As modalidades físicas são componentes essenciais nos planos de tratamento de reabilitação canina, utilizadas para melhorar os resultados terapêuticos, aliviando a dor, promovendo a cicatrização dos tecidos e restaurando a funcionalidade do paciente. Entre essas modalidades, as mais frequentemente aplicadas incluem as terapias térmicas (crioterapia e aquecimento superficial), o ultrassom terapêutico (TUS), as eletroterapias (estimulação elétrica neuromuscular, TENS, e terapia de campo magnético pulsado), a fotobiomodulação (laser de baixo nível) e a terapia por ondas de choque extracorpóreas (ESWT). Cada uma dessas técnicas possui particularidades que podem ser mais ou menos adequadas dependendo das necessidades do paciente, seja ele um animal com lesões ortopédicas ou neurológicas, cães de trabalho ou esportivos, ou ainda animais geriátricos.

A utilização das modalidades físicas deve sempre ser complementar ao tratamento principal, nunca substituindo outros métodos terapêuticos comprovadamente eficazes. Por exemplo, em um estudo sistemático sobre reabilitação pós-cirúrgica de cães com lesões do ligamento cruzado craniano, foi constatado que os exercícios terapêuticos possuem mais evidências de eficácia do que as modalidades físicas, embora essas últimas desempenhem um papel importante no tratamento. Assim, essas modalidades devem ser vistas como ferramentas adicionais que ajudam a potencializar os resultados da reabilitação, mas sem substituir os tratamentos baseados em evidência, como os exercícios terapêuticos.

O impacto das modalidades físicas sobre os tecidos corporais pode melhorar a circulação sanguínea, reduzir a dor e a inflamação, apoiar a cicatrização e aumentar a flexibilidade das articulações, sendo particularmente eficazes na fase inicial da reabilitação de lesões. A escolha de qual modalidade utilizar depende de uma avaliação profunda das condições do paciente, levando em consideração tanto a natureza da lesão quanto o estágio da recuperação.

As terapias térmicas superficiais, como o frio e o calor, são amplamente utilizadas na reabilitação canina devido à sua simplicidade e eficácia no controle de dor e inflamação. Além disso, sua aplicação pode ser feita com facilidade em casa, o que oferece uma vantagem prática para o proprietário do animal. A crioterapia, por exemplo, é uma técnica de resfriamento que visa reduzir a temperatura dos tecidos lesionados, o que diminui a atividade celular e promove a vasoconstrição, ajudando a controlar o edema e a inflamação. Este tipo de tratamento é comumente utilizado nas fases agudas de lesões musculares, tendinosas e articulares, proporcionando alívio imediato da dor e promovendo a recuperação inicial dos tecidos.

Evidências de sua eficácia em cães indicam que a crioterapia reduz significativamente a inflamação e o inchaço, o que ajuda na diminuição da dor associada a lesões. Estudos demonstraram que a aplicação de compressas frias em áreas específicas, como a região lombar ou os músculos da coxa, pode reduzir a temperatura tecidual e, consequentemente, diminuir a dor e promover uma recuperação mais rápida. Além disso, a combinação de crioterapia com compressão pode acelerar a redução do inchaço e melhorar a mobilidade articular, como foi observado em cães pós-cirurgia de ligamento cruzado.

Porém, é importante ressaltar que a escolha entre diferentes modalidades físicas deve ser feita com base na avaliação contínua do estado clínico do paciente. Não se trata de uma aplicação mecânica de técnicas, mas de um processo de adaptação e ajuste conforme a resposta do animal ao tratamento. A transição de uma modalidade para outra ou a interrupção do uso de determinada técnica deve ser feita cuidadosamente, com constante monitoramento dos progressos na recuperação.

Além disso, é necessário lembrar que a eficácia das modalidades físicas não é garantida em todos os casos e não substitui a necessidade de intervenções terapêuticas mais abrangentes. A combinação de modalidades, como o uso simultâneo de crioterapia com outras terapias, pode ser uma estratégia eficaz para acelerar o processo de reabilitação, mas a experiência do terapeuta e a personalização do tratamento são fundamentais para garantir os melhores resultados. O sucesso do tratamento depende da capacidade do profissional de ajustar as terapias de acordo com a resposta clínica do paciente e de monitorar constantemente o progresso do processo de recuperação.

