A pericardite constritiva crônica é uma condição rara, mas complexa, caracterizada pela perda da capacidade de reserva do pericárdio, o que restringe a expansão dos ventrículos cardíacos. Esse distúrbio pode causar falência cardíaca diastólica, resultante de uma pressão intratorácica alterada que separa as pressões intracardíacas. A condição leva a anomalias hemodinâmicas únicas, que necessitam de um diagnóstico preciso e de uma abordagem cuidadosa em termos de manejo anestésico.
O tratamento para a pericardite constritiva crônica pode ser realizado com terapia anti-inflamatória, mas em alguns casos, como em crianças, a pericardiectomia se torna indispensável. O procedimento envolve a remoção do pericárdio espessado, o que pode ser desafiador devido às fortes aderências do pericárdio ao coração, particularmente ao átrio direito, ventrículo direito e ao ápice do coração. A dissecação cuidadosa das áreas ao redor da cava superior e inferior é crucial, com especial atenção ao manuseio das estruturas adjacentes. A cirurgia, embora eficaz, envolve riscos significativos, incluindo sangramentos massivos e instabilidade hemodinâmica, o que requer um manejo anestésico altamente especializado.
Após a realização da pericardiectomia, o paciente é transferido para a Unidade de Terapia Intensiva Cardíaca (CICU), onde o monitoramento invasivo da pressão arterial, eletrocardiograma (EKG) e saturação de oxigênio (SpO2) são essenciais. A estabilização do paciente é um processo delicado e, frequentemente, envolve o uso de agentes vasoativos, como dopamina e norepinefrina, para ajustar a perfusão sanguínea e a pressão arterial com base no débito cardíaco e na resposta clínica.
É fundamental lembrar que crianças com pericardite constritiva crônica apresentam uma condição pré-operatória frequentemente grave, com função cardíaca prejudicada e risco elevado de hipotensão, insuficiência cardíaca congestiva e até mesmo arritmias malignas ou parada cardíaca intraoperatória. A hemodinâmica dessas crianças pode ser instável, o que torna imprescindível um planejamento anestésico cuidadoso. As drogas e as técnicas anestésicas devem ser escolhidas com base em sua capacidade de minimizar os impactos na frequência cardíaca, na resistência vascular sistêmica, no retorno venoso e na contratilidade miocárdica.
O processo de avaliação pré-operatória deve ser abrangente e meticuloso. Deve-se realizar exames laboratoriais, como hemograma, testes de coagulação, testes de função hepática e renal, além de exames de imagem, como ecocardiografia e tomografia computadorizada (CT) ou ressonância magnética (RM), para verificar o estado geral da criança e confirmar o diagnóstico. A monitorização invasiva, incluindo a pressão arterial arterial, é obrigatória, dado que essas crianças podem não responder adequadamente à pressão venosa central.
Durante a indução anestésica, a abordagem deve ser gradual, com doses baixas de anestésicos, monitorando constantemente a pressão arterial e o ritmo cardíaco para evitar a hipotensão induzida por anestesia. A preparação para a indução também deve incluir fluidos de ressuscitação adequados, como sangue, e medicamentos vasoativos como epinefrina e norepinefrina, para estabilizar a circulação sistêmica. O uso de defibriladores deve estar prontamente disponível, pois as arritmias podem surgir rapidamente.
Além da preparação intraoperatória, a gestão pós-operatória de crianças submetidas à pericardiectomia envolve monitoramento contínuo e ajuste cuidadoso dos medicamentos. Pacientes com pericardite constritiva crônica podem apresentar uma recuperação complexa, com possibilidade de baixo débito cardíaco e complicações respiratórias. Assim, a vigilância contínua da função cardíaca e a modificação das doses de medicamentos, com base na resposta hemodinâmica do paciente, são vitais para uma recuperação bem-sucedida.
