O conceito central que divide as sociedades modernas entre os “securitários” e os “unitaristas” reside em uma tensão fundamental de quem deve ser protegido das ameaças externas e quem deve ser protegido de ameaças internas. Os securitários, cujo objetivo primordial é proteger a sociedade das ameaças externas, possuem uma mentalidade voltada para a vigilância constante de tais riscos, enquanto os unitaristas buscam proteger os externos, acolhendo e incorporando os "outros" no corpo social, acreditando que a segurança do grupo interno depende da inclusão e do cuidado com o outsider.

Na prática, essa divisão cria uma heterogeneidade de alianças, como visto no contexto político norte-americano. No espectro da esquerda, encontramos coalizões formadas por brancos unitários ao lado de negros, latino-americanos, asiático-americanos, nativos americanos, membros da comunidade GLBTQ, ateus, entre outros. Esse grupo, em sua maioria, busca proteger os direitos dos “outros”, considerando-os parte da sociedade e da sua rede de segurança. Já no lado oposto, à direita, estão predominantemente os securitários, que, em grande parte, se compõem de brancos preocupados com as ameaças externas, como a imigração, que eles percebem como uma ameaça à cultura e à segurança internas.

Embora esse confronto possa parecer desequilibrado — dado que os unitaristas são, em termos absolutos, mais diversos e menos coesos em suas motivações —, existe uma dinâmica muito particular que torna o grupo securitário mais coeso e motivado. A atração por líderes que prometem restaurar a ordem e proteger o grupo de ameaças externas não é apenas uma questão ideológica, mas uma questão de segurança existencial. Securitários, como se observa no caso dos fervorosos apoiadores de Donald Trump, buscam não apenas a segurança contra ameaças tangíveis, mas também um sentido de estabilidade que pode ser ameaçado por mudanças percebidas como externas ou invasivas.

Para muitos, a atração por figuras como Trump não se resume a questões políticas superficiais ou apenas a questões econômicas. A principal razão pela qual essas figuras ganham apoio é que elas representam uma promessa de proteção contra o que os securitários veem como ameaças constantes à sua identidade e cultura. Esses indivíduos nunca cessam de se preocupar com tais ameaças; sua missão de segurança parece ser interminável. Para os securitários, a segurança nunca é um estado a ser alcançado, mas sim uma missão contínua e dinâmica. Por isso, as tentativas de argumentar contra suas posições com base em dados objetivos sobre imigração ou criminalidade, por exemplo, muitas vezes falham. O que está em jogo para eles é uma percepção subjetiva de ameaça, e essa percepção molda profundamente suas visões políticas.

De outro lado, os unitaristas estão dispostos a transformar essa percepção, acreditando que a aceitação do "outro" não só não ameaça, como fortalece a coesão social. Porém, as sociedades que tentam resolver essas questões de forma harmoniosa frequentemente se veem presas em uma luta constante. O desafio que isso apresenta é imenso: quando um lado está focado em proteger seus membros da ameaça externa, e o outro acredita que a solução é integrar e proteger os externos, as dinâmicas políticas podem se tornar complexas e intensas.

O fenômeno de polarização política observado em países como os Estados Unidos é um reflexo direto dessa dinâmica entre securitários e unitaristas. O apoio a líderes como Donald Trump entre os conservadores, como mostram as pesquisas, não é apenas uma questão de alinhamento ideológico, mas de uma busca por segurança em tempos de incerteza. Para muitos de seus apoiadores, a promessa de restaurar uma ordem percebida como perdida é mais importante do que a adesão a políticas tradicionais ou mesmo a ética política convencional.

No entanto, essa visão de que a política pode ser definida por uma simples escolha entre proteger os internos ou os externos ignora um aspecto fundamental da interação humana: a interdependência. As sociedades humanas, com sua complexidade e interconexões, exigem que decisões tomadas por um grupo afetem o todo, o que torna cada escolha política ainda mais significativa. O dilema entre garantir a segurança do grupo interno e cuidar do bem-estar dos externos não é apenas uma questão ideológica, mas uma questão prática e moral que precisa ser equilibrada com sensatez.

Além disso, a visão de que as ameaças externas estão sempre presentes e devem ser continuamente monitoradas pode levar à exclusão excessiva, fechando as portas para o diálogo e a convivência. Embora as preocupações com a segurança sejam legítimas, a percepção constante de ameaça pode resultar em uma sociedade fragmentada e desconectada, onde a convivência pacífica se torna cada vez mais difícil de alcançar.

