Em 1915, a expedição transantártica de Ernest Shackleton encontrou-se em uma situação desesperadora. Seu navio, o Endurance, ficou preso no gelo do Mar de Weddell, próximo à Antártida. A partir deste momento, a história da liderança e sobrevivência de Shackleton se tornaria um exemplo clássico de resiliência humana diante da adversidade extrema. Mas o que se sabe sobre a forma como ele manteve seus homens vivos e unidos durante meses de sofrimento e incerteza? E como suas decisões moldaram um dos maiores feitos de sobrevivência já registrados?
A viagem começou com promissores planos de atravessar a Antártida de costa a costa, mas as coisas rapidamente tomaram um rumo catastrófico quando o Endurance foi imobilizado pelo gelo. A situação deteriorou-se de maneira acelerada, com o navio sendo cada vez mais comprimido pelas placas de gelo. No final de fevereiro de 1915, Shackleton percebeu que o navio não tinha mais condições de navegar e a tripulação teria que se salvar sozinha. A bordo, o comandante se manteve sereno, oferecendo um exemplo de calma e determinação para todos os membros da tripulação.
Quando o Endurance finalmente sucumbiu ao gelo e afundou, a verdadeira batalha pela sobrevivência teve início. Shackleton e seus homens foram forçados a acampar sobre o gelo em condições extremamente adversas, onde o frio, a fome e a exaustão eram seus piores inimigos. Durante este período, Shackleton exerceu um tipo de liderança que não se baseava em ordens rígidas, mas sim em ações e decisões que buscavam manter o moral elevado e garantir que cada homem soubesse que sua sobrevivência dependia da cooperação e da confiança mútua.
Quando os recursos se esgotaram, Shackleton tomou decisões que revelaram sua astúcia e capacidade de improvisação. Ele e um pequeno grupo de homens partiram em uma jornada de 36 horas através de montanhas e geleiras, enfrentando um terreno hostil e perigosíssimo, para alcançar um posto de baleias em South Georgia. A travessia foi cheia de momentos de extremo risco, como a descida de uma crista íngreme conhecida como Tridente, onde os homens tiveram que saltar para evitar uma morte certa nas rochas abaixo.
Apesar de tudo, a resiliência de Shackleton e seus homens não os deixou sucumbir. Em uma demonstração de liderança quase mítica, ele conseguiu resgatar todos os membros da expedição em uma série de tentativas frustradas, até finalmente, com a ajuda de um rebocador chileno, salvar os 22 homens que restavam no final de agosto de 1916. Mas a vitória de Shackleton não foi apenas sobre o gelo. Ela foi uma conquista do espírito humano diante da desolação e da desesperança. No entanto, ao retornarem ao mundo civilizado, seus homens descobriram que os horrores da Primeira Guerra Mundial haviam devastado o continente europeu, tornando a luta pela sobrevivência do grupo um eco distante diante do caos global.
Shackleton e seus homens atribuíram sua sobrevivência à força de seu líder, a quem chamavam de "Boss". A confiança cega que eles depositaram nele, somada à coragem inabalável de Shackleton, se tornaram a pedra angular de sua incrível façanha. Curiosamente, muitos dos sobreviventes se alistaram para a última expedição de Shackleton à Antártida, onde ele viria a falecer de um ataque cardíaco, cumprindo seu destino de sempre estar à frente de seus homens, até o último suspiro.
A história de Shackleton e sua tripulação ilustra uma das mais profundas lições da condição humana: a capacidade de suportar o insuportável quando temos um propósito claro e uma liderança forte. Shackleton não era apenas um líder pelo seu conhecimento ou habilidades técnicas, mas sim pela sua capacidade de inspirar os outros a nunca desistirem, mesmo quando todas as probabilidades estavam contra eles.
Além disso, o papel do “Boss” não pode ser subestimado. Sua liderança foi, antes de tudo, um reflexo de sua habilidade em lidar com o inesperado, adaptando-se a situações imprevisíveis com calma e criando soluções quando todas as opções pareciam exauridas. Ele não comandava apenas com palavras, mas com ações que mostravam a cada momento que ele estava tão imerso na luta pela sobrevivência quanto qualquer outro homem a bordo.