Importante também destacar que a mortalidade perioperatória para crianças com pericardite constritiva crônica pode ser tão alta quanto 12%, podendo chegar a 40% em casos de atrofia miocárdica extensa. A cirurgia precoce pode melhorar a taxa de sobrevivência a longo prazo, mas o manejo pré e pós-operatório deve ser feito com extrema cautela e com a colaboração de uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de cirurgia exige uma coordenação eficaz entre cirurgiões cardíacos, anestesistas e outros profissionais de saúde para garantir a segurança do paciente.
A utilização de um vocabulário técnico preciso durante a discussão do manejo anestésico é crucial. Ao descrever condições complexas como a pericardite constritiva crônica, é necessário evitar a linguagem figurativa e garantir que todos os aspectos da condição sejam discutidos de forma objetiva e clara.
Qual é a importância do gerenciamento anestésico em cirurgias de bandagem da artéria pulmonar em pacientes com VSD múltiplo?
A cirurgia de bandagem da artéria pulmonar (PAB) representa uma abordagem paliativa essencial no tratamento de pacientes infantis com defeitos do septo ventricular (VSD) múltiplos. Essas crianças frequentemente apresentam um grande shunt da esquerda para a direita, que aumenta significativamente o fluxo sanguíneo pulmonar, podendo levar à hipertensão arterial pulmonar (PAH) e sobrecarga do ventrículo direito. O gerenciamento anestésico adequado é crucial para garantir a estabilidade hemodinâmica durante e após a cirurgia, dada a complexidade do quadro clínico dessas crianças.
A avaliação pré-operatória é de suma importância, pois muitos desses pacientes já apresentam insuficiência cardíaca congestiva e sintomas de sobrecarga pulmonar. O uso de diuréticos, como furosemida ou espironolactona, e digitálicos, como a digoxina, é comum para otimizar a função cardíaca antes da cirurgia. Além disso, é necessário realizar uma avaliação nutricional cuidadosa, visto que a desnutrição pode complicar a recuperação pós-cirúrgica. Durante o período pré-operatório, a correção de distúrbios eletrolíticos e a administração de suplementos alimentares de alta energia são fundamentais.
A cirurgia de PAB visa reduzir a pressão no leito vascular pulmonar e aliviar os sintomas de insuficiência cardíaca congestiva, criando condições mais favoráveis para um reparo definitivo posterior. Em casos de VSDs musculares, a bandagem pulmonar pode ser uma alternativa mais eficaz do que a cirurgia radical imediata, que poderia sobrecarregar o ventrículo direito e causar disfunção ventricular grave. Este procedimento deve ser realizado com precisão, pois alterações significativas na hemodinâmica podem ocorrer caso o grau de resistência vascular pulmonar não seja monitorado adequadamente.
No âmbito da anestesia, a estratégia deve ser cuidadosamente planejada. Crianças com VSD múltiplos geralmente apresentam shunt esquerda-direita significativo, que pode ser agravado pela diminuição da resistência vascular pulmonar durante a indução anestésica. A administração de anestésicos que diminuem excessivamente a contratilidade miocárdica deve ser evitada. A escolha de um agente anestésico com mínimo efeito sobre o coração é essencial para evitar complicações. No contexto dessa cirurgia, o uso de anestesia inalatória pode ser desaconselhado em neonatos e lactentes com insuficiência cardíaca congestiva, sendo preferível a indução com opioides intravenosos, como sufentanil, que proporcionam maior estabilidade hemodinâmica.
A manutenção da saturação de oxigênio dentro de limites seguros é um aspecto crítico. Para os procedimentos de reparo biventricular, a saturação recomendada é de cerca de 90%, enquanto para reparo univentricular, pode-se admitir valores ligeiramente inferiores. Durante a indução da anestesia, a pressão arterial média (MAP) deve ser mantida acima de 40 mm Hg para garantir a perfusão sistêmica adequada. Além disso, a monitorização contínua da pressão da artéria pulmonar, gases arteriais e parâmetros hemodinâmicos como a pressão venosa central (CVP) são essenciais.
Após a cirurgia de PAB, é comum um aumento significativo na pós-carga do ventrículo direito, o que pode desencadear arritmias, bradicardia e até falência cardíaca direita. O uso de vasopressores como milrinona e dopamina pode ser necessário para melhorar a função do ventrículo direito. A redução da resistência vascular pulmonar (PVR) e a otimização da ventilação são fatores críticos para a estabilização hemodinâmica. Evitar hiperventilação é fundamental, pois isso pode diminuir a PVR, exacerbando o shunt esquerda-direita.
