A ascensão de figuras políticas que desconsideram princípios éticos tradicionais em favor de uma comunicação direta, simplificada e até brutal revela uma profunda transformação no cenário político contemporâneo. A rejeição da ética, vista como algo ultrapassado ou irrelevante, encontra terreno fértil em sociedades saturadas pela busca incessante de entretenimento, como antecipou Neil Postman em sua obra seminal "Amusing Ourselves to Death". A política, assim, é incorporada à lógica do espetáculo, onde a autenticidade crua e a narrativa simplificada prevalecem sobre a reflexão profunda e o debate ponderado.
O exemplo emblemático dessa transformação é o comportamento e a retórica de Donald Trump, que, ao contrário da tradicional retórica política polida e cuidadosa, utiliza um discurso direto, carregado de imagens simples e repetição estratégica, capaz de penetrar em nichos sociais específicos. Essa abordagem parece desconsiderar a correção política, tratando-a como uma hipocrisia vazia, enquanto celebra uma espécie de sinceridade brutal, mesmo que essa sinceridade se manifeste por meio de afirmações perigosas ou absurdas. A comunicação política, dessa forma, privilegia a imediaticidade, a compreensão instantânea e o impacto emocional, em detrimento da complexidade e da análise.
Esse fenômeno encontra ecos históricos em situações como o Biennio Rosso italiano, período marcado por mobilizações populares radicais e violência política, onde a rigidez e o autoritarismo de grupos sociais assumiram uma face quase militar, impondo uma disciplina rígida e uma retórica simplista, porém carregada de ameaças e punições. O paralelismo reside não tanto na violência física, mas na inflexibilidade ideológica e no uso do discurso como instrumento de poder e controle social.
No contexto atual, a busca por uma comunicação política que fale diretamente ao “homem comum”, sobretudo aqueles que possuem dificuldades de leitura e compreensão complexa, explica o sucesso de mensagens simplificadas e agressivas. Essa estratégia não se limita aos Estados Unidos; é um fenômeno global, como indica o alto índice de analfabetismo funcional em países como a Itália. A política, portanto, adapta-se a uma realidade onde a complexidade é fragmentada em pequenos pedaços de informação facilmente digeríveis, direcionados a audiências segmentadas.
É importante entender que essa transformação do discurso político não é apenas uma mudança estilística, mas está profundamente ligada a mudanças sociais, culturais e tecnológicas. A prevalência do entretenimento sobre o debate público, a fragmentação da audiência e a crescente dificuldade de acesso à informação complexa criam um ambiente propício para a emergência de líderes que comunicam com frases curtas, imagens fortes e apelos emocionais. Essa realidade desafia a concepção tradicional de ética na política e levanta questões sobre os limites do discurso público e o papel do cidadão na construção democrática.
A complexidade do fenômeno exige que o leitor reconheça que o enfraquecimento da ética pública e o domínio do espetáculo não se manifestam apenas na superfície do discurso, mas alteram profundamente as estruturas de poder e a dinâmica social. A crítica à correção política, por exemplo, embora legítima em alguns aspectos, pode facilmente ser apropriada para justificar atitudes autoritárias e exclusão social. O papel do cidadão informado, portanto, se torna ainda mais crucial para resistir à simplificação excessiva e ao discurso que banaliza a verdade.
Além disso, é fundamental compreender que a comunicação política é um espelho das condições sociais e culturais, e que o desafio contemporâneo é encontrar um equilíbrio entre a acessibilidade da linguagem e a preservação da profundidade ética e intelectual. A superficialidade do discurso pode seduzir momentaneamente, mas o risco está em uma democracia fragilizada pela ausência de um debate público robusto e pela incapacidade de engajamento crítico dos cidadãos.
