado de Spanglish, uma mistura de inglês e espanhol. Na verdade, o inglês hispânico é uma variedade linguística legítima e válida, com características próprias que a distinguem de outras formas de inglês.
O Chicanx English, ou Chicanx, é uma dessas variantes. Falado por descendentes mexicanos nos Estados Unidos, é uma forma distinta de inglês utilizada tanto nas grandes cidades quanto nas comunidades rurais, principalmente no sudoeste do país. Ao contrário do que muitos acreditam, o inglês falado por esses indivíduos não é um inglês "estranho" ou "com sotaque estrangeiro". Trata-se de uma variação fonológica do inglês, semelhante à forma como os nova-iorquinos ou os sulistas falam. Os falantes de Chicanx English não falam "inglês errado", mas sim uma variedade normal de inglês, com uma gama de registros que é totalmente válida em seu contexto social e cultural.
Uma das características fonológicas do Chicanx English decorre das influências do espanhol. O espanhol não possui o som da vogal [I], então, neste inglês, o som [i] passa a ter a mesma função. Por exemplo, palavras como "leap" e "lip" são pronunciadas de forma semelhante, ambas soando como [lip]. Outro exemplo é a troca do som [ʃ] (como em "shame") pelo som [tʃ] no início das palavras, resultando em uma pronúncia como [tʃem] em vez de [ʃem]. Da mesma forma, no final das palavras, o inverso ocorre: o som [tʃ] em inglês padrão é pronunciado como [ʃ] no Chicanx English, como em "such", que é pronunciado [səʃ]. Além disso, os clusters consonantais no final das palavras tendem a ser mais reduzidos no Chicanx English, especialmente quando a última consoante é um [d]. Por exemplo, "kind" é pronunciado [kayn], e "herd" pode soar como "her".
Uma outra característica interessante é a concordância negativa, ou o uso de duplas negativas, como em "I don’t want nothing". Embora essas construções sejam frequentemente estigmatizadas como sinais de inglês errado ou de baixo nível educacional, elas seguem regras gramaticais próprias e são parte integral da estrutura linguística do Chicanx English. Além disso, é comum a omissão do morfema do passado {ed} quando o verbo termina em [t], [d] ou [n], fenômeno também observado em outras variedades do inglês.
Além das variações fonológicas e gramaticais, o Chicanx English também apresenta fenômenos linguísticos importantes como a alternância de código e o translanguaging. A alternância de código refere-se ao ato de alternar entre duas ou mais línguas ou variedades de uma língua dentro de uma mesma conversa. Muitas vezes, essa alternância é mal interpretada como sinal de falta de fluência, quando, na verdade, ela é um reflexo da proficiência do falante nas duas línguas. É importante perceber que a alternância de código não significa que a pessoa não domine ambos os idiomas, mas sim que ela é capaz de transitar entre eles com naturalidade. Já o translanguaging, conceito que emerge da sociolinguística moderna, propõe que os falantes bilíngues não veem suas línguas como separadas, mas como um repertório linguístico integrado que é utilizado de forma flexível, dependendo do contexto comunicativo.
É necessário também distinguir entre o uso genuíno do espanhol e o chamado "Mock Spanish" (espanhol falso). O Mock Spanish não é uma variedade linguística legítima, mas sim uma maneira distorcida de fazer uso do espanhol, muitas vezes com o intuito de evocar estereótipos racistas ou ridicularizar a cultura hispânica. Expressões como "Hasta la vista, baby" ou "mañana" podem ser empregadas com um tom humorístico ou leve, mas para aqueles de ascendência hispânica, tais expressões frequentemente carregam conotações ofensivas. O uso do Mock Spanish pode perpetuar estereótipos negativos, como o de que os mexicanos são preguiçosos ou procrastinadores, algo que, mesmo sem intenção, reforça a discriminação cultural.
Os falantes de Chicanx English, bem como outros grupos que utilizam variedades do inglês hispânico, continuam a lutar contra os estigmas associados a suas formas de falar. No entanto, o que frequentemente se ignora é que essas variantes não são apenas "formas erradas" de falar o inglês, mas sim sistemas linguísticos ricos, com suas próprias regras e lógicas, muitas vezes influenciados pela cultura e pela história das comunidades hispânicas nos Estados Unidos.
As variações do inglês hispânico são um reflexo da diversidade cultural e linguística presente na sociedade americana. Embora frequentemente estigmatizadas, elas são parte integral da identidade de milhões de pessoas e, em vez de serem vistas como um reflexo de inferioridade, devem ser reconhecidas e celebradas como expressões legítimas da experiência vivida de seus falantes.
