Durante o período Mississipiano Inicial, entre aproximadamente 1.200 e 1.000 anos atrás, algumas das primeiras comunidades agrícolas permanentes começaram a surgir no sudeste de Missouri e na região do American Bottom, no atual estado de Illinois. O arqueólogo Carl H. Chapman denominou esse período de "Tradição do Camponês de Aldeia", observando que as populações da região estavam se tornando cada vez mais dependentes de campos permanentes nas planícies fluviais e da exploração eficiente e organizada dos recursos naturais.

Essa transição para a agricultura permanente levou ao surgimento de assentamentos mais organizados socialmente. As aldeias passaram a ser dispostas em torno de uma grande praça central, no meio da qual muitas vezes se erigia um alto mastro pintado, símbolo de identidade e ancestralidade comum. As habitações também passaram a adotar uma nova tecnologia construtiva: as paredes de trincheira. As estruturas eram feitas em módulos, muitas vezes construídos em locais diferentes e depois transportados para o local definitivo, onde eram fixados em trincheiras que delineavam o plano de um piso quadrado ou retangular.

Além das inovações na arquitetura, houve mudanças significativas nos objetos de cultura material. A cerâmica, por exemplo, passou a ser temperada não mais com pedras trituradas ou areia, mas com conchas de moluscos queimadas e trituradas. Como seus predecessores da tradição Woodland, os Mississipianos iniciais continuaram a prática da construção de montes funerários, embora os montes construídos após 1.200 anos atrás frequentemente apresentassem topos truncados para acomodar plataformas cerimoniais.

Essas inovações culturais podem ser rastreadas até o povo Coles Creek, que habitava o vale inferior do Rio Mississippi, na atual Louisiana. Eles eram herdeiros de uma tradição de construção de montes que precede as estruturas encontradas no grande assentamento Mississipiano de Cahokia, localizado do outro lado do Rio Mississippi, no que hoje é St. Louis. Acredita-se amplamente que, assim como o milho, muitos dos elementos culturais que influenciaram os Mississipianos chegaram à região do Vale do Mississippi vindos da Mesoamérica, com evidências de trocas comerciais entre os povos do atual México e as regiões de Novo México e Arizona. A partir daí, é possível que mercadorias comerciais e ideias culturais tenham se espalhado até os povos Caddoan do Texas e Oklahoma, chegando finalmente a Cahokia.

À medida que a cultura Mississipiana se desenvolvia no American Bottom e no sudeste de Missouri, a transformação dos grupos do período Woodland para o Mississipiano seguiu um processo distinto em relação a outras áreas do estado. Em grande parte de Missouri, os traços culturais Woodland persistiram ao longo de grande parte do período Mississipiano, embora muitas das tribos Woodland tivessem contato regular com os povos Mississipianos. Escavações em montes funerários no centro e no norte-central de Missouri mostram que os povos que os construíram tendiam a seguir as tradições Woodland, embora haja desafios em datar com precisão esses montes, uma vez que muitos foram escavados no início do século XX.

No centro de Missouri, especialmente durante o período da Fase Boone (aproximadamente 1.550 a 800 anos atrás), os montes funerários eram comumente colocados em penhascos com vista para os principais rios, como o Rio Missouri e seus afluentes. Esses montes continham vários tipos de sepultamentos, incluindo restos cremados, crânios desmembrados e esqueletos inteiros. As ofertas funerárias eram limitadas, consistindo principalmente em cerâmica, cachimbos de argila ou pedra, e conchas ou contas de concha. Embora os sítios de aldeias na região central do estado não tenham sido bem documentados, acredita-se que as pessoas dessa área se sustentassem principalmente de plantas nativas cultivadas em terras baixas e recursos aquáticos, além da caça.

Nas Terras Altas dos Ozarks, muitos dos montes e montículos construídos durante o período Mississipiano Inicial (entre 1.000 e 700 anos atrás) ainda exibiam características das sepulturas Woodland. Esses montes eram feitos de rochas e terra, localizados no topo de penhascos com vista para córregos e rios, muitas vezes contendo câmaras ou plataformas de rocha. As pessoas dessa região continuaram a prática do Período Arcaico de viver em vales fluviais e acampar em cavernas e abrigos rochosos, mas também construíram aldeias maiores em terras elevadas ao longo de vales maiores de rios e córregos. Alimentavam-se de uma variedade de mamíferos, principalmente veados, perus e guaxinins, além de consumir muitos moluscos de água doce e cultivar milho e plantas nativas como o "goosefoot" (Chenopodium berlandieri).

No sudoeste de Missouri, foi encontrada evidência de uma possível influência Mississipiana na região do Vale do Rio White, que fazia parte da área cultural dos povos Caddoan. Montículos na área contêm artefatos influenciados pelos Caddoans, como cerâmica e restos de milho. Embora seja difícil afirmar se os povos dessa região eram Caddoans ou estreitamente aliados a eles, sabe-se que o comércio entre as comunidades de Cahokia e as regiões próximas, como os Mounds de Spiro, no nordeste de Oklahoma, foi uma parte importante do desenvolvimento da cultura Mississipiana.

Embora os assentamentos da região nordeste de Missouri, na época, ainda mantivessem muitas das tradições Woodland, a influência Mississipiana se fez sentir principalmente em áreas a sul, ao longo do Rio Mississippi. A região, situada entre as confluências dos rios Missouri, St. Francis e Mississippi, experimentou o desenvolvimento de pequenas comunidades Mississipianas, que haviam sido fortemente influenciadas pelo comércio com a região do American Bottom, especialmente na interseção das três regiões fluviais do Mississippi. Contudo, a disseminação da cultura Mississipiana no nordeste de Missouri foi gradual e não se comparou ao florescimento observado no sul do estado.