Portanto, a utilização das modalidades físicas deve ser realizada com compreensão clara de seus efeitos e limitações. Elas são apenas uma parte de um plano de reabilitação mais amplo e devem ser sempre usadas de forma integrada com outros tratamentos, como exercícios terapêuticos e técnicas manuais, para proporcionar uma recuperação completa e funcional para o animal. Além disso, a atualização constante sobre os avanços científicos e as novas descobertas em fisioterapia veterinária é essencial para garantir que o tratamento seja o mais eficaz possível.

Como a Estrutura e o Movimento Canino Influenciam a Performance e a Reabilitação em Cães Atletas

A compreensão da locomoção canina e suas variações é essencial para os profissionais da medicina veterinária esportiva e reabilitação, especialmente quando se trata de identificar indicações sutis de claudicação, muito comuns em cães atletas e cães de trabalho. A estrutura física dos cães difere substancialmente de outras espécies, como os cavalos, o que resulta em formas de locomoção distintas. Esse entendimento é crucial para a avaliação da saúde e do desempenho, principalmente em atletas caninos, que exigem um nível elevado de atenção à mecânica do movimento.

Estruturalmente, os cães têm uma espinha mais flexível do que os cavalos. Enquanto os cavalos possuem de 17 a 18 vértebras torácicas, os cães têm apenas 13, o que permite maior mobilidade na coluna. Além disso, os cães apresentam uma separação funcional entre os ossos do antebraço (rádio e ulna) e da perna (tíbia e fíbula), o que proporciona uma rotação mais eficiente dos membros. Seus pés, projetados para agarrar, também desempenham um papel fundamental na locomoção, permitindo maior aderência ao solo. Em contrapartida, a grande quantidade de conteúdo digestivo no trato gastrointestinal dos cavalos reduz a flexibilidade de sua coluna, afetando sua locomoção de maneira diferente.

Os cães utilizam cinco tipos básicos de marcha: caminhada, trote, galope transversal, galope rotatório e galope rotatório rápido. A caminhada e o trote seguem a mesma ordem de pegada dos cavalos, mas a preferência dos cães recai sobre o galope rotatório e o galope rápido, enquanto os cavalos tendem a usar o galope transversal e o galope rápido. Esse comportamento reflete a adaptação dos cães a diferentes exigências físicas e de desempenho, sendo essencial para os profissionais da reabilitação compreendê-los para diagnosticar eventuais anomalias.

Ao avaliar a locomoção de um cão, é fundamental levar em conta o propósito original para o qual o animal foi criado. Por exemplo, um Greyhound, com sua coluna lombar arqueada, terá uma forma de locomover-se bastante distinta de um Golden Retriever, que apresenta uma linha superior mais nivelada. A espinha arqueada do Greyhound permite-lhe estender os membros pélvicos para frente durante o galope, aumentando seu comprimento de passada. No entanto, essa flexibilidade é limitada quando o Greyhound está trotando, já que a inclinação vertical da pelve reduz a extensão traseira das patas durante essa marcha mais lenta. Por outro lado, um Golden Retriever, com uma linha superior mais reta, demonstrará uma mecânica de movimento mais estável durante o trote, com menor impacto no comprimento da passada.

O conhecimento das variações nas marchas dos cães é particularmente importante para os profissionais que lidam com reabilitação e medicina esportiva canina. Embora a maior parte da avaliação aconteça em um ambiente clínico, muitas anomalias sutis só são perceptíveis quando os cães são observados em movimento natural, como em vídeos de treinos ou competições. Mudanças discretas, como o encurtamento do comprimento da passada de um lado ou o uso incorreto das pernas dianteiras durante curvas rápidas, podem ser identificadas quando assistidas em câmera lenta, algo que seria difícil de notar em um exame físico direto. Portanto, é crucial que os profissionais utilizem ferramentas adequadas para a análise do movimento, como câmeras digitais de alta velocidade, sistemas de análise cinemática, cinética e temporoespacial, que podem fornecer dados detalhados sobre as anomalias de marcha e ajudar na tomada de decisões sobre tratamento e reabilitação.

Outro ponto importante é que a prevenção de lesões depende da compreensão das exigências biomecânicas de cada raça e tipo de movimento. As características físicas, como a musculatura, a flexibilidade e a mecânica da marcha, determinam o risco de lesões específicas, como rupturas do ligamento cruzado craniano ou problemas nas articulações. Uma análise detalhada do comportamento locomotor pode não só identificar lesões já presentes, mas também antecipar as que podem ocorrer em decorrência de padrões de movimento inadequados ou de estresse excessivo sobre determinadas articulações e músculos.