Outro ponto fundamental é a importância da coesão do grupo e da construção de um ambiente de trabalho colaborativo, mesmo nas condições mais extremas. Os homens não apenas sobreviveram às dificuldades físicas, mas, em muitos casos, foram sustentados pela força do vínculo que haviam criado uns com os outros. O comprometimento de cada um com o bem-estar do coletivo foi crucial para que todos conseguissem, ao final, retornar com vida.
Por fim, a história de Shackleton nos ensina que a sobrevivência não é apenas uma questão de resistir ao ambiente hostil, mas também de compreender e responder aos desafios psicológicos e emocionais que surgem diante de tais adversidades. O medo, o desespero e a fadiga mental poderiam facilmente ter derrotado os homens do Endurance, mas o foco em um objetivo comum, a confiança em seu líder, e a determinação em não sucumbir perante a imensidão do desespero foram o que permitiram que todos, sem exceção, voltassem para casa.
A Colonização Viking na América do Norte: A Busca por Novos Mundos e Seus Desafios
A história dos vikings na América do Norte é uma das mais fascinantes e misteriosas da Idade Média. Através das sagas e dos relatos de seus feitos, sabemos que os vikings não foram apenas grandes navegadores e guerreiros, mas também exploradores audaciosos. Suas viagens à Terra Nova e a colonização de terras remotas, como a Groenlândia, revelam um espírito aventureiro que desafiava os limites conhecidos do mundo na época.
Erik, o Vermelho, foi um dos primeiros vikings a se estabelecer na Groenlândia, após ser banido da Islândia em 982. Sua decisão de nomear a região como "Groenlândia" teve um propósito claro: atrair novos colonos, dando a entender que o território era rico e promissor. Apesar das dificuldades iniciais, incluindo o isolamento e as condições climáticas rigorosas, os vikings conseguiram estabelecer uma colônia na Groenlândia, um feito impressionante dado o contexto de escassez de recursos e a hostilidade do ambiente.
Mas, enquanto a Groenlândia florescia como uma colônia viking, uma nova busca por terras ainda mais prósperas começou a se formar. O filho de Erik, Leif Eriksson, inspirou-se nos relatos de Bjarni Herjolfsson, outro navegador viking, e decidiu embarcar em uma jornada para o oeste. A missão de Leif foi audaciosa: partir em busca de uma nova terra, rica em recursos naturais, que fizesse frente à dificuldade de colonização da Groenlândia. Por volta de 1001, Leif partiu de Groenlândia, seguindo a rota que Bjarni havia inadvertidamente descoberto durante uma expedição anterior.
As viagens dos vikings para a América do Norte, especificamente para o que hoje é o Canadá, têm sido fontes de mistério e fascínio. Leif, com sua tripulação de 35 homens, alcançou a costa de um território descrito nas sagas como "Vinland" — uma terra fértil, com clima ameno e rica em vinhedos. As primeiras impressões dos vikings sobre Vinland eram de um lugar ideal para a colonização. A abundância de pastagem para o gado e a pesca nos rios fizeram com que o novo território fosse visto como promissor. Os vikings ergueram abrigos rudimentares e, durante o inverno, começaram a colher uvas e cortar madeira das florestas nativas.
No entanto, a colonização de Vinland não foi uma tarefa fácil. A relação com os povos nativos da região, provavelmente os ancestors dos indígenas de hoje, foi marcada por conflitos. As sagas relatam que os vikings tentaram estabelecer uma colônia permanente, mas a hostilidade crescente dos nativos e as dificuldades logísticas tornaram o projeto insustentável. Além disso, a distância da Groenlândia, a falta de comunicação com o "mundo civilizado" e os duros invernos dificultaram ainda mais a permanência na região.
O fracasso da colonização viking da América do Norte é atribuído a uma combinação de fatores, incluindo a dificuldade de adaptação ao ambiente, as hostilidades com os nativos, e a falta de apoio externo. A última referência documentada sobre a presença viking na América do Norte remonta a cerca de 1400, quando uma expedição viking encontrou a colônia de Brattahlid, na Groenlândia, ainda em funcionamento. No entanto, a situação se deteriorou rapidamente. Em 1541, quando outra expedição visitou a região, as casas estavam abandonadas e apenas um cadáver solitário foi encontrado.
