No estudo dos sistemas multivariáveis não lineares, o conceito de grau relativo vetorial no ponto de equilíbrio x = 0 é fundamental para a análise e solução do Problema de Controle Não Interativo. Esta propriedade garante a ausência de soluções triviais, ou seja, aquelas em que algum dos sinais de saída não é afetado por nenhuma entrada no sistema em malha fechada. Tal característica impede que partes do sistema fiquem isoladas do controle, assegurando que cada entrada influencie diretamente uma saída específica.

O resultado principal a respeito do problema é que ele é solucionável se, e somente se, o sistema possuir um grau relativo vetorial, pertencendo assim a uma classe especial de sistemas multivariáveis que permite a transformação em uma forma normal adequada. Esta forma normal facilita a construção de uma lei de realimentação que assegura o comportamento desejado.

Ao impor uma lei de realimentação estática do tipo u=a(x)+β(x)vu = a(x) + \beta(x)v, onde a(x)a(x) e β(x)\beta(x) são funções derivadas da inversa da matriz A(x)A(x) do sistema, obtém-se um sistema em malha fechada caracterizado por cadeias de integradores que relacionam cada entrada a uma saída correspondente sem interferência mútua. Caso a soma dos graus relativos individuais seja igual à dimensão do espaço de estados nn, não há partes não observáveis (“sumidouros”) que possam absorver dinamicamente estados sem afetar as saídas. Essa condição assegura que o sistema fechado seja completamente representado por estas cadeias de integradores, tornando o comportamento entrada-saída essencialmente linear.

É importante destacar que a realização do controle não interativo é independente da escolha das coordenadas do espaço de estados. A forma da realimentação apresentada, denominada realimentação padrão não interativa, é válida para todos os pontos próximos ao equilíbrio em que a matriz A(x)A(x) seja não singular, ou seja, onde o grau relativo vetorial exista.

A existência desse grau relativo vetorial não é apenas uma condição suficiente, mas também necessária para a existência de soluções do problema. Caso contrário, a matriz β(0)\beta(0) apresentaria posto inferior ao número de entradas e saídas, inviabilizando a obtenção do controle não interativo. Em outras palavras, a estrutura intrínseca do sistema deve permitir a diferenciação das trajetórias de saída a partir das entradas, sem que nenhuma saída permaneça insensível a todas as entradas.

Quando o sistema possui mais entradas do que saídas, ainda é possível definir uma forma normal semelhante, desde que a matriz A(x)A(x) tenha posto adequado. Neste cenário, pode-se resolver um subconjunto das entradas para controlar diretamente as saídas correspondentes, mantendo a não interação entre esses pares, enquanto as demais entradas podem ser tratadas separadamente.

Ao aplicar a realimentação que torna o sistema não interativo, a estabilidade interna do sistema passa a depender do comportamento das subsistemas não observáveis, que agem como blocos isolados dentro do conjunto maior. Esses subsistemas, embora afetados por todas as entradas e estados, não impactam as saídas. Portanto, para garantir estabilidade total, é crucial analisar e controlar também esses subsistemas internos.

A compreensão do problema de controle não interativo envolve não apenas a aplicação da teoria do grau relativo vetorial e a construção da realimentação adequada, mas também o reconhecimento de que a estrutura interna do sistema em malha fechada deve ser cuidadosamente examinada. O sucesso do controle depende da inexistência de dinâmicas internas “escondidas” que possam comprometer a resposta global, e da capacidade de traduzir o sistema não linear original em uma forma que permita a implementação prática da realimentação.

Endereçar esses aspectos é vital para projetar controladores robustos para sistemas complexos com múltiplas entradas e saídas, garantindo que o comportamento desejado seja atingido sem interferências indesejadas entre as variáveis controladas.

Qual a importância das distribuições suaves e suas propriedades fundamentais?

Seja zA1zA_1 e zA2zA_2 duas distribuições suaves, ambas contidas em zAzA. A soma das distribuições zA1+zA2zA_1 + zA_2 continua sendo uma distribuição suave e também está contida em zAzA, por construção. A partir disso, pode-se concluir que a família de todas as distribuições suaves contidas em zAzA possui um elemento máximo único (com respeito à adição das distribuições), ou seja, a soma de todos os membros da família. Esta distribuição, que é a maior distribuição suave contida em zAzA, é denotada por smt(zA)smt(zA) e, por conveniência, pode ser usada como substituto para a distribuição original zAzA.

