A gestão anestésica em cirurgias corretivas envolvendo malformações vasculares, como o anel vascular duplo, apresenta desafios singulares devido à complexidade anatômica e às condições patofisiológicas do paciente, especialmente quando se trata de crianças. O anel vascular duplo (AVD) é uma malformação congênita rara, na qual as duas aortas, direita e esquerda, formam um anel ao redor da traqueia e do esôfago, levando a obstrução parcial ou total dessas estruturas e resultando em sintomas clínicos como estridor, dificuldade para respirar e engolir, e em casos mais graves, até insuficiência respiratória. A abordagem cirúrgica, portanto, deve ser cuidadosamente planejada e executada, com a colaboração estreita entre os cirurgiões e a equipe anestésica.

A avaliação pré-operatória detalhada é um dos pontos-chave na gestão anestésica desse tipo de procedimento. Exames de imagem como ultrassonografia cardíaca e tomografia computadorizada (TC) são cruciais para definir a anatomia exata da malformação, identificar a compressão das vias aéreas e avaliar a presença de outras anomalias, como a estenose traqueal associada. A identificação precisa da localização e extensão do anel vascular ajuda a determinar as melhores abordagens cirúrgicas e anestésicas, minimizando riscos durante a indução e a manutenção da anestesia.

No caso descrito, uma paciente de 10 meses com diagnóstico de AVD foi submetida à correção do anel vascular e plastia da aorta. Durante a avaliação, foi detectado um estreitamento significativo da traqueia no nível do arco aórtico, o que exigia uma abordagem anestésica delicada e um monitoramento rigoroso das vias aéreas. A indução da anestesia foi realizada com medicamentos como midazolam, etomidato e sufentanil, seguidos pela introdução de um tubo endotraqueal de 4 mm, sob auxílio de laringoscopia visualizada, garantindo que a passagem do tubo ocorresse além do segmento estreitado da traqueia, evitando complicações respiratórias.

O uso de ventilação controlada por pressão (PCV) foi fundamental para a manutenção da oxigenação adequada e controle do dióxido de carbono expirado (ETCO2), evitando flutuações que poderiam indicar hipoventilação ou hipercapnia. O controle da pressão arterial também foi essencial, com a monitorização invasiva de pressão arterial central e arterial, para garantir a perfusão adequada durante todo o procedimento. A utilização de bloqueio de nervo paravertebral a nível T4, com ropivacaína, permitiu controle adicional da dor, reduzindo a necessidade de analgésicos sistêmicos e contribuindo para a estabilização hemodinâmica pós-operatória.

Um ponto importante no manejo anestésico de crianças com AVD é o monitoramento contínuo da função cardíaca e pulmonar. A manipulação das vias aéreas durante a intubação e a ventilação mecânica pode provocar mudanças hemodinâmicas significativas, especialmente em pacientes com estenoses vasculares ou hipertensão pulmonar associada. A perfusão coronária e a oxigenação do miocárdio dependem fortemente da pressão de perfusão coronária e da duração da diástole, sendo necessário ajustes finos durante a cirurgia, particularmente em casos onde há risco aumentado de isquemia miocárdica.

Além disso, é crucial a monitorização intraoperatória constante das pressões arteriais e da função respiratória. A hipovolemia e a hipotensão podem ocorrer com mais frequência em cirurgias de grande porte, como a correção de anel vascular, dado o risco de sangramentos e o impacto da manipulação das grandes artérias. Nestes casos, a utilização de dopamina ou outros vasopressores pode ser necessária para garantir a perfusão adequada dos órgãos vitais.

A abordagem perioperatória deve ser ajustada à condição clínica do paciente, levando em consideração as particularidades de cada caso. Por exemplo, no caso de uma criança com obstrução significativa das vias aéreas, a escolha do tubo endotraqueal deve ser feita com cuidado, pois o diâmetro da traqueia pode ser muito reduzido. A intubação deve ser realizada utilizando técnicas que minimizem o risco de lesão traqueal e garantam o controle adequado das vias aéreas.