Entender a dinâmica entre securitários e unitaristas, portanto, vai além de uma simples análise política; trata-se de compreender as profundas forças psicológicas e culturais que moldam as percepções de segurança e pertencimento. Esse entendimento é crucial para qualquer debate significativo sobre políticas de imigração, segurança nacional e coesão social.

Por que os conservadores securitários temem mais os “de fora” do que os problemas estruturais?

A divergência entre liberais e veneradores de Trump em relação ao que constitui uma ameaça é profunda e reveladora. Enquanto 80% dos liberais afirmam sentir-se ameaçados por racistas, apenas 40% dos veneradores de Trump compartilham esse sentimento. Da mesma forma, a desigualdade de renda inquieta 80% dos liberais, mas somente 37% dos veneradores de Trump. E ainda mais impressionante: 69% dos liberais se dizem ameaçados pelos conservadores, enquanto apenas 15% dos veneradores de Trump dizem sentir o mesmo dos liberais.

Essa disparidade reflete uma diferença fundamental na construção da ameaça. Para os conservadores securitários — grupo do qual a maioria dos veneradores de Trump faz parte —, o perigo não está nos sistemas econômicos desiguais, nos problemas de saúde pública ou no racismo institucionalizado. O verdadeiro risco está nos “de fora” e naqueles que os acolhem ou os beneficiam. Para essa mentalidade, políticas redistributivas ou que garantem acesso à saúde pública são vistas como ameaças porque, aos seus olhos, reforçam os “de fora” e fragilizam os “de dentro” — os verdadeiros membros do grupo nacional, os insiders.

Esse sentimento é ilustrado pela proposta do governo Trump, em 2019, de impedir a entrada de imigrantes que pudessem depender de benefícios públicos. Ken Cuccinelli, então diretor do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA, chegou a sugerir uma reescrita da famosa inscrição da Estátua da Liberdade, que passaria a aceitar apenas aqueles que pudessem "ficar de pé com suas próprias pernas".

A sensibilidade à ameaça nos veneradores de Trump é, portanto, seletiva: não é qualquer ameaça que importa, mas especificamente aquela que emana do estrangeiro, do outro, do que está fora dos limites do pertencimento nacional. Mesmo frente a ameaças generalizadas como desastres naturais, mudanças climáticas ou pandemias, sua resposta emocional é significativamente inferior àquela despertada pelos imigrantes. Na mente securitária, a anarquia e o colapso social não brotam de desequilíbrios internos, mas da infiltração de elementos externos.

Apesar disso, há um dado curioso: quando qualquer pessoa — seja liberal, moderado ou conservador — se sente ameaçada por imigrantes, seu desejo de reduzir a imigração aumenta. Esse padrão é constante e mostra que a ameaça percebida tem um impacto direto sobre as atitudes políticas. Mas o dado mais revelador está em outro ponto: entre os veneradores de Trump que não se sentem ameaçados por imigrantes, 89% ainda assim defendem fortemente a redução da imigração.

Ou seja, o desejo de limitar a entrada de estrangeiros não se baseia apenas na sensação de ameaça direta. Ele é anterior, mais estrutural, quase identitário. O securitário não espera sentir medo para defender barreiras: ele já as quer erguidas por princípio, como forma de proteger a integridade de um “nós” nacional que percebe sempre sob cerco.

Essa lógica se mantém quando se observam percepções, em vez de ameaças. Quando a visão sobre os imigrantes é negativa — por exemplo, associando-os a crimes ou à degradação da sociedade — todos os grupos ideológicos tendem a defender a redução da imigração. No entanto, entre aqueles que veem os imigrantes positivamente, as diferenças emergem: os liberais continuam defendendo políticas abertas, enquanto os veneradores de Trump, mesmo com percepções favoráveis, mantêm sua posição restritiva.

O ponto é que, para o securitário, a questão migratória não é uma equação racional entre risco e benefício. É uma posição de princípio, fundada em uma crença estrutural: o mundo é perigoso, e os perigos vêm de fora. A segurança, portanto, só é possível através da exclusão.

