O tratamento das deformidades dos dedos menores dos pés requer uma avaliação cuidadosa de diversos fatores, entre eles a idade do paciente, suas expectativas e o tipo específico de deformidade que apresenta. Uma deformidade aparentemente simples, como o dedo sobreposto (segundo dedo supraductado), pode demandar abordagens completamente diferentes, dependendo se o paciente é idoso ou ativo, como um atleta. A decisão sobre qual tratamento adotar deve ser baseada não apenas nas condições físicas do paciente, mas também em seu estilo de vida e no papel funcional dos dedos menores.

Nos pacientes mais velhos, os dedos menores frequentemente desempenham um papel reduzido na locomoção, tornando o tratamento menos complexo. Nestes casos, onde o segundo dedo do pé está rigidamente sobreposto e pode causar úlceras crônicas, a necessidade de um retorno rápido às atividades diárias é crucial, o que pode tornar a amputação do dedo a escolha mais viável. Ao contrário, em pacientes jovens e ativos, a preservação da função dos dedos menores é essencial, pois esses indivíduos dependem deles para a execução de atividades físicas. Para esses pacientes, uma opção mais agressiva, como uma osteotomia metatarsal, artrodeses da PIP e a transferência do flexor longo, pode ser indicada, apesar de implicar em um tempo de recuperação pós-operatório mais longo, mas com um resultado funcional significativamente melhor.

É importante ressaltar que qualquer tratamento cirúrgico realizado não devolve ao dedo a funcionalidade original. A cirurgia, embora capaz de melhorar a posição e reduzir os sintomas, não restabelece completamente a função. A realização de osteotomias, transferências tendinosas e artrodeses implica em limitações funcionais, que devem ser claramente comunicadas ao paciente antes da cirurgia, para que suas expectativas estejam alinhadas com a realidade do procedimento.

Em casos não cirúrgicos, o tratamento conservador pode ser eficaz quando a deformidade é flexível e redutível. A ênfase aqui está no fortalecimento dos músculos intrínsecos e extrínsecos do pé, bem como no mecanismo de windlass da fáscia plantar, que pode ajudar a melhorar a flexão plantar do MP (metatarsofalângica). Além disso, o fortalecimento e alongamento dos tendões do tendão de Aquiles e do tibial posterior podem corrigir a dorsiflexão deformada e melhorar a marcha do paciente. Para os casos em que o dedo está rígido, o tratamento conservador foca principalmente na adaptação do calçado, utilizando palmilhas e órteses personalizadas para melhorar o suporte e o conforto.

As bandagens também têm um papel importante, sendo usadas para corrigir a posição do dedo e facilitar a flexão plantar do dedo. Existem diferentes tipos de bandagens, como simples, em forma de serpentina ou até de laço, todas voltadas para reduzir a dorsiflexão e favorecer a flexão plantar.

Quanto ao tratamento cirúrgico das deformidades dos dedos menores, este é vasto e abrange diversas técnicas, com a escolha variando de acordo com a rigidez ou flexibilidade da deformidade. Para deformidades flexíveis, são indicadas tenotomias e osteotomias, enquanto deformidades rígidas podem exigir artrodeses ou artroplastias articulares.

O mallet toe, que se caracteriza pela flexão do DIP (interfalângica distal), pode ser tratado de forma flexível ou rígida. Quando flexível, o objetivo da cirurgia é liberar o FDL (flexor do dedo longo) e realizar uma capsulotomia plantar do DIP. Já no caso rígido, a artrodeses do DIP ou a técnica de DuVries, que busca promover a união fibrosa do dedo, são as opções preferenciais. O tratamento para deformidades do PIP (interfalângica proximal), como o hammertoe ou claw toe, pode ser feito com tenotomia e capsulotomia, enquanto deformidades rígidas podem ser tratadas com artroplastia de resseção ou artrodeses.

Além disso, a abordagem minimamente invasiva (MIS) tem se mostrado eficiente nos últimos anos, e muitos procedimentos tradicionais já têm versões adaptadas para essa técnica, o que permite uma recuperação mais rápida e menor trauma para o paciente.

É essencial, portanto, que o tratamento das deformidades dos dedos menores seja cuidadosamente adaptado às necessidades e condições de cada paciente. O prognóstico e a escolha do tratamento adequado dependem diretamente de uma análise detalhada do tipo de deformidade e das exigências funcionais do paciente. Em todos os casos, as expectativas devem ser claramente estabelecidas para garantir que o paciente compreenda as limitações e os objetivos do tratamento proposto.