Além disso, a consideração do tempo de diástole e a gestão da pressão sanguínea são essenciais para manter a estabilidade cardíaca, especialmente em pacientes com risco de isquemia miocárdica devido à compressão dos vasos sanguíneos. A duração da diástole deve ser otimizada para melhorar a perfusão coronária e evitar danos ao miocárdio, fator crítico em cirurgias envolvendo o arco aórtico e grandes vasos.

É necessário entender que, ao planejar a anestesia para esse tipo de cirurgia, não basta apenas focar nos aspectos técnicos da indução e manutenção da anestesia. A colaboração eficaz entre a equipe cirúrgica e anestésica é fundamental para prever e gerenciar possíveis complicações. Isso inclui o acompanhamento das condições respiratórias e circulatórias em tempo real, além de estar preparado para reações adversas a medicamentos, como hipotensão ou alterações na frequência cardíaca.

A anestesia em crianças com anel vascular duplo exige uma avaliação completa e uma abordagem adaptativa. A escolha cuidadosa dos medicamentos, o uso de técnicas de monitoramento avançadas e a vigilância constante durante a cirurgia são fundamentais para garantir a segurança do paciente e o sucesso do procedimento.

Como Gerenciar Reações Alérgicas Severas Durante a Circulação Extracorpórea em Crianças

As reações alérgicas severas em crianças durante a cirurgia com circulação extracorpórea (CBP) podem ser extremamente desafiadoras, especialmente em um ambiente onde a monitorização intensiva e os cuidados rápidos são cruciais para a sobrevivência do paciente. O controle adequado dessas reações exige uma compreensão detalhada dos mecanismos imunológicos, da vigilância contínua dos sinais vitais e da administração precisa de medicamentos e fluidos.

Uma situação típica de reação alérgica grave pode ser exemplificada pela identificação de urticária e alterações na pressão inspiratória, como observado com uma pressão inspiratória (PIP) de 18 cm H2O e uma relação tempo inspiratório-expiratório de 1:2, que indicam uma resposta alérgica severa. Além disso, o volume corrente foi mantido entre 90 e 100 mL, enquanto ajustes na frequência respiratória (RR) ajudaram a manter a pressão de dióxido de carbono end-tidal (ETCO2) entre 35 a 40 mm Hg. A monitorização invasiva foi implementada para medição da pressão arterial (ABP) e da pressão venosa central (CVP), e também foi realizado o monitoramento da saturação de oxigênio cerebral regional (rSO2). Esses parâmetros permitem uma avaliação contínua e detalhada da condição do paciente.

Nos casos de reações alérgicas graves durante a cirurgia, o início imediato do tratamento é fundamental. Primeiramente, uma solução de Ringer’s acetato foi administrada rapidamente pela veia femoral para estabilizar a pressão arterial, acompanhada pela infusão de fenilefrina, epinefrina e dopamina. Medicamentos como metilprednisolona e gluconato de cálcio também foram administrados intermitentemente. Esses medicamentos têm a função de estabilizar a hemodinâmica e aliviar os sintomas alérgicos, como broncoespasmo e edema da via aérea superior, que são comuns em reações alérgicas severas.

Após a liberação da pinça aórtica, o coração retomou o batimento espontâneo e a pressão arterial foi gradualmente aumentada, com a pressão arterial estabilizando-se entre 60–78/42–59 mm Hg e a frequência cardíaca (HR) estabilizada em 145–155 bpm. A saturação periférica de oxigênio (SpO2) foi mantida entre 95% e 98%. A monitorização da pressão das vias aéreas também indicou uma redução, o que sugere um controle bem-sucedido da resposta alérgica.

