A revolução dos modelos de linguagem de grande escala (LLMs) iniciou-se com o conceito Google Brain em 2011, um grupo de pesquisa em inteligência artificial profundo que uniu aprendizado de máquina aberto, sistemas de informação e recursos massivos de computação. Essa equipe tornou-se a base do Google DeepMind em 2023, um marco que elevou a capacidade de desenvolvimento de IA a patamares inéditos. A partir disso, pesquisadores passaram a focar na construção de modelos cada vez maiores e mais complexos.

Em 2019, o lançamento do BERT pela equipe do Google marcou um avanço decisivo. Com seus 340 milhões de parâmetros, BERT conseguiu compreender o contexto de maneira bidirecional, permitindo sua adaptação a diversas tarefas. Seu treinamento prévio, baseado em autoaprendizado com dados não estruturados, possibilitou que o modelo captasse relações complexas entre palavras. Logo, tornou-se o principal recurso para tarefas de processamento de linguagem natural, sendo a base para a maioria das consultas em inglês no Google Search.

A evolução seguiu com a OpenAI, que apresentou o GPT-2 com 1,5 bilhão de parâmetros, produzindo textos convincentes, e depois o GPT-3, lançado em 2020 com 175 bilhões de parâmetros, que redefiniu o padrão dos LLMs e fundamentou o desenvolvimento do ChatGPT. O lançamento do ChatGPT em novembro de 2022 foi um ponto de virada na percepção pública, ao possibilitar que até usuários leigos interagissem com a IA de forma fluida e natural, despertando fascínio e apreensão.

Mais recentemente, o GPT-4 elevou a escala para cerca de um trilhão de parâmetros, superando seu predecessor em cinco vezes e ampliando em milhares de vezes a capacidade inicial do BERT. Além de lidar com texto, o GPT-4 pode interpretar dados visuais, usando visão computacional, e passou em vários testes padronizados, até mesmo superando o famoso Teste de Turing, um marco que avalia se uma máquina pode exibir comportamento indistinguível do humano.

Fundamentalmente, um modelo de linguagem de grande escala é uma rede neural profunda treinada para entender e gerar linguagem humana, calculando a probabilidade de uma palavra seguir outra dentro de um contexto. O treinamento com grandes volumes de texto permite que o modelo reconheça padrões linguísticos, capturando não apenas estruturas gramaticais, mas também significados e fatos. Embora os LLMs possam aprender e se comunicar de maneira semelhante a humanos, é importante reconhecer que os processos de aprendizado humano são ainda muito mais complexos e multifacetados.

A inteligência artificial, o aprendizado de máquina e o aprendizado profundo estão interligados, formando uma hierarquia onde o aprendizado profundo é uma subcategoria do aprendizado de máquina, que por sua vez está contido dentro do escopo mais amplo da inteligência artificial. Os métodos tradicionais de aprendizado de máquina, que envolvem a extração manual de características a partir de conjuntos de dados limitados, passaram a ser insuficientes para lidar com o volume e a complexidade dos dados atuais. Por isso, o aprendizado profundo surgiu como uma solução capaz de analisar e interpretar dados em larga escala, utilizando arquiteturas mais complexas.

O aprendizado de máquina tradicional pode ser dividido em três categorias principais: supervisionado, não supervisionado e por reforço, dependendo da presença ou ausência de rótulos nos dados usados para treinamento. O aprendizado supervisionado utiliza conjuntos de dados rotulados para "ensinar" os algoritmos a classificar ou prever resultados, medindo sua precisão e ajustando-se iterativamente. Ele se divide em problemas de classificação, que organizam dados em categorias específicas, e regressão, que modela relações entre variáveis.

Por outro lado, o aprendizado não supervisionado trabalha com dados não rotulados, buscando descobrir padrões ocultos sem intervenção humana direta. Suas principais aplicações incluem agrupamento (clustering), que organiza dados semelhantes em grupos, e associação, que identifica relações entre variáveis, como recomendações de filmes em plataformas de streaming. A principal distinção entre esses métodos está na necessidade de dados rotulados: supervisionado exige esses dados para aprender com eles, enquanto não supervisionado opera sem rótulos, explorando os dados para extrair insights.

A compreensão dessas diferenças é essencial para aplicar a inteligência artificial em áreas específicas, como detectores de conversão direta, onde o tipo de aprendizado escolhido impacta diretamente a eficácia e a interpretação dos resultados.

Além disso, é fundamental considerar que, embora os LLMs possuam uma capacidade impressionante de entender e gerar linguagem, eles não possuem consciência ou compreensão genuína, funcionando com base em padrões estatísticos extraídos de dados massivos. O uso ético e crítico dessas tecnologias deve acompanhar seu desenvolvimento, com atenção aos vieses implícitos e à necessidade de supervisão humana, para que possam contribuir positivamente à sociedade.

