A avaliação da fraqueza proximal do extensor requer a neutralização do cotovelo, para evitar que o paciente utilize o deltóide como compensação — uma armadilha semelhante ao exame oftalmológico onde o paciente aperta os olhos ao invés de usar óculos. Em casos de biópsia muscular, deve-se evitar o deltóide, pois é o último músculo a apresentar degeneração; a biópsia ideal é do tríceps, para melhor acurácia diagnóstica. Histologicamente, a dermatopolimiosite (DM) pode ser confundida com o lúpus agudo, mas difere das lesões do lúpus cutâneo subagudo (SCLE) e discoide (DLE).
A avaliação laboratorial deve priorizar a monitorização de creatina quinase (CK) e aldolase, particularmente em pacientes sintomáticos, pois o ritmo desses marcadores é mais útil do que a velocidade de hemossedimentação (VHS) para prognóstico. Em DM avançada, níveis de CK podem atingir valores elevados (exemplo: 15.000 U/L), indicando a necessidade de seguimento prolongado, que pode durar até 15 anos. Rash cutâneo concomitante com CK normal deve levantar suspeita de que CK não é marcador confiável, possível neoplasia associada ou fotossensibilidade induzida por radiação ultravioleta.
A análise do painel de autoanticorpos é crucial, especialmente para identificar anticorpos associados ao câncer, como TIF1-γ e NXP-2, sendo estes particularmente relevantes em crianças. O anticorpo MDA5 merece atenção redobrada por representar uma variante agressiva, com complicações que incluem infartos digitais, lesões ulcerativas extensas, e acometimento pulmonar e cardíaco severo. Manifestações clínicas específicas como pápulas hiperqueratóticas palmares, pápulas inversas de Gottron e linfopenia são indicativas dessa forma clínica.
A sobreposição com outras doenças autoimunes do tecido conjuntivo é frequente, ocorrendo em aproximadamente 10% dos casos. Dores articulares matinais e rigidez que dura cerca de uma hora podem sugerir artrite erosiva com sobreposição para artrite reumatoide, sendo recomendada a pesquisa de anticorpos CCP e fator reumatoide (FR). Avaliações da função pulmonar, como a DLCO, são importantes para detectar precocemente distúrbios no intercâmbio gasoso, que antecedem alterações restritivas visíveis em exames de função pulmonar convencionais. A tomografia de alta resolução (HRCT) do tórax é indicada para pacientes com queixas respiratórias, sendo essencial solicitar o exame correto para avaliação detalhada do parênquima pulmonar.
A ultrassonografia pélvica é recomendada em pacientes do sexo feminino para rastreamento oncológico, dada a associação entre DM e neoplasias.
No manejo, a dermatologia desempenha papel essencial, uma vez que o diagnóstico precoce facilita o tratamento e melhora o prognóstico. A DM difere substancialmente do lúpus, apesar de ambas serem doenças multissistêmicas graves. A DM tem uma alta chance de remissão (cerca de 85%) após dois anos de tratamento com metotrexato (MTX) ou micofenolato mofetil (MMF), caso os níveis de CK sejam controlados. Em 15% dos casos, a doença persiste, porém com menor necessidade de tratamento e complicações como calcificação cutânea são raras. Dados atuais, embora não provenientes de estudos controlados, sustentam que a maioria dos pacientes pode suspender o tratamento a longo prazo.
Rituximabe e imunoglobulina endovenosa (IVIG) podem ser utilizados em casos refratários, geralmente exigindo tratamento contínuo. Em pacientes que não respondem a MTX ou prednisona (manutenção abaixo de 40 mg/dia), a transição para MMF é indicada, com período de sobreposição para garantir eficácia. Na falha do MMF, opções incluem IVIG, rituximabe ou ciclofosfamida pulsada, especialmente em pacientes com MDA5. É fundamental o papel do dermatologista em prevenção de infecções secundárias às ulcerações cutâneas.
Sintomas de rigidez articular relatados durante a retirada de medicações podem refletir artrite osteoartrítica crônica pré-existente, não inflamatória, que deve ser distinguida da fraqueza muscular ativa. A DM apresenta artrite que geralmente piora ao longo do dia, típica da osteoartrite, e não deve atrasar a retirada dos imunossupressores.
