A transmissão dos parâmetros atualizados de modelos locais em sistemas de aprendizado federado pode, inadvertidamente, expor informações estatísticas dos dados utilizados por cada dispositivo de borda. Ainda que o servidor central seja considerado confiável, assume-se uma postura potencialmente curiosa por parte dele, com interesse em inferir o conteúdo dos conjuntos de dados locais a partir dos sinais recebidos. Para mitigar esse risco, é essencial adotar mecanismos rigorosos de preservação de privacidade, como a Privacidade Diferencial (DP).

Parte-se da ideia de conjuntos de dados vizinhos: dois datasets são considerados vizinhos se diferem apenas por um único elemento. Esse conceito é crucial para definir a sensibilidade de uma função, ou seja, o quanto sua saída pode variar com a alteração de apenas um dado. Com base nisso, define-se a DP como uma garantia estatística de que os resultados obtidos de dois datasets vizinhos sejam quase indistinguíveis para qualquer observador externo, dentro de limites definidos por dois parâmetros: ε (epsilon) e δ (delta).

Para garantir o nível desejado de privacidade, cada dispositivo de borda adiciona ruído gaussiano complexo ao sinal de atualização local antes de transmiti-lo ao servidor. Esse ruído é desenhado de modo a mascarar a contribuição de qualquer dado individual, produzindo uma versão perturbada da atualização local. A comunicação simultânea entre múltiplos dispositivos ocorre por meio de uma técnica chamada Over-the-Air Computation (AirComp), na qual os dispositivos transmitem seus gradientes ao mesmo tempo, aproveitando a superposição natural dos sinais no canal sem fio.

A transmissão é ajustada para compensar os efeitos de desvanecimento do canal, utilizando fatores de escala de potência específicos para cada bloco de comunicação. Entretanto, como há restrição de energia nos dispositivos, o valor transmitido deve respeitar um limite máximo de potência. O sinal agregado recebido pelo servidor contém tanto a soma das atualizações locais quanto o ruído artificial e o ruído do canal, sendo, portanto, uma estimativa enviesada dos gradientes globais. Esse viés introduz um trade-off inevitável entre precisão e privacidade.

A análise de desempenho do sistema assume que a função global de perda é fortemente convexa e Lipschitz contínua, o que permite derivar limites teóricos para o erro de convergência do modelo. A média do gap de otimalidade — diferença entre o valor atual da função de perda e o valor ótimo — pode ser delimitada superiormente. A expressão obtida mostra que, embora parte do erro desapareça com o aumento do número de iterações, há um termo residual não decrescente, diretamente relacionado ao nível de ruído introduzido e à escolha dos parâmetros de transmissão.

Ao reescrever o sinal recebido de cada bloco, é possível isolar o componente que revela informações do dispositivo, aquele que representa a contribuição dos demais dispositivos e o ruído. A proteção de privacidade decorre da magnitude deste último. A sensibilidade da função de transmissão é determinada pela diferença máxima nas saídas ao se comparar dois datasets vizinhos. Esta sensibilidade é utilizada para calcular a quantidade de ruído necessária para satisfazer uma dada configuração de (ε, δ)-DP.

Utilizando desigualdades fundamentais como Jensen e a triangular, além das hipóteses sobre a função de perda, pode-se estabelecer um limite superior para a sensibilidade em norma L2, que, por sua vez, impõe uma condição sobre a potência mínima do ruído efetivo necessário para preservar a privacidade de todos os dispositivos em cada rodada de aprendizado. A privacidade diferencial do sistema, portanto, depende tanto da variância do ruído artificial quanto do nível de ruído do canal sem fio.

Ao garantir que a potência do ruído agregado seja suficientemente alta e que os fatores de escala de transmissão sejam adequadamente configurados, obtém-se um equilíbrio viável entre a precisão do aprendizado e a preservação da privacidade dos dados locais. Esse equilíbrio é essencial em sistemas federados que operam sob condições reais de restrição de energia, variabilidade de canal e necessidade de privacidade regulamentada.