Em alguns casos, a transfusão de concentrado de hemácias pode ser indicada, especialmente em crianças com níveis baixos de hemoglobina antes da cirurgia. Isso ajuda a melhorar a capacidade de transporte de oxigênio do sangue, crucial para a recuperação pós-operatória.
Embora a bandagem da artéria pulmonar seja uma intervenção eficaz, sua implementação e o manejo anestésico exigem uma abordagem multidisciplinar, incluindo cardiologistas, anestesistas, cirurgiões e nutricionistas. O sucesso dessa abordagem depende de um planejamento cuidadoso, monitorização constante e ajustes contínuos durante e após a cirurgia.
Além disso, é importante que os profissionais de saúde envolvidos nesse tipo de procedimento compreendam que a realização de uma cirurgia paliativa como a PAB não resolve de forma definitiva o problema do VSD múltiplo. A operação ajuda a estabilizar o paciente e a melhorar sua condição clínica, mas a correção definitiva, seja por cirurgia radical ou outras intervenções, deve ser considerada como uma segunda fase do tratamento. O acompanhamento pós-operatório e o monitoramento rigoroso são cruciais para prevenir complicações a longo prazo, como hipertensão pulmonar persistente ou falência do ventrículo direito.
A Fístula Aortopulmonar: Desafios no Diagnóstico e Tratamento em Crianças
A fístula aortopulmonar (APW), uma doença cardíaca congênita rara, caracteriza-se por uma comunicação anômala entre a aorta e a artéria pulmonar, resultante de uma fusão ou arranjo anormal das estruturas vasculares embrionárias. A sua identificação precoce é fundamental, uma vez que a condição pode levar a complicações graves, como insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão pulmonar, se não for tratada de maneira adequada.
Em um caso recente, um menino de um mês e 26 dias foi admitido no hospital com quadro de dificuldade respiratória e sinais evidentes de desconforto respiratório. O paciente apresentava taquicardia (180 bpm), sibilos e cianose, com uma saturação de oxigênio de 80%, indicando uma insuficiência respiratória aguda. O exame físico revelou murmúrio sistólico e rales umedecidos, sinais típicos da presença de distúrbios cardíacos e pulmonares simultâneos. O ecocardiograma revelou uma janela aortopulmonar com defeito no septo atrial, hipertensão pulmonar moderada e regurgitação das válvulas tricúspide e pulmonar. A tomografia computadorizada confirmou a presença de uma anomalia no arco aórtico direito e uma comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar, associada a um defeito do septo atrial.
Além da fístula aortopulmonar, o diagnóstico também sugeriu pneumonia, complicando ainda mais a condição clínica. A paciente foi admitido na unidade de cuidados intensivos pediátricos (UCIP) e tratado com antibióticos, além de medicamentos para o controle da insuficiência cardíaca. O manejo anestésico para o procedimento cirúrgico, que incluiu intubação endotraqueal e ventilação mecânica, foi realizado com monitoramento rigoroso dos parâmetros vitais e gases sanguíneos.
A abordagem anestésica envolveu o uso de agentes como midazolam, etomidato e sufentanil, além de rocurônio para indução e manutenção da anestesia. Durante a cirurgia, a ventilação foi realizada com controle de pressão e volume, ajustando-se para manter a troca gasosa adequada e o equilíbrio hemodinâmico do paciente. Para o controle da hipertensão pulmonar, foram utilizados vasodilatadores pulmonares, como a remodulina, e a cirurgia foi completada com êxito, após 52 minutos de reparo da janela aortopulmonar. O paciente foi desconectado da circulação extracorpórea sem complicações adicionais.