Essa crença forma uma lente por meio da qual todos os eventos sociais são interpretados. Para o securitário, o caos é iminente e virá não das elites concentradoras de poder, mas dos marginais, dos estrangeiros, dos vulneráveis acolhidos pelo Estado. A solidariedade é vista com suspeita. As instituições que protegem os “de fora” são percebidas como ameaças diretas ao bem-estar dos “de dentro”.

Esse deslocamento da ameaça — do sistema para o estranho — sustenta uma política de fechamento, de endurecimento e de vigilância. Ele também gera um paradoxo inquietante: mesmo na ausência de um perigo concreto, a exclusão ainda é promovida como um dever. A fronteira, nesse imaginário, não é apenas uma linha geográfica, mas um símbolo moral da separação entre o que é digno de proteção e o que deve ser mantido à distância.

Essa dinâmica revela uma transformação mais profunda na psicologia política contemporânea: a segurança passou a ser definida não como proteção contra riscos universais, mas como a preservação de uma identidade exclusiva. Com isso, políticas públicas, direitos sociais e mesmo a noção de justiça tornam-se subordinados à prioridade do pertencimento. Em última instância, o securitário não busca apenas segurança — busca manter intacta a fronteira simbólica do “nós”.

Como o conflito entre securitários e unitaristas molda a política contemporânea?

A divisão fundamental que atravessa as sociedades modernas não se restringe apenas a disputas econômicas ou partidárias, mas se ancora em uma tensão mais profunda entre dois grupos com visões opostas sobre quem deve ser considerado “dentro” ou “fora” do círculo social: os securitários e os unitaristas. Os securitários defendem a manutenção da pureza e integridade dos insiders, valorizando a segurança, a vigilância e a proteção contra ameaças externas e internas, ao passo que os unitaristas tendem a estender solidariedade e inclusão a grupos marginalizados e outsiders, priorizando a redistribuição social e a expansão dos direitos civis.

Esse conflito é evolutivamente central porque toca na definição do que constitui uma comunidade legítima, e quem merece seus benefícios e proteção. Assim, mesmo em sistemas democráticos capitalistas modernos, a luta entre essas duas posturas não desaparece, apenas muda de forma e intensidade, acompanhando as questões políticas que ganham relevância a cada momento histórico. Por exemplo, políticas econômicas pró-negócios tendem a satisfazer os securitários, que favorecem os insiders, enquanto medidas sociais redistributivas atraem os unitaristas.

No entanto, essa oposição não é estática. O conceito de insider e outsider evolui conforme a sociedade progride, refletindo mudanças culturais e sociais. A inclusão progressiva de mulheres, pessoas LGBTQ+, indivíduos com deficiência e ateus no grupo dos insiders demonstra que a fronteira entre esses grupos é permeável e sujeita a deslocamentos significativos. Mudanças em atitudes sociais, como a crescente aceitação do casamento interracial nos Estados Unidos, mostram que as barreiras tradicionais podem ser transpostas, ainda que processos como a superação do racismo estrutural sejam mais lentos e complexos.

Os securitários, por sua vez, ajustam suas prioridades conforme as opções disponíveis e as conjunturas políticas. Se a proibição do casamento interracial não é mais uma alternativa realista, eles podem focar em outras questões que simbolizam a proteção da ordem interna, como a punição rigorosa para crimes ou o combate a símbolos que percebem como ameaças culturais. Assim, independentemente do tema específico, a postura securitária permanece constante: firme em defender a segurança, a identidade e a coesão dos insiders.

Esse cenário é enriquecido pela análise do fenômeno do chamado “backlash” contra as tendências pós-materialistas, que valorizam direitos humanos, igualdade, diversidade cultural e ambientalismo. Embora essas tendências estejam crescendo entre as gerações mais jovens e nas áreas urbanas, movimentos populistas de direita — como o Brexit e a ascensão de líderes como Donald Trump — representam reações de grupos que se sentem ameaçados pelo ritmo acelerado das transformações globais. Essas reações são interpretadas por alguns como temporárias, um último esforço de populações mais velhas para preservar valores tradicionais antes de serem substituídas demograficamente.

Outros pesquisadores, no entanto, defendem que essa divisão entre grupos que valorizam a preservação identitária local (“somewheres”) e aqueles mais cosmopolitas e móveis (“anywheres”) é profunda e persistente. Os primeiros não desaparecerão, e a política contemporânea continuará a ser marcada por essa tensão, que se expressa em demandas por fronteiras claras, discriminação “boa” e políticas que reafirmem a identidade cultural e territorial. Para esses grupos, a proteção do local e da comunidade é uma prioridade legítima, muitas vezes ignorada ou deslegitimada pelo que chamam de “esquerda moderna”.