Como a Transferência do Tendão Flexor Hallux Longus (FHL) Pode Ajudar na Reconstrução do Tendão de Aquiles

A transferência do tendão Flexor Hallux Longus (FHL) tem sido amplamente estudada como uma solução para a reconstrução do tendão de Aquiles, especialmente em casos de rupturas graves. Essa técnica, que envolve a transferência de um tendão saudável para suprir a função do tendão lesionado, pode ser realizada de diferentes maneiras, dependendo das condições específicas do paciente e da gravidade da lesão. A transferências do FHL pode ser feita de forma minimamente invasiva ou através de técnicas mais tradicionais, cada uma com suas vantagens e desafios.

Quando se utiliza o FHL, um dos aspectos mais importantes a ser considerado é o momento da tenotomia (corte do tendão), que deve ser realizado o mais distal possível para garantir que o tendão transferido tenha a maior extensão possível para proporcionar uma recuperação funcional adequada. Esse procedimento é feito com o tendão sendo fixado no calcâneo, utilizando suturas ou outros meios como âncoras e parafusos biotenodésicos, sendo essencial que a transferência seja realizada com cuidado para não comprometer a biomecânica do tornozelo.

Porém, apesar da retirada do FHL, que teoricamente poderia enfraquecer a flexão plantar, a preservação de sua conexão com o tendão Flexor Digital Longo (FDL) através do nó de Henry garante que a funcionalidade não seja comprometida de forma significativa. Isso significa que a força de flexão plantar do paciente não é tão reduzida quanto se poderia imaginar, o que torna essa técnica uma opção atraente.

Em casos onde é necessário utilizar um enxerto para cobrir a falha do tendão de Aquiles, como quando a ruptura é superior a 5 cm, uma abordagem medial na região do mediopé pode ser recomendada. Essa abordagem facilita a reconstrução, permitindo que o enxerto seja posicionado de forma a otimizar a recuperação do paciente.

Além das técnicas tradicionais, a realização de transferências do FHL também pode ser feita de maneira minimamente invasiva, utilizando artroscopia do tornozelo. Esse tipo de abordagem oferece grandes benefícios, como a redução do dano aos tecidos moles e uma recuperação mais rápida, sem comprometer os resultados cirúrgicos. A técnica envolve a utilização de dois portais para localizar e preparar o tendão, sendo que o tendão é retirado em flexão plantar máxima do hálux para garantir o comprimento adequado. Após a tenotomia, o tendão é posicionado no calcâneo por meio de um túnel ósseo.

Quanto à reconstrução com enxertos, ela é frequentemente indicada quando o defeito do tendão é muito grande e exige o preenchimento do espaço com colágeno, seja autólogo (do próprio paciente) ou alogênico (de outro indivíduo). O uso de enxertos autólogos é mais comum, sendo que os tendões do hamstrings ou quadríceps são frequentemente utilizados para esses casos. Eles são indicados quando o defeito do tendão ultrapassa os 6 cm, ou quando não é possível realizar a transferência de tendão. A técnica envolve uma abordagem extensa e cuidadosa para garantir que o enxerto seja corretamente posicionado e fixado no local adequado.

O uso de alotransplantes (enxertos de doadores) também está sendo cada vez mais explorado, principalmente devido ao fato de que ele não exige que o paciente tenha uma segunda área de coleta de tendão, o que diminui a morbidade associada ao procedimento. Além disso, o uso de enxertos sintéticos tem sido descrito como uma técnica auxiliar, embora em poucos casos seja utilizado isoladamente.

Em termos de protocolos cirúrgicos, a técnica de sutura de ponta a ponta é recomendada para falhas de até 2 cm, enquanto em defeitos entre 2 a 5 cm, a abordagem com avanço V-Y pode ser adotada para cobrir a falha. Para defeitos maiores que 5 cm, recomenda-se o uso de enxertos autólogos ou alotransplantes, que podem ser complementados por transferências de tendões, dependendo da situação clínica. Caso seja necessário realizar uma transferência de tendão, o FHL é frequentemente a opção preferida, dado seu bom desempenho funcional e a relativa facilidade de obtenção.

A reabilitação pós-cirúrgica desempenha um papel crucial na recuperação do paciente. No início, o paciente deve ser imobilizado com uma bota curta, com o pé em equino, durante 4 a 6 semanas. Durante esse período, a carga no pé é evitada, permitindo a cicatrização. Após esse tempo, começa a reabilitação com carga progressiva e a redução da imobilização, seguido de exercícios de fortalecimento e reeducação da marcha. A partir de 12 semanas, as órteses protetoras podem ser retiradas, e o paciente deve ser orientado a evitar atividades que envolvam impacto ou aceleração repentina por até seis meses, a fim de prevenir uma nova ruptura.

