A insuficiência aórtica (IA) após a implantação de um dispositivo de assistência ventricular esquerda (LVAD) é uma complicação comum e desafiadora em pacientes com insuficiência cardíaca avançada. Essa condição pode apresentar risco significativo para a saúde dos pacientes, com impacto direto na sobrevida e na qualidade de vida. A IA ocorre quando a válvula aórtica não fecha adequadamente, permitindo que o sangue regurgite de volta para o ventrículo esquerdo durante a diástole. Esse fenômeno é frequentemente exacerbado no contexto de LVAD, dado o aumento da pressão transvalvular e a alteração das dinâmicas hemodinâmicas.
Em um cenário de suporte com LVAD, o mecanismo exato de desenvolvimento de IA pode envolver dois fatores principais. O primeiro é o estresse hemodinâmico contínuo sobre as cúspides da válvula aórtica, o que pode levar a danos endoteliais, degeneração da válvula, fusão das comissuras e dilatação do anel aórtico. O segundo fator envolve a dilatação do anel aórtico, o que pode alterar a geometria da válvula e contribuir para a perda da competência da válvula aórtica (Mudd et al., 2008; Holtz e Teuteberg, 2014). A regurgitação aórtica severa pode resultar em sintomas graves de insuficiência cardíaca e, em casos extremos, choque cardiogênico, quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para suprir as necessidades do corpo.
Os fatores de risco para o desenvolvimento de IA grave incluem sexo feminino, índice de massa corporal baixo (IMC), aumento do diâmetro basal da raiz aórtica, hipertensão, pequena superfície corporal, longa duração do suporte do LVAD e a presença de válvula aórtica fechada (Kagawa et al., 2020; Patil et al., 2014, 2016). Além disso, pacientes com disfunção ventricular direita subjacente são menos propensos a tolerar IA, devido à tendência dessa condição de aumentar as pressões pulmonares (Cowger et al., 2014).
A IA pode ser classificada de acordo com a sua gravidade, que deve ser avaliada através de uma combinação de imagens, exames laboratoriais e avaliação hemodinâmica. A avaliação visual da gravidade da IA pode subestimar a real condição do paciente, especialmente em situações com LVAD contínuo, onde a regurgitação aórtica ocorre de forma contínua durante todo o ciclo cardíaco. A medição semiquantitativa tem se mostrado mais eficaz para identificar a gravidade real da IA em pacientes com LVAD (Imamura et al., 2019). Em situações de disfunção ventricular direita associada à IA, a dilatação biventricular progressiva pode ocorrer, aumentando o risco de complicações graves, como acidente vascular cerebral e sangramentos não cirúrgicos (Sayer et al., 2017).
Além disso, a monitorização cuidadosa dos parâmetros hemodinâmicos, como a pressão venosa central e o índice cardíaco, é essencial para a avaliação da gravidade da IA. O aumento do fluxo do dispositivo LVAD e a diminuição da velocidade diastólica no Doppler podem indicar a piora da IA, com uma relação pico sistólico a diastólico inferior a 5 ou aceleração diastólica superior a 49 cm/s², devido ao aumento do fluxo diastólico através do enxerto de saída (Grinstein et al., 2016).
Nos estágios iniciais, o gerenciamento da IA em pacientes com LVAD pode incluir medidas farmacológicas, como diuréticos para aliviar a congestão e agentes redutores de pós-carga para ajudar na manutenção do funcionamento do ventrículo esquerdo. No entanto, o tratamento definitivo para IA grave geralmente exige abordagens invasivas, como substituição da válvula aórtica por meio de cirurgia ou procedimentos transcateter, além de considerar a possibilidade de transplante cardíaco para pacientes que atendem aos critérios.
É importante notar que a IA não é a única complicação associada ao LVAD. Outras complicações, como a infecção da linha de acionamento (driveline), obstrução do enxerto de saída e disfunção do dispositivo, também devem ser monitoradas de perto. A infecção da linha de acionamento, por exemplo, pode ocorrer mesmo com cuidados rigorosos, exigindo intervenção precoce para evitar complicações mais graves (Puius et al., 2021). A obstrução do enxerto de saída pode ser associada a falha do dispositivo, apresentando-se com sintomas de insuficiência cardíaca e baixa vazão do LVAD (Yehya et al., 2019).
Por fim, a gestão do paciente com LVAD requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo cardiologistas estruturais, especialistas em dispositivos e equipes cirúrgicas. A avaliação contínua dos parâmetros do dispositivo, a identificação precoce de complicações e o manejo adequado das comorbidades associadas ao LVAD são essenciais para a maximização da sobrevida e da qualidade de vida desses pacientes.
