Makovskaya K.V., Intsibayeva A.H., Kuznetsova A.Ya.
Universidade Estatal Pedagógica de Novosibirsk, Novosibirsk, Rússia (630126 Novosibirsk, Av. Vilyuiskaya 28), e-mail: [email protected]

A educação do indivíduo moderno está intimamente ligada à história da formação da pedagogia como ciência. A era dos cientistas soviéticos, que deram uma contribuição inestimável à ciência pedagógica, revolucionou as concepções convencionais sobre a educação em nosso país. A tarefa prioritária do atual sistema educacional nacional torna-se a formação e o desenvolvimento do potencial criativo, do pensamento vivo da geração jovem, transformando-os em ativos de capital humano. A prática dos cientistas soviéticos forneceu exemplos únicos de formação e desenvolvimento eficazes do capital humano, do desenvolvimento integral da personalidade. Trata-se das atividades dos grandes pedagogos do século XX S.T. Shatsky e A.S. Makarenko.

Na base das concepções pedagógicas de Makarenko, Shatsky e de sua atividade prática está presente a abordagem humanística para o educando. Esse humanismo, testado nas circunstâncias mais difíceis da vida, fundamenta-se na convicção de que o potencial humano é muito grande e que apenas uma pequena parte dessas capacidades é utilizada. Sob condições sociais e pedagógicas adequadas, é possível o desenvolvimento da individualidade de cada pessoa e sua educação como agente de progresso social. Essa ideia, que permeia toda a atividade e a obra desses eminentes cientistas-pedagogos, é necessária em nossos dias.
Palavras-chave: pedagogia, história da educação, ideias pedagógicas, contribuição à ciência, cientistas, escola.

A revolução de Outubro inaugurou mudanças radicais em todas as esferas da vida do país, inclusive na pedagogia e na educação. Os anos 20-30 foram um período de desenvolvimento frutífero da ciência psicológica-pedagógica soviética. Apesar da saída de muitos cientistas conhecidos da ciência, deve­-se falar de fortalecimento das pesquisas científicas, pois foi um tempo de formulação de novas teorias e conceitos, de proposição de novas ideias e abordagens, de intensa busca de novos conteúdos, formas e métodos de ensino e educação [1]. Na história da escola e da pedagogia domésticas do período soviético distinguem-se três grandes etapas: 1917 – início dos anos 1930, 1930-1940, 1945-1991. Nessas etapas, mantendo-se certa continuidade da política escolar e do pensamento pedagógico, manifestaram-se características e traços específicos substanciais [3].

Em 1917, à frente dos assuntos escolares estavam destacados representantes do movimento bolchevique A.V. Lunacharsky, N.K. Krupskaia, V.M. Bonch-Bruevich e outros. Logo após a revolução, começou a destruição do sistema educacional existente. Em fevereiro de 1918 foi adotado o decreto “Sobre a liberdade de consciência, associações e sociedades religiosas”, que estabeleceu que “a escola está separada da igreja. O ensino das doutrinas religiosas em todas as instituições públicas, sociais ou privadas, onde se ensinam matérias de educação geral, não é permitido.” Em julho de 1918 foi aprovado o documento “Sobre a organização da educação pública na RSFSR”, que definia os princípios fundamentais da organização da educação pública. Nos termos desse ato, todas as instituições de ensino tornavam-se estatais e passavam à administração do Comissariado do Povo para a Educação, eram abolidas as restrições nacionais, de classe, religiosas na educação, destruíam-se as antigas estruturas de gestão escolar, encerravam-se instituições privadas de ensino, e era cancelado o ensino de línguas clássicas.

Nesse período começou-se a reconstrução da rede de instituições de ensino. Paralelamente ao aumento do número de estabelecimentos de ensino crescia o número de escolas secundárias, aumentando rapidamente o número de escolas rurais. No início dos anos 1920, em condições de guerra, devastação e fome, cerca de 20% de todas as crianças em idade escolar frequentavam escolas. Em relação a isso, paralelamente às escolas de segundo grau abriu-se uma série de clubes para adolescentes com mais de 13 anos que não frequentavam a escola. Em 1919 surgiu um tipo especial de escola secundária – o facultativo trabalhador, que inicialmente tinha por tarefa elevar a qualificação técnica dos operários. Naquela época, a questão do desenvolvimento do ensino secundário com base na combinação de ensino e trabalho produtivo se colocava de modo mais agudo. Verificou-se que o autoatendimento e o trabalho em oficinas escolares de tipo artesanal não resolviam os problemas de ligação da escola com o trabalho produtivo. Projetos de transformação de escolas secundárias em institutos técnicos foram propostos, mas não foram implementados; como resultado, nas instituições de ensino médio permaneceu a preparação de educação geral. Foram criados novos programas e recomendações metodológicas para organizar o processo de ensino, porém observava-se que esses programas eram facultativos, o que abria espaço para a criatividade pedagógica dos professores. Nos anos 20 continuaram as buscas em instituições piloto-experimentais (O.P.U.), lideradas pelos pedagogos mais qualificados – S.T. Shatsky (Primeira Estação Experimental), M.M. Pistrak (escola-comuna), A.S. Tolstov (Estação Gaginskaya), N.I. Popova (Segunda Estação Experimental), A.S. Makarenko e outros. Nessas instituições permaneceu o espírito da pedagogia experimental pré-revolucionária. Um papel especial nesse período era atribuído ao trabalho educativo da escola, que deveria cumprir tarefas de formação ideológica dos jovens e educação no espírito das ideias do comunismo. O objetivo do trabalho educativo da escola soviética era a formação da persistência, do laborioso empenho, da atividade social, do espírito de solidariedade e internacionalismo. O coletivo infantil era reconhecido como o instrumento principal da educação, que se formava por meio do trabalho comum e das relações com a vida circundante. Nos sistemas educativos escolares desenvolviam-se ativamente formas de autogoverno infantil.