Além disso, há uma dimensão racial importante nessa dinâmica. Uma parcela significativa da população branca em várias sociedades considera legítimo proteger seus interesses étnicos em questões como imigração, enquanto uma minoria vê essa preocupação como racismo automático. Essa disparidade dificulta o diálogo racional sobre imigração e integração, pois a definição de racismo é contestada e polariza o debate político. Movimentos religiosos e fundamentalistas, com suas altas taxas de natalidade, também representam desafios para a hegemonia das ideias pós-materialistas e liberais, sugerindo que as mudanças demográficas e culturais nem sempre seguirão um caminho linear.

É fundamental compreender que o conflito entre securitários e unitaristas é um processo dinâmico, condicionado por contextos históricos, culturais e demográficos específicos. Ele se manifesta em diferentes temas e símbolos conforme o tempo, mas a lógica de inclusão versus exclusão permanece central. A mudança social acontece, porém é desigual e imprevisível, sujeita tanto à pressão de grupos em ascensão quanto à resistência daqueles que buscam preservar identidades e fronteiras.

Para o leitor, é importante entender que o entendimento desse conflito vai além das simples divisões partidárias ou ideológicas superficiais. Trata-se de uma luta fundamental sobre pertencimento, reconhecimento e segurança, que molda não apenas políticas públicas, mas também as estruturas sociais e culturais. Essa perspectiva ajuda a interpretar fenômenos contemporâneos de polarização, nacionalismo e populismo, iluminando as raízes profundas dessas tensões e as possibilidades — e limites — da mudança social.

Como as Experiências Formam Crenças e Preconceitos: A Conexão entre Ansiedade, Dogmatismo e Intolerância

A natureza humana, como abordada por diferentes correntes filosóficas e psicológicas, tem se mostrado suscetível à formação de crenças rígidas e dogmáticas, especialmente em contextos onde experiências passadas, muitas vezes intensas e duradouras, geram ansiedade. Essa ansiedade, quando mal interpretada ou mal gerida, tende a reforçar estruturas mentais inflexíveis, alimentando o dogmatismo e a intolerância. Esse fenômeno não é apenas um reflexo da vivência de experiências negativas, mas também um mecanismo de defesa psicológica que busca encontrar uma sensação de segurança, ainda que de forma distorcida, em uma visão do mundo simples e binária.

O psicólogo Theodor Adorno e seus colaboradores, em seu estudo seminal sobre a Autoridade Pessoal (RWA), sugerem que, em muitas situações, a ansiedade gerada pela insegurança diante do desconhecido pode ser um dos fatores determinantes para o fortalecimento de atitudes autoritárias. A necessidade de controle e ordem, característica do RWA, está intimamente ligada a uma estrutura mental que busca certezas, muitas vezes à custa da abertura para diferentes perspectivas. Esse desejo de ordem, ao ser exacerbado, se transforma em um mecanismo de defesa contra as inseguranças internas, levando à criação de estereótipos e preconceitos contra aqueles que são percebidos como diferentes.

A questão de uma hierarquia social natural, discutida por Sidanius e Pratto, também é relevante. Algumas pessoas, por suas crenças fundamentais, acreditam que a desigualdade entre grupos é não apenas inevitável, mas desejável. Esse pensamento cria uma barreira mental onde os membros de determinados grupos são vistos como "inferiores" ou "ameaçadores", o que, por sua vez, justifica atitudes discriminatórias e políticas públicas segregadoras. Ao contrário do modelo de RWA, que enfatiza a submissão a figuras de autoridade, o modelo de Dominância Social (SDO), defendido por Duckitt, sugere que a crença na hierarquia de grupos é, na verdade, uma forma diferente de organização social, voltada para a desigualdade. Embora essas duas abordagens compartilhem a ideia de uma sociedade estruturada de maneira rígida, elas divergem na concepção do que constitui a autoridade e a quem ela se destina.