Como o Sistema BiVACOR TAH Adapta-se às Mudanças Fisiológicas e Melhora a Qualidade de Vida do Paciente
A interdependência dos ventrículos e o mecanismo de Frank-Starling desempenham um papel crucial no funcionamento do coração nativo, e seu entendimento é essencial para compreender como dispositivos de suporte, como o BiVACOR TAH (Total Artificial Heart), podem melhorar a adaptação do corpo humano a diferentes condições fisiológicas. Este dispositivo, ao simular essas interações naturais, oferece benefícios notáveis, especialmente em situações onde a adaptação contínua ao estado do paciente é necessária.
Um aspecto crítico do BiVACOR TAH é sua capacidade de ajustar automaticamente a posição do rotor, reagindo a mudanças nas pressões atriais e arteriais, de modo a manter o equilíbrio hemodinâmico. Quando ocorre uma diminuição na pressão do átrio esquerdo (inflow), o rotor tende a se deslocar em direção à parte direita do dispositivo. Este movimento visa aumentar a atração magnética no lado direito do rotor, compensando a força alterada e garantindo que a função de bombeamento não seja comprometida. Embora a eficiência da bomba esquerda seja reduzida com a mudança de posição, isso favorece o reabastecimento do átrio esquerdo, evitando complicações como congestão venosa ou outras desordens circulatórias associadas ao uso de dispositivos de assistência ventricular rotativa (VAD).
Após a alta hospitalar, a capacidade do BiVACOR TAH de se adaptar autonomamente a essas mudanças fisiológicas pode ter um impacto significativo na qualidade de vida do paciente. Essa adaptação automática ajuda a manter um equilíbrio constante entre a pressão e o fluxo circulatório, o que diminui o risco de problemas como a congestão venosa e o acidente vascular cerebral hipertensivo. Ao manter uma resposta fisiológica semelhante à do coração natural, o BiVACOR TAH melhora a capacidade de exercício do paciente, mesmo sem ajustes frequentes na velocidade da bomba. A ausência de ajustes constantes é um avanço importante em relação aos dispositivos tradicionais, proporcionando ao paciente maior autonomia e conforto no dia a dia.
Além disso, a modulação da velocidade do rotor, com base na necessidade fisiológica do momento, garante que o dispositivo seja capaz de gerar um fluxo pulsátil adequado. No coração humano, o fluxo pulsátil é necessário para a função ótima de diversos órgãos, incluindo o cérebro e os rins. Nos dispositivos de assistência cardíaca tradicionais, a ausência de pulsação pode levar a complicações graves, como disfunção renal, hepática, ou cerebral, além de aumento do risco de trombose e hemorragias. A modulação de velocidade implementada no BiVACOR TAH visa corrigir essa limitação, proporcionando pulsação ajustada ao nível de atividade do paciente, o que pode ser crucial durante atividades físicas intensas ou em momentos de descanso.
A capacidade do BiVACOR TAH de operar tanto em fluxo contínuo quanto em modo pulsátil é outra vantagem significativa. Isso permite que o dispositivo se ajuste de forma ideal a uma ampla gama de resistências vasculares e às demandas circulatórias diárias do paciente. Em estudos realizados, foi observado que o dispositivo pode gerar pressões aórticas de até 40 mmHg e taxas de fluxo acima de 20 L/min, com variações mínimas de pressão arterial, garantindo uma circulação mais próxima à fisiológica. Isso não só melhora a perfusão nos órgãos vitais, mas também mantém a pressão arterial dentro de uma faixa normal, evitando complicações como hipertensão ou síncope.
Um outro recurso importante implementado no BiVACOR TAH é o modo de modulação de velocidade cíclica, que permite uma interrupção temporária do fluxo interno para promover um "lavagem" do dispositivo, reduzindo o risco de estase sanguínea e, consequentemente, diminuindo o risco de trombose. Este ajuste cíclico ajuda a manter o dispositivo limpo e a circulação eficiente, o que é vital para a longevidade do sistema e para a saúde do paciente a longo prazo.
O desafio principal na utilização desses dispositivos ainda está na adaptação das respostas hemodinâmicas às necessidades fisiológicas individuais, que podem variar com a atividade do paciente e com a evolução do quadro clínico. A capacidade do BiVACOR TAH de alterar a velocidade de rotação do rotor e gerar pulsos artificiais sem a necessidade de ajustes constantes permite que o dispositivo se ajuste de forma autônoma às condições de saúde do paciente, sem a intervenção contínua da equipe médica. Este fator pode ser um diferencial para os pacientes que necessitam de um suporte cardíaco por períodos prolongados e que buscam retomar suas atividades cotidianas com maior qualidade de vida.
Porém, é importante que os profissionais de saúde acompanhem de perto o desempenho do dispositivo durante a fase de adaptação pós-operatória. A interação entre o dispositivo e o sistema circulatório pode apresentar variações nas primeiras semanas, e a monitorização contínua das pressões e dos fluxos sanguíneos ajudará a garantir que o dispositivo esteja funcionando dentro dos parâmetros ideais para o paciente.