A dermatite da DM é notoriamente difícil de tratar. Após a fase ativa, pode ocorrer cicatrização da vasculatura cutânea dilatada, resultando em eritema residual semelhante ao observado em rosácea, que não necessariamente indica atividade inflamatória ativa. O uso indiscriminado de altas doses de prednisona, IVIG e rituximabe em pacientes amyopáticos é comum, mas deve ser restringido ao manejo de DM hipomiopática ou miopática, pois a retirada rápida pode precipitar recidivas musculares e cutâneas. Poiquilodermia, frequentemente pruriginosa, pode coexistir com dermatite atópica, e o uso de dupilumabe pode aliviar o prurido, embora não trate diretamente a rash de DM.
A pele de pacientes com DM crônica é fina e mais sensível, exigindo cautela no uso de corticosteroides tópicos para evitar atrofia. O tratamento escalonado para a pele começa com hidroxicloroquina (HCQ), seguida por MTX e MMF, sabendo-se que apenas essas drogas dificilmente normalizam CK, não prevenindo totalmente a progressão muscular. Tofacitinibe tópico é uma alternativa promissora, porém onerosa, e outras opções como roflumilaste (Zoryve) enfrentam barreiras de acesso.
É importante estar atento a reações cutâneas induzidas por drogas, como exantemas morbiliformes associados a HCQ e dermatite por hidroxiureia, além da polimiosite e DM associadas a estatinas, que podem cursar com CK normal e fraqueza significativa, recomendando a suspensão desses fármacos.
Em casos com envolvimento pulmonar, o acompanhamento costuma ser transferido ao pneumologista, pois MMF é eficaz em doença pulmonar intersticial (DPI) associada à DM, um quadro tipicamente crônico e de baixa atividade inflamatória, para o qual o uso de prednisona é limitado.
Deve-se orientar os pacientes quanto ao uso de suplementos ou ervas com efeito imunostimulatório, que podem exacerbar a DM via aumento da atividade interferon-alfa, confundindo o manejo e piorando o quadro. Medicamentos como imiquimode são contraindicados por potencializar mecanismos imunológicos já disfuncionais na DM e em outras doenças autoimunes.
O conhecimento profundo da apresentação clínica, avaliação laboratorial e estratégias terapêuticas, incluindo as particularidades das variantes como a MDA5, é fundamental para a abordagem eficaz da dermatopolimiosite, que permanece uma doença complexa e multifacetada.
Como Lidar com Danos Cutâneos e Complicações Relacionadas a Doenças Dermatológicas e Tratamentos Imunossupressores
Quando lidamos com lesões cutâneas complexas, especialmente aquelas causadas por distúrbios autoimunes ou efeitos adversos de tratamentos, é crucial adotar abordagens cuidadosas que considerem tanto os sintomas imediatos quanto o impacto a longo prazo. As lesões bolhosas, que podem surgir em várias condições clínicas, requerem uma gestão específica, considerando os diferentes estágios da doença e as necessidades do paciente. O manejo eficaz dessas lesões não envolve apenas o tratamento tópico, mas também uma análise mais profunda das causas subjacentes e das estratégias terapêuticas mais apropriadas.
Em primeiro lugar, é importante considerar uma dieta líquida ou batida em pacientes com envolvimento esofágico. Se o paciente apresenta dificuldades significativas de deglutição, como engasgos frequentes ou dificuldade em ingerir alimentos sólidos, isso pode sugerir um trauma esofágico significativo, o que deve ser abordado com urgência. O objetivo aqui é reduzir a irritação e permitir a nutrição necessária para a recuperação. Além disso, a reposição nutricional, particularmente com proteínas, é essencial para a reepitelização da pele e a regeneração celular, sendo recomendado o uso de shakes de proteínas, como os produtos BOOST, para garantir que o paciente esteja recebendo o necessário para a recuperação.