Além disso, é importante que os profissionais estejam atentos à necessidade de adaptação dos planos de reabilitação e treinamento conforme a progressão da recuperação do animal. O reconhecimento da marcha e o controle sobre os tipos de movimento que o cão utiliza nas suas atividades diárias são essenciais para garantir que o plano de reabilitação não só trate a lesão, mas também previna novas ocorrências ao melhorar a biomecânica do movimento.

Como a Redução Fechada e a Estabilização da Coxofemoral Impactam o Tratamento de Luxações

A luxação coxofemoral é um evento traumático que exige uma abordagem cuidadosa e especializada no tratamento. Quando a redução fechada falha ou não é indicada, principalmente em casos onde há fragmentos ósseos dentro da articulação, como ocorre na avulsão do ligamento, a intervenção cirúrgica se torna necessária. Em casos onde a conformação da articulação do quadril é normal, a redução aberta com estabilização é frequentemente a melhor escolha. No entanto, em situações de displasia severa do quadril, a substituição total da articulação do quadril (THR) ou a osteotomia de cabeça femoral (FHO) são recomendadas.

Várias técnicas para a redução aberta e estabilização da coxofemoral foram descritas, variando entre reparos extra-articulares e intra-articulares. As técnicas mais comuns incluem a reconstrução da cápsula articular com sutura e âncoras ósseas ou o uso de materiais sintéticos para substituir o ligamento da cabeça femoral, como na estabilização com barra de toggle (Figura 19.11). Ambas as abordagens oferecem estabilidade imediata à articulação do quadril. No entanto, a estabilidade a longo prazo é alcançada através da cicatrização da cápsula articular e da fibrose periarticular, já que todos os materiais sintéticos eventualmente falham com o tempo.

Após a cirurgia, o uso do membro é geralmente imediato, mas a atividade deve ser restrita por 8 a 12 semanas para permitir a cicatrização da cápsula articular e dos músculos ao redor da articulação. A terapia de reabilitação, incluindo exercícios domiciliares, é fortemente recomendada. Inicialmente, são introduzidos exercícios de sustentação estática do peso, juntamente com caminhadas curtas em terrenos planos. O treinamento de força mais intenso, como trabalho em colinas, é reservado para quando a cicatrização for suficiente, o que normalmente ocorre cerca de 6 a 8 semanas após o reparo. O paciente pode retornar à sua atividade normal quando a amplitude de movimento da articulação do quadril e a massa muscular do membro atingirem os níveis normais.

A recidiva da luxação é a complicação mais comum após o tratamento cirúrgico, com taxas historicamente variando entre 10% a 25%. No entanto, o aprimoramento dos materiais de sutura reduziu a taxa de re-luxação para menos de 5% após a estabilização com barra de toggle, conforme estudos recentes. Apesar disso, a abordagem cirúrgica deve ser seguida de um acompanhamento rigoroso, pois a estabilidade do quadril pode ser comprometida por outros fatores, como o envelhecimento do tecido e o impacto de lesões subsequentes.

A recuperação do paciente, embora progressiva, depende em grande parte da disciplina durante o período pós-operatório. A prática regular de exercícios de reabilitação, como caminhadas controladas e alongamentos suaves, é crucial para o fortalecimento muscular e para a recuperação completa da função da articulação. O controle da dor e o cuidado com os tecidos em cicatrização devem ser acompanhados de perto durante os primeiros meses de recuperação.

Além da reabilitação física, a reavaliação periódica da função do quadril e a adaptação das atividades físicas conforme a evolução da recuperação são fundamentais para a prevenção de lesões futuras. O retorno gradual às atividades mais intensas deve ser feito com cautela, sempre priorizando a recuperação da força muscular e da estabilidade articular.

A abordagem cirúrgica para luxação coxofemoral exige um entendimento profundo da fisiologia da articulação do quadril, dos diferentes tipos de técnicas de estabilização e da importância da reabilitação pós-operatória. Em muitos casos, o sucesso do tratamento depende tanto da precisão na escolha da técnica quanto do comprometimento do dono do animal em seguir as orientações para a recuperação completa.