O nacionalismo secular, no contexto securitário, distingue-se nitidamente das questões sociais. Para o securitário, imigrantes e minorias raciais são vistos como outsiders irreconciliáveis, ao contrário das mulheres e da comunidade LGBTQ+, que tendem a ser aceitas gradativamente com o passar do tempo. Essa distinção revela um profundo foco no que é percebido como ameaça externa ao grupo, enquanto questões sociais internas são tratadas com maior flexibilidade.

A dicotomia entre autoritarismo e libertarianismo é tradicionalmente entendida como uma escolha entre a obediência à autoridade e a liberdade individual irrestrita. Autoritários valorizam segurança coletiva e conformidade em detrimento da autonomia pessoal, preferindo um líder forte que impõe regras e disciplina. No extremo, o autoritarismo se conecta ao fascismo, caracterizado por um governo autocrático centralizado, regulação social rígida e a submersão do indivíduo ao Estado. O fascismo oferece um objeto de veneração — a nação ou a raça — acima do indivíduo, algo maior pelo qual morrer.

Porém, a relação entre os apoiadores fervorosos de figuras políticas como Trump e essa imagem de autoritarismo é complexa e muitas vezes contraditória. Esses apoiadores não se identificam com a submissão a um Estado todo-poderoso; ao contrário, rejeitam a conformidade, valorizam a individualidade e resistem a ordens externas que tentem controlar seu modo de vida. Eles não se veem como engrenagens de uma máquina monolítica, mas sim como agentes ativos que buscam manter

O Que Motiva os Veneradores de Trump: Autoridade e Segurança

Quando se examina o comportamento dos apoiadores mais fervorosos de Trump, surge uma questão fundamental: quais são, de fato, suas motivações? Muitas das explicações tradicionais, como o estresse financeiro ou emoções negativas, frequentemente não conseguem capturar a verdadeira essência do que impulsiona essa base de apoio. O foco, neste caso, deve se voltar para duas questões principais: a relação desses indivíduos com a autoridade e seu desejo por segurança.

Os seguidores de Trump se destacam de outras correntes políticas, como os liberais, não apenas por suas visões sobre questões econômicas ou raciais, mas por um forte desejo de proteção contra ameaças externas. Embora a ideia de ameaça seja universal, os adeptos mais leais de Trump se mostram muito mais preocupados com inimigos externos, como imigrantes, terroristas, criminosos e potências estrangeiras, além de verem os liberais e o governo como parte dessa ameaça. Mesmo quando comparados com conservadores que não veneram Trump, essa visão sobre "outros" é mais restrita e agressiva.

Curiosamente, o medo que os veneradores de Trump sentem em relação à imigração não está necessariamente vinculado ao fato de que eles sentem a presença de imigrantes como uma ameaça direta à sua segurança, mas sim à sensação de que o país e seus valores estão sendo alterados por fatores externos, com os imigrantes como um símbolo desse movimento. De maneira semelhante, quando se trata de questões raciais, os seguidores mais radicais de Trump frequentemente sustentam que os negros não estão em desvantagem devido ao racismo estrutural, mas sim por falta de esforço pessoal. Além disso, há um consenso entre eles de que as desigualdades podem ser superadas apenas por um esforço individual e que, em termos de mérito, a raça não desempenha um papel fundamental. Isso revela uma atitude profundamente conservadora, mas também uma visão em que os indivíduos não devem depender de estruturas de apoio para garantir sua ascensão social.

Esse contexto nos leva a refletir sobre a relação entre o desejo de submissão e o desejo de segurança. Em muitas análises anteriores, os apoiadores de Trump foram rotulados como autoritários, e essa descrição frequentemente se refere a um desejo de submeter-se à autoridade de uma figura dominante. No entanto, essa visão do autoritarismo não consegue capturar as nuances que motivam os seguidores de Trump. Em vez de simplesmente desejar a submissão a qualquer figura autoritária, o que parece ser mais relevante é o desejo de garantir segurança e preservar a ordem interna contra ameaças externas. Nesse sentido, o "autoritarismo" de Trump não é uma busca por poder per se, mas uma busca por segurança através do fortalecimento das figuras de autoridade que possam proteger os valores internos da comunidade contra os "outros".

No nível da personalidade, é possível notar que os seguidores de Trump não necessariamente possuem uma personalidade autoritária no sentido clássico. Se fosse esse o caso, eles estariam dispostos a se submeter a qualquer líder, independentemente de quem ele seja, o que não é o caso. Ao contrário, eles demonstram um desejo muito mais focado na proteção de seu grupo e no fortalecimento das normas sociais que consideram fundamentais para a manutenção da segurança e da ordem. Isso é evidente nas atitudes em relação à raça e ao gênero, onde os seguidores de Trump, apesar de conservadores, não se destacam de maneira significativa de outros grupos conservadores, mas são notavelmente diferentes em sua abordagem sobre a questão racial. Eles tendem a ser mais rígidos e mais exclusivos, favorecendo uma estrutura de autoridade que possa preservar o que percebem como a ordem natural das coisas.

Este desejo de segurança, então, se revela não apenas como uma defesa contra inimigos externos, mas também contra mudanças que possam ameaçar as normas e tradições que esses indivíduos valorizam. Em muitos casos, esses seguidores não veem sua lealdade a Trump como uma submissão cega, mas como um esforço para garantir que suas próprias concepções de segurança, identidade e valores sociais sejam mantidas.

A verdadeira motivação dos apoiadores de Trump é complexa, não se limitando a um simples desejo por autoridade ou a uma resposta a questões de classe e desigualdade social. O que distingue os seguidores mais fervorosos é a percepção de que apenas uma liderança forte pode fornecer a segurança necessária contra forças externas que buscam minar a ordem e os valores que esses indivíduos prezam. Além disso, a estrutura política e social que eles defendem é uma resposta a uma sensação de vulnerabilidade e medo, em que os líderes autoritários são vistos mais como protetores do que como figuras que impõem controle. É esse aspecto de segurança, mais do que o simples desejo de dominação, que deve ser considerado ao tentar compreender a base de apoio de Trump.