Além disso, o comportamento de uma distribuição como uma "função" de xx é um aspecto relevante. Já vimos como caracterizar a suavidade de uma distribuição, mas existem outras propriedades que também devem ser consideradas. Uma distribuição zAzA, definida em um conjunto aberto UU, é chamada de não-singular se existir um número inteiro dd tal que a dimensão dim(zA(x))=d\dim(zA(x)) = d para todo xx em UU. Caso contrário, a distribuição é chamada de singular, ou, mais especificamente, uma distribuição de dimensão variável. Um ponto x0x^0 de UU é considerado um ponto regular de uma distribuição zAzA se existir um bairro U0U^0 de x0x^0 tal que zAzA seja não-singular em U0U^0. Qualquer ponto de UU que não seja regular é chamado de ponto de singularidade.

Por exemplo, considere a distribuição definida no Exemplo 1.3.1, que tem dimensão 2 em cada ponto xx tal que x1=0x_1 = 0 e dimensão 1 em cada ponto xx tal que x10x_1 \neq 0. O plano {xR3:x1=0}\{ x \in \mathbb{R}^3 : x_1 = 0 \} é o conjunto de pontos de singularidade da distribuição zAzA.

Outras propriedades relacionadas a essas noções são bastante simples, sendo suas provas omissas ou apenas esboçadas. Por exemplo, se AA for uma distribuição suave e x0x^0 for um ponto regular de AA, e dim(Zl(x0))=d\dim(Zl(x^0)) = d, então existem um bairro aberto U0U^0 de x0x^0 e um conjunto {f1,,fd}\{ f_1, \dots, f_d \} de campos vetoriais suaves definidos em U0U^0, de modo que os vetores f1(x),,fd(x)f_1(x), \dots, f_d(x) são linearmente independentes para todo xU0x \in U^0, e A(x)=span{f1(x),,fd(x)}A(x) = \text{span}\{ f_1(x), \dots, f_d(x) \}.

Para uma distribuição não-singular zAzA, usando o Lema 1.3.1, é possível expressar qualquer dois campos vetoriais T1T_1 e T2T_2 de zAzA na forma T1(x)=i=1dCifi(x)T_1(x) = \sum_{i=1}^d C_i f_i(x), T2(x)=i=1dDifi(x)T_2(x) = \sum_{i=1}^d D_i f_i(x), onde f1,,fdf_1, \dots, f_d são campos vetoriais suaves localmente geradores de zAzA. Para que zAzA seja involutiva, é necessário que para todo 1i,jd1 \leq i, j \leq d, [fi,fj]zA[f_i, f_j] \in zA. Esta condição é tanto necessária quanto suficiente para que a distribuição seja involutiva, ou seja, para que zAzA preserve a estrutura de seus campos vetoriais ao longo de seu domínio.

Por exemplo, considere em R3\mathbb{R}^3 a distribuição A=span{f1,f2}A = \text{span}\{ f_1, f_2 \}, onde f1(x)f_1(x) e f2(x)f_2(x) são definidos de forma tal que AA não seja involutiva. Isso é evidenciado pela matriz de Lie associada [A,A][A, A], que não possui uma estrutura involutiva.

Outro ponto relevante sobre distribuições involutivas é a interseção. Se A1A_1 e A2A_2 são duas distribuições involutivas, então a interseção A1A2A_1 \cap A_2 é também involutiva. Contudo, a soma de duas distribuições involutivas nem sempre resulta em uma distribuição involutiva. Por exemplo, se A=A1+A2A = A_1 + A_2, com A1=span{f1}A_1 = \text{span}\{ f_1 \} e A2=span{f2}A_2 = \text{span}\{ f_2 \}, embora A1A_1 e A2A_2 sejam involutivas, AA pode não ser.

Em alguns casos, quando se parte de uma distribuição que não é involutiva, é útil construir uma distribuição involutiva apropriada a partir da distribuição original. Para isso, se A1A_1 e A2A_2 são distribuições involutivas contendo AA, a interseção A1A2A_1 \cap A_2 será uma distribuição involutiva contendo AA. Assim, conclui-se que a família de todas as distribuições involutivas contendo AA possui um elemento mínimo único, que é a interseção de todas essas distribuições. Essa distribuição é chamada de fechamento involutivo de AA, denotada por inv(zA)\text{inv}(zA).

Além disso, em muitos casos, as operações com distribuições podem ser facilitadas se, ao invés de trabalhar diretamente com as distribuições, considerarmos objetos duais, chamados de codistribuições.