Stanislav Teofilovich Shatsky (1878-1934) – pedagogo humanista russo do século XX. Teórico e praticante, contribuiu para o desenvolvimento das ideias da educação social, criação de instituições pedagógicas experimental-educativas: “Settlement”, “Vida Ativa”, “Primeira Estação Experimental”. Nesses estabelecimentos, testaram-se ideias de autogoverno dos alunos, educação como organização da atividade vital das crianças, liderança dentro da comunidade estudantil e outros. S.T. Shatsky interessava-se profundamente pelo problema da inclusão da criança no âmbito das conquistas culturais da civilização humana. Na formação de suas visões científicas influenciaram-o as ideias de pensadores nacionais e estrangeiros, em especial L.N. Tolstoy, A.F. Fortunatov, D. Dewey [4]. Conhecendo a obra de L.N. Tolstoy e suas pesquisas pedagógicas (descrição da escola de Yasnaya Polyana), Shatsky ficou fascinado por muitas ideias de Tolstoy-pedagogo, e subsequentemente as implementou na prática do ensino e da educação. Pode-se dizer que aos 27 anos Shatsky formou-se definitivamente como pedagogo-inovador com suas ideias e visões. Ele próprio posteriormente formulou seu objetivo, dizendo que a obra que o atraíra levava caráter social, dava espaço à criatividade de cada participante, baseava-se em atividades entre as massas trabalhadoras pobres, e tinha como tarefa realizar o ensino de trabalho, o autogoverno infantil e a satisfação dos interesses das vastas massas de crianças [5]. Shatsky foi um dos organizadores da greve do Sindicato dos Professores de Toda a Rússia em 1917–1918, que se opôs à destruição do sistema escolar pelos bolcheviques. Posteriormente, buscando servir às crianças e à educação, Shatsky aceitou cooperar com o Comissariado do Povo para a Educação. A fonte de desenvolvimento da ciência pedagógica, segundo Shatsky, residia na análise do processo educativo organizado e das circunstâncias externas a tal processo (influência da rua, família etc.). Ele acreditava que a principal influência no desenvolvimento da criança não são os dados genéticos, mas o ambiente socioeconômico: “Não devemos considerar a criança por si só… mas devemos vê-la como portadora das influências que nela se manifestam como provenientes do meio ambiente” [6]. Essa abordagem contrastava radicalmente com o biologismo da pedologia. Ele expressava dúvidas quanto à legitimidade de criar a pedologia como um novo ramo de conhecimento usando métodos matemáticos. Ao mesmo tempo, Shatsky concordava que tentativas de prescindir de pesquisas pedagógicas experimentais estavam condenadas ao fracasso. Shatsky rejeitava a abordagem social simplificada da criança, considerando-a loucura “quebrar” a natureza infantil e “forjar” um novo homem em nome de um belo amanhã. Shatsky formulou objetivos humanísticos para o ensino e a educação: correspondência à encomenda social e, ao mesmo tempo, consideração das características individuais da personalidade; a formação nas crianças da capacidade de unir esforços na consecução de uma meta comum (por exemplo, por meio do autogoverno); a preparação do professor dotado da habilidade de ensinar, incentivar a influência socialmente favorável sobre a criança, dominar métodos de pesquisa infantil; a consideração do macro- e microssocial do entorno da criança. Atribuindo à escola o papel principal no trabalho educativo com as crianças, Shatsky destacava que a instituição de ensino deve estar estreitamente ligada à vida, ser o centro e o coordenador da influência educativa do meio. Os principais fatores da atividade da criança no processo de educação e ensino, para Shatsky, eram a criatividade e a autonomia. O objetivo principal do ensino não era a aquisição de conhecimento, mas o desenvolvimento do pensamento, a educação da mente. Ao tratar da questão da posição do trabalho produtivo na educação, Shatsky enfatizava que não se deveria procurar fazer desse trabalho um modo de compensar os custos da educação [2].