Quais são os fatores prognósticos associados ao uso de dispositivos de suporte circulatório mecânico durável e como eles influenciam os resultados clínicos?
O uso de dispositivos de suporte circulatório mecânico durável (MCSD) tem mostrado grandes avanços na melhoria da sobrevida e da capacidade funcional dos pacientes com insuficiência cardíaca grave. No entanto, a associação com comorbidades e a qualidade de vida dos pacientes continuam a ser fatores críticos na avaliação dos resultados a longo prazo. Estudos recentes, como os realizados com a base de dados STS Intermacs, têm aprofundado a compreensão dos fatores prognósticos que impactam esses resultados, abordando desde doenças vasculares periféricas até distúrbios renais e pulmonares crônicos.
Entre os fatores prognósticos mais significativos, destacam-se as comorbidades, como a doença vascular periférica, a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e a insuficiência renal. A presença de tais condições pode reduzir substancialmente os resultados dos pacientes, afetando tanto a sobrevivência quanto a qualidade de vida pós-implantação dos dispositivos de assistência ventricular (LVAD). A análise dos dados da base STS Intermacs revela que essas comorbidades impactam negativamente o prognóstico de longo prazo, sublinhando a importância de uma seleção criteriosa de pacientes, com a consideração dessas condições como parte do processo decisional.
A qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL) é outro indicador crucial avaliado em longo prazo. Medições como o EuroQol-5D (EQ-5D-3L) e o Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire (KCCQ-12) são ferramentas utilizadas para monitorar as melhorias no bem-estar funcional e psicológico dos pacientes após o implante do MCSD. Esses instrumentos demonstram consistentemente que, após a implantação do dispositivo, a capacidade funcional dos pacientes tende a melhorar, com redução dos sintomas físicos e psicológicos, resultando em uma melhor HRQoL. No entanto, fatores psicossociais, como o suporte social e o estado psicológico dos pacientes, têm um papel fundamental nesse processo. Pacientes com forte apoio familiar e social apresentam melhorias mais significativas, enquanto aqueles com depressão grave ou deficiência cognitiva podem ter uma piora na qualidade de vida pós-operatória.
Outro aspecto relevante é o impacto das complicações associadas ao dispositivo. Apesar dos avanços na tecnologia de dispositivos, como as bombas de fluxo contínuo e a levitação magnética, que reduziram a incidência de trombose da bomba e eventos neurológicos, complicações graves, como falência ventricular direita, acidente vascular cerebral (AVC) e sangramentos gastrointestinais, continuam a ser problemas frequentes. Estes eventos têm um impacto direto na qualidade de vida dos pacientes e são fatores prognósticos importantes. Além disso, a infecção e o risco de sangramentos permanecem desafios consideráveis para os pacientes com LVAD, apesar das melhorias na tecnologia dos dispositivos.
Um estudo recente de Grady et al. (2021) ressaltou que a elegibilidade para transplante cardíaco está intimamente ligada à qualidade de vida pós-implantação. Pacientes com maior elegibilidade para transplante apresentaram melhores escores no Visual Analog Scale (VAS), refletindo uma maior percepção de bem-estar. Por outro lado, aqueles que não eram elegíveis para transplante ou que experimentavam complicações neurológicas significativas tinham escores de VAS mais baixos, indicando uma piora em sua qualidade de vida.
Adicionalmente, o progresso nas definições de eventos adversos também desempenha um papel importante na padronização dos resultados e na comparação de estudos clínicos. A base de dados do STS Intermacs e as novas definições propostas pelo MCS-ARC são ferramentas essenciais para o entendimento e a definição clara dos eventos adversos relacionados ao uso de MCSDs, facilitando a análise de grandes quantidades de dados e permitindo uma melhor comparação entre diferentes ensaios clínicos e registros globais.
A prevalência de eventos adversos em pacientes com dispositivos de assistência ventricular continua alta, com mais de 30% dos pacientes sendo hospitalizados em até 90 dias e mais de 70% em até 12 meses após o implante. Embora os avanços tecnológicos tenham reduzido algumas complicações, a taxa de hospitalizações e a carga de eventos adversos ainda são substanciais e requerem uma abordagem contínua para otimização do tratamento e manejo do paciente.
Portanto, para que os médicos e equipes multidisciplinares possam melhorar os resultados de pacientes com MCSD, é necessário considerar não apenas as condições clínicas do paciente, mas também fatores psicossociais, a elegibilidade para transplante, as complicações pós-operatórias e os impactos dessas complicações na qualidade de vida. A escolha do paciente para o implante do dispositivo e o acompanhamento pós-operatório devem ser feitos de maneira abrangente e personalizada, para garantir não apenas a sobrevida, mas uma vida com maior qualidade para os pacientes.

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