É crucial compreender que a privacidade diferencial não é um atributo binário, mas um espectro parametrizado por ε e δ. Valores pequenos de ε implicam em maior proteção, porém à custa de menor fidelidade nas atualizações do modelo. Portanto, o projeto de sistemas de aprendizado federado precisa considerar cuidadosamente as exigências de privacidade versus os objetivos de desempenho, idealmente adaptando os parâmetros dinamicamente ao longo das iterações do aprendizado. Isso envolve um controle preciso sobre a geração de ruído, a sensibilidade do modelo, o escalonamento de potência e as condições do canal, todos interdependentes e impactantes para a convergência e robustez do sistema.

Como o sistema B-FEEL assegura a robustez e eficiência em aprendizado federado na borda diante de dispositivos maliciosos?

O sistema B-FEEL (Blockchain-enabled Federated Edge Learning) foi desenvolvido para garantir segurança e privacidade em ambientes de aprendizado federado distribuído em redes de borda, especialmente diante da presença de dispositivos maliciosos que tentam comprometer o processo de treinamento coletivo. Em um cenário wireless realista, parâmetros como a frequência Doppler fixada em 5 Hz, um expoente de perda de caminho de 2,5, potência máxima de transmissão limitada a 24 dBm e uma largura de banda total de 100 MHz são adotados para simular condições práticas em que o sistema opera. Os servidores de borda utilizam CPUs de até 2,4 GHz, enquanto os dispositivos na borda trabalham com frequência máxima de 1 GHz, reforçando as limitações computacionais típicas.

A alocação eficiente de recursos, como largura de banda e potência de transmissão, é tratada por um algoritmo baseado em TD3 (Twin Delayed Deep Deterministic Policy Gradient), cuja arquitetura do ator envolve cinco camadas ocultas com funções ReLU, culminando em uma camada de saída softmax para garantir ações dentro de restrições. O crítico utiliza quatro camadas ocultas, também com ReLU, para estimar valores Q de forma linear. Esse algoritmo é calibrado com parâmetros rigorosos, como fator de desconto de 0,99 e taxa de aprendizado igual para ator e crítico (1×10⁻⁴), visando otimizar a política de alocação com baixo custo computacional.

Para validar a eficácia do algoritmo TD3, ele é comparado a três abordagens: alocação aleatória, alocação média e um algoritmo Monte Carlo que gera 10⁶ soluções para escolher a de menor latência. A avaliação revela que o TD3 apresenta desempenho similar ou superior ao Monte Carlo, mas com maior eficiência computacional, e supera claramente as abordagens simples.

Um aspecto crucial do B-FEEL é sua robustez frente a dispositivos maliciosos, que submetem modelos locais com parâmetros aleatórios gerados por distribuições normais padrão, degradando potencialmente o aprendizado global. As simulações com o conjunto de dados MNIST evidenciam que, enquanto o método tradicional FedAvg sofre queda acentuada na acurácia conforme aumenta o percentual de dispositivos maliciosos (com um declínio abrupto após 40%), o B-FEEL mantém a precisão praticamente intacta até cerca de 50% de comportamento adversário. Isso se deve ao uso do algoritmo multi-KRUM na agregação global, que elimina modelos locais potencialmente danosos, preservando a integridade do modelo global.

Além disso, o desempenho do sistema é avaliado sob variações de largura de banda máxima, potência máxima de transmissão e número de dispositivos, demonstrando sensibilidade positiva especialmente ao aumento da largura de banda disponível, o que reduz significativamente a latência do treinamento. A metodologia inclui média sobre 500 realizações de sistema para mitigar efeitos de variabilidade em localização e estado do canal, assegurando resultados robustos.

O protocolo PBFT (Practical Byzantine Fault Tolerance) é integrado à arquitetura B-FEEL para assegurar consenso eficiente com baixo consumo energético, elevando a confiabilidade do processo federado em ambientes com potenciais ataques. A combinação da agregação segura, blockchain para garantia de integridade, e alocação de recursos otimizada pelo TD3 compõe um sistema resiliente e escalável.

É fundamental compreender que, além dos parâmetros técnicos e dos algoritmos aplicados, o sucesso do B-FEEL depende da sinergia entre métodos de segurança robustos e estratégias eficientes de alocação de recursos. A mitigação de dispositivos maliciosos não se limita à identificação isolada, mas integra mecanismos criptográficos, consenso distribuído e aprendizado federado adaptativo. A análise da latência e da acurácia deve sempre considerar o impacto da heterogeneidade da rede, limitações de hardware dos dispositivos de borda, e as condições dinâmicas do ambiente wireless.

