O desenvolvimento de sistemas híbridos que integram diferentes fontes de energia renovável no ambiente offshore é uma área de estudo crescente. Uma das propostas mais promissoras envolve o uso de conversores de energia das ondas (WEC) combinados com outras tecnologias, como turbinas eólicas flutuantes e barreiras quebra-mar. Esses sistemas híbridos podem oferecer uma solução mais eficiente e robusta para a produção de energia em alto-mar, ao mesmo tempo que oferecem proteção costeira. No entanto, a eficiência desses sistemas depende de vários fatores, incluindo o arranjo espacial dos WECs e a interação dinâmica entre as unidades.

Os conversores de energia das ondas, como os OWC (Oscillating Water Columns), desempenham um papel central nesses sistemas híbridos. Eles capturam a energia das ondas por meio do movimento da água que é forçado a subir e descer em uma coluna de ar. A movimentação do ar dentro dessa coluna gera um fluxo de ar que pode ser utilizado para gerar eletricidade. No entanto, o desempenho desses conversores depende muito das condições ambientais e do arranjo das unidades, o que influencia diretamente a eficiência global do sistema híbrido.

Quando se considera a integração de WECs com outras tecnologias, como turbinas eólicas ou barreiras quebra-mar, é fundamental analisar a interação hidrodinâmica entre as diversas unidades. O posicionamento adequado das unidades pode melhorar significativamente a performance, já que a onda que interage com cada conversor de energia não age isoladamente, mas em função das ondas provocadas pela interação com os outros dispositivos. Estudos mostram que a eficiência de tais sistemas pode ser otimizada quando as unidades são dispostas em configurações que favorecem a interação entre os diferentes tipos de conversores, como em forma de arrays periódicos de dispositivos de energia das ondas.

A integração de conversores de energia das ondas com barreiras quebra-mar flutuantes tem se mostrado uma solução eficaz para a proteção costeira. Em um sistema híbrido, a presença dessas barreiras pode reduzir a força das ondas que atingem as zonas costeiras, diminuindo o risco de erosão e danos estruturais. Além disso, as barreiras quebra-mar podem funcionar como plataformas para a instalação de WECs, oferecendo uma estrutura estável e protegida das forças do mar, permitindo maior eficiência na conversão de energia. No entanto, a interação entre essas barreiras e os WECs deve ser cuidadosamente modelada para evitar a interferência de forças hidrodinâmicas que possam prejudicar o funcionamento de ambos os sistemas.

A eficiência de um sistema híbrido também depende do tipo de onda que prevalece na área em questão. Em regiões com ondas de alta frequência ou ondas curtas, por exemplo, os WECs podem ter um desempenho significativamente diferente do que em áreas com ondas mais longas e mais consistentes. O estudo de como as ondas se propagam e como diferentes dispositivos de captura de energia interagem com essas ondas é fundamental para otimizar o design e o desempenho de tais sistemas.

Além disso, a análise da interação multi-corpo entre as plataformas flutuantes é crucial. Em um sistema composto por várias plataformas flutuantes, como em arrays de WECs ou em sistemas híbridos que combinam vento e ondas, a interação entre as unidades pode gerar efeitos de ressonância ou de amplificação de ondas, o que pode afetar negativamente a eficiência energética. Para mitigar esses efeitos, é necessário realizar simulações numéricas detalhadas que levem em consideração as condições ambientais específicas, como a direção e a intensidade do vento, além da variação do nível do mar e das características das ondas.

Outro fator importante é a consideração de parâmetros como o tipo de fundação e a estabilidade das estruturas flutuantes. No caso de sistemas híbridos que envolvem turbinas eólicas flutuantes, por exemplo, a interação entre a fundação da turbina e a plataforma que suporta os WECs precisa ser estudada de forma a garantir a integridade e o desempenho do sistema como um todo. As plataformas flutuantes devem ser projetadas para resistir às forças combinadas das ondas e do vento, minimizando o risco de falhas estruturais que possam comprometer a geração de energia.

Além de analisar o arranjo físico e as interações hidrodinâmicas, o estudo de sistemas híbridos offshore também deve levar em consideração aspectos econômicos e ambientais. Embora a geração de energia renovável no mar seja uma alternativa atraente, ela envolve altos custos iniciais de instalação e manutenção. Portanto, a otimização do design e a escolha adequada do arranjo das unidades podem ter um impacto significativo na viabilidade econômica de tais projetos. A eficiência energética e o retorno sobre o investimento dependem da redução dos custos operacionais, o que pode ser alcançado por meio de um design inteligente e de uma integração eficaz entre os diferentes dispositivos de conversão de energia.