Além de Leif Eriksson, outros vikings também desempenharam papéis significativos na exploração e colonização da Groenlândia e da América do Norte, como Bjarni Herjolfsson, cujas viagens acidentais inspiraram a famosa expedição de Leif. No entanto, apesar do pioneirismo e da bravura desses exploradores, a falta de recursos e a pressão dos adversários nativos impediram o estabelecimento de uma presença duradoura na região.
Esse capítulo da história viking é crucial para entender o espírito da época. Os vikings eram navegadores excepcionais, cujas habilidades no mar eram incomparáveis. Suas embarcações, projetadas para enfrentar mares agitados, eram robustas e adaptáveis, adequadas para longas viagens e exploração em alto-mar. No entanto, sua adaptação à vida em terras distantes nem sempre foi bem-sucedida, principalmente quando confrontados com a natureza selvagem da América do Norte e as dificuldades de se manter tão longe de casa.
O que deve ser entendido por aqueles que se interessam por essa história é que a busca por novos mundos era movida por uma combinação de ambição, necessidade de novos recursos e a curiosidade insaciável dos vikings. Eles eram colonizadores e, ao mesmo tempo, guerreiros. Sua incursão na América do Norte, embora falha, reflete as complexidades das explorações antigas e as dificuldades que surgem ao tentar se adaptar a um novo ambiente.
O legado dos vikings na América do Norte, mesmo que efêmero, é significativo. Eles foram os primeiros europeus a pisar no continente americano, quase 500 anos antes de Cristóvão Colombo. Suas tentativas de colonização mostram tanto a força quanto as limitações de um povo que ousou desafiar os mares desconhecidos e expandir os horizontes do mundo conhecido.
Como o Descobrimento do Brasil por Cabral Mudou o Curso da História da Navegação e do Comércio Português
Pedro Álvares Cabral, um dos maiores navegadores portugueses, é amplamente reconhecido como o primeiro europeu a descobrir o Brasil, ocorrido de forma acidental em sua rota para a Índia. Sua jornada, que teve início em março de 1500, visava dar continuidade ao trabalho de Vasco da Gama, estabelecendo uma rota comercial mais segura com o subcontinente indiano e, simultaneamente, consolidando a presença portuguesa no comércio de especiarias. No entanto, o que se seguiu foi uma das maiores surpresas da Era dos Descobrimentos: em vez de alcançar diretamente Calicut, Cabral desviou para o oeste, desembarcando em um litoral desconhecido que mais tarde seria identificado como parte do Brasil.
Cabral partiu de Lisboa com uma frota composta por 13 navios e cerca de 1.500 homens, incluindo padres e exploradores. Sua missão era clara: estabelecer uma hegemonia portuguesa sobre as rotas comerciais e espalhar o cristianismo, utilizando-se da força quando necessário. A jornada, porém, logo enfrentou desafios inesperados. Um forte temporal no Cabo da Boa Esperança fez com que vários navios fossem perdidos, incluindo a embarcação de Bartolomeu Dias, o grande navegador português. O sofrimento da frota foi agravado pela perda de mais navios durante a travessia do Oceano Índico.
Na manhã de 22 de abril de 1500, Cabral e seus homens avistaram uma terra desconhecida e, com grande surpresa, chegaram ao que hoje é o litoral brasileiro. O navegador, ciente da importância de reivindicar essa nova terra para a coroa portuguesa, realizou uma cerimônia simbólica com a ereção de uma cruz e a celebração de uma missa, dando à região o nome de "Ilha de Vera Cruz", uma referência à cruz cristã. A partir desse momento, o Brasil passou a ser formalmente incorporado ao Império Português, embora o estabelecimento de uma colônia propriamente dita só fosse acontecer décadas depois, em 1534.
A descoberta de Cabral foi, sem dúvida, um marco para a expansão portuguesa. A relação com os nativos, os indígenas, começou de forma amigável, com a comunicação por meio de gestos e sinais. No entanto, o impacto da chegada dos europeus foi devastador para muitas tribos, com inúmeras mortes decorrentes de doenças, escravidão e conflitos violentos. As primeiras tentativas de colonização, baseadas principalmente na exploração do pau-brasil, seguiram sem grandes sucessos, mas, com o tempo, o Brasil tornaria-se um pilar fundamental no império colonial português, servindo como base para a extração de riquezas, como o açúcar, ouro e, mais tarde, o café.