A compreensão dos mecanismos subjacentes a essas reações alérgicas é essencial. As reações alérgicas podem ser mediadas por IgE ou não-IgE. No caso de reações mediadas por IgE, a exposição inicial ao alérgeno leva à produção de anticorpos IgE específicos, que se ligam a mastócitos e basófilos, sensibilizando-os. Quando o alérgeno é novamente introduzido, ocorre a degranulação dessas células e a liberação de histamina, levando a sintomas como urticária, angioedema, broncoespasmo e até laringoespasmo. As reações não mediadas por IgE ainda são menos compreendidas, mas envolvem respostas imunes que não dependem da formação de anticorpos IgE.

Após a estabilização inicial, o uso de fluidos e medicamentos vasoativos, como adrenalina e corticosteroides, continua sendo crucial para manter a pressão arterial e prevenir a recidiva dos sintomas. A observação e monitorização contínuas em unidades de terapia intensiva, como a Unidade de Terapia Intensiva Cardíaca (CICU), são necessárias para garantir que os sinais vitais do paciente permaneçam estáveis. Os pacientes que apresentam reações alérgicas graves frequentemente necessitam de cuidados intensivos para garantir que não haja complicações subsequentes, como choque ou parada cardíaca.

O manejo pós-operatório de pacientes com reações alérgicas graves segue com a administração de fluidos cristaloides e a monitorização rigorosa dos parâmetros vitais. A decisão de utilizar produtos sanguíneos é cuidadosamente ponderada para evitar complicações adicionais. Uma vez estabilizado, o paciente pode ser transferido para a unidade de recuperação pós-anestésica, com uma expectativa de alta hospitalar dependendo da evolução clínica, geralmente entre o terceiro e o quinto dia pós-operatório.

Reações alérgicas durante a cirurgia com circulação extracorpórea são raras, mas representam um risco significativo, especialmente em crianças. A incidência relatada de reações alérgicas durante a CBP é de cerca de 0,46%, sendo mais alta do que em cirurgias não cardíacas. A gestão eficaz dessas reações depende de uma abordagem multidisciplinar, onde a detecção precoce, o tratamento rápido e a monitorização contínua são fundamentais para evitar complicações fatais.

Em suma, o gerenciamento de reações alérgicas severas durante a cirurgia com circulação extracorpórea em crianças exige uma compreensão clara dos processos imunológicos e uma resposta médica imediata. A equipe médica deve estar preparada para identificar rapidamente os sinais de uma reação alérgica grave, administrar os tratamentos adequados e monitorar de perto o paciente para garantir a recuperação total após a cirurgia.

Como manejar a anestesia em crianças com teratoma retroperitoneal e disfunção cardíaca grave?

A anestesia de uma criança com teratoma retroperitoneal de grandes dimensões e comprometimento cardíaco significativo impõe uma série de desafios hemodinâmicos, ventilatórios e metabólicos que requerem vigilância constante, planejamento multidisciplinar e intervenção dinâmica. O quadro clínico se agrava com a presença de uma cardiomiopatia dilatada e sinais de desnutrição severa, elementos que transformam a condução anestésica em um equilíbrio instável entre suporte circulatório, oxigenação tecidual e controle metabólico intraoperatório.

A indução anestésica foi realizada com propofol, sufentanil e rocurônio em doses tituladas cuidadosamente para evitar depressão cardiovascular abrupta. A intubação orotraqueal foi bem-sucedida após a perda do reflexo ciliar, com utilização de tubo endotraqueal com cuff de 4.0 mm, posicionado a 10 cm de profundidade sob laringoscopia direta. A ventilação mecânica foi conduzida em modo PCV-VG com parâmetros otimizados para manter a capnografia final (ETCO₂) entre 35–40 mmHg, garantindo assim uma ventilação adequada com proteção pulmonar.

A monitorização intraoperatória foi extensa: pressão arterial invasiva via artéria radial esquerda, pressão venosa central, índice cardíaco, variação do volume sistólico (SVV), dp/dt máximo e saturação de oxigênio tissular renal por INVOS®. O suporte hemodinâmico foi iniciado precocemente com dobutamina e dopamina, administradas simultaneamente em infusão contínua, à medida que a pressão arterial média caiu para valores críticos e o índice cardíaco declinou.

