A intelectualidade, enquanto camada social, frequentemente sente a instabilidade em seu modo de vida, algo que também caracteriza o proletariado. A vida da intelligentsia, especialmente na sociedade capitalista, aproxima-se do modo de existência da pequena burguesia, com trabalho isolado ou em pequenos grupos, o que, de certa forma, limita a sua capacidade de engajamento com a realidade mais ampla e com as dinâmicas coletivas da sociedade. Esse isolamento é uma das características que marcam a intelectualidade, não apenas como classe social, mas como uma força produtora de ideias que se vê muitas vezes distante da luta de classes e da transformação social efetiva.
Entretanto, é preciso compreender as especificidades do trabalho intelectual e criativo sob todas as condições. Por mais que se reconheçam características próprias, essas não podem ser absolutizadas. No campo da arte, por exemplo, uma comparação entre o artista e Robinson Crusoé, amplamente defendida por correntes estéticas não-marxistas, precisa ser reconsiderada. Quando Crusoé começa sua jornada, ele se apoia em toda uma experiência prévia e no legado do pensamento humano de sua época. Já o artista, ao se deparar com a folha em branco, inicia sua obra a partir de si mesmo, de sua capacidade criativa, mas não está isolado. Ele depende do legado cultural e social ao qual pertence, de sua visão de mundo e de seus sentimentos, mas também do que lhe foi transmitido por seus predecessores e contemporâneos. A cultura popular, os gostos e exigências espirituais de sua época alimentam sua produção artística.
Essa interação entre o indivíduo e a sociedade é essencial para se compreender o verdadeiro papel do artista. O artista genuíno não está em conflito com a sociedade; pelo contrário, seu papel é justamente o de refletir, interpretar e até mesmo antecipar os anseios e sofrimentos do seu tempo. Quanto mais marcado é o caráter individual do artista, mais ele é, paradoxalmente, um produto de sua época. A autenticidade do artista surge justamente quando ele se deixa imergir nas tensões e no espírito do seu tempo, sem perder sua identidade, mas sem negar os desafios e as angústias coletivas que o cercam.
Albert Camus, ao aceitar o Prêmio Nobel de Literatura, oferece uma interessante reflexão sobre a função do artista em relação à sociedade. Para Camus, a arte não pode ser desvinculada das questões sociais. A ideia de "arte pela arte", um conceito que busca isolar a criação artística de qualquer compromisso com o contexto social e político, é refutada de maneira contundente. Ele propõe que o artista deve "falar por muitos e sobre muitos", refletindo as alegrias e sofrimentos de todos, utilizando uma linguagem acessível e comum, para que sua arte possa ser entendida universalmente. Para Camus, o artista está inevitavelmente preso ao seu tempo, como um prisioneiro numa galé, sempre remando, mesmo sem saber exatamente para onde vai.
A metáfora da galé é crucial para entender a posição do artista: ele está, sim, preso, mas essa prisão não o impede de criar. Ele não tem a liberdade de se afastar da realidade da sua época, nem de ignorar as adversidades da vida cotidiana. A outra metáfora que Camus utiliza é a da arena, onde o artista, ao contrário dos tempos antigos, não pode mais ser apenas um espectador das tragédias da história. O artista hoje deve estar no centro do conflito, no coração da batalha entre opressores e oprimidos, entre aqueles que comandam e os que lutam.
Contudo, o sentido dessa batalha não é necessariamente derrotar os opressores ou mudar o curso dos acontecimentos. O papel do artista não é mudar o sistema ou a ordem das coisas, mas simplesmente ser um testemunho constante do sofrimento humano, assumindo o lado do mártir, mesmo quando, em outro contexto, o mártir já foi o opressor. Camus sugere que, independentemente de como a história se desenrole, a função do artista será sempre a de representar aqueles que sofrem, mantendo-se afastado das correntes do poder, e sendo, assim, a voz da resistência.
Ernst Fischer, por outro lado, propõe uma visão diferente, ancorada na filosofia marxista. Para ele, o conflito entre as elites culturais e os poderes dominantes não é uma questão de pura indiferença à ideologia, como sugere Camus, mas sim uma batalha inevitável mediada pela luta de classes. A arte, ao contrário do que alguns defendem, não é um campo neutro, isento de ideologias ou influências de classe. Ela sempre reflete as condições sociais e políticas de sua época, e o artista, consciente disso, não pode abdicar de sua responsabilidade diante da história.
A arte não pode ser separada da ideologia. Cada ato criativo, por mais individual que seja, está intrinsecamente ligado às tensões sociais e políticas. A visão do artista sobre o mundo, suas escolhas estéticas, sua maneira de expressar sentimentos e emoções, tudo isso está inscrito no contexto mais amplo da luta social. O artista não é apenas um indivíduo solitário, mas um participante ativo no drama coletivo da humanidade, mesmo que suas obras possam, por vezes, parecer um reflexo de sua própria angústia existencial.
No entanto, é fundamental compreender que o papel do artista não se limita a ser um "eco" da sociedade, nem um mero reprodutor das tensões de seu tempo. A verdadeira função do artista é, acima de tudo, transformar a experiência humana, não apenas representá-la. Ele deve ser capaz de olhar para o futuro e imaginar novas possibilidades, novas formas de ser e de viver, sem jamais perder o contato com a realidade que o cerca. A arte é, por excelência, uma forma de resistência – não apenas política, mas também estética e moral. Ela permite que o indivíduo se mantenha fiel à sua visão, ao mesmo tempo em que se coloca a serviço da sociedade e de seus desafios.