O incidente com os mercadores árabes na Índia também demonstrou a complexidade da missão de Cabral. Em sua jornada ao longo da costa indiana, Cabral teve que confrontar os comerciantes muçulmanos que dominavam as rotas de especiarias. O trato com o zamorin de Calicut, o governante local, inicialmente parecia promissor, mas logo se tornou tenso quando Cabral tomou um navio árabe, levando à destruição de um entreposto comercial português na região. Apesar disso, a missão não foi em vão; ao retornar a Lisboa, Cabral trouxe consigo uma valiosa carga de especiarias, como pimenta, cardamomo e tamarindo, que fortaleceram a posição comercial de Portugal na Ásia.
Embora a presença portuguesa no Brasil tenha se consolidado lentamente, foi a descoberta de Cabral que abriu as portas para a expansão da coroa portuguesa nas Américas. Ao longo dos anos, o Brasil se tornaria uma das colônias mais importantes, não apenas pela sua riqueza natural, mas também pelo papel que desempenhou na construção de uma rede comercial transatlântica que atravessava o Atlântico e conectava o Novo Mundo ao Velho Mundo. Essa conexão viria a ser um dos principais motores da economia global durante os séculos seguintes.
O legado de Cabral, portanto, não se limita à descoberta do Brasil. Ele também representa a continuidade de um projeto imperial que visava o controle de rotas comerciais, a evangelização de povos distantes e a construção de uma rede de comércio internacional. Através de suas ações, Cabral se tornou um símbolo do espírito aventureiro e expansionista do império português, cuja influência perduraria por séculos.
Além disso, é essencial compreender que a chegada dos portugueses ao Brasil foi apenas uma parte do processo de conquista e colonização que, ao longo do tempo, resultou em profundas transformações sociais, culturais e ambientais. A convivência entre portugueses e nativos, embora marcada por períodos de paz, também gerou um ciclo de violência, exploração e opressão que deixou cicatrizes duradouras na história do país.
Como Pizarro Conquistou o Império Inca: A Trajetória de uma Conquista Surpreendente
A conquista do Império Inca pelos espanhóis sob o comando de Francisco Pizarro não foi um mero golpe de sorte, mas uma combinação de ousadia, traição e circunstâncias extraordinárias. Em 1532, Pizarro e seus homens chegaram ao coração do império, um território vasto e bem estruturado, mas internamente enfraquecido por uma guerra civil entre os irmãos Atahualpa e Huáscar. Esse momento de instabilidade política se mostrou decisivo para a vitória dos espanhóis, que, com um pequeno exército, conseguiram subjugar uma civilização inteira.
A chegada dos espanhóis ao império Inca não foi acidental. Pizarro, após várias expedições malsucedidas pela costa peruana, finalmente encontrou um terreno propício para a invasão em Cajamarca. Ao contrário de outras nações indígenas que resistiram ferozmente, os Incas não acreditavam que os estrangeiros pudessem representar uma ameaça real. Atahualpa, o imperador Inca, desprezava a pequena força de Pizarro, que contava com apenas 106 soldados e 62 cavaleiros. Esse erro estratégico de subestimar o inimigo foi fatal para os Incas.
A famosa Batalha de Cajamarca não foi, na verdade, uma batalha, mas um massacre. A estratégia de Pizarro foi simples, mas eficaz: após atrair Atahualpa para uma reunião com um pequeno grupo de homens, ele orquestrou uma emboscada. Os soldados espanhóis estavam fortemente armados e protegidos por armaduras, enquanto os Incas estavam, em sua maioria, desarmados e despreparados para enfrentar uma força tão superior. O resultado foi a captura de Atahualpa, um golpe devastador para o Império Inca, cuja liderança central foi decapitada de maneira tão rápida quanto impiedosa.