Ademais, a avaliação ambiental desses sistemas é crucial. Sistemas híbridos offshore podem afetar ecossistemas marinhos e pesqueiros locais, seja pela instalação de grandes estruturas no fundo do mar ou pela alteração das correntes e do comportamento das ondas. O impacto ambiental desses sistemas deve ser cuidadosamente monitorado, especialmente em áreas com alta biodiversidade ou com atividades pesqueiras intensivas. A utilização de tecnologias como plataformas de múltiplos usos, que combinam energia renovável e atividades econômicas como a aquicultura, pode reduzir os impactos ambientais, criando modelos mais sustentáveis de uso do espaço marinho.

Como a Energia das Ondas Pode Ser Aproveitada: Modelos Teóricos e Aplicações Costeiras

O estudo da energia das ondas começou com modelos teóricos focados em configurações de dispositivos isolados ou pequenos arranjos. À medida que a tecnologia evoluiu, o escopo de aplicação se expandiu para integrar sistemas multifuncionais em costas e áreas costeiras. Uma das inovações mais notáveis foi o desenvolvimento dos conversores híbridos de energia das ondas e quebra-mar, os quais não apenas extraem energia das ondas, mas também servem como defesa contra os danos causados pelas forças do mar, proporcionando uma solução integrada para a proteção costeira e a geração de energia.

Modelos bidimensionais (2-D) têm sido amplamente utilizados para estudar o desempenho hidrodinâmico desses sistemas, focando em como as ondas interagem com dispositivos de conversão de energia das ondas (OWC - Oscillating Water Columns). Estes dispositivos operam capturando a energia do movimento da coluna de água, o que permite gerar eletricidade a partir do movimento das ondas. O estudo de Evans e Porter desenvolveu um modelo semi-analítico 2-D para investigar a interação entre ondas e dispositivos OWC retangulares, simplificando as paredes do dispositivo como estruturas finas e derivando parâmetros como susceptância de radiação, condutância e fluxo volumétrico de excitação.

Outros avanços significativos surgiram com a teoria linearizada proposta por Martin-Rivas e Mei, que abordaram um OWC cilíndrico posicionado numa costa reta. A pesquisa revelou o potencial da energia das ondas capturada por dispositivos OWC para aplicações em portos e áreas costeiras. Em paralelo, experimentos realizados por Thiruvenkatasamy e Neelamani investigaram o desempenho de um conjunto de caixões OWC, e Ashlin et al. realizaram testes em uma configuração de OWC retangular integrada a um quebra-mar fixado no fundo marinho.

No campo das instalações costeiras, uma pesquisa importante foi realizada por Tokić e Yue, que apresentaram um modelo teórico para um conjunto de bóias oscilantes, demonstrando que o ganho de um arranjo de dispositivos pode ser significativamente maior devido aos efeitos de interferência das ondas entre os elementos do conjunto. Um modelo teórico adicional de Li et al. examinou o desempenho de um arranjo de bóias oscilantes em frente a uma parede costeira vertical, ilustrando o impacto da parede na eficiência do sistema.

A configuração de dispositivos de energia das ondas em arranjos periódicos, especialmente aqueles integrados a quebra-mares costeiros, tem atraído crescente interesse dos pesquisadores. Modelos matemáticos têm sido desenvolvidos para avaliar o desempenho hidrodinâmico desses sistemas, incluindo estudos de Zheng et al., Zhao et al. e Zhang et al., que abordam a interação das ondas com esses arranjos. O caixão OWC retangular, como o utilizado no quebra-mar Mutriku, tornou-se uma solução prática e eficiente para diversas aplicações. A eficiência de extração de energia das ondas nesses dispositivos tem sido confirmada por diversas pesquisas teóricas e experimentais, que demonstram sua aplicabilidade e viabilidade em locais costeiros.

Dentro desse contexto, a análise matemática para modelar a interação das ondas com um arranjo periódico de dispositivos de conversão de energia das ondas ganha destaque. A solução hidrodinâmica desses arranjos é obtida dentro do quadro da teoria do fluxo potencial, usando a função potencial de velocidade dependente do tempo para simular as interações entre as ondas e os dispositivos. Um dos aspectos fundamentais na modelagem é o uso de condições de contorno periódicas, que simplificam o problema, tratando o arranjo como um sistema repetitivo ao longo da linha costeira. Esse tratamento é vital para compreender como as ondas se dispersam e interagem com os dispositivos no sistema.