A fístula aortopulmonar é uma condição rara que representa entre 0,1% e 0,6% de todas as doenças cardíacas congênitas. Sua fisiopatologia é semelhante à de um grande ducto arterioso patente (PDA), no qual há um fluxo sanguíneo anômalo da aorta para a artéria pulmonar, resultando em sobrecarga pulmonar e insuficiência cardíaca. Dependendo da localização e do tamanho do defeito, a patologia pode ser classificada em três tipos: tipo I (defeito proximal), tipo II (defeito distal) e tipo III (defeito completo ou transicional).
A reparação cirúrgica precoce da janela aortopulmonar é essencial para prevenir o desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão pulmonar, que podem levar à morte precoce se não tratadas adequadamente. A abordagem anestésica nesses pacientes deve ser cuidadosamente planejada, com ênfase no controle das vias aéreas, manutenção da oxigenação e vigilância hemodinâmica rigorosa, dado o risco elevado de instabilidade cardiovascular.
Em muitos casos, a fístula aortopulmonar não está associada a outras malformações cardíacas importantes, como a tetralogia de Fallot ou o truncus arteriosus persistente, mas pode estar associada a anomalias coronárias ou interrupção do arco aórtico. A sua detecção precoce, por meio de exames de imagem como ecocardiograma e tomografia, é crucial para um tratamento eficaz. É importante notar que, mesmo após a correção cirúrgica, os pacientes podem enfrentar complicações pós-operatórias, incluindo infecções pulmonares graves e disfunção cardíaca persistente, que exigem cuidados intensivos e acompanhamento rigoroso.
Em termos de prognóstico, a maioria dos pacientes que se submetem à correção cirúrgica precoce tem uma boa evolução, mas a presença de hipertensão pulmonar severa ou outras comorbidades pode afetar o resultado a longo prazo. Além disso, deve-se estar atento às possíveis complicações decorrentes de infecções pulmonares, que podem surgir no período pós-operatório e agravar ainda mais a condição do paciente.
A avaliação e o manejo de pacientes com fístula aortopulmonar exigem uma equipe multidisciplinar, que inclua cardiologistas, cirurgiões cardíacos, anestesistas e intensivistas. O acompanhamento contínuo é fundamental para detectar qualquer complicação e garantir que a recuperação pós-cirúrgica ocorra sem intercorrências. A importância do diagnóstico precoce e da intervenção cirúrgica adequada não pode ser subestimada, uma vez que a não correção pode levar a um quadro clínico irreversível de insuficiência cardíaca e hipertensão pulmonar grave.
Gestão Anestésica da Cirurgia de Shunt B-T em Neonatos com Atresia Pulmonar
A atresia pulmonar (PA) é uma condição congênita grave que se caracteriza pela ausência ou malformação da válvula pulmonar, o que impede a passagem de sangue para os pulmões. A correção cirúrgica é essencial para restaurar a circulação pulmonar e melhorar a oxigenação do paciente. A cirurgia de shunt Blalock-Taussig modificada (mBTS) é frequentemente utilizada em neonatos com atresia pulmonar, especialmente aqueles com comunicação interventricular (VSD), e visa estabelecer uma conexão entre a artéria subclávia direita e a artéria pulmonar, promovendo a perfusão pulmonar através de colaterais sistêmico-pulmonares.
A gestão anestésica durante a cirurgia é extremamente crítica, dada a fragilidade dos pacientes e as alterações hemodinâmicas associadas à condição. A anestesia foi induzida com uma dose inicial de midazolam (0,1 mg/kg) e etomidato (0,2 mg/kg), seguidos de infusão contínua de propofol (3,0 mg/(kg·h)), rocurônio (0,6 mg/(kg·h)) e sufentanil (2,5 μg/(kg·h)) para garantir o controle da dor e a paralisia muscular durante o procedimento. A ventilação foi mantida com modo de ventilação controlada por pressão (PCV) com frequência respiratória (RR) de 24 a 30 respirações por minuto e volume corrente (VT) de aproximadamente 6 a 8 mL/kg. A pressão inspiratória de pico (PIP) foi ajustada para não ultrapassar 20 cm H2O, e a pressão positiva expiratória final (PEEP) foi mantida em 4,0 cm H2O para evitar o colapso alveolar e otimizar a oxigenação.