A monitorização contínua permitiu intervenções imediatas, como ressuscitação volêmica acelerada ao aumento do SVV, e transfusão de concentrado de hemácias quando os níveis de hemoglobina caíram abaixo de 8 g/dL. O equilíbrio ácido-básico e eletrolítico foi mantido com infusões tituladas de bicarbonato de sódio e cloreto de potássio conforme as análises gasométricas seriadas.

O tumor abdominal, predominantemente cístico, apresentava calcificações e componentes adiposos em sua estrutura, deslocando a aorta abdominal e provocando rotação renal, sugerindo teratoma retroperitoneal — posteriormente confirmado como imaturo e, portanto, maligno. A magnitude do tumor e seu efeito de massa sobre estruturas adjacentes complicaram a estabilidade hemodinâmica, exigindo ajustes ventilatórios e controle rigoroso da perfusão renal e cerebral.

A cardiomiopatia dilatada infantil, com fração de ejeção ventricular esquerda reduzida (37,97%) e índice de encurtamento sistólico diminuído, reforça a complexidade do caso. Tal disfunção ventricular limita severamente a reserva cardíaca da criança, tornando qualquer alteração de pré ou pós-carga potencialmente catastrófica. A vigilância estreita da função cardíaca, com suporte inotrópico oportuno, foi determinante para a manutenção da perfusão sistêmica intraoperatória.

O manejo da coagulação e da hemostasia também foi criterioso. A administração profilática de ácido tranexâmico e a transfusão de plasma fresco congelado visaram prevenir sangramentos excessivos em um paciente com possível fragilidade endotelial e reserva hemostática comprometida pela desnutrição.

No pós-operatório imediato, o paciente permaneceu intubado e sedado na unidade de terapia intensiva sob monitorização contínua. A extubação ocorreu no segundo dia e a alta da UTI no quarto, com subsequente alta hospitalar após uma semana. A evolução clínica favorável, com recuperação da função ventricular e estabilização hemodinâmica, reflete a eficácia do manejo anestésico e perioperatório em um cenário de altíssimo risco.

É essencial considerar, além dos parâmetros clássicos de monitorização, o uso de marcadores biológicos como a AFP e o HCG não apenas para diagnóstico e prognóstico oncológico, mas também como alerta para a possibilidade de malignidade, influenciando a abordagem terapêutica e o planejamento cirúrgico. A presença de valores extremamente elevados de AFP neste caso se correlacionou com a confirmação histopatológica de teratoma imaturo.

Por fim, é imperativo compreender que em pacientes pediátricos com cardiomiopatia dilatada e suspeita de insuficiência cardíaca, a condução anestésica deve ser baseada em estratégia de mínima depressão miocárdica, preservação da pré-carga e ajuste dinâmico do suporte inotrópico. A individualização de todos os aspectos farmacológicos, ventilatórios e hemodinâmicos é fundamental para evitar a deterioração clínica intraoperatória e otimizar o prognóstico pós-cirúrgico.

Como gerenciar o flutter atrial em cirurgias cardíacas congênitas complexas em crianças?

Um caso emblemático ilustra os desafios inerentes à condução anestésica e clínica em pacientes pediátricos com cardiopatias congênitas complexas, como o flutter atrial pós-operatório. Trata-se de um menino de 9 anos, portador de múltiplas malformações cardíacas congênitas, incluindo dextrocardia, ventrículo único, átrio único, estenose valvar pulmonar e retorno venoso pulmonar anômalo total, que passou por diversas intervenções cirúrgicas paliativas, como derivação cavopulmonar bidirecional e valvuloplastia atrioventricular. Apesar dos procedimentos, episódios frequentes de flutter atrial persistiram, caracterizados por ritmo atrial rápido e regular, manifestando-se por fadiga intensa e redução da tolerância ao exercício, sem resposta satisfatória à terapia medicamentosa com propafenona, amiodarona e outras drogas antiarrítmicas.

