A luta contra a opressão não é apenas uma batalha externa, mas um combate que acontece no âmago da consciência humana. Se os opressores não conseguem subjugar nossa alma, ao menos tentarão dominar nosso corpo. Cabe aos cristãos, e a todos que se reconhecem como defensores da liberdade, utilizar as armas do Espírito para resistir à violência imposta às consciências. Amar, perdoar e fazer o bem aos adversários é uma exigência ética, porém sem abdicar da firmeza e sem sucumbir ao medo. A resistência deve ser constante sempre que a obediência solicitada conflitar com os princípios do evangelho, sem arrogância ou ódio, mas com coragem inabalável.
A não-violência é um poder autêntico que evita a cumplicidade com o mal. Exemplos históricos como o de André Trocmé nos mostram como essa forma de heroísmo, muitas vezes discreta, é essencial num mundo dominado pela tirania e pelo totalitarismo. A complacência e a indiferença da maioria são fatores que facilitam o avanço de regimes opressivos, como aconteceu na Alemanha nazista. No entanto, sempre existiram aqueles que permanecem imunes a essa “praga”, que procuram, mesmo em meio ao horror, aliviar o sofrimento e resistir.
A questão, então, é como podemos cultivar essa postura de resistência sábia e virtuosa em cidadãos comuns, que não são necessariamente heróis emblemáticos como Martin Luther King ou figuras filosóficas como Sócrates. A resposta reside na educação cívica e moral. O “cidadão-filósofo” não é um ser extraordinário, mas alguém educado e esclarecido que desenvolve a sabedoria, a virtude, a vigilância e a capacidade crítica. Esta formação vai além do simples conhecimento das instituições; é um processo de construção do caráter e do pensamento crítico.
No entanto, nem toda educação cívica é verdadeiramente esclarecedora. Muitas vezes, reduz-se a meros rituais e repetição de fórmulas patrióticas, sem que haja um questionamento profundo dos valores e símbolos nacionais. O verdadeiro ensino cívico deve estimular o pensamento crítico, a reflexão sobre polarizações, racismo, tensões religiosas, e os desafios contemporâneos da alfabetização midiática e científica. Só assim o cidadão se torna um agente lúcido e vigilante em uma sociedade complexa e fragmentada.
Embora admire o cosmopolitismo e a ideia de “cidadão do mundo”, é fundamental reconhecer que, na prática, a maioria vive enraizada em nações com identidades históricas e limites geográficos definidos. A pertença e a responsabilidade local são reais e não podem ser ignoradas. Tal como Sócrates, a maior parte de nós não tem para onde ir; estamos ligados a nossas comunidades, onde devemos exercer a vigilância para evitar a cumplicidade com os males que nos cercam.
A educação como guardiã da liberdade é um conceito antigo, defendido por pensadores desde Platão e Xenofonte, passando pelos fundadores americanos como Thomas Jefferson, que acreditavam que a verdadeira correção dos abusos de poder reside no ensino amplo e inclusivo. Apesar disso, durante séculos a educação cívica foi elitista e excludente, focada em aristocratas e governantes, marginalizando mulheres, escravos e não-cidadãos. Teóricos modernos, como John Locke, ainda reproduziam essa exclusão ao se preocupar apenas com a educação dos jovens da elite.
Hoje, a educação democrática deve superar essas limitações históricas e oferecer uma formação que permita ao cidadão desenvolver um senso crítico apurado, consciência moral e compromisso com a justiça social. É vital compreender que a educação não deve apenas controlar impulsos ou ensinar submissão, mas fomentar o desenvolvimento da capacidade humana para a compaixão, a liberdade responsável e a resistência ética ao autoritarismo.
Além disso, a educação cívica precisa preparar para o enfrentamento dos desafios contemporâneos, como a manipulação da informação, o avanço de discursos de ódio e a crescente polarização. A vigilância e o autoconhecimento são ferramentas indispensáveis para que o cidadão não apenas repita fórmulas, mas participe ativamente da construção de uma sociedade mais justa e livre, resistindo a qualquer forma de tirania que ameace a dignidade humana.
A Moralidade na Visão de Trump: Entre Glória e Divisão
A ideia de grandeza e excepcionalismo de Donald Trump permeia grande parte de suas declarações e escritos. Seu discurso, que frequentemente invoca a superioridade de "America First", evoca uma moralidade focada no orgulho nacional e na afirmação de valores americanos, mas sem uma exploração profunda de questões éticas ou morais complexas. Em seus discursos, Trump tende a enfatizar o conceito de uma nação grandiosa, sem um debate claro sobre as questões morais que surgem dessa grandeza. A moral, quando mencionada, está geralmente relacionada ao comportamento esperado de imigrantes ou à defesa de uma certa "característica moral" para a cidadania, mas sem um real aprofundamento nas implicações dessa moralidade.