Esses padrões não são apenas teóricos. Estudos empíricos demonstram que atitudes autoritárias e conservadoras estão fortemente relacionadas com a forma como os indivíduos percebem e reagem ao medo e à ameaça. Ao longo das décadas, as pesquisas revelaram que aqueles que possuem uma orientação autoritária, muitas vezes, demonstram um nível mais elevado de ansiedade, especialmente em relação a mudanças sociais rápidas e a presença de "outros" culturais, étnicos ou religiosos. Esse medo da mudança e da "diferenciação" dos outros se traduz em uma postura rigidamente conservadora, que tende a valorizar a manutenção do status quo.

No entanto, a ideia de que o autoritarismo é uma característica fixa e imutável de determinados grupos ou indivíduos é uma simplificação. A psicologia contemporânea sugere que essas atitudes podem ser mais flexíveis e contextuais do que se pensava inicialmente. Duckitt, por exemplo, mostra que atitudes autoritárias podem ser moduladas por fatores externos como a percepção de insegurança social e a presença de eventos traumáticos. Em uma sociedade onde os valores de segurança e estabilidade são constantemente ameaçados, as atitudes autoritárias tendem a florescer como uma resposta adaptativa a essas ameaças percebidas.

Outro aspecto importante a ser considerado é a relação entre as crenças autoritárias e a ideologia política. Enquanto a ideia de autoridade pode estar fortemente ligada ao comportamento político conservador, a realidade é que as atitudes autoritárias transcendem as fronteiras ideológicas tradicionais. Em várias situações, indivíduos com diferentes visões políticas podem compartilhar, paradoxalmente, atitudes autoritárias, mas voltadas para diferentes aspectos da sociedade. Assim, o foco de sua agressividade pode ser direcionado a diferentes "inimigos", como imigrantes, grupos marginalizados ou aqueles que desafiam a ordem social estabelecida.

É fundamental também compreender que as reações emocionais, como a ansiedade, embora muitas vezes vistas como negativas, desempenham um papel crucial no engajamento social e político. A ansiedade, longe de ser apenas uma resposta a ameaças externas, pode funcionar como um catalisador para a ação política, estimulando a conscientização e a mobilização. No entanto, quando mal interpretada ou mal canalizada, pode resultar em comportamentos prejudiciais, como a discriminação ou o apoio a políticas exclusivistas. A gestão da ansiedade e a abertura para a diversidade de perspectivas são, portanto, essenciais para a construção de uma sociedade mais tolerante e justa.

A psicologia política também aponta para a necessidade de reconhecer que os indivíduos não se moldam apenas pela razão ou pela ideologia. Experiências pessoais, como o ambiente familiar, a educação e as interações sociais, têm um impacto profundo nas crenças políticas. O trabalho de Altemeyer, por exemplo, sugere que fatores como a educação parental, especialmente no que diz respeito à disciplina e à autoridade, são fortes preditores de atitudes políticas conservadoras e autoritárias. Esse ponto de vista coloca em questão a ideia de que os valores políticos são simplesmente uma questão de escolha consciente; ao contrário, eles são frequentemente uma consequência das interações mais íntimas e influentes que o indivíduo experimenta desde a infância.

É necessário, portanto, que o leitor compreenda que as atitudes autoritárias e dogmáticas não surgem de um vácuo, mas são moldadas por uma interação complexa entre fatores biológicos, sociais e psicológicos. Embora a ansiedade e o medo desempenhem papéis importantes nesse processo, a origem dessas emoções pode ser multifacetada, envolvendo tanto experiências individuais quanto coletivas. Além disso, é crucial destacar que esses processos não são necessariamente irreversíveis. A mudança de atitudes requer não apenas a mudança nas condições externas, mas também uma reflexão interna profunda sobre os valores que definem a maneira como vemos o mundo e os outros ao nosso redor.

Por que o securitarismo molda a política contemporânea nos EUA?

As experiências vividas por John McCain, que o deixaram fisicamente incapacitado para o resto de sua vida, deveriam tê-lo aproximado do setor do Partido Republicano que mais tarde viria a apoiar Donald Trump. No entanto, isso não aconteceu. Por quê? Porque, em 2000, McCain chamou Jerry Falwell e Pat Robertson de "agentes da intolerância"; porque, ao longo de grande parte de sua carreira legislativa, ele apoiou uma reforma imigratória ampla, que aos olhos dos securitários cheirava a anistia; e porque ele teve a ousadia de defender alguém que claramente não era bem-vindo: Barack Obama.