Anton Semenovich Makarenko (1888-1939) – destacado pedagogo-humanista nacional, que reinterpretou criativamente o legado clássico da pedagogia, participou ativamente das buscas pedagógicas das décadas de 1920-1930, definindo e desenvolvendo várias novas questões da educação. O espectro de interesses científicos de Makarenko abrangia questões de metodologia da pedagogia, teoria da educação, organização da educação. Ele apresentou de maneira mais detalhada suas visões relativas à metodologia do processo educativo. Na ciência pedagógica, A.S. Makarenko entrou como praticante brilhante: entre 1917-1919 dirigiu uma escola em Kryukov; em 1920 assumiu a direção de uma colônia infantil sob Poltava (posteriormente – Colônia Górki); entre 1928-1935 trabalhou na comuna infantil Dzherzhinsky em Kharkov. A partir da segunda metade da década de 1930, Makarenko foi efetivamente afastado da prática pedagógica e nos últimos anos de vida dedicou-se a trabalho científico e literário. De sua pena saíram obras pedagógicas que se tornaram clássicas: “Poema Pedagógico”, “Bandeiras nas Torres”, “Livro para Pais”, “Março do Ano Trinta” e outras. Na sua prática pedagógica e nas tentativas de sua generalização teórica, A.S. Makarenko dedicou especial atenção ao papel do educador no processo pedagógico, considerando que um educador privado de liberdade criativa peculiar, sujeito a supervisão minuciosa, não traria nada além de dano ao educando. A educação no coletivo e através do coletivo é a ideia central de seu sistema pedagógico. Em três-quatro anos ele criou uma instituição educativa exemplar – a “Colónia de Trabalho Górki”. Certa vez, dirigindo-se aos professores, Anton Semenovich disse que se tornou um verdadeiro educador quando aprendeu a dizer a frase “vem aqui” com 15-20 matizes na voz. No entanto, o domínio dessa, por assim dizer, técnica de ator, não esgota a mestria do pedagogo, embora seja um de seus elementos. Assim como o domínio de uma lima ainda não faz o ferreiro, a demonstração expressiva dos seus sentimentos ainda não faz o pedagogo mestre [5]. No fim dos anos 20 Makarenko participou da organização da comuna de trabalho infantil num assentamento perto de Kharkov. Na comuna foram aplicados novos métodos de educação laboral. A comuna organizou produção industrial – ali começaram pela primeira vez a fabricar câmeras e furadeiras elétricas. Além da grande relevância econômica, essa produção teve também grande significado pedagógico, exigindo dos educandos grande precisão e rigor no trabalho. Makarenko insistia que a teoria pedagógica se construía com base na generalização da experiência prática da educação. Ele defendia o ensino sistemático das disciplinas escolares, atribuía enorme importância à educação pelo trabalho. A.S. Makarenko afirmava: “a mestria é aquilo que se pode aprender, e todo pedagogo pode tornar-se um grande mestre” [7]. A.S. Makarenko desenvolveu um sistema pedagógico coerente, cuja base metodológica é a lógica pedagógica, que vê a pedagogia como “antes de tudo uma ciência de finalidade prática”. Essa abordagem significa a necessidade de revelar a correspondência regular entre objetivos, meios e resultados da educação. O ponto central da teoria de Makarenko é o princípio da ação paralela, isto é, a unidade orgânica da educação e da vida da sociedade, do coletivo e da personalidade. Na ação paralela são assegurados “a liberdade e o bem-estar do educando”, que atua como criador, e não como objeto da ação pedagógica. A quintessência da metodologia humanística do sistema de educação, para Makarenko, é a ideia do coletivo educativo. A essência dessa ideia consiste na necessidade de formar um único coletivo de trabalho de educadores e educandos, cuja atividade cotidiana serve de meio nutritivo para o desenvolvimento da personalidade e da individualidade. Makarenko defendia a ideia de educar um membro autodeterminado e atuante da sociedade, considerando a especificidade da infância e a natureza da criança: “A criança é uma pessoa viva. De modo algum é um ornamento de nossa vida, é uma vida plena e rica. Em intensidade de emoções e inquietude, e em profundidade de impressões, em pureza e beleza de tensões volitivas, a vida infantil é incomparavelmente mais rica que a vida adulta” [8].

Literatura:

  1. Men’shikov V.M. Desenvolvimento da pedagogia e da educação na União Soviética. Estado moderno. – M.: KomKniga, 2007.

  2. Dzhurinskiy N.A. História da pedagogia. – M.: Vlados Press, 1999.

  3. Piskunova A.I. História da pedagogia e da educação // Sob a red. de Piskunova A.I. – M.: 2001.

  4. Lushnikov A.M. História da pedagogia. – Ecaterimburgo, 1995.

  5. Shatsky S.T. Obras pedagógicas selecionadas em 2 vols. – M.: 1980.

  6. Cherepanov S.A., S.T. Shatsky em seus enunciados pedagógicos. – M.: 1958.

  7. Makarenko A.S. Coletivo e educação da personalidade. – M.: 1972.

  8. Kozlov I.F. Experiência pedagógica de A.S. Makarenko. – M.: Pedagogika, 1987.