A análise detalhada das soluções potenciais de difração e radiação permite calcular a eficiência do sistema, observando como as ondas interagem com as diferentes sub-regiões dentro de cada dispositivo e ao redor das suas superfícies. Esse processo envolve a aplicação de funções de base e a utilização de métodos de variáveis separáveis para resolver as equações governantes que descrevem o comportamento das ondas.

Além disso, é essencial considerar as condições específicas do ambiente marinho em que os dispositivos estarão instalados. A profundidade da água, a direção das ondas e a intensidade do movimento da coluna d'água são variáveis críticas que afetam diretamente o desempenho dos sistemas de energia das ondas. O uso de modelos hidrodinâmicos avançados permite simular diferentes cenários e prever como esses dispositivos podem se comportar sob diversas condições de operação.

Esses modelos teóricos são fundamentais para o desenvolvimento e otimização de projetos de energia das ondas, fornecendo uma base sólida para futuros experimentos e aprimoramentos. Além disso, a integração desses sistemas com infraestruturas costeiras, como quebra-mares, abre novas possibilidades para a combinação de geração de energia renovável com a proteção ambiental e a estabilização de costas vulneráveis.

Como a Eficiência Hidrodinâmica é Impactada pelo Número de Câmaras em Dispositivos OWC

A eficiência hidrodinâmica de dispositivos OWC (Oscillating Water Column) tem sido um tema de crescente importância no campo da extração de energia das ondas. Um aspecto crucial para entender esse desempenho é a distribuição da pressão e o potencial de radiação no interior das câmaras do sistema. A pressão gerada dentro da câmara j, ao ser convertida em potência, influencia diretamente na eficiência do dispositivo. A equação que descreve o potencial de radiação para cada subdomínio Ως (onde ς = 1, 2, …, J + 1) dentro da câmara j está relacionada ao potencial de radiação e à velocidade de dispersão, derivada de um problema de radiação e de espalhamento.

O potencial de velocidade φ(χ, ς) dentro de cada câmara é obtido por meio da resolução desses problemas, levando em consideração a aplicação das condições de fronteira no domínio de radiação. No contexto dos sistemas OWC de múltiplas câmaras, essas equações e condições de fronteira formam uma base para compreender a interação entre as ondas incidentes, a distribuição da pressão e o movimento de fluido dentro das câmaras. A solução de tais problemas envolve o uso de polinômios de Chebyshev para descrever a velocidade das placas finas submersas, o que contribui para uma modelagem precisa da dinâmica do sistema.

A solução do problema de dispersão e a determinação da eficiência hidrodinâmica de um sistema de múltiplas câmaras revelam aspectos interessantes. Por exemplo, para sistemas com várias câmaras, a eficiência e a reflexão das ondas mudam consideravelmente em comparação com dispositivos de câmara única. Um aumento no número de câmaras reduz o pico da reflexão, alargando a faixa de frequências efetiva e melhorando a captura de energia das ondas. Essa alteração na eficiência está relacionada ao fenômeno do "sloshing" direcional nas câmaras, que ocorre principalmente quando a largura da câmara é suficientemente grande para induzir ressonâncias. Quando várias câmaras estão dispostas em sequência, o fenômeno do "sloshing" direcional é atenuado, o que resulta na eliminação do vale de eficiência observado em sistemas de câmara única, especialmente em frequências mais altas.

Outro aspecto relevante na análise de sistemas OWC é a influência do ângulo de incidência das ondas sobre a eficiência hidrodinâmica. O aumento desse ângulo reduz a largura da faixa de frequências em que a eficiência permanece alta. Esse comportamento é observado tanto em dispositivos de câmara única quanto em dispositivos multi-câmaras. A medida que o ângulo de incidência aumenta, a eficiência do sistema tende a diminuir, especialmente nas frequências onde ocorre a ressonância nas câmaras. A distribuição da amplitude das ondas dentro de cada câmara também muda com o ângulo de incidência, afetando a forma como a energia é extraída de cada uma das câmaras do sistema.

Em termos de desempenho, a eficiência do sistema OWC depende não apenas do número de câmaras, mas também da disposição dessas câmaras e das características específicas de cada uma. Dispositivos com várias câmaras demonstram um aumento na quantidade de picos de eficiência à medida que o número de câmaras cresce, o que amplia a capacidade do sistema de operar em uma faixa de frequências mais ampla. Isso torna os dispositivos multi-câmaras mais adequados para extrair energia de uma variedade maior de condições de ondas, o que aumenta sua versatilidade e eficiência global.

Além disso, é importante considerar os efeitos de fenômenos como o "sloshing" em diferentes direções, que podem ser controlados por um projeto adequado das dimensões das câmaras e da disposição do sistema. Em sistemas com muitas câmaras, a dispersão da energia das ondas e a diminuição da reflexão aumentam a eficiência geral, tornando os sistemas mais eficientes em capturar energia e ao mesmo tempo contribuindo para uma melhor proteção costeira.