Entre as complicações possíveis, estão a deiscência e necrose nas técnicas abertas, novas rupturas, elongação do tendão transferido, fraqueza na flexão plantar do tornozelo, lesões do nervo sural e trombose venosa profunda. Quando ocorre uma nova ruptura, a escolha do tratamento será determinada pelo tamanho da falha no tendão e pela qualidade do músculo envolvido. A reconstrução pode envolver o uso de enxertos ou transferências de tendões, dependendo do quadro clínico do paciente.

A técnica de transferência do FHL, com suas variantes minimamente invasivas ou abertas, oferece uma excelente solução para a reconstrução do tendão de Aquiles em pacientes com grandes rupturas. Contudo, o sucesso do tratamento depende não só da escolha adequada da técnica cirúrgica, mas também de uma reabilitação bem conduzida que permita uma recuperação funcional eficaz e sem complicações a longo prazo.

Fibular Hemimelia: Classificação, Avaliação Clínica e Radiográfica

A hemimelia fibular é uma deformidade congênita rara que afeta o desenvolvimento do fêmur, mais especificamente a fíbula, e pode resultar em uma série de anomalias associadas ao membro inferior, como discrepância de comprimento entre as pernas, problemas nas articulações do tornozelo e pés com funcionalidade comprometida. O manejo da hemimelia fibular depende da gravidade e do tipo da condição, além da idade do paciente, e as abordagens incluem desde o alongamento ósseo até a amputação, quando necessário.

O primeiro passo no tratamento da hemimelia fibular é a correta classificação da deformidade, que pode ser feita por sistemas como o de Birch ou o mais recente, proposto por Paley. A classificação de Birch é bastante útil para a avaliação da funcionalidade do pé e tornozelo. Dentro desse sistema, a hemimelia fibular é dividida em dois tipos principais: o Tipo 1, que envolve discrepâncias no comprimento das pernas e pode ser tratado com procedimentos de alongamento ósseo ou até mesmo ortótese de extensão, e o Tipo 2, que se caracteriza por pés não funcionais. O Tipo 2 é subdividido entre 2A e 2B, dependendo da funcionalidade das extremidades superiores, sendo o Tipo 2A indicado para amputação precoce, enquanto o Tipo 2B, devido à falta de funcionalidade das extremidades superiores, contraindica a amputação do pé, que passa a agir como substituto das extremidades superiores.

Além dessa abordagem inicial, a classificação de Paley, que foca mais no tratamento cirúrgico e nos componentes da articulação do tornozelo, detalha tipos específicos de tornozelo que irão influenciar diretamente as opções de reconstrução. O Tipo 1, por exemplo, é um tornozelo estável e normal, o que permite o uso de procedimentos de alongamento tibial. Já o Tipo 2, que apresenta um tornozelo dinâmico em valgo, pode exigir osteotomia de reorientação supramaleolar, junto com alongamento tibial. Os Tipos 3 e 4 envolvem tornozelos mais rígidos e deformações como o pé equinovalgus e o pé torto congênito, ambos demandando reconstruções mais complexas, com múltiplos procedimentos como osteotomias, ressecções e alongamentos de tendões, dependendo da localização e gravidade das deformidades.

No tratamento das crianças com hemimelia fibular, a avaliação clínica inicial desempenha um papel crucial. É essencial que os pais sejam bem informados desde o início sobre as opções de tratamento, riscos e benefícios de cada abordagem. Durante a avaliação, o exame físico completo deve incluir a medição de altura e comprimento das pernas, além de uma análise detalhada das extremidades superiores, coluna vertebral e, claro, dos pés e tornozelos. A movimentação das articulações também deve ser avaliada, pois ela indica a necessidade de intervenções adicionais.

A avaliação radiográfica também é fundamental. Embora as radiografias na fase neonatal forneçam informações limitadas, uma radiografia AP (anteroposterior) dos membros inferiores pode ajudar a prever discrepâncias no comprimento das pernas, o que influenciará diretamente as opções de tratamento. Durante o primeiro ano de vida, uma simples radiografia AP pode fornecer uma ideia inicial do tratamento necessário, enquanto radiografias laterais longas podem ser usadas em idades mais avançadas para avaliar a posição do pé, a estabilidade do joelho e outras possíveis complicações.

A previsão da discrepância no comprimento das pernas é uma das principais considerações para definir os caminhos cirúrgicos ou prótéticos. O método do multiplicador, apesar de algumas críticas, continua sendo utilizado para estimar essa discrepância, com base nas radiografias iniciais e na altura da criança. Esse dado permite aos cirurgiões e às famílias escolherem o melhor caminho, seja por meio de alongamentos ósseos sucessivos, epifisiodese (procedimento que visa regular o crescimento ósseo) ou próteses, conforme o caso.