Pizarro, confiando no poder de seu Deus cristão, não hesitou em fazer uma exigência ousada ao imperador capturado. Oferecendo a ele uma oportunidade de salvar a vida através de um resgate, Atahualpa foi levado a prometer ouro e prata suficientes para encher uma sala. No entanto, mesmo após a entrega do tesouro, Pizarro, temeroso de que o imperador Inca pudesse retornar ao poder, decidiu condená-lo à morte. Atahualpa foi executado, e sua morte simbolizou a queda de uma das maiores civilizações da América do Sul.
Após esse golpe fatal, Pizarro marchou para Cuzco, a capital Inca, onde encontrou pouca resistência. Durante sua viagem, ele foi acompanhado por uma mistura de soldados espanhóis e aliados indígenas, mas a cidade, outrora gloriosa, estava agora sob o controle de um invasor. A conquista de Cuzco marcou o ponto culminante de sua campanha, mas também iniciou um período de conflitos internos e tensões, com disputas sobre o controle da nova colônia.
O que Pizarro não compreendeu completamente foi o valor da civilização Inca além de seu ouro e prata. A complexa rede de estradas, a impressionante engenharia agrícola que sustentava o império, e a organização social das comunidades andinas, eram elementos que, se preservados, poderiam ter garantido uma convivência mais harmoniosa com os povos indígenas. Em vez disso, os conquistadores espanhóis, com sua visão limitada e desinteresse pelo conhecimento local, destruíram essas bases fundamentais.
A queda do Império Inca foi apenas o começo de uma série de tragédias para os povos indígenas das Américas. O colonialismo espanhol não só desestruturou sociedades complexas, mas também impôs uma cultura que desvalorizava os modos de vida originais, sem compreender a verdadeira riqueza que esses povos possuíam. Mesmo após o saque de vastos tesouros, o impacto negativo da colonização se prolongaria por séculos, resultando em um legado de exploração, violência e destruição cultural.
No entanto, a própria vida de Pizarro, marcada pela traição e pela busca incessante por poder, não terminou em glória eterna. Após conquistar o Império Inca e consolidar sua posição como governador do Peru, ele caiu vítima das intrigas políticas que alimentou. Seus antigos aliados, como Diego de Almagro, revoltaram-se contra ele, e, em 1541, Pizarro foi assassinado por membros da facção rival. Ironia do destino, ele foi derrubado pelas mesmas forças que ele havia explorado e manipulado ao longo de sua carreira.
Este episódio da história não deve ser visto apenas como uma narrativa de conquista, mas como um reflexo das complexas dinâmicas de poder, lealdade e exploração que marcaram a transição do mundo pré-colombiano para a era moderna. A maneira como Pizarro e seus contemporâneos encararam os povos nativos, com um misto de desdém e condescendência, contribuiu para a destruição de culturas inteiras, muitas das quais ainda lutam para preservar seus legados até hoje.
É essencial compreender que, além do ouro e da prata, o que realmente foi conquistado pelos espanhóis foi o controle sobre a narrativa histórica da região. A história dos Incas, uma civilização com avanços impressionantes em arquitetura, medicina e agricultura, foi eclipsada pela visão eurocêntrica que prevaleceu nas crônicas da época. Para entender verdadeiramente as repercussões da conquista, é necessário olhar não apenas para o que foi saqueado fisicamente, mas também para o que foi perdido no campo da cultura e do conhecimento.
A Expansão Europeia e o Comércio de Escravos na África: Uma Análise Histórica
A África sempre foi um continente de grande interesse para as potências europeias, mas foi durante os séculos XV e XVI que a presença europeia na costa africana se intensificou. A busca por novas rotas comerciais, como a Zendj, e o desejo de participar de um comércio próspero e em expansão levaram os comerciantes e exploradores europeus a se aproximarem mais da África. Nos primeiros contatos, era evidente que os governantes africanos já possuíam um entendimento profundo das culturas e das civilizações locais, como a dos povos Suailis e do Reino de Kongo, que eram cruciais no fornecimento de escravizados e recursos para o comércio transatlântico.
No entanto, as incursões europeias para o interior da África foram limitadas. Os portugueses, com sua vocação comercial, estabeleceram bases ao longo das costas africanas e, no século XVI, chegaram ao Reino de Mwenemutapa, na região do atual Zimbábue, onde tiveram os primeiros encontros com a resistência das sociedades locais que, apesar de se engajarem em algum nível com o comércio europeu, se opunham à invasão de seus territórios.