A utilização de amaciantes de fezes pode ser uma estratégia importante para pacientes que sofrem de trauma mucoso anal, uma complicação frequentemente ignorada, mas que pode causar desconforto significativo e agravar o estado geral do paciente. Em pacientes que ainda estão na fase inflamatória da doença, pode ser racional considerar imunossupressores sistêmicos. Agentes como os TNFs (fatores de necrose tumoral) podem ser úteis se administrados logo após o início da erupção, dentro de 1 a 2 dias. Contudo, devem ser usados com cautela, dada a variedade de efeitos adversos possíveis.
Em alguns casos, a administração de imunoglobulina intravenosa (IVIG) pode ser considerada, embora seja uma opção cara e nem sempre eficaz após a fase de formação de bolhas. Outro medicamento relevante é a ciclosporina A (CsA), que pode ser administrada a 5 mg/kg em doses divididas duas vezes ao dia. Este medicamento é frequentemente usado como agente de ação rápida e eficaz, especialmente se o paciente não respondeu aos esteroides sistêmicos. No entanto, é essencial monitorar a pressão arterial e a função renal, pois a ciclosporina pode exacerbar problemas nesses órgãos.
O controle da dor é outro componente crucial do tratamento, especialmente em casos de erupções cutâneas extensas. A dor, associada à dificuldade de deglutição e ao desconforto geral, pode ser debilitante. Portanto, além de tratamentos tópicos, como o uso de curativos não aderentes e soluções para aliviar a dor, é fundamental garantir que o paciente receba fluidos intravenosos adequados e cuidados nutricionais.
As lesões dermatológicas podem ter diversas causas e apresentações, e entender a origem das bolhas é essencial para um diagnóstico e tratamento adequados. A "pemfigoide bolhosa", por exemplo, geralmente se apresenta com bolhas tensas sobre uma base urticariforme e é acompanhada de prurido intenso. Em alguns casos, pode ser desencadeada por vacinas ou outras formas de estimulação imunológica. Já as bolhas causadas por edemas podem surgir como complicação de condições subjacentes, como insuficiência cardíaca congestiva, cirrose ou trombose venosa profunda. Nessas situações, o tratamento deve focar na resolução do problema subjacente, como o uso de diuréticos, e, quando necessário, drenagem das bolhas para conforto do paciente.
As bolhas de pressão ou fricção, conhecidas como "bolhas de coma", ocorrem devido à pressão constante sobre a pele, geralmente em pacientes com imobilidade prolongada ou condições neurológicas. Nessas situações, é importante alternar a posição do paciente frequentemente e utilizar curativos apropriados para prevenir infecções. Essas lesões geralmente se resolvem espontaneamente após 1-2 semanas, desde que adequadamente manejadas.
Além disso, a perfuração e infiltração intravenosa, quando medicamentos injetados extravasam do vaso sanguíneo para os tecidos circundantes, são complicações sérias que exigem atenção imediata. A infiltração pode ser gerenciada com compressão e curativos, enquanto a extravasação de substâncias irritantes deve ser tratada com a interrupção do infusor, aspiração do medicamento restante e, quando indicado, a aplicação de agentes vasodilatadores locais.
Outro diagnóstico relevante é o "vasculite", uma inflamação dos vasos sanguíneos que pode ser desencadeada por uma variedade de fatores, incluindo infecções, doenças autoimunes ou efeitos adversos de medicamentos. A vasculite pode se manifestar com manchas purpúricas e úlceras, e a investigação do histórico social e familiar do paciente é essencial para determinar a causa subjacente. A biópsia de lesões suspeitas é frequentemente necessária para o diagnóstico definitivo, especialmente para identificar as formas autoimunes ou infecciosas da condição.
Em qualquer caso de doença dermatológica com apresentação bolhosa, o diagnóstico precoce e a escolha correta do tratamento são fundamentais para evitar complicações graves, como infecções secundárias ou danos permanentes à pele e aos órgãos internos. A chave para o sucesso é a abordagem holística, considerando tanto os aspectos médicos quanto as necessidades nutricionais e de conforto do paciente, além de uma monitorização contínua para ajustar o tratamento conforme a evolução clínica.
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