Ainda, a abordagem mostra que, em cenários reais, a proteção contra ataques byzantinos (maliciosos) não compromete a escalabilidade nem a eficiência do aprendizado distribuído, desde que combinada com técnicas avançadas como multi-KRUM e algoritmos de aprendizado por reforço profundo para gerenciamento de recursos. Assim, a implantação de B-FEEL pode ser vista como um passo decisivo para aplicações críticas em IoT, veículos conectados e redes 5G/6G, onde a segurança e a latência são requisitos primordiais.

Como funcionam os algoritmos de otimização de primeira, segunda e ordem zero no aprendizado distribuído?

Nos problemas de aprendizado federado e distribuído, a escolha do algoritmo de otimização exerce impacto direto sobre a eficiência computacional, a taxa de convergência e os custos de comunicação. Embora os cenários distribuídos imponham suas próprias restrições, compreender a base centralizada dos principais algoritmos permite não apenas uma análise mais clara de seus comportamentos, mas também fundamenta extensões mais sofisticadas nos capítulos seguintes.

O algoritmo de descida do gradiente (gradient descent, GD) representa a abordagem mais tradicional entre os métodos de primeira ordem. Ele baseia-se exclusivamente na informação do gradiente da função objetivo. Em sua forma mais pura, a cada iteração os parâmetros são atualizados no sentido oposto ao gradiente, com o tamanho do passo controlado por uma taxa de aprendizado. A simplicidade conceitual e computacional do GD o torna amplamente adotado em tarefas de aprendizado de máquina, especialmente onde a função objetivo é suave e diferenciável.

A eficiência da descida do gradiente, no entanto, se torna um gargalo quando lidamos com grandes volumes de dados. O método de descida do gradiente estocástico (SGD) surge como uma variação que mitiga essa limitação. Ao utilizar subconjuntos aleatórios de dados — os mini-batches — para estimar o gradiente, o SGD promove atualizações mais rápidas e introduz ruído no processo de otimização. Essa estocasticidade permite não apenas maior escalabilidade, mas também a capacidade de escapar de mínimos locais, o que é particularmente vantajoso em treinamentos de modelos profundos. Ainda que sua natureza aleatória possa dificultar a convergência precisa, o ajuste adequado da taxa de aprendizado e outros hiperparâmetros garante uma aproximação eficaz do mínimo global.

Contudo, a dependência exclusiva do gradiente não captura a curvatura da função, o que limita a velocidade de convergência, especialmente nas proximidades do ótimo. Os métodos de segunda ordem, como o método de Newton, propõem uma solução mais refinada ao incorporar também a matriz Hessiana — a matriz das segundas derivadas — no cálculo de atualização. Esse método interpreta a otimização como a minimização da expansão de Taylor de segunda ordem da função objetivo, ajustando os parâmetros com base tanto na inclinação quanto na curvatura local. A convergência é, assim, substancialmente acelerada, particularmente em regiões próximas ao ótimo, onde a geometria local da função é bem capturada.

Apesar dessa superioridade teórica, a implementação de algoritmos de segunda ordem impõe desafios computacionais significativos, sobretudo pelo custo de cálculo e inversão da Hessiana. Em sistemas distribuídos, onde os recursos de comunicação são restritos, a eficiência desses métodos deve ser avaliada em relação ao custo de sincronização e agregação. Ainda assim, em cenários como o FEEL (Federated Edge Learning), onde o número de iterações precisa ser reduzido devido à limitação de banda e energia, os algoritmos de segunda ordem tornam-se atraentes por sua capacidade de alcançar o ótimo com menos rodadas de comunicação.

Existem ainda os algoritmos de ordem zero, também chamados de algoritmos livres de gradiente. Esses métodos tornam-se essenciais quando a função objetivo é ruidosa, não diferenciável ou completamente desconhecida — como em otimizações baseadas em simulações ou problemas de caixa preta. Ao invés de utilizar gradientes reais, tais algoritmos aproximam-nos utilizando apenas avaliações da função objetivo. A fórmula de diferenças centrais, por exemplo, estima o gradiente a partir da diferença entre valores da função em pontos ligeiramente deslocados ao longo de uma determinada direção. Embora essa estimativa seja m