Nos últimos séculos do período Mississipiano, a expansão de comunidades e a troca cultural trouxeram novas influências para o vale do Rio Mississippi, e os assentamentos Mississipianos da região se tornaram centros importantes de troca e cerimoniais. Esse período de transformação de culturas locais para uma sociedade mais complexa moldou a estrutura social e econômica da região durante vários séculos, e suas influências são visíveis nas tradições culturais que perduraram até os dias atuais.

Como as Dinâmicas de Poder entre os Osages e os Espanhóis Moldaram o Comércio e a Política no Século XVIII

Durante a década de 1790, os Osages, uma das tribos mais poderosas do centro dos Estados Unidos, experimentaram uma série de mudanças políticas e sociais significativas, muito influenciadas pela intervenção de agentes externos, como os Chouteau e os governantes espanhóis. Esses eventos tiveram implicações duradouras para a dinâmica de poder na região e afetaram diretamente o comércio de peles e a estrutura de liderança dos Osages, além de moldar as relações entre as diversas nações indígenas.

O desenvolvimento de Fort Carondelet, em terras Osages, foi um dos principais resultados dessa interação. A princípio, a Espanha, preocupada com possíveis invasões francesas, decidiu fortalecer sua presença no Missouri, apoiando os Osages em suas disputas territoriais e comerciais com outras tribos. Nesse contexto, Auguste Chouteau, um comerciante influente e membro da família Chouteau, desempenhou um papel crucial na construção de uma fortaleza militar que, para os espanhóis, era uma extensão de sua autoridade, mas para os Osages, representava uma oportunidade de consolidar ainda mais seu poder na região. A construção do forte, localizada em Halley’s Bluff, na margem sul do Rio Osage, em um ponto estratégico, visava servir não apenas como um posto militar, mas como um entreposto comercial que garantiria o monopólio da família Chouteau sobre o comércio de peles com os Osages.

A relação com os Osages era fundamental para o sucesso do comércio na região. Pierre Chouteau e seu filho, Auguste Pierre Chouteau, utilizavam seus laços com a tribo para garantir vantagens comerciais. Eles viam os Osages como aliados valiosos, mas também buscavam moldar sua liderança de acordo com seus próprios interesses. Isso ficou evidente quando os Chouteaus intervieram nas questões de liderança dentro da tribo, favorecendo a ascensão de Pawhuska, um líder que estava alinhado aos seus interesses comerciais. Com a morte de Jean Lafond, um dos líderes mais importantes dos Osages, e a divisão da tribo entre os Earth People e os Sky People, os Chouteaus aproveitaram a oportunidade para reforçar a posição de Pawhuska, convencendo os espanhóis de que ele era o líder legítimo da nação Osage.

Este movimento para fortalecer a posição de Pawhuska não foi isento de controvérsias. A morte de Lafond, um líder respeitado dos Earth People, e a subsequente ascensão de Big Track, criaram uma nova configuração de poder dentro da tribo. No entanto, os Chouteaus usaram essa transição para convencer os oficiais espanhóis de que a liderança de Pawhuska era essencial para a estabilidade e o sucesso do comércio com os Osages. Esse tipo de manipulação política se tornou uma constante, com a influência da família Chouteau crescendo, mas também gerando ressentimentos entre outras tribos e até entre seus próprios competidores comerciais em St. Louis.

A construção do forte, que deveria servir como uma fortaleza militar, não foi vista pelos Osages como uma ameaça direta, mas mais como um símbolo da legitimação do seu poder pelas autoridades espanholas. Apesar de sua aparência de um posto militar fortificado, os Osages trataram o local como se fosse uma extensão de suas próprias terras, considerando-o mais um entreposto comercial do que uma ameaça militar. A localização estratégica do forte, próxima às aldeias dos Osages, permitiu à família Chouteau consolidar seu domínio comercial e expandir suas operações para o oeste, além de garantir uma posição dominante no comércio de peles.

Apesar da fachada de cooperação, as tensões entre as tribos indígenas não diminuíram. A violência entre as tribos continuou a ser um fator constante, com os Osages respondendo a ataques de outras nações, como os Natchitoches, com represálias violentas. Essas ações eram motivadas por um desejo de defender o território e a honra da tribo, algo que, muitas vezes, os Chouteaus tentavam controlar, mas sem muito sucesso. A falha em conter essas represálias demonstrava a complexidade da situação e a dificuldade de se equilibrar entre os interesses de poder, comércio e a manutenção da paz entre os povos indígenas.

É importante destacar que, além das manobras políticas e comerciais, os Osages tinham uma visão clara sobre seu papel na região e de como deveriam ser tratados pelos colonizadores europeus. Para eles, o forte não era um símbolo de subordinação, mas de reconhecimento de sua força e influência. Essa percepção era compartilhada por outras tribos da região, que viam o tratamento preferencial dado aos Osages com ceticismo e, em muitos casos, com hostilidade.

Além disso, o episódio de Fort Carondelet e o envolvimento da família Chouteau ilustram um padrão mais amplo de como as relações entre os colonizadores e as nações indígenas eram moldadas por alianças pragmáticas e interesses comerciais, muitas vezes à custa da estabilidade interna das tribos. A manipulação da liderança indígena pelos Chouteaus e pela administração espanhola foi uma tentativa de criar uma estrutura de poder que fosse mais favorável ao comércio, mas também gerou divisões internas e provocou reações entre outras tribos.