Quando lidamos com mapas diferenciáveis entre variedades, é crucial compreender os conceitos que garantem que essas funções se comportem de forma controlada, tanto local quanto globalmente. Este entendimento é essencial para diversas áreas da matemática, como geometria diferencial, topologia e cálculo multivariável, além de ser a base para muitas aplicações em física e engenharia.

Seja NN uma subvariedade CrC^r de Rn\mathbb{R}^n, onde 1smin{q,r}1 \leq s \leq \min\{q, r\}, e suponha que fC(M,N)f \in C(M, N), isto é, ff é um mapa contínuo de uma variedade MM para NN. Considerando que (ϕ,U)(ϕ, U) é uma carta de MM em torno de um ponto pMp \in M, podemos afirmar que Uf1(W)U \cap f^{ -1}(W) é um vizinho aberto de pp em MM. A partir disso, podemos diminuir UU de forma que f(U)Wf(U) \subset W. O mapa ff é então dito ser ss-vezes diferenciado de maneira contínua em pp se o mapa fφ,ψ:=ψfφ1:φ(U)ψ(W)f_{\varphi, \psi} := \psi \circ f \circ \varphi^{ -1} : \varphi(U) \to \psi(W), em torno de φ(p)\varphi(p), for ss-vezes diferenciável de maneira contínua.

Em termos mais práticos, isso significa que a função ff preserva a estrutura diferenciável entre as variedades em uma forma controlada em torno de cada ponto de MM. Se isso ocorre para todo ponto de MM, podemos afirmar que ff é diferenciável ss-vezes em MM.

É importante notar que a escolha das cartas (ϕ,U)(ϕ, U) e (ψ,W)(ψ, W) não afeta a definição da diferenciabilidade do mapa, pois as transformações entre as coordenadas podem ser feitas de maneira coordenada e suave. O mapa fφ,ψf_{\varphi, \psi}, portanto, é uma representação local do mapa ff, que se torna uma transformação suave entre subconjuntos de espaços euclidianos.

Esse conceito de diferenciabilidade contínua pode ser estendido para situações onde ff é bijetivo e f1f^{ -1} também é diferenciável, o que caracteriza os difeomorfismos entre variedades. Em termos mais formais, dizemos que MM e NN são CsC^s-difeomorfos se existir um mapa fCs(M,N)f \in C^s(M, N) tal que f1Cs(N,M)f^{ -1} \in C^s(N, M). Isso implica que as variedades MM e NN são estruturalmente equivalentes, ou seja, podemos mapear uma na outra de maneira diferenciável sem perda de informações.

O comportamento do mapa ff nas variedades se reflete na análise de seus vetores tangentes. O vetor tangente TpfT_p f de ff em um ponto pp é uma aplicação linear que relaciona o espaço tangente de MM no ponto pp ao espaço tangente de NN no ponto f(p)f(p). A definição precisa da tangente depende das cartas escolhidas, mas a operação é coordenada, garantindo a independência do sistema de coordenadas. O teorema da cadeia nos permite, por exemplo, calcular o vetor tangente de uma composição de funções diferenciáveis, o que é uma ferramenta poderosa na análise de mapas entre variedades.

Além disso, quando consideramos funções reais f:MRf : M \to \mathbb{R}, a diferencial de ff em pp é uma forma linear contínua no espaço tangente TpMT_p M. Essa diferencial, denotada dpfd_p f, está associada ao gradiente de ff em pp, que é o vetor que maximiza a taxa de variação da função em uma direção específica. A partir da representação local, podemos usar as coordenadas induzidas pelas cartas para calcular o gradiente de ff de maneira explícita, o que é fundamental para otimização e análise de extremais.

É importante também destacar que a noção de normal a uma variedade em pp, dada pelo complemento ortogonal do espaço tangente TpMT_p M, é essencial em muitas áreas, como o estudo de superfícies em Rn\mathbb{R}^n. O espaço normal, denotado por TpMT_p^\perp M, contém os vetores perpendiculares ao espaço tangente e é crucial em muitas definições geométricas e físicas, como na definição de geodésicas e na análise de propriedades de curvaturas.

Portanto, ao estudar as variedades e suas transformações, é importante entender como essas noções de diferenciabilidade, tangentes e normais se entrelaçam. Eles não apenas fornecem uma base para o cálculo multivariável, mas também para a compreensão da geometria e topologia das variedades.

Como a Variedade Total Define Caminhos e Curvas em Espaços Métricos

A variação total de uma função ff definida sobre um intervalo II, denotada como Var(f,I)\text{Var}(f, I), é uma medida da "quantidade" de variação da função ao longo de II. Se considerarmos uma partição Z=(t0,t1,,tn)Z = (t_0, t_1, \dots, t_n) do intervalo II, a soma das distâncias entre os pontos consecutivos da função ff, denotada como j=1nLZ(f)=f(tj)f(tj1)\sum_{j=1}^{n} L_Z(f) = |f(t_j) - f(t_{j-1})|, fornece uma estimativa da variação total de ff sobre a partição ZZ. A variação total Var(f,I)\text{Var}(f, I) é então o supremo dessas somas, tomando o limite quando a partição se refina infinitamente, ou seja, quando o número de intervalos tende ao infinito.