Após a separação da circulação extracorpórea (CEC), foram administrados medicamentos inotrópicos como epinefrina (0,05 μg/(kg·min)) e milrinona (0,5 μg/(kg·min)) para melhorar a contratilidade miocárdica e estabilizar a pressão arterial média (ABP). A manutenção do ducto arterioso foi realizada com infusão contínua de prostaglandina E1 (0,2 μg/(kg·h)) até que fosse possível ligá-lo, completando a reconexão da circulação pulmonar ao sistema arterial. O monitoramento contínuo da pressão venosa central (PVC) foi realizado com cateter duplo-lumen inserido na veia jugular interna direita.
A cirurgia foi realizada sob circulação paralela com circulação extracorpórea (CEC), utilizando heparina de baixo peso molecular como anticoagulante e antibióticos profiláticos para prevenir infecções. Durante o período de CEC, o fluxo de oxigênio (FiO2) foi ajustado entre 40% e 60%, enquanto a ventilação foi mantida com uma frequência respiratória de 10 a 15 respirações por minuto e um volume corrente de 3 a 5 mL/kg. Durante a toracotomia, foi observado que o ventrículo direito tinha menos de um terço do tamanho esperado, o que indicava a necessidade de cuidados especiais em relação à perfusão miocárdica e a manutenção da pressão arterial adequada.
Após o procedimento, a recuperação inicial no pós-operatório foi monitorada na unidade de terapia intensiva cardiovascular (CICU), onde o paciente foi mantido em ventilação mecânica contínua e sob infusão contínua de medicamentos cardiovasculares, ajustados conforme as necessidades hemodinâmicas. A ventilação foi mantida no modo de ventilação assistida intermitente com pressão positiva expiratória final (PEEP) de 4,0 cm H2O. O ajuste das drogas foi baseado nas mudanças nos parâmetros de pressão arterial, frequência cardíaca e saturação de oxigênio (SpO2).
A recuperação do paciente foi progressiva, e a ventilação mecânica foi retirada no quinto dia pós-operatório, com extubação no mesmo dia. O paciente foi transferido para a unidade de cuidados intensivos neonatal (NICU) para acompanhamento. A alta hospitalar foi dada no 15º dia pós-operatório, e o seguimento com ultrassonografia Doppler foi agendado para 6 meses após a cirurgia.
A gestão anestésica em neonatos com atresia pulmonar envolve não apenas o controle da ventilação e a administração de medicamentos para otimizar a função miocárdica, mas também o monitoramento rigoroso de diversos parâmetros fisiológicos, como equilíbrio ácido-base, fluidos e eletrólitos, para evitar complicações hemodinâmicas. O uso de prostaglandina E1, por exemplo, é crucial para garantir a permeabilidade do ducto arterioso até que uma solução definitiva possa ser realizada, enquanto o controle das colaterais sistêmico-pulmonares requer atenção cuidadosa para não exacerbar o quadro clínico do paciente.
Outro ponto importante a ser destacado é a presença de malformações associadas, como o VACTERL, que pode não ser imediatamente aparente ao nascimento, mas que deve ser considerada na abordagem anestésica e no planejamento cirúrgico. Malformações de outros sistemas, como o coração, os rins e os membros, podem complicar o quadro clínico e afetar os resultados a longo prazo. O acompanhamento rigoroso das condições cardíacas e pulmonares após a cirurgia é essencial para garantir uma recuperação satisfatória e prevenir complicações futuras.
Gestão Anestésica na Correção Cirúrgica do Ventrículo Único em Paciente com Anomalia de Ebstein
A anomalia de Ebstein (AE) é uma condição rara, caracterizada por uma deformidade da válvula tricúspide, onde as folhas da válvula estão deslocadas para o ápice do ventrículo direito. Esse deslocamento resulta em uma cavitação do ventrículo direito, levando a um quadro clínico de insuficiência cardíaca e frequentemente associado a outras malformações cardíacas, como forame oval patente (PFO), ducto arterioso patente (PDA) e regurgitação tricúspide grave (TR). As crianças com AE que apresentam sintomas significativos logo após o nascimento, ou ainda na infância precoce, são um grupo de alto risco, com uma taxa de mortalidade consideravelmente elevada no espectro da AE.