Como o Big Data Transforma a Política e a Democracia na Era Contemporânea
A transformação da relação entre políticos e eleitores nos últimos anos passou por uma revolução silenciosa, porém profunda, motivada pelo uso do Big Data nas campanhas eleitorais. A partir de 2015, estudos como o de Eitan D. Hersh evidenciaram que o Big Data não apenas amplia o acesso a informações sobre a população como um todo, mas também permite uma compreensão quase cirúrgica dos perfis individuais de cada eleitor — suas preferências, comportamentos de consumo e tendências políticas. Essa mudança ultrapassa a simples amostragem, dando aos candidatos um conhecimento detalhado sobre quem são seus apoiadores naturais, os indecisos e os adversários declarados.
Esse conhecimento detalhado faz com que as campanhas políticas deixem de investir esforços em persuadir eleitores com opiniões divergentes, focando apenas em assegurar os votos daqueles já identificados como simpatizantes. Essa estratégia, embora eficiente em termos de custo e recursos, cria uma fragmentação da esfera política e um estreitamento do processo democrático, pois elimina a necessária dialética entre posições opostas e reduz o espaço para debates que possam modificar opiniões. O resultado é uma democracia que se restringe a uma competição por 51% dos votos, buscando consolidar uma base já existente e ignorando as demais parcelas da população.
Essa dinâmica pode levar a erros estratégicos graves, como os cometidos por campanhas presidenciais recentes, que presumiram um comportamento eleitoral baseado em padrões anteriores, sem considerar as mudanças sociais ou os movimentos inesperados dos eleitores. A subestimação do eleitorado rural, ou a estigmatização de grupos sociais como uma “cesta de deploráveis”, exemplificam um desprezo pelas nuances da população e uma visão limitada da representatividade política.
Além disso, o Big Data impacta a própria essência da política, deslocando-a para um modelo quase mecânico, em que algoritmos e previsões dominam o planejamento eleitoral, e o contato humano e a persuasão tornam-se secundários. A política, assim, corre o risco de se transformar em um exercício retórico para reafirmar consensos internos, mais do que uma arena para a negociação e o confronto de ideias que são essenciais à democracia.
Outro aspecto importante dessa transformação é a forma como o Big Data reforça a polarização. Votantes e candidatos tendem a se agrupar em bolhas ideológicas, onde o diálogo com o diferente é não apenas desnecessário, mas até evitado. Isso aprofunda o fosso entre diferentes segmentos da sociedade e enfraquece a mediação política, fomentando a radicalização e o bloqueio na resolução de conflitos democráticos.
A imprevisibilidade das eleições, demonstrada pela vitória inesperada de certos candidatos, indica que a tecnologia ainda não domina totalmente o processo político. A complexidade das relações sociais, a mudança de prioridades das classes sociais e os efeitos disruptivos de tecnologias aplicadas de forma inovadora mantêm o campo político em constante mutação, reforçando que o Big Data é apenas uma ferramenta — poderosa, mas limitada e sujeita a usos que podem escapar ao controle daqueles que a empregam.
É fundamental entender que a utilização do Big Data na política transcende o marketing eleitoral e o simples “vender de um produto”. Diferente do mercado comercial, onde atingir uma fatia significativa do consumidor representa sucesso, na política, conquistar uma margem estreita de votos pode significar a derrota. Isso impõe um desafio único ao político que, ao focar somente em seus simpatizantes, pode perder a capacidade de ampliar seu apelo ou de construir consensos mais amplos.
A democracia, nesse contexto, exige mais do que a aplicação eficiente de dados e estratégias. Ela necessita de uma comunicação que busque a compreensão e a persuasão, um engajamento que ultrapasse a segmentação fria dos eleitores para incluir a complexidade e a diversidade da opinião pública. A verdadeira representação política requer um compromisso com a totalidade da população, não apenas com um segmento definido e garantido.
A influência crescente das tecnologias digitais no campo político também levanta questões éticas e sociais, pois o uso de informações pessoais detalhadas pode facilmente ser manipulado para criar discursos segmentados e até manipular a opinião pública. A transparência, o controle e a regulação do uso do Big Data na política são temas centrais para o futuro da democracia, pois garantem que essa ferramenta seja usada para fortalecer, e não para enfraquecer, o processo democrático.
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