Para a função ser de variação limitada, ou seja, Var(f,I)<\text{Var}(f, I) < \infty, a soma das distâncias entre os pontos consecutivos deve ser finita. Caso contrário, a função apresenta uma variação infinita sobre o intervalo considerado.

Uma propriedade importante da variação total é sua aditividade sobre intervalos consecutivos. Isso é expresso no seguinte lema: se c[a,b]c \in [a, b], então a variação de ff no intervalo [a,b][a, b] é igual à soma das variações de ff nos intervalos [a,c][a, c] e [c,b][c, b]. Em outras palavras, se ff for uma função de variação limitada em [a,b][a, b], temos:

Var(f,[a,b])=Var(f,[a,c])+Var(f,[c,b]).\text{Var}(f, [a, b]) = \text{Var}(f, [a, c]) + \text{Var}(f, [c, b]).

Este resultado é uma consequência direta do comportamento da soma das distâncias LZ(f)L_Z(f) sobre as partições refinadas.

Outro conceito relevante é o de caminhos retificáveis. Um caminho γC(I,E)\gamma \in C(I, E), onde EE é um espaço métrico e C(I,E)C(I, E) representa o conjunto de funções contínuas de II para EE, é chamado de retificável se sua variação total for finita. Para um caminho γ\gamma ser retificável, a integral de sua derivada γ(t)\gamma'(t) deve ser finita:

L(γ)=abγ(t)dt.L(\gamma) = \int_a^b |\gamma'(t)| \, dt.

Se a função γ\gamma for diferenciável e sua derivada for contínua, então o caminho γ\gamma será sempre retificável. Por exemplo, se γC1(I,E)\gamma \in C^1(I, E), temos a seguinte fórmula para a sua comprimento ou comprimento do arco:

L(γ)=abγ(t)dt.L(\gamma) = \int_a^b |\gamma'(t)| \, dt.

Esse resultado é uma aplicação direta do teorema fundamental do cálculo e mostra que a variação total de um caminho continuamente diferenciável é igual ao comprimento do arco do caminho.

Entretanto, existem caminhos contínuos que não são retificáveis. Um exemplo clássico é a função γ(t)=tcos2(π2t)\gamma(t) = t \cos^2(\frac{\pi}{2t}), definida no intervalo (0,1](0, 1]. Embora γ\gamma seja contínua, ela não é retificável, pois a soma das distâncias sobre qualquer partição do intervalo tende ao infinito. Esse exemplo ilustra a necessidade de a função ter um controle adequado sobre sua derivada para que seja retificável.

Outro ponto importante é a distinção entre os diferentes tipos de curvas. As curvas podem ser classificadas conforme a suavidade de suas parametrizações. Uma curva γ\gamma é dita CqC^q (onde qq é o grau de suavidade) se ela é diferenciável qq vezes, com a qq-ésima derivada sendo contínua. O estudo das curvas CqC^q é fundamental na geometria diferencial, pois nos permite entender o comportamento local das curvas e a relação entre suas parametrizações.

Em particular, se uma curva γ\gamma é reparametrizada de forma que sua derivada não seja zero, ou seja, se γ(t)0\gamma'(t) \neq 0 para todo tt em seu domínio, então a curva é dita regular. A regularidade das curvas é crucial, pois garante que a parametrização não "perde" a informação geométrica da curva, ou seja, não há colapso da curva em um único ponto ou alongamento infinitamente rápido.

Um exemplo importante de reparametrização é o conceito de curvas regulares e compactas. Se γ\gamma é uma curva regular e compacta, então qualquer parametrização dessa curva também será regular, e sua imagem será compacta, ou seja, será limitada e fechada. Essas propriedades são essenciais para a teoria das curvas e têm implicações profundas na topologia e na geometria diferencial.

Além disso, uma curva pode ser reparametrizada de várias maneiras, mas, independentemente da parametrização utilizada, o "conteúdo geométrico" da curva, isto é, sua forma e comprimento, não muda. A equivalência entre parametrizações diferentes de uma mesma curva é uma questão central no estudo das curvas e é formalizada através da relação de equivalência \sim, onde duas parametrizações γ1\gamma_1 e γ2\gamma_2 são equivalentes se uma for uma reparametrização de γ2\gamma_2.

Compreender a variação total, a retificabilidade e a reparametrização das curvas é fundamental para o estudo das propriedades geométricas e analíticas das funções e das curvas em espaços métricos. Essas ferramentas são amplamente utilizadas na teoria das integrais de linha, no cálculo de áreas e volumes, e em diversas outras áreas da matemática, como a física e a engenharia, onde as curvas e suas propriedades desempenham um papel crucial.