Como funciona a gramática do AAL? Diferenças estruturais e lógicas em relação ao inglês padrão
O African American Language (AAL), ou "inglês afro-americano", apresenta um conjunto de estruturas gramaticais e fonológicas que o distinguem marcadamente do inglês padrão americano (SAE), ainda que siga regras sistemáticas e coerentes próprias. Ao contrário da percepção comum de que o AAL seria apenas uma forma "errada" de inglês, ele constitui um sistema linguístico legítimo, completo e regulado por princípios internos claros, mesmo que esses não coincidam com os da gramática normativa.
Uma das diferenças mais evidentes está no uso do sufixo -s na flexão do presente do singular. Em AAL, essa marca verbal é frequentemente opcional. Frases como I always listen to what she say e I always listen to what she says são igualmente aceitáveis dentro da variedade, sem que haja confusão de sentido. O mesmo ocorre com o possessivo: a estrutura posicional já indica a relação de posse, dispensando a necessidade do sufixo. Por exemplo, The President speech was long and rambling é compreensível e gramaticalmente correta em AAL, mesmo sem o possessivo ’s.
O verbo be é talvez o traço mais marcante e menos compreendido fora da comunidade falante. Em AAL, ele assume formas e funções específicas, entre as quais destaca-se o be invariante. Ao contrário do SAE, onde be varia conforme o sujeito (am, is, are), no AAL o be habitual permanece invariável para indicar ações repetidas ou regulares. Em She be runnin’ with her team, o uso de be não substitui simplesmente o is, mas indica que ela corre com o time regularmente. Em contraste, She runnin’ with her team refere-se a uma ação momentânea, que está ocorrendo agora. Essa distinção não é meramente formal, mas semântica: marca tempos e aspectos diferentes.
Na forma negativa, essa distinção é mantida. Enquanto o AAL frequentemente utiliza ain’t na negação de ações presentes — She ain’t runnin’ with her team — o be habitual exige outra estrutura: She don’t be runnin’ with her team everyday. A tentativa de combinar ain’t com be habitual (She ain’t be runnin’...) resulta em uma construção gramaticalmente incorreta no AAL.
Outro aspecto é o fenômeno da zero copula, ou seja, a omissão do verbo be quando este funciona como verbo de ligação (copulativo), sobretudo nas formas is e are. Frases como She ready now ou They tired são gramaticalmente adequadas no AAL. No entanto, essa omissão segue uma lógica: só se pode omitir a cópula quando esta poderia ser contraída no SAE. Assim, em I’m not a runner, but she is, a parte she is não pode ser omitida porque não é contraível, o que também impede a omissão no AAL. Além disso, was e were (passado do be) geralmente não são omitidos.
Outro traço relevante é o uso de it’s ou i’s como estruturas existenciais, onde o SAE usaria there is ou there are. Em vez de There’s a problem with his logic, um falante de AAL pode dizer i’s a problem with his logic. E o que é mais interessante: essa forma não distingue entre singular e plural — i’s a lot of people here é plenamente aceitável.
No nível fonológico, o AAL apresenta padrões que refletem tanto economia articulatória quanto uma lógica fonética própria. A redução de grupos consonantais é mais frequente em AAL que em outras variedades de inglês. Mas essa redução obedece regras claras, como o contexto fonético (posição da consoante) e a sonoridade. Consoantes como [l] e [r] podem ser omitidas quando seguem uma vogal: help vira [hɛp], cold pode soar como [kod]. Já palavras como car ou ball podem ser reduzidas para [ka] e [ba], respectivamente, exceto se a palavra seguinte começar com vogal.
Quando a redução ocorre em grupos consonantais finais, todas as consoantes do grupo precisam ter a mesma sonoridade (voiced ou voiceless). Assim, band pode ser pronunciado [bæn] (pois [n] e [d] são sonoros), mas link não pode virar lin, já que [n] é sonoro
Como a Linguagem Reflete e Molda Identidades Raciais: O Caso do AAL nas Escolas
O uso da linguagem é uma poderosa ferramenta de construção e expressão de identidade, especialmente quando se trata de grupos étnicos e raciais. A African American Language (AAL), ou Língua Africano-Americana, por exemplo, é muitas vezes associada a estigmas e estereótipos, sendo interpretada, frequentemente, como uma variante inferior do inglês. No entanto, essa percepção não reflete a complexidade sociolinguística da AAL, nem o papel crucial que ela desempenha na construção das identidades raciais e sociais. A ideia de que determinadas formas de falar indicam a raça de um falante é uma simplificação que ignora a dinâmica de identidade, linguagem e cultura.