O flutter atrial em pacientes com cardiopatias congênitas apresenta um desafio hemodinâmico relevante, pois pode levar a oscilações significativas do débito cardíaco e instabilidade circulatória. A manutenção do ritmo sinusal, controle rigoroso da frequência ventricular e a prevenção de taquicardias são cruciais durante o manejo anestésico, especialmente em procedimentos invasivos como a ablação por radiofrequência. Neste contexto, a monitorização contínua e invasiva da pressão arterial, saturação de oxigênio e ritmo cardíaco torna-se indispensável para garantir a estabilidade hemodinâmica.

Durante a indução anestésica, o uso de midazolam, etomidato, fentanil e rocurônio permitiu a sedação e bloqueio muscular necessários, porém, a abordagem demandou extrema cautela dada a presença de ritmos ectópicos e bloqueios atrioventriculares de segundo grau evidenciados em monitorização eletrocardiográfica e Holter. A estratégia terapêutica adotada baseou-se na identificação do mecanismo arritmogênico, neste caso, o flutter atrial dependente do istmo no istmo do anel valvar comum até a veia cava inferior, sendo este o alvo da ablação para restauração do ritmo sinusal.

Além das técnicas anestésicas e cirúrgicas, a compreensão da anatomia cardíaca alterada — incluindo a localização anômala dos grandes vasos e as particularidades da circulação pulmonar pós-cirúrgica — é essencial para planejar adequadamente o tratamento e antecipar possíveis complicações. A análise cuidadosa da ecocardiografia, tomografia computadorizada e demais exames complementares permite mapear as condições hemodinâmicas e estruturais, influenciando diretamente as decisões clínicas.

Para o leitor, torna-se fundamental reconhecer que o manejo de arritmias em cardiopatias congênitas não se limita ao controle imediato do ritmo. É imprescindível compreender a interação entre alterações estruturais, fisiológicas e farmacológicas que influenciam a resposta ao tratamento. A variabilidade do quadro clínico, a presença de bloqueios atrioventriculares e a fragilidade do paciente impõem uma abordagem multidisciplinar e individualizada, com protocolos flexíveis e preparados para intervenções rápidas.

Adicionalmente, é importante considerar que a tolerância do paciente a arritmias depende não só da frequência cardíaca, mas também da eficiência do débito cardíaco e da oxigenação tecidual, frequentemente comprometida em cardiopatias congênitas complexas. A sedação e anestesia devem, portanto, preservar a estabilidade cardiovascular e minimizar estímulos que possam precipitar crises. O uso de drogas deve ser criterioso, adaptado à condição hemodinâmica e ao perfil metabólico do paciente.

Assim, a complexidade do manejo do flutter atrial em crianças com cardiopatias congênitas exige conhecimento aprofundado da fisiopatologia, dos efeitos dos fármacos e das técnicas anestésicas, bem como a capacidade de antecipar e responder a alterações súbitas do quadro clínico. O equilíbrio delicado entre ritmo, débito e oxigenação é o cerne do sucesso terapêutico e da sobrevida destes pacientes.

Como a Anemia do Duto Arterioso (DAA) Afeta a Cirurgia Neonatal: Desafios e Manejo Anestésico

O caso clínico de um recém-nascido com aneurisma do duto arterioso (DAA) revelou aspectos cruciais sobre o manejo anestésico durante uma cirurgia de resectação em condições neonatais. A avaliação pré-operatória, baseada em ecocardiografia e exames de imagem, identificou uma série de complicações cardíacas e pulmonares, como um defeito do septo atrial (ASD) e embolia arterial pulmonar, com um diagnóstico principal de pneumonia neonatal e falência respiratória. A combinação dessas condições exigiu uma abordagem cuidadosa e precisa, a fim de garantir a segurança do paciente durante o procedimento.