O caso descrito envolve uma criança com AE severa que, após uma cirurgia paliativa, apresentou dificuldades respiratórias e episódios de taquicardia supraventricular paroxística (PSVT) que exigiram intervenções anestésicas e cirúrgicas complexas. A criança foi admitida com cianose significativa, alta frequência cardíaca e sinais de insuficiência cardíaca congestiva. O tratamento inicial incluiu a administração de oxigênio e medicamentos sedativos como dexmedetomidina e fenobarbital, com um controle contínuo da frequência cardíaca e a realização de cardioversão elétrica sincronizada, que ajudaram a estabilizar o ritmo cardíaco.
A gestão anestésica para esses pacientes requer um entendimento profundo da fisiologia única do ventrículo único, onde o ventrículo esquerdo não está funcional e toda a circulação depende de um único ventrículo. O monitoramento intraoperatório contínuo de parâmetros como a frequência cardíaca, pressão arterial, saturação de oxigênio (SpO2), dióxido de carbono expirado (ETCO2), entre outros, é essencial para garantir a estabilidade hemodinâmica. No caso desta criança, a indução da anestesia foi realizada com midazolam, sufentanil, etomidato e rocurônio, e a ventilação controlada foi ajustada para garantir a manutenção dos níveis adequados de oxigênio e dióxido de carbono no sangue.
Além disso, foi realizada uma cateterização rápida da artéria radial e veia jugular para monitoramento da pressão arterial invasiva e da pressão venosa central (CVP). O uso de drogas vasoativas como dopamina e norepinefrina foi necessário para controlar a pressão arterial, que apresentou flutuações significativas, especialmente durante episódios de taquicardia ventricular. Durante a cirurgia, a pressão da artéria pulmonar e a pressão aórtica foram monitoradas para avaliar o impacto da correção da anomalia nas circulações direita e esquerda.
Após a cirurgia, a criança continuou a apresentar episódios de PSVT, que necessitaram de desfibrilação elétrica e medicamentos antiarrítmicos como propafenona e digoxina. A recuperação foi gradual, e a criança foi extubada com sucesso após três dias, sendo transferida para a unidade de terapia intensiva cardíaca, onde continuou a ser monitorada para complicações adicionais.
Esse tipo de intervenção exige um conhecimento especializado sobre a anomalia e as complicações associadas, como a dificuldade de manejar a insuficiência cardíaca e as arritmias que frequentemente ocorrem nesse contexto. A abordagem anestésica deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração as condições hemodinâmicas do paciente, que frequentemente apresentam alterações significativas, como hipertensão pulmonar, insuficiência ventricular direita e taquicardia supraventricular. Além disso, a escolha de medicamentos deve ser feita com cautela, considerando os efeitos colaterais que podem exacerbar as condições do paciente.
Outro ponto crucial é a atenção contínua ao estado hemodinâmico pós-operatório. A monitorização rigorosa da pressão arterial e da saturação de oxigênio, aliada ao uso apropriado de drogas vasoativas e antiarrítmicas, é fundamental para garantir a estabilização do paciente. O acompanhamento pós-cirúrgico deve incluir uma vigilância constante para sinais de complicações como disfunção ventricular, episódios de arritmias e insuficiência respiratória.
Em relação à cirurgia, a técnica de Blalock-Taussig shunting (BTS) realizada, embora eficaz, deve ser monitorada para garantir a patência do shunt e evitar complicações como a obstrução ou o deslocamento do cateter. O uso de cardioplegia e a realização de descompressão intracárdica durante a operação também são elementos importantes para a gestão do paciente com ventrículo único.
É crucial que os profissionais envolvidos nesse tipo de caso estejam cientes de que a abordagem deve ser multidisciplinar, envolvendo cirurgiões cardíacos, anestesistas, intensivistas e cardiologistas pediátricos, com o objetivo de otimizar os resultados a longo prazo e reduzir as complicações associadas a essas intervenções.

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