A forma como Trump se refere à moralidade revela uma perspectiva utilitarista e auto-centrada, em que ele raramente, se é que alguma vez, explora as questões éticas de maneira profunda. No seu livro The Art of the Deal, Trump faz menção a "valores", mas esses valores estão ligados principalmente ao mercado e ao sucesso financeiro. O livro não explora a moralidade de uma maneira que se alinha a uma visão ética mais ampla, mas sim como um valor de mercado, algo tangível, medido pelo sucesso. A ausência de uma discussão genuína sobre ética e valores humanos nas obras de Trump reflete sua abordagem pragmática e voltada para o lucro.
Em outras ocasiões, como em seu discurso de aceitação da candidatura republicana em 2020, Trump usa a palavra "moral" de maneira divisiva, atacando seus adversários políticos ao associar seus opositores com falácias sobre questões sensíveis, como o aborto. Nessa retórica, a moralidade se torna uma ferramenta para engajar e polarizar, mas sem uma exploração substantiva das complexidades envolvidas nos debates morais que ele menciona. Trump não se envolve em uma análise mais profunda dessas questões, mas as utiliza como uma forma de afirmar sua visão de mundo e reforçar suas próprias ideologias políticas.
O discurso moral de Trump, quando não está sendo usado para atacar seus oponentes, é frequentemente autoelogioso. Ele se coloca como um defensor da moralidade, como visto em sua afirmação de que seria um presidente mais moral que o ex-presidente Ronald Reagan. No entanto, essa afirmação reflete mais uma tentativa de autoafirmação do que uma reflexão genuína sobre o que constitui a moralidade em um contexto de liderança. Além disso, seu comentário sobre a "moralidade cristã", em que ele afirma que definirá a moralidade no país, é mais um exemplo de como ele utiliza esses termos para construir uma imagem de grandeza e de líder incontestável, sem uma base ética real para essas declarações.
Trump não é o único presidente a falar de moralidade de forma expressiva. Presidentes como George W. Bush e Barack Obama frequentemente abordaram questões morais em seus discursos e escritos, refletindo sobre o impacto moral de suas políticas e o papel da ética na liderança. George W. Bush, por exemplo, falava frequentemente sobre o conceito de coragem moral, a luta contra o mal e a necessidade de agir de acordo com uma consciência ética. Obama, por sua vez, fez da empatia o centro de sua moralidade, afirmando que a Regra de Ouro não deveria ser apenas uma chamada à simpatia, mas uma exigência de compreensão profunda das experiências dos outros. Esses dois presidentes, de formas diferentes, abordaram questões morais com um senso de responsabilidade coletiva e empatia, contrastando com a abordagem mais egoísta e pragmática de Trump.
É importante destacar que a moralidade na visão de Trump, em grande parte, não é sobre um compromisso com a ética universal ou valores altruístas, mas uma moralidade usada para reforçar uma narrativa de excepcionalismo nacional e para justificar suas próprias ações e políticas. O conceito de altruísmo, por exemplo, é praticamente ausente em seus discursos e escritos. Trump acredita que a maioria das ações de caridade não é movida por altruísmo genuíno, mas por interesses próprios. Ele não reconhece ou valida a ideia de que a moralidade possa ser um impulso universal, destinado ao bem comum e não à autopromoção.
Além disso, a utilização de termos como "valores" e "moralidade" em suas declarações quase sempre ocorre dentro de um contexto polarizador. Ele raramente se refere à moralidade em um sentido mais amplo e inclusivo, e quando o faz, é de maneira a criar distinções claras entre "nós" e "eles", reforçando a divisão política e social. A moralidade, em sua visão, é muitas vezes usada como uma ferramenta retórica para excluir, polarizar e afirmar a superioridade de seus próprios seguidores e visões políticas.
Quando Trump se refere à "regra de ouro", a famosa máxima ética de tratar os outros como gostaríamos de ser tratados, ele a subverte completamente. Em seu uso, a "regra de ouro" não é uma norma de altruísmo, mas uma piada pragmática, refletindo sua abordagem utilitarista e muitas vezes egocêntrica. A moralidade, portanto, na visão de Trump, não é uma questão de virtude ou empatia, mas sim uma ferramenta para manipulação política e afirmação do poder pessoal.
É importante compreender que a moralidade de Trump não se refere ao tipo de reflexão ética profunda sobre a sociedade, os indivíduos ou as consequências de suas ações. Em vez disso, ela é aplicada de forma funcional, servindo a seus interesses e aos interesses de seu grupo político, e muitas vezes é usada para criar divisões em vez de promover entendimento. Ao invés de um compromisso com valores universais, sua moralidade se revela uma série de slogans que servem a uma retórica de controle e exclusão.
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