A escravidão na África não era um conceito novo. O que se passou a chamar de "comércio de escravos" europeu, surgido a partir da demanda de mão de obra nas plantações de açúcar, tabaco e algodão nas Américas, encontrou raízes em práticas já existentes entre as diversas sociedades africanas. O comércio de escravos, particularmente ao longo da costa oeste da África, se intensificou com a chegada dos primeiros exploradores europeus. A partir de 1441, os portugueses, liderados por Antão Gonçalves, tornaram-se os pioneiros no comércio de escravizados, e, rapidamente, outros impérios e potências europeias, como os holandeses, ingleses, franceses e espanhóis, se uniram à exploração, cada um buscando expandir seus territórios comerciais e de influência.
O tráfico de escravizados africanos foi um negócio extremamente lucrativo. Durante o século XVII, as potências europeias estabeleceram uma série de fortificações e postos comerciais na costa da África Ocidental, como os fortins portugueses, que se tornaram centros vitais para a captura e o embarque de escravizados. O comércio transatlântico de escravos era facilitado pela crescente demanda nas Américas, e figuras como o comerciante português Gonçalves, e mais tarde os mercadores holandeses com a criação da Companhia das Índias Ocidentais, ajudaram a estruturar e expandir este sistema macabro.
No entanto, ao longo do tempo, movimentos de resistência começaram a surgir. No século XVIII, a filosofia iluminista na Europa, com ênfase no uso da razão, liberdade e democracia, influenciou o crescente movimento abolicionista. A ideia de que todos os seres humanos deveriam ser livres e iguais encontrou espaço no pensamento de intelectuais como Samuel Johnson, que escreveu contra o que via como uma tirania nos impostos sobre as colônias, e mais tarde, na postura de defensores da liberdade como William Wilberforce. O pensamento científico também foi crucial, com exploradores como David Livingstone e outros, que procuraram documentar as realidades da África e destacar a crueldade da escravidão.
Em termos de exploração geográfica, a África continuava sendo um continente de grandes desafios. O clima tropical, as doenças como a malária, e o difícil terreno impediram que os europeus penetrassem profundamente no interior da África durante os primeiros séculos de contato. No entanto, exploradores como Mungo Park, David Livingstone e Henry Morton Stanley abriram caminhos para uma compreensão mais profunda do interior africano. A busca pelo "desconhecido" África, e a tentativa de mapear as grandes correntes fluviais, como o Nilo, tornaram-se objetivos fundamentais para muitos desses exploradores. Livingstone, por exemplo, passou anos tentando entender as complexas dinâmicas geográficas e culturais da região central e do leste africano.
Com o avanço do século XIX, a competição entre as potências europeias para controlar partes da África se intensificou. Durante o chamado "Scramble for Africa", que ocorreu após a Conferência de Berlim (1884-1885), as potências coloniais dividiram o continente entre si. A exploração das riquezas naturais e a colonização se tornaram os principais objetivos, enquanto o comércio de escravizados gradualmente deu lugar a novas formas de exploração e dominação econômica, que continuaram a marcar o destino da África até o século XX.
Além do comércio de escravos e da colonização, outro fator importante que moldou o contato europeu com a África foi a expansão da missão cristã. No século XIX, missionários protestantes, como David Livingstone, acreditavam que sua presença na África não só traria a religião cristã, mas também contribuiria para a "civilização" do continente. Esse desejo de espalhar a fé cristã tornou-se uma das motivações subjacentes à exploração e à ocupação de partes do continente africano.
É fundamental compreender que a história da África, especialmente no que se refere ao comércio de escravos e à colonização, é multifacetada. O continente não era uma terra "desconhecida" ou "selvagem" antes da chegada dos europeus, mas sim um lugar de grandes civilizações e sistemas complexos de governança, comércio e cultura. Além disso, a resistência dos africanos às invasões e ao tráfico de escravizados deve ser entendida não apenas como uma resposta passiva, mas como parte de uma longa história de luta pela autonomia e pela preservação de suas tradições e territórios. A exploração europeia, longe de ser uma história de "descoberta", deve ser vista como um período de dominação, resistência e transformação para as sociedades africanas.
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