Além disso, é importante que os pais sejam informados de que a abordagem inicial pode evoluir conforme a criança cresce, o que exige um acompanhamento contínuo. De fato, o tratamento de hemimelia fibular envolve não apenas a escolha do tipo de procedimento cirúrgico, mas também uma compreensão da potencial evolução da deformidade com o tempo, considerando o impacto a longo prazo das intervenções propostas.

Ao longo de todo o processo, o cirurgião deve estar atento às preferências da família e ao ambiente de cuidado, uma vez que esses fatores podem influenciar a decisão sobre o tratamento a ser adotado. Em última instância, o objetivo é oferecer à criança a melhor qualidade de vida possível, permitindo-lhe alcançar um desenvolvimento funcional adequado.

Como a Técnica SUPERankle Pode Corrigir a Hemimelia Fibular Tipo 3A: Abordagens e Princípios Cirúrgicos

A hemimelia fibular é uma condição congênita rara em que há uma falha no desenvolvimento do osso fibular, o que resulta em uma série de deformidades nos membros inferiores. Dentre os tipos dessa condição, o Tipo 3A, também conhecido como "ankle type", envolve sérias deformidades no pé e tornozelo, como a deformidade equinovalgus, que causa tanto uma inversão do pé quanto uma angulação do tornozelo para baixo. A correção dessa condição exige uma abordagem multidisciplinar e técnicas cirúrgicas sofisticadas, que incluem a utilização de osteotomias, alongamento tendíneo e o uso de dispositivos fixadores externos.

O processo cirúrgico para a correção do Tipo 3A de hemimelia fibular começa com uma avaliação detalhada da deformidade e da condição dos tecidos moles, como os tendões peroniais. Esses tendões podem ser divididos com a técnica Z para facilitar o alongamento e reparo. A partir disso, as osteotomias necessárias são realizadas para corrigir a posição do tornozelo e do pé, com a utilização de fixadores externos que ajudam a garantir a mobilização e o alongamento progressivo do osso. Um dos principais desafios é garantir que todas as estruturas relevantes, como tendões e nervos, sejam devidamente identificadas e protegidas durante a intervenção.

Na técnica SUPERankle, um dos passos essenciais é a realização de uma osteotomia distal tibial. A cirurgia deve ser conduzida com extremo cuidado para evitar danos ao anel pericondrial da placa de crescimento. Após a osteotomia, a correção da posição equinovalgus é realizada ao abrir a osteotomia na direção posterolateral, utilizando um osteótomo ou um espalhador laminar. O uso de enxerto cortical, como o alógnato de fíbula, pode ser necessário para estabilizar a correção e facilitar o processo de alongamento. Esse processo deve ser realizado cuidadosamente, pois a remoção inadequada do enxerto ou a realização precoce de alongamentos pode comprometer os resultados a longo prazo.

A manipulação do tendão de Aquiles, em particular, exige técnicas específicas. O tendão, muitas vezes encurtado devido à deformidade, precisa ser alongado com a técnica Z. Este procedimento pode ser complementado com a utilização do septo intermuscular resecado, caso seja necessário para fornecer comprimento suficiente para o tendão. Durante a cirurgia, é fundamental que todos os nervos, como o nervo tibial posterior e o nervo sural, sejam identificados e preservados para evitar complicações adicionais.

Após a cirurgia inicial, o paciente será monitorado enquanto o quadro de correção é feito de forma gradual, com o uso de fixadores externos como o dispositivo Ilizarov ou o fixador hexapod. A elongação óssea pode começar entre quatro a seis meses após a operação inicial, dependendo da evolução clínica. O objetivo é aumentar o comprimento da tíbia, corrigindo a curvatura e os ângulos do osso de forma controlada. Durante esse período, a reabilitação com fisioterapia é essencial para recuperar a mobilidade do tornozelo e evitar contraturas ou rigidez nas articulações.

A remoção do fixador ocorre após a consolidação do osso, e o paciente passa a utilizar um gesso por algumas semanas para garantir a estabilidade da correção. Esse processo pode ser longo, mas é crucial para que o paciente recupere a funcionalidade do pé e tornozelo, proporcionando uma marcha mais normalizada e melhorando a qualidade de vida.

Além da técnica cirúrgica, é importante que o paciente e a família compreendam a natureza do tratamento, que exige paciência e acompanhamento contínuo. A reabilitação física pós-cirúrgica desempenha um papel vital na recuperação, e o sucesso do tratamento depende da adesão rigorosa às orientações médicas e ao regime de fisioterapia. A expectativa de vida do paciente com hemimelia fibular tipo 3A, após a cirurgia bem-sucedida, tende a ser positiva, mas a manutenção de um acompanhamento periódico é essencial para monitorar a saúde ortopédica e garantir que não surjam complicações tardias.