Efeitos da Hidroelasticidade nas Plataformas Flutuantes com Dispositivos de Energia das Ondas

Os dispositivos de energia das ondas flutuantes, particularmente aqueles compostos por plataformas elásticas e boias oscilantes, apresentam uma série de complexidades no que tange ao seu comportamento dinâmico. Estes sistemas são frequentemente modelados em ambientes com água aberta, onde o movimento das ondas e as interações entre os componentes da plataforma e as boias devem ser cuidadosamente analisados para otimizar a eficiência energética e a estabilidade estrutural. A consideração dos efeitos hidroelásticos, ou seja, da interação entre a água, a estrutura flutuante e a elasticidade da plataforma, é crucial, especialmente quando ondas oblíquas incidem sobre a plataforma.

Quando uma plataforma flutuante de grandes dimensões é analisada, com uma proporção significativa entre comprimento e largura, a elasticidade da estrutura não pode ser desconsiderada. Em sistemas com grandes plataformas como essas, as deformações verticais podem ser significativas, especialmente em condições onde a inclinação da plataforma (β) é de 45°. Nessas circunstâncias, as deformações da plataforma ao longo da linha de massa central tornam-se visíveis, evidenciando a influência da hidroelasticidade nas dinâmicas do sistema. Em particular, o deslocamento vertical da plataforma flutuante é amplificado nas extremidades, como mostrado em estudos de deformações verticais, e não pode ser ignorado em plataformas de grande porte.

A movimentação relativa entre as boias e a plataforma, um fenômeno central para a eficiência dos sistemas de energia das ondas, também é alterada substancialmente pela elasticidade da estrutura. Quando β = 0°, ou seja, quando as ondas incidem perpendicularmente à plataforma, as respostas de movimento das boias e da plataforma são semelhantes, tanto para plataformas rígidas quanto para plataformas elásticas. Porém, em ângulos oblíquos, como β = 45°, as diferenças entre os movimentos relativos se tornam evidentes. A ausência da consideração da hidroelasticidade pode subestimar a eficiência de extração de energia das ondas, um ponto crucial no projeto de tais plataformas.

As simulações realizadas para investigar a eficiência hidrodinâmica, considerando tanto plataformas rígidas quanto elásticas, mostram que a inclusão dos efeitos hidroelásticos tem um impacto mais evidente em condições onde a incidência das ondas é oblíqua. A eficiência de extração de energia das ondas, quando a hidroelasticidade é negligenciada, pode ser subestimada em até 56%, especialmente nas faixas de frequências mais baixas (0.65 – 1.25 rad/s), o que implica uma perda significativa de desempenho. Esses resultados indicam que, ao projetar plataformas flutuantes para a extração de energia das ondas, a consideração dos efeitos hidroelásticos é essencial para otimizar a operação do sistema.

Além disso, é importante destacar que muitos desses sistemas flutuantes operam em áreas costeiras, onde as reflexões das ondas provenientes da linha costeira podem alterar significativamente as características hidrodinâmicas dos dispositivos. A presença de reflexões costeiras influencia diretamente o comportamento das plataformas e das boias, e deve ser considerada no modelamento e na previsão do desempenho de tais sistemas. O estudo dessas interações, em particular a influência das reflexões costeiras nas forças excitantes verticais nas boias, mostra que, embora as variações de força com a mudança da frequência das ondas possam ser semelhantes entre diferentes distâncias da costa, a amplitude dessas forças aumenta à medida que a plataforma se aproxima da linha costeira.

Além de considerar os efeitos hidroelásticos, o comportamento da plataforma deve ser analisado em um contexto mais amplo, que inclua a interação com a costa e as variações nas condições de onda e profundidade. A consideração do efeito de reflexão das ondas pode alterar significativamente as distribuições de força e os movimentos relativos entre os componentes do sistema. Isso leva a uma compreensão mais completa das condições ideais para instalação e operação de plataformas flutuantes em áreas costeiras.

Ademais, é fundamental compreender que os modelos numéricos empregados para simular esses sistemas devem ser capazes de tratar a complexidade das interações hidroelásticas e das reflexões costeiras de maneira precisa. A utilização de métodos de elementos de contorno, como a formulação da função de Green para ondas difratadas e radiadas, é uma das abordagens utilizadas para modelar essas interações e obter soluções mais realistas. A precisão desses modelos é decisiva para prever corretamente o desempenho das plataformas e, consequentemente, otimizar sua operação em ambientes naturais.