Estudos revelaram que, muitas vezes, os ouvintes conseguem identificar a raça de um falante apenas por meio da linguagem, mesmo sem identificar as características linguísticas exatas que os levaram a essa conclusão. Essa relação direta entre linguagem e raça, no entanto, tem implicações sérias, principalmente quando leva à discriminação. Um exemplo disso é uma pesquisa que mostrou como proprietários de imóveis, ao falarem com potenciais inquilinos ao telefone, tratavam de maneira diferente aqueles cujo discurso continha características típicas da AAL. Mesmo sem saber a raça do interlocutor, os proprietários responderam de forma desigual, com base no que percebiam como a "raça" evocada pela fala.
Essas descobertas indicam que a linguagem não apenas reflete a identidade racial, mas também pode ser uma ferramenta para categorizar e, muitas vezes, marginalizar indivíduos. Contudo, há evidências que desafiam a ideia de que a AAL é usada exclusivamente por afro-americanos. Pesquisas recentes indicam que a AAL também é adotada por outros grupos, como imigrantes latino-americanos e das Ilhas do Pacífico, em contextos sociais e acadêmicos, mostrando que a identidade racial e étnica se constrói, muitas vezes, por meio de uma complexa interação entre diferentes variedades linguísticas.
Em vez de entender a linguagem como um reflexo direto da identidade, é mais adequado vê-la como um recurso para "performar" identidades. Em outras palavras, as pessoas não falam de uma maneira específica apenas por causa de suas identidades sociais, mas sim porque utilizam os recursos linguísticos disponíveis para criar e recriar suas identidades. Nesse contexto, a AAL não é apenas um marcador de raça, mas um meio de negociação de identidade, onde cada falante, consciente ou inconscientemente, escolhe elementos da língua para afirmar seu lugar no mundo social e cultural.
Essa perspectiva é ainda mais evidente quando se observa o uso da AAL em contextos locais específicos. Por exemplo, em Nova York, a segunda geração de americanos caribenhos, que também pode ser vista como "falante de AAL", faz uso de nuances fonológicas distintas, como a pronúncia pós-vocalica do /r/, para se diferenciar de afro-americanos nativos. Tais nuances, que não eram presentes na fala de seus pais, servem para afirmar uma identidade híbrida, ao mesmo tempo afro-americana e caribenha, revelando como a linguagem pode ser usada para afirmar identidades raciais complexas e localizadas.
Outro ponto relevante diz respeito ao impacto da AAL no sistema educacional. Nos Estados Unidos, a desigualdade educacional entre estudantes negros e brancos tem sido um tema constante de debate. Com frequência, a culpa por essa disparidade é atribuída à linguagem falada pelos afro-americanos. A AAL foi frequentemente rotulada como "deficiente" ou como uma forma de linguagem incapaz de lidar com conceitos complexos, o que levou a uma visão prejudicial dos estudantes afro-americanos. Essa visão reducionista de que a linguagem de um estudante é um obstáculo para o sucesso acadêmico esconde uma questão mais profunda: é o sistema educacional que falha ao não reconhecer a legitimidade da linguagem dos alunos.
Em 1996, a Junta Escolar de Oakland, na Califórnia, tomou uma medida corajosa ao sugerir que a AAL fosse usada como base para o ensino de inglês padrão. A proposta não era ensinar a AAL em vez do inglês padrão, mas sim reconhecê-la como uma linguagem legítima, com suas próprias regras gramaticais, para ajudar os estudantes a fazer a transição para a linguagem acadêmica. Apesar da oposição pública e do mal-entendido da mídia, a proposta recebeu apoio de linguistas, que argumentaram que o uso da AAL no ensino poderia ajudar os estudantes a aprender o inglês formal de maneira mais eficaz.
Pesquisas posteriores confirmaram essa hipótese. O uso da AAL no contexto educacional não apenas é eficaz para a aquisição de inglês padrão, mas também ajuda a diminuir as barreiras sociais e raciais dentro da sala de aula. Reconhecer a AAL como uma linguagem válida não apenas valida a identidade dos estudantes afro-americanos, mas também lhes dá as ferramentas necessárias para navegar no mundo acadêmico e profissional. No entanto, o preconceito contra a AAL e a visão de que ela é uma "língua inferior" ainda são prevalentes, mesmo após mais de duas décadas de discussões e pesquisas sobre o tema.
É essencial que o sistema educacional e a sociedade em geral abandonem a ideia de que as variedades linguísticas associadas a diferentes grupos étnicos ou raciais são menos válidas do que o inglês formal. A linguagem é uma parte intrínseca da identidade e da experiência racial, e entender isso é crucial para a construção de um sistema educacional mais inclusivo e menos discriminatório.