Durante um comício em Minnesota, em 10 de outubro de 2008, um participante se levantou e expressou medo do oponente democrata de McCain, afirmando que Obama "se associava a terroristas domésticos". McCain imediatamente discordou, chamando Obama de "uma pessoa decente" e dizendo que não havia razão para temê-lo, o que gerou vaias na plateia. Em seguida, outra apoiadora disse que não confiava em Obama porque, entre outras coisas, ele era "árabe". McCain a interrompeu, pegou o microfone, balançou a cabeça e disse: "Não senhora, ele é um homem de família decente e cidadão com quem eu discordo em questões fundamentais". Essas respostas causaram problemas para McCain, principalmente com um segmento importante do eleitorado. Os securitários exigem políticos que compartilhem suas ameaças e, para eles, Obama representava um perigo, seja por sua origem, seu nome ou suas associações.

A falta de aversão visceral de McCain a um potencial presidente que, aos olhos dos securitários, era talvez árabe e provavelmente muçulmano, fez com que ele fosse considerado, apesar de seu histórico militar, inadequado para receber um apoio entusiástico da ala mais radical do Partido Republicano. Seu compromisso com a segurança parecia mais intelectual do que emocional. Quatro anos depois, a decepção com o candidato republicano se repetiu. Mitt Romney, que em 2012 se posicionou rigidamente contra a amnistia para imigrantes e defendeu leis rigorosas, deveria ter agradado aos apoiadores de Trump, mas falhou em gerar entusiasmo. A explicação para esse fracasso veio do comentarista de direita Michael Medved, que afirmou que Romney não era "suficientemente irritado". Sua postura racional e controlada não fazia parte do repertório emocional desejado pelos futuros apoiadores de Trump.

O securitarismo é uma exigente amante. Para muitos apoiadores de Trump, a intenção e a emocionalidade dos líderes são tão importantes quanto as políticas adotadas. Seus seguidores nunca acreditaram que Trump construiria um grande muro na fronteira com o México, mas o simples fato de ele defender essa ideia já demonstrava que ele compartilhava de seus medos e de sua visão. A proposta do muro, e a maneira como Trump a apresentou com fervor, indicava que ele compreendia sua luta e estaria disposto a lutar por ela. E, mesmo que as promessas não fossem cumpridas, isso não diminuiu a lealdade de seus apoiadores, que acreditavam que a intenção emocional era o que importava. A resistência dos democratas ao muro apenas reforçava para os seguidores de Trump a ideia de que ele era necessário como um defensor da segurança nacional.

Securitários e unitários possuem visões fundamentalmente diferentes sobre argumentos e evidências. Os securitários tendem a usar dados e palavras como ferramentas em defesa de um bem maior: a segurança. Para eles, uma afirmação pode ser verdadeira, mesmo que seja distorcida ou exagerada, se isso servir ao objetivo de manter a nação segura. Os seguidores de Trump não o veem como um mentiroso, mas como alguém que exagera ou embeleza a realidade para fortalecer a união e segurança do país. Em contraste, os opositores de Trump consideram esse comportamento como perigoso, acreditando que a distorção da verdade põe em risco a estabilidade e a segurança da sociedade.

A relação entre os apoiadores de Trump e seus opositores não vai se resolver facilmente. Ao compreender as diferenças entre as mentalidades de ambos os lados, é possível melhorar o clima político. Os seguidores fervorosos de Trump precisam entender que seus opositores não vêem o mundo com a mesma necessidade de vigilância constante frente a ameaças externas. Para eles, a prioridade está em evitar a concentração descontrolada de poder econômico e político, especialmente quando esse poder está nas mãos de um securitário que adota políticas que podem prejudicar o planeta. Por outro lado, os opositores de Trump precisam reconhecer que para seus seguidores, a segurança contra ameaças externas é algo essencial e visceral. O argumento de que as ameaças não são reais é irrelevante para os securitários, pois, em suas mentes, a vigilância será sempre necessária, independentemente dos dados disponíveis.

Em última análise, tanto os apoiadores de Trump quanto seus opositores estão fixados em preocupações profundas, mas opostas: segurança para os primeiros, e um equilíbrio de poder para os segundos. No entanto, a verdadeira dificuldade para os dois lados reside na incapacidade de entender a prioridade que o outro coloca sobre esses valores fundamentais.