O aneurisma do DAA é caracterizado pela dilatação anormal do ducto arterioso, o que pode levar a uma compressão significativa das artérias pulmonares, em particular da artéria pulmonar esquerda, como observado neste caso. A ecocardiografia indicou um shunt bidirecional, predominantemente da esquerda para a direita, com fluxo turbulento que pode prejudicar o desenvolvimento pulmonar. No exame de tomografia computadorizada (TC), notou-se uma comunicação anômala entre o arco aórtico e o ducto arterioso, o que acrescenta complexidade ao manejo pré-operatório e intraoperatório.

Após a estabilização inicial e a avaliação rigorosa dos parâmetros hemodinâmicos, incluindo análise de gases sanguíneos e testes laboratoriais, foi possível proceder com a indução anestésica. A escolha de fármacos como midazolam e rocurônio, aliados ao controle preciso da ventilação mecânica, foi fundamental para garantir que o paciente permanecesse estável durante o procedimento de toracotomia. A ventilação foi cuidadosamente ajustada para otimizar a oxigenação e reduzir o risco de complicações pulmonares, com ênfase em parâmetros como PIP, PEEP e FiO2.

O procedimento cirúrgico envolveu o uso de circulação extracorpórea (CPB), sendo bem-sucedido no tratamento do aneurisma do DAA. Durante a resectação, descobriu-se que o ducto estava extremamente dilatado, com placas internas, e os aneurismas estavam localizados tanto no início quanto na extremidade distal da artéria pulmonar. A remoção de uma dessas lesões foi realizada sem complicações, e a correção do defeito do septo atrial foi feita de forma eficaz com o uso de um patch pericárdico para reparar a artéria pulmonar.

O manejo anestésico durante essa fase foi crucial, não apenas para garantir a segurança do paciente durante a indução e manutenção da anestesia, mas também para monitorar de perto a resposta hemodinâmica. O uso de dopamina, associada à vigilância contínua da pressão arterial e oxigenação, assegurou que o paciente fosse mantido em condições adequadas durante o período crítico pós-operatório. O monitoramento invasivo de pressão arterial e cateterismo venoso central permitiu a infusão precisa de fluidos e medicações.

Apesar do sucesso da cirurgia, o pós-operatório de aneurisma do DAA é desafiador e repleto de riscos. Complicações como dilatação adicional do aneurisma, ruptura espontânea ou compressão de estruturas adjacentes, como nervos e brônquios, são comuns. A infecção também representa um risco, o que exige vigilância constante. No caso apresentado, o paciente passou por um período de ventilação mecânica, seguido de extubação bem-sucedida e suporte não invasivo. A alta hospitalar ocorreu após 14 dias de internação, com a realização de acompanhamento ecocardiográfico para avaliar a regressão espontânea do aneurisma, o que é frequentemente observado em casos de DAA em recém-nascidos.

Além disso, é importante compreender que, embora muitos pacientes com aneurisma do DAA sejam assintomáticos, complicações graves podem surgir, especialmente em casos não diagnosticados precocemente. O acompanhamento contínuo, por meio de ecocardiografia e avaliação de sinais clínicos, é fundamental para detectar possíveis complicações em estágios iniciais, antes que se tornem ameaçadoras para a vida.

É essencial que o leitor compreenda que o manejo de casos como o de aneurisma do DAA não se limita apenas à habilidade técnica da equipe médica durante a cirurgia. A avaliação pré-operatória detalhada, o planejamento anestésico cuidadoso e o monitoramento contínuo pós-operatório são componentes essenciais para o sucesso a longo prazo do paciente. A abordagem integrada entre equipes de cardiologia, cirurgia e anestesiologia, juntamente com o uso de tecnologias de ponta para monitoramento e intervenção, tem mostrado um impacto positivo nos resultados em neonatos com condições tão complexas.