Como a linguagem molda e reflete o gênero nas estruturas sociais e culturais?
Para compreender de forma mais profunda como a linguagem carrega e reforça noções de gênero, é necessário considerar o conceito de gênero gramatical. Em muitas línguas indo-europeias, os substantivos são classificados como masculinos, femininos ou, em alguns casos, também como neutros. Essa categorização não está necessariamente relacionada ao sexo biológico ou à identidade de gênero, mas sim a estruturas linguísticas convencionais. Por exemplo, em francês, diz-se le chien est parti para "o cachorro saiu", mas la voiture est partie para "o carro saiu". A diferença morfológica no final do particípio partie (com "e") não se refere ao sexo do cachorro ou do carro, mas sim ao gênero gramatical atribuído ao substantivo.
Entretanto, mesmo línguas como o inglês, que abandonaram em grande parte o sistema de gênero gramatical, continuam a codificar o gênero de formas sutis e profundamente culturais. Um dos mecanismos mais debatidos é o uso de termos genéricos androcêntricos, como man, mankind ou o pronome he para se referir a todas as pessoas. Essas escolhas não são neutras. Estudos mostraram que, mesmo que tais termos sejam defendidos como inclusivos, sua interpretação na prática carrega uma marcação masculina implícita. O exemplo de dog é ilustrativo: apesar de ser teoricamente neutro, há uma palavra específica para a fêmea (bitch), o que revela uma estrutura semelhante à de man e woman, em que o masculino é o padrão e o feminino, uma marcação.
Essa normatividade masculina está tão enraizada que termos como man continuam sendo usados para se referir à humanidade em geral. A linguagem cotidiana reflete isso de forma constante. Em um exemplo contemporâneo, a embalagem de uma cafeteira anuncia: "I own every brewing device known to man". O uso do termo man aqui não é inocente; ele reforça uma visão de mundo centrada no masculino como o universal.
A crítica a esse tipo de linguagem não ficou restrita aos espaços acadêmicos. Houve movimentos ativos de reforma linguística para substituir termos explicitamente sexistas. Mailman deu lugar a mail carrier, stewardess tornou-se flight attendant, e waiter/waitress cedeu espaço a server. Essa transformação, embora significativa, não significa que os estereótipos associados ao gênero tenham desaparecido da percepção social. A linguagem pode mudar mais rapidamente que as estruturas mentais que ela sustenta.
A forma como certos pares lexicais são tratados também revela desequilíbrios. Termos como governor/governess, master/mistress, bachelor/spinster apresentam um padrão onde o masculino é associado ao prestígio, e o feminino, à marginalização ou sexualização. A conotação de mistress, por exemplo, é fortemente sexual, contrastando com a neutralidade profissional de master. A substituição de spinster por bachelorette na cultura popular é apenas uma atualização cosmética, e não uma ruptura com o paradigma sexista. O uso de sufixos como -ess ou -ette marca as mulheres como exceções, desviantes do padrão implícito: o homem.
Essa marcação não se limita à escolha de palavras, mas se manifesta também nas ausências. Um astronauta homem raramente é identificado como tal. Já uma astronauta mulher é frequentemente qualificada como female astronaut, destacando sua diferença em relação ao modelo presumido. Isso vale para outras profissões de alto prestígio, como doctor. Apesar da crescente presença feminina na medicina, a expressão woman doctor ainda é comum, enquanto man doctor praticamente inexiste. Por outro lado, em profissões tradicionalmente feminizadas, como nurse ou prostitute, o padrão se inverte: é necessário especificar quando se trata de um homem (male nurse, male prostitute), evidenciando a norma feminina nesses contextos.
A linguagem, assim, é um campo de batalha simbólico onde se disputam significados, identidades e lugares sociais. As palavras que usamos para nomear o mundo não são neutras: elas organizam e hierarquizam nossa percepção da realidade.
Além disso, a linguagem de gênero não é uniforme. Ela varia conforme classe, raça, etnia, idade, orientação sexual e outros marcadores identitários. Nem todas as mulheres falam da mesma maneira, nem todos os homens compartilham um mesmo estilo linguístico. Um exemplo revelador é o da chamada Black Masculine Language (BML), uma variedade do inglês associada a identidades masculinas negras. Frequentemente estigmatizada como street talk, a BML é, como qualquer forma de linguagem, sistemática e funcional. Para muitos jovens negros americanos, ela atua como forma de resistência, identidade e solidariedade, desafiando o olhar normativo de uma sociedade branca que frequentemente tenta rotulá-los.
Essa complexidade mostra que gênero, na linguagem, é mais do que uma questão de pronomes ou sufixos. É um campo onde
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