A Precisão nas Ciências Humanas: Entre a Matemática e a Arte
Levi-Strauss afirma que o único caminho para a "terra prometida" das ciências humanas é através da precisão. Ele sustenta que não podemos simplesmente colocar as ciências exatas e naturais de um lado da cerca e as humanidades do outro, pois, no fundo, há apenas um único método: o das ciências exatas e naturais para o estudo do universo. E as ciências humanas devem esforçar-se para adotar esse mesmo método ao estudar o homem como parte desse universo. Esta ideia, ao ser colocada dessa maneira, causa impacto. Afinal, todos estamos cansados de aproximações, subjetivismo, predileções pessoais e escritos pseudo-científicos. Mas como alcançar essa precisão desejada?
Alguns defendem que o grau de precisão das ciências sociais está totalmente atrelado ao grau em que essas ciências são matematizadas. Isso leva à conclusão de que apenas uma medida quantitativa universal, ou seja, métodos matemáticos e estatísticos, pode aproximar o estudo literário das ciências exatas. No entanto, muitos estudiosos alertam contra uma interpretação excessivamente ampla da visão de Marx sobre a necessidade de métodos matemáticos. Para fenômenos tão subjetivos quanto a criatividade artística, onde fatores sociais e pessoais desempenham um papel significativo, os critérios quantitativos têm um campo de aplicação bastante restrito. O objeto de estudo, por sua vez, é complexo, multiforme, efêmero e fugaz. Como bem observa A. Bushmin, "a busca por verdades matematicamente precisas na arte é extraordinariamente difícil. Mesmo quando a busca é bem-sucedida, o 'verdadeiro preciso' encontrado não é abrangente, mas sim um fragmento minúsculo de todo o conjunto." O que se obtém, muitas vezes, é uma fórmula abstrata e desprovida de profundidade.
Embora as críticas ao uso de métodos matemáticos nas ciências humanas sejam necessárias e justas, não podemos ignorar uma tendência poderosa nas ciências sociais, particularmente nos estudos literários e na poética. Ao redor do mundo, filósofos e estetas estão profundamente envolvidos com o estruturalismo e o estudo da arte como um sistema semiótico. Seja gostemos ou não, uma escola estruturalista está se formando também na União Soviética. Simpósios e conferências estão sendo realizados para discutir o uso de métodos semióticos, matemáticos e probabilísticos nos estudos literários. Coleções de artigos e livros inteiros sobre poética estrutural começam a ser publicados, exigindo uma análise objetiva e científica, ao mesmo tempo que afastam reações hostis ou indignações puramente emocionais.
Este movimento não pode ser ignorado, pois, de forma inegável, está tomando forma e ganhando força. Já não é mais possível simplesmente desconsiderar as ideias do formalismo russo, como ocorreu nas décadas de 1920 e 1930. A crítica à OPOYAZ (Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética) e ao formalismo burguês, embora tenha sido considerada válida por muito tempo, merece ser revista à luz do contexto atual.
Não basta rejeitar uma concepção acadêmica sem uma análise profunda. O que é necessário é um estudo completo do objeto de análise, que nos permita compreender suas raízes sociais, filosóficas e ideológicas. No caso do estruturalismo, deve-se ainda definir os limites da aplicação dos métodos semióticos e estruturais, bem como entender seu "coeficiente de produtividade". A questão da conexão entre o estruturalismo e o método dialético, ou entre o estruturalismo e o marxismo, precisa ser adequadamente explorada. Muitas correntes de pensadores estruturais sustentam que há uma linha de continuidade entre esses dois campos do conhecimento, o que ainda exige uma análise detalhada.
É importante também considerar o papel fundamental da metodologia marxista-leninista nos estudos literários. Se o século XXI for de fato destinado a se tornar a era das ciências sociais, devemos também pensar sobre o futuro dessas disciplinas, particularmente os estudos literários. Em princípio, podemos afirmar que a metodologia marxista-leninista oferece a base mais produtiva para tais estudos, aproximando-nos de um conhecimento mais preciso da arte. No entanto, esse entendimento geral não é suficiente. A verdade, como sabemos, é concreta, e, para alcançá-la, será necessário enfrentar as questões metodológicas urgentes dentro da área da crítica literária. Entre essas questões estão o estruturalismo e a semiótica, que exigem uma análise mais cuidadosa do que foi feito até o momento.
Em relação ao formalismo russo, Roman Jakobson, um dos maiores estudiosos do tema, dizia que "se a crítica literária quiser se tornar uma disciplina científica, ela deve reconhecer o 'dispositivo' como seu único herói". Jakobson, um ex-membro ativo do OPOYAZ, que se tornou uma figura central no estruturalismo, apontou também que "não sei como é possível trabalhar na esfera da linguagem ou da arte e não tentar entender as estruturas". Entre essas duas afirmações há um intervalo de mais de cinquenta anos na trajetória de Jakobson, que nos dá uma visão clara da evolução do pensamento estruturalista.
É preciso reconhecer que o interesse pelo formalismo russo e por OPOYAZ não desapareceu. Hoje, livros e artigos sobre esses temas estão sendo publicados no exterior, e há um ressurgimento do interesse por essa vertente. A crítica que antes ignorava o formalismo russo como um movimento superado precisa agora ser revista à luz do impacto duradouro que ele teve, especialmente nas formas de leitura e análise literária que prevalecem até hoje.
A abordagem do estruturalismo e suas ramificações nas ciências humanas e sociais é, sem dúvida, um dos maiores desafios contemporâneos. Mas, mais do que um desafio, é uma oportunidade de se repensar a relação entre as ciências exatas e as humanas, e como essas áreas podem interagir para proporcionar uma visão mais precisa e abrangente do universo e do homem em sua complexidade.
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