Como a Inteligência Artificial Está Revolucionando o Projeto de Sensores de Conversão Direta: Modelos de Aprendizado e Simulação

Na modelagem de sensores de conversão direta, um material semicondutor é subdividido em N voxels, permitindo uma análise detalhada das propriedades materiais de cada célula, com uma resolução espacial significativamente mais alta do que as abordagens tradicionais, que consideram o material em termos macroscópicos. Dentro de cada voxel, as propriedades do material para elétrons e lacunas são definidas, permitindo a determinação de características desconhecidas de forma mais precisa.

Esse modelo de voxelização utiliza uma rede neural recorrente que opera no tempo, onde o ponto de entrada do modelo são as posições de injeção dos pares de elétrons-lacunas, e a magnitude das cargas injetadas é normalizada para 1. Cada voxel contém propriedades discretizadas do material, que funcionam como pesos treináveis na rede. À medida que as cargas se movem sob a influência do campo elétrico, os elétrons migram para o ânodo e as lacunas para o cátodo, o que gera sinais nas extremidades do sensor, nos eletrodos. O comportamento dinâmico das cargas e o movimento entre os voxels contribuem para o sinal final que é obtido nos eletrodos.

O modelo de aprendizado computa as cargas livres e presas em cada voxel ao longo do tempo, levando em consideração a interação com os pares de elétrons-lacunas. A saída do modelo inclui não apenas os sinais gerados nos eletrodos, mas também as cargas livres e presas em cada voxel, o que proporciona um panorama mais detalhado das operações dentro do sensor. A função de perda global é calculada como a soma dos erros quadráticos entre os sinais e as cargas nos voxels, comparados aos sinais de referência e o erro de voltagem. Para simulação do modelo, foram utilizados dados gerados em MATLAB, permitindo ajustes precisos no treinamento da rede.

A operação completa de um sensor de conversão direta é modelada com um foco especial nas funções de perda que incorporam tanto os dados experimentais quanto as equações físicas clássicas, como a distribuição de voltagem no material e as cargas livres e presas nos centros de captura. Esta abordagem mais refinada e detalhada é essencial para o desenvolvimento de algoritmos avançados, particularmente em aplicações médicas, industriais e de defesa.

A física envolvida no movimento de cargas é crucial para entender como os sensores de conversão direta reagem a radiações de alta energia, como raios gama ou raios X. Por exemplo, quando um fóton de raio X atinge um voxel, ele gera um par de elétrons-lacunas. O movimento dessas partículas sob a ação do campo elétrico cria uma diferença de potencial que gera um sinal nos eletrodos. Esse processo de transferência de carga entre os voxels é fundamental para a geração dos sinais que os detectores capturam.

Além disso, a implementação de modelos baseados em aprendizado de máquina permite que os sensores de conversão direta sejam projetados e testados com maior precisão e eficiência. A principal vantagem dessa abordagem é que, ao aprender com dados simulados, os modelos podem prever o comportamento do sensor sem a necessidade de realizar experimentos físicos custosos e demorados. Essa economia de tempo e recursos é especialmente importante em contextos de grandes escalas, como em sistemas de imagem médica e defesa.

No entanto, essa técnica não se limita a modelar o movimento das cargas. Outro aspecto crucial na operação dos detectores de conversão direta são os fenômenos de "compartilhamento de carga" que podem distorcer os sinais capturados, resultando em distorções espectrais e espaciais. A correção dessas distorções pode ser realizada tanto em hardware quanto em software, e as redes neurais convolucionais espaciais-temporais (CNN) se mostraram eficazes nesse processo. Técnicas como a CycN-Net, que combinam aprendizado de máquina com o conhecimento físico do transporte de carga, podem ser usadas para melhorar significativamente a correção de distorções em sistemas de alta energia.

Ao corrigir essas distorções, o desempenho do detector é aprimorado, permitindo uma melhor precisão nas medições e no mapeamento da radiação detectada. Essa capacidade de corrigir erros em tempo real é crucial em sistemas de detecção que exigem alta resolução e precisão, como em exames médicos de diagnóstico por imagem e em tecnologias de defesa.

A pesquisa também mostrou que, ao modificar a arquitetura das redes neurais, como foi feito com o CycN-Net, é possível aumentar a performance dos modelos, tratando dados complexos e com alta variabilidade, como é o caso dos sensores de alta energia. Essa modificação na arquitetura da rede permitiu uma melhoria significativa na correção de distorções de compartilhamento de carga, revelando o potencial das redes neurais para lidar com as complexidades dos sensores de conversão direta.

Com a evolução dessas tecnologias, os sistemas de conversão direta poderão operar com mais eficiência, proporcionando uma visão mais detalhada e precisa do que está acontecendo no interior do material semicondutor. Isso é essencial para o desenvolvimento de novos sensores e para a melhoria contínua das tecnologias já existentes, especialmente em áreas como a medicina, onde a precisão no diagnóstico pode ser literalmente uma questão de vida ou morte.